Volume 1 – Arco 2
Capítulo 77: Lápis de cor
Alissa saiu, fechando a porta sozinha.
Nina se levantou, espreguiçando-se enquanto caminhava até a geladeira buscar algumas laranjas.
Olhando na direção do irmão, viu Nino focado novamente em sua novela.
— Quer suco? — perguntou ela, casualmente.
— Sim — respondeu ele, sem desviar o olhar da televisão.
Nina voltou sua atenção às frutas.
Shk!
Agilizou o descascar com magia. Colocou no liquidificador. Pegou água gelada na geladeira, Blulululu... e despejou junto de um pouco de açúcar. Vrrrruunn... ligando o aparelho logo em seguida.
Terminou, Shlulul... encheu o seu copo e o do irmão. Shuaaa... passou água no copo do liquidificador e foi até a sala, onde entregou a bebida e seguiu para o quarto, bebendo tranquilamente.
Nino agradeceu com um movimento de cabeça, mas enquanto sua irmã ia para o quarto, a observou de costas.
"Durma cedo hoje. Só te peço isso." pensou... não querendo ser barrado por sermões irritantes.
Nina entrou no quarto, Glub... dando um gole generoso, quando notou a tela dos dois celulares se acendendo e se apagando rapidamente. Animada, correu até o criado-mudo, Pu... apoiou seu copo e segurou o celular, ainda em pé.
O aparelho destravou.
A mensagem era de Nathaly, mais de 200 fotos enviadas. Mas entre todas essas fotos, a jovem colocou de perfil uma que só aparecia ela e Nino, juntos, em uma das ideias que Nina teve para deixar Nathaly feliz... e uma ideia que a deixou destruída mesmo após o momento da fotografia.
A foto capturava Nino um pouco curvado para frente, segurando as pernas da menina, não no pescoço e ombro, mas na sua cintura, mantendo-a nas suas costas, com o rosto apoiado no ombro dele, com os dois sorrindo para o celular.
Um cavalinho, mas diferente do que Nino usava para provocar Alissa.
Nina travou... não sabia o que responder.
Uma simples foto de perfil a deixou sem sono, fome e sem cabeça para pensar... Mas então, outro ser entrou em cena. Sua Marca Primordial se revelou de surpresa, deixando Nina enfurecida por breves milissegundos, reagindo ao poder.
Mas logo se conteve, e sobre a marca que conseguiu reprimir, um olho de íris preta se abriu.
O ser saiu do pescoço dela, se materializando na frente da menina. Uma massa preta, como o sangue da mesma, flutuando, oscilando pelo ar igual fumaça, e no meio disso, o olho a encarava sem piscar.
Nina tinha conhecimento sobre aquilo, mas ainda assim não o entendia.
— Q-q... — tentou pronunciar algo, mas a surpresa a impediu.
O ser formou um braço feito de névoa, terminando em um único dedo alongado, que apontou para o celular.
Nina, ainda perplexa, virou a tela para ele.
O olho arrastou a galeria, vasculhando entre as imagens até parar em outra foto — a primeira selfie que tiraram juntos, com Nino abraçando as duas.
Apontou para o rosto de Nina na imagem, depois para ela, olhando-o. Logo em seguida apontou para Nino, antes de apontar para a parede, na direção do cômodo onde ele estava.
Nina piscou duas vezes, começando a entender, e o ser então apontou para o rosto de Nathaly, antes de apontar para o piso, na direção do apartamento dela mais embaixo.
— O-o... Acho que entendi. Falar com ela pra eu usar o meu rosto dessa foto, Nino o dele e a Nathaly o dela? — murmurou, para que Nino não ouvisse.
— Raaaag...
— Rag?
A criatura não possuía boca, mas suas vibrações produziam um som:
— Raag...
— Esse é o seu nome?
Rag afirmou com sua massa flutuante... como um movimento de cabeça.
Os gêmeos não entendiam a sua língua.
Apenas o primeiro entendia. O primeiro Primordial Preto... Blacko.
— Rag...
— Entendi... Rag. Obrigada.
Rag se fundiu ao sangue da garota novamente, sentindo na alma da menina que sua sugestão conseguiu acalmá-la de certo modo. Nina abriu a imagem, a salvou e alterou sua foto, vendo que usando o próprio rosto em destaque, ainda deixava uma parte dos dois visíveis.
"...Vou mandar isso então." Assim que começou a digitar... "Não, pera!" Foi até o celular de Nino. Não havia outras mensagens além das fotos também. Procurou pela foto escolhida e colocou como perfil, antes de voltar para o próprio celular, indo pôr o seu plano em prática. "Só não quero precisar ver algo assim todos os dias quando abrir sua foto para te ver..."
Nina começou a digitar... uma hesitação em seus dedos, que a fez melhorar a proposta com medo de não ser aceita.
Brr...
Nathaly entrava no banheiro, só de toalha para se banhar, quando escutou o celular vibrar sobre a bancada da cozinha. Caminhou até lá, uma corrida apressada tentando não deixar a toalha cair, suas bochechas vermelhas por acreditar que era Nino.
Ao chegar, desbloqueou e viu a mensagem de Nina:
— "Eu e meu irmão combinamos de usar essa foto... Quer usar também? De tempos em tempos podemos trocar." — A menina achou legal a ideia e abriu um leve sorriso contente, que iluminou o rosto da jovem, enquanto digitava de volta.
Brr...
Nina recebeu, e não perdeu tempo:
— "Sempre quis usar metadinha, achava legal ver as pessoas usando. Vou trocar!" — Assim que leu, a foto mudou, aliviando o coração da jovem Primordial instantaneamente. Mas uma dúvida se mantinha: "Metadinha?"
Brr...
Outra mensagem apareceu:
— "Minha mãe nem falou comigo hoje. Vou tomar banho e ligar pra ela... não sei se está brava comigo. Me deseje sorte! :)" — Nina sorriu com os olhos.
Brr...
— "Sorte! :)"
Nathaly soltou uma leve risada, bloqueou o celular e foi se banhar.
Nina também o bloqueou, Puf...
Sentou-se na cama, escorou as costas na cabeceira, Glub-Glub... e matou o suco. Voltando o copo com cuidado para o móvel, antes de erguer a mão para o teto, fechando seu punho com força.
"...Ainda vou te chamar de minha..."
Minutos se passaram.
Nina continuou deitada, rolando a galeria do celular, vendo algumas fotos da sua amada. Seu peito esquentava... e também apertava. Desejando-a cada vez mais. Por outro lado, no sofá, a novela chegava ao fim e Nino se animou com um sorriso sinistro, quando a música do jornal... começou.
Caminhando pela rua, voltando para seu apartamento, que ficava a 6,45 quilômetros do apartamento dos gêmeos, bem tranquilamente, Alissa seguia, dando passos largos e divertidos.
Uma perna se movia toda dura como madeira, e quando tocava o chão, era a vez da outra.
Foi então que...
Vrr, Vrr...
— Hum?
Tirou o celular do bolso, surpresa ao ver a palavra "Filhota" na tela.
Atendeu com um sorriso:
— Alô? Nathaly, tá tudo bem?
Deitada na cama, já de pijama, a menina respondeu com a voz levemente embargada:
— Tô... Mas você nem falou comigo hoje. Nem me seguiu... Tá com raiva de mim? Fiz algo?
— ...Ué? Não foi o que me pediu? — respondeu Alissa, naturalmente.
— ...Foi, mas... Não tá mesmo, né?
— Tô não...
Um silêncio se instalou entre elas.
Alissa continuou caminhando, agora com passos mais suaves. Nathaly, por sua vez, abraçou o travesseiro com força, sem saber o que responder de imediato.
— E aí? Ligou só pra isso? — provocou Alissa, brincando.
— N-não! — respondeu rápido demais.
— Hum... Não o quê? — insistiu, divertida.
— Queria conversar um pouco. A minha manhã foi legal.
— Fez nada de tarde, não?
— Dormi a tarde toda...
— Eu vi. Passei no refeitório mais cedo, e vi você dormindo — revelou, em tom carinhoso. — A Nina estava do seu lado, só aproveitando a brisa suave do vento com os olhos fechados.
— Ah... — A menina sorriu envergonhada. — É que tiramos fotos a manhã toda. Meu celular descarregou, aí fiquei cansada e dormi. Acordei já quase de noite com ela me esperando, e aí... tô aqui, te ligando...
— Fez mais nada além disso? Depois eu que sou monótona — disse em brincadeira. Não chegava nem perto de uma provocação.
— Eu... E-e-eu... Treinei beijo de língua no espelho.
PA!
A confissão foi como uma bomba.
A menina disse e ficou toda vermelha de vergonha ao revelar. Já Alissa caiu de joelhos, com os braços abertos em desespero. Sua alma sendo sugada do seu corpo pela boca, subindo sem mais nem menos.
Tremia sem ar, sua boca aberta em puro terror, se despedindo do que um dia habitou seu ser.
— ...Não tá brava, né? — perguntou Nathaly, com a voz trêmula, acreditando que o silêncio era desaprovação.
— Fuuuuuuuuu!
Ao escutar a voz de quase-choro da menina, Alissa sugou sua alma igual a um espaguete de volta. Erguendo-se do chão instantaneamente como se nada tivesse acontecido, respondendo-a com afobação:
— Não! Não! Não! Não tô brava! — sua voz era atropelada pela urgência. — Só... Só me fala... tá? Confia na mamãe. Sempre que algo acontecer. Sentir algo. Quiser uma resposta para algo do seu corpo. Pergunta pra mamãe. Principalmente se você der o-o-o sss-seu primeiro be-beijo... Começar a na-na-namorar... Me conta... tá? — disse com muita dificuldade.
Gaguejava, quase chorava pelo receio de não poder controlá-la, levando-a ao melhor caminho que queria para ela... Mas sabia que precisava apoiá-la.
"Ele não é tão ruim assim... Só é chato... Calma... Calma... Não é nem perto de um Louis... Respira e relaxa um pouco..."
Foi muito traumático para Alissa ter sido trocada.
Quando Katherine começou a virar as costas para ela, Alissa notava o quão nojenta era a relação que Louis tinha com sua prima. Louis nunca quis nada romântico com Katherine, sempre a viu como uma ferramenta indispensável na luta contra anomalias muito fortes.
Algo que Alissa sempre notou, mas quando dizia para a menina... Katherine respondia a xingando. Dizia que era inveja. Que queria roubar Louis dela... Nunca escutou sua prima. Sempre teve "olhos" só para a sua paixão doentia e impressionantemente cega.
O coração da exterminadora falhou um compasso.
Mas respirando fundo, com calma, Alissa forçou-o a voltar ao ritmo normal.
— V-você me promete que vai falar?
— Prometo, mamãe...
— Você gosta do Nino? — perguntou, direta.
— Sim... — respondeu Nathaly, com a sinceridade de quem nunca aprendeu a mentir.
— ...E se ele não gostar de você? Ficaria triste?
Nathaly lembrou de cada toque que já sentiu dele... Seu corpo respondeu antes da mente: suas pernas se juntaram, o calor subindo rápido pela pele recém-saída do banho, deixando-a completamente corada.
Envergonhada, e agradecendo que estavam apenas ao telefone, respondeu sem revelar o que sentia:
— Acho que sim... Eu pediria para continuarmos sendo amigos...
— Entendi... — murmurou.
Alissa controlou a menina... Não travou o corpo, ou mudou algo nela... Apenas controlou o corpo, a partir do contato que estavam tendo, pela voz — a ligação no celular.
Olhando pelos olhos de Nathaly, Alissa viu a inquietação, o rosto ruborizado, o corpo muito mais quente do que deveria estar, mesmo com o cabelo ainda um pouco úmido do banho.
— Tá tudo bem...? — começou a perguntar, mas no instante seguinte, gritou: — O-OOO-OO QUE ESSA MÃOZINHA TÁ INDO FAZER AÍÍ, HEIN?!
BipBip!!
O berro de Alissa explodiu no meio da calçada, fazendo um motorista que passava se assustar e buzinar em resposta.
Nathaly, num pulo, arrancou a mão boba de dentro do short no mesmo segundo em que deslizou lá para dentro. Seus olhos mais abertos que portas comerciais em dias movimentados. Seu rosto mais vermelho do que o semáforo que Alissa já havia passado.
— E-e-e... — tentou balbuciar.
— RUM! — rosnou Alissa, alto, com a garganta vibrando como o motor de um V8 desgovernado. Seu próprio rosto explodiu em vergonha. Não sabia se queria morrer ali mesmo ou rir da situação... e também não sabia o que responder... "Mandar ela perguntar pra Mirlim seria pior... Aquela safada ia incentivar! NÃO, NÃO, NÃO!" pensou em pânico.
— D-dis...
— Não fala nada... — cortou rapidamente, tentando proteger a filha. — Não precisa explicar. Eu errei... desculpa. Invadi sua privacidade. Eu não devia ter feito isso.
— N-nã...
— Sério! Não precisa dizer nada — repetiu com firmeza, tentando soar o mais acolhedora possível. — Depois nos falamos. Não vou mais fazer isso. Prometo. Não vou mais seguir você. A partir de agora, sempre que quiser falar comigo, venha até mim... o-ou me ligue. Eu sempre vou estar aqui por você. Tá bom?
— Uhum... — respondeu Nathaly com um murmurinho fofo e envergonhado, seu rosto quase incandescente, apenas acenando de leve com a cabeça, mesmo que a mãe não pudesse vê-la.
— Já é uma mocinha... É forte e sabe se cuidar. Lembra de tudo que eu já te ensinei... Tá bom?
— Uhum...
A exterminadora sorriu de leve, enxugando uma lágrima que quase escapou.
— Tchau, filha... Te amo — sussurrou.
— T-tchau... mamãe. Te amo mais...
Alissa deu um leve sorriso ao escutar a voz acanhada, banhada de vergonha, e desligou o celular. Com seu corpo começando a bambear, sua cabeça girar e sua mente quase enlouquecer.
"Eu mato essa praga se fizer minha menininha de otária!" rugiu mentalmente, mas com o celular na mão, lembrou da aula no dia seguinte. "É mesmo! Preciso avisar pra levarem lápis de cor... Folhas eu pego com Louis."
Abriu o grupo da sala e, no mesmo momento em que fazia aquilo...
Nino desligava a televisão.
Sua marca não queria se esconder, seus olhos fixos com suas íris minúsculas e em seus lábios, um sorriso pontiagudo pronto para devorar suas presas...
Nino apagou as luzes da cozinha e sala.
Logo saiu andando pelo corredor, ocultando a marca, o olhar e o desejo antes de passar pela porta, entrando no quarto, onde a luz já estava apagada, mas Nina continuava acordada.
"Merda!" O menino então foi se deitar, para esperá-la dormir e ele poder sair... Mas...
B-Brr...
O som da vibração ressoou no quarto escuro, quando os dois celulares vibraram ao mesmo tempo.
Nina pegou o dela, sem pressa, e Nino pegou o seu, escondendo a ansiedade.
— "Amanhã as aulas começam às 8h. Levem lápis de cor, principalmente lápis que tenha a mesma cor que a magia elemental ou não, que vocês possuem."
Nina leu em voz alta, antes de responder no grupo... quebrando o silêncio e o infinito monólogo que Alissa sempre teve por ali.
— "Ok, professora. Obrigada por avisar."
Nino olhou para a resposta dela e, com um sorriso de canto, rapidamente digitou:
— "Ok. Não tenho, mas vou comprar pra levar amanhã."
Esperto... Nino era bem esperto.
Usou a necessidade para suprir seu egoísmo. Assim como Nina, mais cedo, salvando-o. Mas... Nino não contava com o olhar de Nina, com uma resposta em seguida, cravada como uma estaca:
— Vou com você.
"Ah, vai se fuder!" Naquele momento de raiva... Nino conseguiu se controlar. Sabia que não podia demonstrar nada negativo, e pensando rápido, respondeu naturalmente: — Bora lá. Deve estar mais vazio agora.
— Tá com o seu cartão aí?
Nino apalpou o bolso da calça, sentindo o retângulo gelado ali.
— Sim.
— Bora... — Nina passou por ele, indo até a sacada. "Agiu rápido... Mas eu sou você, imbecil. Tava querendo ir em algum lugar... Mas não vai dizer... e eu não vou me misturar com você." pensou, com um sorriso frio escondido sob o rosto sereno.
Nino, por sua vez, quase espumava por dentro:
"Na moral... Que raiva..."
Vul!
Avançou e saltou pela sacada, sem hesitar.
Vul!
A Primordial foi logo atrás, como uma sombra que ele jamais conseguiria deixar para trás.
Apoie a Novel Mania
Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.
Novas traduções
Novels originais
Experiência sem anúncios