Volume 1 – Arco 2
Capítulo 72: Magia Humana
Toda a sala queria entender o que havia acontecido.
Todos curiosos, mas com receio de levantar ou perguntar.
Seus rostos permaneciam voltados para a porta aberta, seus corpos sentados, rígidos em suas cadeiras, eretos, numa postura robótica e disciplinada.
Não viam nada além do corredor vazio, com a mureta dividindo a área externa.
Quando Alissa fechou a porta, foi tão rápido que ninguém a viu de fato entrando; apenas a viram já dentro da sala, segurando a porta após o estrondo que fizera todos saltarem de susto.
Do lado de fora, Nathaly continuava sendo julgada pelo olhar impiedoso da mãe, que não sabia o que falar naquele momento... não era uma boa hora para chamar a atenção da menina, mas as palavras de Mirlim, dizendo que a menina um dia teria sua primeira vez, deixavam a mamãe preocupada.
"...Puberdade é uma merda!" pensou, rangendo os dentes, no exato instante em que escutou passos lentos se aproximando por trás.
— Foi mais ou menos assim que a vidraça quebrou. Entendeu agora? — murmurou Nino, os olhos fechados, embora direcionados para Nathaly, um pouco tonto, chegando cada vez mais próximo da porta.
— ...Você correu e se jogou no vidro? — respondeu a menina, levantando-se do chão, encarando-o com genuína incredulidade, vendo-o chegar próximo de Alissa.
O Primordial, ainda de olhos fechados, inclinou o rosto discretamente na direção de Alissa, não totalmente, apenas um direcionamento bem disfarçado, e Alissa, com seu olhar aguçado, entendeu a "provocação" e o transferimento de culpa que era imposto sobre ela.
"Não fala!" pensou a exterminadora, preparando o punho mentalmente para socá-lo, se necessário.
— ...Meio que isso — murmurou, desviando o rosto e seguindo para dentro da sala.
Nino passou pela professora com a maior naturalidade do mundo, seguido de perto por Nina. Nathaly, por sua vez, caminhava atrás, com passos curtos e nervosos, como se pisasse em ovos, monitorados pela mãe, que não parava de lhe encarar com seu intenso olhar.
A menina sorriu nervosamente, passando por ela, entrando atrás dos dois, e a moça apenas a seguiu logo atrás. Seu olhar não tinha o mesmo efeito na filha quanto nos gêmeos, principalmente Nino. Nathaly se sentia observada, principalmente protegida, mesmo com Alissa brava. Já Nino... uma trilha sonora soava de seus momentos finais em vida.
Enquanto os seguia e ia fechando a porta, o silêncio reinava.
Toda a sala quietinha esperando os ensinamentos do dia, que acabaram sendo levemente alterados quando chegaram os dois novos alunos, pois precisavam ter o conhecimento que todos já tinham — conhecimento geral do que era a ADEDA e as Anomalias, e sobre a Magia.
Alissa não queria repetir a matéria, ainda mais sabendo que os dois não precisavam escutar sobre aquilo. Mas, tendo em vista que precisava de um treino e melhorar em sala, usou o fato de já ter apresentado aquilo para reapresentar de uma forma mais divertida.
"Vou perguntar à Nathaly depois, e ver se me sai melh..."
— Eu ganhei!
Como Nathaly não sabia do que aconteceria no dia, Alissa a usaria de cobaia para saber se se saiu bem na sua nova "versão" em sala. Mas, enquanto pensava, Nino cortou seu pensamento com uma provocação para Nina... que respondeu logo em seguida:
— