Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 79: Desenhos

Anmmnm...

Nathaly despertou com um sono avassalador. Seu quarto todo iluminado pelo sol filtrado através das cortinas. Suas vistas ainda embaçadas, aguardando a adaptação de suas íris à claridade de mais um belo dia.

Sentou-se na cama, Frsh-Frish... esfregando os olhos com preguiça. Seu cabelo completamente bagunçado e sua cara de sono eram inegáveis. Esticou os braços para o lado, soltando um bocejo silencioso. Seu corpo deu um tremelique gostoso, que a fez sorrir por achar engraçado.

Pegou o celular que deixou no criado-mudo, e quando viu as horas... Vulp! pulou da cama como um foguete, apressada como nunca.

Paf...

O aparelho foi abandonado para trás, e antes de sua tela apagar, se revelava: 07:46 da manhã.

A menina se jogou no banheiro. Mais rápida que um pit stop de Fórmula 1, mal tocou o chão. Seu espelho nem a viu. O chuveiro? Foi ligado e desligado, soltando só um chorinho frio, antes de ser deixado de lado. A toalha que lhe esperava, coitada, sentiu apenas um vento passar e Puff, ficou molhada e largada... sem cerimônia.

Vestiu sua roupa em tempo recorde, puxando o short com uma perfeição mágica, sem travar ou enroscar no suspensório de perna. Sua gargantilha não foi tirada, e continuava um pouco úmida do banho.

A menina tocou a peça, seus dedos calmos.

"Calma... Apenas um pouco... Não exagera..."

Usou sua magia... tentando controlá-la ao máximo, para não explodir todo o prédio...

Shhhhhh...

Conseguiu.

Sua mão emanou um calor controlado, o fogo do seu sangue foi evaporando a água presente na peça calmamente, até que secou. Seus cabelos seguiram a mesma linha. Seus fios e mechas laranjas, por onde parte do seu poder passava, fizeram o trabalho de secar e moldar, para que ficasse como sempre os deixava.

Nathaly foi até o quarto, Paf... sentou rapidinho na borda e começou a calçar seu tênis laranja e azul. Brr... uma mensagem chegou. Olhou para a esquerda, vendo o brilho. Se deitou na direção, esticando o braço para alcançá-lo.

— Aaaagh!

Conseguiu.

— "Estamos descendo."

Era uma mensagem de "Nino".

Um sorriso espontâneo iluminou seu rosto.

Terminou de calçar o segundo tênis, enfiou o celular no bolso traseiro e correu para o elevador o mais rápido que pôde, a ansiedade pulsando.

Tssu...

A porta abriu, liberando um ventinho gelado do ar-condicionado, e lá estavam os dois: Nino, tranquilo, com as mãos no bolso, e Nina lhe recebendo com um semblante sereno.

Animada por mais um dia com seus amigos, entrou, e ficou no meio dos dois mais altos, como sempre.


Chegaram à sala quase juntos de Alissa, que vinha no corredor segurando um pacote de folhas A4. Nathaly andou até Alissa, que lhe entregou os lápis de cor que avisou que levaria por mensagem na noite passada.

— Obrigada — respondeu com um sorriso.

— Na...

— Professora — Nino a interrompeu, apontando para o chão, atrás delas. — Deixou cair.

Alissa se virou para olhar... e não viu nada.

Quando voltou o olhar para Nino, o menino já havia sumido.

Fechou a cara, virando-se para Nina, que apenas deu um leve suspiro, já se aborrecendo com o irmão:

— É... Se prepara.

— ...Sim — respondeu a professora, entre irritada e resignada.

Hum? — murmurou Nathaly, mas Nina e Alissa entraram na sala, sem lhe responder, com ela logo atrás.

Alissa passou direto para sua mesa, mas ao olhar para o fundo da sala, viu Nino com um sorriso grande e olhos fechados, o que deixou seu instinto de alerta apitando.

"O que essa peste tá aprontando?" pensou, varrendo o ambiente com o olhar. "Chegaram agora, não teve tempo de fazer nenhuma 'armadilha'... ou será que teve?" Olhou para a cadeira, acreditando que teria uma tachinha... mas não tinha.

Nino só queria criar uma dúvida... e conseguiu.

"Ah, deixa pra lá."

Nina se sentou, segurando sua caixinha de lápis de cor novinha, e quando olhou para Nino, não viu ele com a que comprou. Estranhou, mas não disse nada. Apenas se virou para Alissa, que se dirigia para a frente da turma.

— Bom dia!

— Boooom diiia! — responderam, ainda de forma meio robótica, mas menos rígida que no dia anterior.

— Vejo que trouxeram os lápis que pedi. A atividade de hoje é a seguinte...

Tu-tus-ri-risc...

Enquanto falava, escrevia no quadro com um canetão azul.

— Desenho. Vou entregar uma folha branca para cada um — o pacote de folhas se abriu, e uma folha flutuou para cada mesa — e quero que vocês se desenhem em um ato heroico. Salvando uma cidade, ou apenas o máximo que você acredita que o seu poder lhe pode oferecer. Entenderam?

— Siiiiimm!

— Ok! Podem começar... Não se preocupem com o tempo. Vou excluir dois intervalos hoje, mas no terceiro, no horário do café, vou liberá-los para comerem e irem embora. Mas quero que me apresentem os desenhos até lá. Ok?

— Siiiimm!

Alissa sorriu ao ouvir a resposta mais animada, vendo o olhar sereno voltando aos poucos em algumas crianças.

— Arthur — chamou ela.

O menino a olhou, meio tenso.

— O-oi?

— Quando acabar, me avisa que permito que apresente o controle de sua magia, ok?

— A-ah, sim! Tá bom! Obrigado.

Nino, alheio à folha na sua frente, fixava o olhar na interação entre Alissa e Arthur. Um incômodo crescendo dentro de si. Então, levantou a mão.

Alissa, prestes a ir se sentar, viu o pedido de permissão.

— Pode perguntar, Nino.

— ...Eu não tenho lápis. Você tem pra me emprestar?

— Usa os...

— Calada...! — mantendo um sorriso meio sem jeito, gritou baixinho para sua irmã, quando viu-a se virar e abrir a boca. Seu sorriso disfarçou o que disse, e ninguém além dela entendeu.

"Foram menos de cinco minutos e já tá nessa... Harff... Coitada dela..." Nina desistiu ali mesmo, se virou, de braços cruzados, e deixou seu irmão começar a encheção de saco.

— Ué? — Alissa arqueou a sobrancelha. — Você mandou uma mensagem no grupo dizendo que ia comprar.

— Eu comprei ontem... mas esqueci de trazer.

Sniff, fuuu... — suspirou, descrente. — Entendi. Vou ver se encontro na sala dos professores.

— Obrigado! — exclamou Nino, ainda mantendo um sorriso serelepe irritante.

"Cada uma..."

Assim que a professora sumiu pela porta, o menino discretamente levou a mão sob a blusa e puxou do próprio sangue o pacote de lápis que escondera.

Nina, do lado, arregalou os olhos, já percebendo que o estresse daquele dia não seria apenas Alissa que sofreria.

"Para de usar o sangue, seu retardado!" exclamou em pensamento, tentando passar a mensagem pelo olhar que o mesmo viu. Mas Nino voltou um sorriso provocante, e Nina colocou a mão no rosto, pressionando levemente os olhos. "Me dá paciência, vovó, ou eu vô quebrar esse menino no soco!"


Alissa foi até a sala dos professores e encontrou uma peça irritante aos seus olhos.

Sniiiff, Haaarrff...

Louis assumiu um semblante abatido, vendo-a suspirar agressivamente só em o ver.

"Nem disse nada ainda..."

— Tem lápis de cor aqui?

Haamm... — Olhou para os lados, vendo as anotações que havia em cada gaveta de materiais. — Acho que não, só umas canetas e papéis.

— O que eu pedi?

— Lápis... de cor?

— E o que você me respondeu?

"Ah, não. Não começa com isso não..." Sabendo que não podia responder com o seu pensamento intrusivo. Fechou os olhos por um segundo para manter a sanidade. — Olha, não tem isso não. Mas tem essa caneta aqui. — Estendeu uma caneta branca, com seis botõezinhos coloridos no topo. — Aí é só — Clk! — puxar pra baixo na cor que quiser e usar.

Alissa recebeu a caneta, revirando os olhos.

"Credo, pra que isso tudo?"

"Vai servir. Se não quiser, volta em casa e busca o negócio." Virou-se e saiu andando com naturalidade da sala.

Louis semicerrrou os olhos, recebendo a educação da moça.

— Obrigado... — murmurou ele... bem baixinho, mas... Alissa... ouviu no corredor.

FRUSHCKSRTPAHACASHCTCRASHCT!

O escritório explodiu numa bagunça infernal! 

Papéis, pastas e objetos voaram como se um furacão tivesse passado por ali. Armários tombaram, teclados se despedaçaram... Nem mesmo o seu cabelo escapou — a moça retirou o seu elástico, deixando os longos cabelos do homem caírem sobre as costas, compondo seu rosto de atônito... desamparado.

O caos chegou ao fim... tudo isso por uma provocação que sabia que deveria ter contido.

Sniiiifff, aaaaaaaaaaaAAAAHHHHRRR! — tentou se acalmar respirando fundo, mas não conseguiu e seu grito cheio de frustração ecoou pelos corredores, sendo música para os ouvidos da exterminadora.


De volta à sala, Alissa caminhava com a caneta improvisada na mão, entrando na fileira onde Nino estava.

— Não ach...

Parou antes de seguir até lá.

Do ponto em que estava, viu o pacote de lápis claramente sobre a mesa do menino.

Seus olhos se estreitaram.

Seu semblante se ergueu em pura fúria, e seu queixo se empinou em soberba.

— Aaah! Você voltou! Eu ach...

Crash!

A caneta foi arremessada direto para a testa de Nino... mas o menino, esperto como uma raposa, desviou com facilidade e o objeto explodiu na parede atrás dele, estilhaçando em dezenas de pedaços.

"Ia explodir a minha cabeça com isso..." pensou ele, voltando um olhar assustado que logo foi substituído por olhos fechados e um sorriso imitando o gentilmente macabro da professora.

