Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 74: Oscilação

Nina assentiu gentilmente, abaixando a cabeça com leveza, e retornou para sua carteira... mas não sem antes encarar seu irmão, movendo discretamente os lábios para dar-lhe uma ordem silenciosa:

"Vai tirar fotos até que eu diga 'acabou'."

Nino leu cada sílaba perfeitamente.

Seu olhar se aborreceu de forma visível — um semicerrar de olhos lento e carregado — mas, mesmo assim, respondeu apenas com um aceno relutante, enquanto Nina se sentava ao seu lado, satisfeita com o domínio silencioso.

"Tá, vou encer..."

Alissa já havia apresentado a aula do dia.

Sabia que não era necessário explicar magia para os dois, mas ainda se impressionou com o que viu. O próximo passo era encerrar a aula, liberando os alunos, mas enquanto pensava na melhor forma de realizar isso... o menino que ficou sentido, cortou sua linha de raciocínio, erguendo a mão.

"Quê...? Pensei que me odiasse." Alissa pensou, surpresa. — Pode perguntar, Arthur.

— Eu... queria participar também — disse o menino, com um semblante diferente do que sempre manteve para com Alissa.

— Como assim?

— Demonstrar o meu controle com água.

Alissa piscou uma vez, ponderando por um segundo.

— Ah, claro. Quer vir aqui à frente?

— Sim!

Arthur queria se mostrar para Nathaly.

Demonstrar seu poder para conseguir impressioná-la, mas a pessoa em que ele mais chamou a atenção... foi Nino, vendo-o ir próximo de Alissa, recebendo a atenção dela.

O olhar do Primordial ficou um tanto irado. Nem mesmo pensava, só se segurava para não deixar sua marca se revelar.

— O que pretende fazer? — perguntou Alissa, tendo quase que a primeira interação de conversa, na vida, com o sobrinho de Louis.

— Mostrar meu controle guiando água no ar — respondeu ele, olhando-a, antes de se virar para a turma... com um olhar discreto para Nathaly.

Mas Nathaly... não olhava para ele.

— Quer tirar as fotos depois do intervalo do café, ou antes mesmo e comemos depois? — murmurou Nina, sorrindo de leve, a voz quase um sussurro cúmplice.

Nathaly a olhava e conversava na mesma altura baixa.

Embora Alissa notasse a conversa, não interferiu, o que fez alguns alunos acharem estranho, mesmo que Nathaly fosse filha dela, nunca havia dito algo em sala sem levantar a mão primeiro.

— Pode ser quando a aula acabar... Aí já comemos sem pressa... Sem competição dessa vez! — brincou, com um leve sermão em grito baixo, com seu rosto simpaticamente alegre.

Tsi... Tá! — respondeu Nina, soltando um risinho breve, antes de ambas se virarem novamente para frente.

Arthur se perdeu por um momento.

Não escutava a conversa, mas escutava sua mente:

"Conversar com uma menina é mais interessante do que me ver usando magia?" Por um momento, seu olhar discreto não tinha mais o efeito. Sua cabeça se direcionava a Nathaly, mas no momento que a menina se voltou para frente, uma voz foi acompanhada com o movimento:

— Arthur?

— O-oi? — Acordando da sua imersão em sua mente, olhou para o rosto tranquilo de Alissa, embora longe do sereno e gentil presenciado ao lado de Nina.

— Estamos esperando.

— A-ah... Desculpe.

Deu um passo envergonhado para frente, erguendo suas mãos próximas uma da outra, como se estivesse para bater uma palma. Das mãos, um leve brilho azul começou a ser emitido, pulsando, e dele, partículas de água começaram a se juntar lentamente, assim como Nina demonstrou, embora que ela tenha feito dessa maneira apenas para não assustar ninguém.

Uma bola de água, oscilando, foi criada.

Não conseguiu uma esfera perfeita e nem mesmo uma bola mais sólida, era puramente alguns mls de água junta, volátil, que poderia colapsar a qualquer interferência.

"Tá! Foca...! Não se distraia...!" pensou ele, quando retirou a mão de cima, deixando só a outra controlando a água que já não brilhava mais em azul, agora era apenas água "comum", flutuando de forma trêmula.

— Ok. Está conseguindo controlá-la, além de só criar e arremessar em algum lugar. Mas ainda quero ver uma demonstração de controle difícil. Não precisa ser como a de Nina — acrescentou, com um meio sorriso — acho que é meio... difícil para você.

Embora Alissa não quisesse "machucá-lo" com suas palavras, e "apenas" dizer a realidade... Arthur sentiu que com aquilo, seu próprio tio não o via como alguém forte. Ou como alguém cotado ao destaque, mesmo sendo um dos cinco classe A presentes naquela sala.

"Não é! Eu consigo fazer como ela!" Sentindo-se desafiado... Alissa conseguiu de fato o que queria.

"Tremeu as mãos... Ficou irritado. Será que consegue o que pensa?" pensou ela.

Sem hesitar, Arthur ergueu a mão.

A pequena esfera expandiu — crescendo em massa e volume.

E então... como uma serpente viva, uma linha grossa de água se desenrolou no ar, serpenteando pela sala.

De fato mostrando um controle, mas ainda bem longe do de Nina... Porém... uma coisa o menino não sabia.

Nino continuava estressado pelo rapaz ter se voluntariado.

Blosh!

A linha de água passava sobre uma menina, com a mesma e toda a sala assistindo à demonstração, quando o controle colapsou, e a água fria banhou a jovem, que se assustou com um gritinho, se encolhendo toda.

As mãos levantadas como um escudo, seus cabelos e roupas colados à pele.

O choque foi imediato.

A vergonha... ainda maior.

Ficou estressada, e lançou um olhar severo para o menino na frente da sala.

Arthur, desesperado, olhou para ela:

— Desculpa! Desculpa, sério! Não sei o que aconteceu!

A garota desviou o olhar, cruzando os braços com força sobre o peito em protesto mudo, visivelmente desconfortável. Se encolheu mais na cadeira, queria desaparecer com tamanha vergonha que sentia.

"Ai que ódio!" pensou, seu rosto queimando de vergonha.

— Tente mais uma vez — disse Alissa, firme. — Mas controle isso direito.

Arthur se virou para ela.

— S-sim! — respondeu o menino, quase tropeçando nas próprias palavras.

Se posicionou novamente, agora com os olhos fechados.

"Vamos... Vamos..." — Sniiff, fuuuuu...

Respirando fundo pelo nariz e soltando tranquilamente pela boca, se concentrou e ergueu a mão novamente... Mas quando a bola de água começou a se formar, a oscilação dela era muito violenta, e Arthur abriu os olhos em desespero, tentando controlar e fazer uma simples bola... Mas não conseguia... A água não se estabilizava.

— Nino... pare — Alissa disse, sua voz gelada, autoritária, olhando-o no fundo da sala.

Nino mantinha um semblante sério, não tão distante da sua típica apatia, mas em sala, onde sempre era um sorrisinho em busca de tiltar Alissa, aquilo era estranho.

Nina lançou um olhar instantaneamente para o irmão, que preferiu nem olhá-la.

"Tô afim de escutar nada não, valeu..." pensou o Primordial, entediado.

"Como consegue ser tão insuportável?" pensou ela, vendo-o fingir que não sabia que o encarava.

Arthur não entendeu, mas após Alissa dizer aquilo, a estabilidade da água voltou, e a bola foi criada tranquilamente.

— Você molhou a menina inteira, não vai pedir desculpas? — disse Alissa, ainda encarando Nino, que a olhava de volta... No entanto... Nino não usou palavra alguma em resposta, apenas ergueu o indicador.

Todo o molhado da roupa, pele, cabelo, além de toda a sujeira da menina, foi removida do contato com ela. Erguendo-se e se misturando em uma bola de água no ar... Mas com as impurezas, Nino acabou juntando um pouco de... sangue na bola.

Pálida, a menina arregalou os olhos, compreendendo no mesmo instante o que havia sido exposto. Uma vergonha brutal tomou conta dela, já que o sangue era o pouco presente em seu absorvente.

Nina, ao ver aquilo, levou uma mão ao rosto, e pressionou seus olhos para não xingá-lo ali mesmo.

"Como consegue, cara? Que negócio impressionante!"

Após a menina ficar seca, a bola flutuando... Burmnm! explodiu em chamas vermelhas, descartando todo aquele conteúdo não reutilizável. Deixando apenas o cheiro de ozônio e calor flutuando por alguns segundos.

A menina, agora seca, abaixou a cabeça em silêncio.

Humilhada.

Alissa observou aquilo, mas voltou o olhar ao Primordial.

"Por que você é tão chato?" após sua pergunta sincera, embora o menino não tivesse conseguido ouvir, voltou-se para Arthur. — Pode contin...

VuuuuuUUUUuuuu...

O primeiro intervalo, antes do café no refeitório, ressoou por toda a escola, interrompendo Alissa e deixando todos ansiosos para saírem de sala.

Alissa olhou para a turma...

"Ninguém tá querendo assistir..." Voltou-se para ele. — Arthur, vamos deixar sua demonstração para um horário da aula de amanhã, que será normal. Hoje eu preciso ir resolver algumas coisas, e vocês estão liberados para irem embora se quiserem.

Arthur, meio abatido, desfez a bola de água e confirmou com a cabeça, aceitando o adiamento.

Nina se levantou, junto de Nino e Nathaly, e foram seguindo até o corredor, sem pressa alguma. Nenhum aluno fez o mesmo, todos esperavam Alissa sair ou dar a ordem definitiva de poderem se levantar e irem para os intervalos.

Os três saíram...

Alissa recolhia suas pequenas anotações da mesa, enquanto Arthur olhava discretamente para Nathaly acompanhando os gêmeos.

"...Poderia ser eu ao seu lado..." pensou, apertando o punho de leve.

— Gente, podem sair. Quando tiver algum intervalo, e eu ainda precisar dizer algo, eu aviso. Mas quando o sinal tocar e eu vier para a minha mesa, estão liberados. Combinado? — seu leve sorriso ainda deixava todos com uma sensação um pouco estranha, mas a naturalidade com que o fez, dizendo e logo abaixando o rosto, continuando a organizar suas coisas, passou uma credibilidade a mais.

Acataram ao que disse, mas ninguém respondeu, além de olhá-la curiosos enquanto se levantavam. Seus materiais eram bem opcionais. Sempre que iria ter aula teórica, onde envolvia escrever algo, era anunciado um dia ou noite antes, o que fazia com que ninguém levasse material. Apenas deixavam nos armários da escola.

Todos se levantaram, mas quando chegaram na porta, não saíram. Viraram as cabeças de uma forma que tentava ser discreta, mas falharam miseravelmente.

Alissa juntou os papéis, dobrou-os e colocou-os no bolso, enquanto seu notebook flutuava obedientemente atrás dela, como um cachorrinho leal. Quando ergueu o rosto, viu a cena curiosa.

Hum? Tsc... — soltou um risinho divertido, balançando levemente a cabeça com um sorriso espontâneo, e então caminhou até eles.

Sem hesitar, passou a mão carinhosamente sobre a cabeça de cada aluno, fazendo um cafuné breve — uma reação tão inesperada que os pegou totalmente desprevenidos.

Alguns ficaram imóveis.

Outros arregalaram os olhos.

Mas pouco a pouco, um por um, começaram a relaxar.

A tensão se dissolvia.

— Podem sair, seus bobos. Quero que participem mais das aulas, hein? Hahaha... — Embora tenha feito uma imposição, a forma que disse, agiu e riu foi tão espontânea e gentil que não soou como uma ameaça, igual seria dois dias atrás.

Todos concordaram com a cabeça, e a reação robótica se tornava uma reação tranquila de carinho para com sua superior e responsável em sala.

Se pareciam, de fato, com seres humanos... reais.

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