Opss... Escapuliu da minha mão! Haha!

— Quase morri, hehe.

— Haha...

— Hehe...

Nina olhava-os de canto, e nem quis se meter.

"Não sei quem é mais maluco..." pensou, voltando a atenção ao próprio desenho.


O segundo intervalo excluído já havia chegado ao fim.

O último tempo para apresentar os desenhos era agora. Alguns alunos já tinham terminado, mas, com receio de quebrar o silêncio, esperavam que Alissa desse a ordem.

No entanto, Arthur quebrou a tensão: levantou-se, com seu desenho em mãos, e caminhou até a mesa da professora.

Nino, do fundo da sala, observava todo o trajeto... Sua mente idealizava rapidamente a forma mais eficiente de interceptar o humano e cortá-lo ao meio. Mas não o fez. Apenas imaginou o corpo do menino queimando nas chamas escuras do inferno em sua íris roxa.

Arthur parou diante da mesa.

— Acabou? — perguntou Alissa, erguendo o olhar.

— Sim...

Colocou o desenho sobre a mesa, um pouco hesitante.

Hum... — a professora analisou. — Esse é você salvando uma cidade de um tsunami?

— Isso! — confirmou com um sorrisinho nervoso. — Desenhei um outro atrás também.

Curiosa, Alissa virou a folha e encontrou algo que lhe pareceu familiar.

— O que seria isso?

— Uma brincadeira com a cena de Moisés na Bíblia. Aí seria eu abrindo o Mar Vermelho.

— Aaaah, por isso achei que já havia visto isso. Bem, seus desenhos ficaram bonitos. E a sua apresentação? Pretende fazer como ontem, ou treinou algo?

— Quero... quero fazer um sapo que consegue pular!

— Sapo?

Uhum...

Arthur ajeitou-se, um tanto envergonhado.

— Eu... eu vi algumas gravações do meu pai. E ele gostava muito de sapos. Quero fazer essa homenagem.

O sorriso de Alissa desapareceu um pouco. Olhou nos olhos do menino, com uma serenidade cuidadosa:

— Arthur... me desculpa corrigir você. Mas seu pai não gostava de sapos.

— Quê?! — Arthur piscou, confuso.

— Eu sei dessas gravações. Não fiz parte do Esquadrão Um. Katherine não deixou. Não me queria lá. Não sei se ela já disse isso pra você...

"Nunca disse isso... Só que você não foi até lá pra salvar o meu pai..." pensou Arthur, sentindo o peito apertar.

— Mas bem. Eu conheci um pouco do seu pai. Ele fazia sapos de água para assustar a Sabrina. A menina de cabelo rosa que aparece nas filmagens que seu tio provavelmente te deu.

Arthur murchou um pouco.

— ...Pensei que ele fazia porque gostava.

— Gostava... — Alissa sorriu de leve. — Mas só de assustar a menina mesmo. Só que, sei lá... Mostra aí. Tenho certeza de que o Luan ficaria feliz em ver você desenvolvendo um controle de magia tão bom ou até melhor que o dele.

Arthur hesitou. Seu rosto se fechou um pouco.

— Professora... o que aconteceu no dia que o meu pai morreu? — perguntou, quase num sussurro, para que apenas ela ouvisse.

Alissa fechou os olhos por um instante.

"Eu não deveria... mas vou mesmo assim!" — ...O Esquadrão Um estava em Belo Horizonte. E, no mesmo momento em que a Calamidade surgiu lá, eu estava matando três Calamidades que surgiram em Guarulhos. Quando acabei e voltei até a escola... a notícia das mortes veio junto.

A exterminadora olhava Arthur nos olhos, sentindo a dúvida crescendo dentro dele.

— Bom... — continuou, com a voz um pouco mais pesada. — Acho que não acredita no que eu acabei de falar. Mas... pergunta o seu tio. Pergunta ele. Se acha que a culpa é minha, pergunta pra ele quem decidiu que eu não deveria ir naquele dia.

O silêncio entre os dois pesava como uma âncora.

— Mas deixe isso pra lá por agora. Apresente a su...

— Eu... eu não quero mais... Posso... deixar isso pra lá?

— ...É por causa do que falei sobre o sapo?

— Não... — respondeu baixinho, desviando o olhar. — Minha cabeça ficou cheia... Não sei se vou conseguir me concentrar...

A exterminadora ficou mais tempo do que o habitual em silêncio antes de assentir.

— Ah. Entendi... Tudo bem, Arthur.

O menino voltou cabisbaixo para sua mesa, seus olhos vazios e pensamentos tumultuados.

"Tia Tété mentiu pra mim?" pensou, não querendo descobrir que era verdade.

"Ram... Estava lá e não conseguiu salvar ninguém além do amorzinho. Mas eu aqui recebo a culpa. Incrível. Parabéns, Katherine. Fazer a cabeça de uma criança é fácil. Espera crescer e mostre a verdade. Quero ver o que acontece." pensou Alissa, ainda chateada com o dia do ocorrido. O que escutou da sua prima foi brutal, uma traição sem escrúpulos.

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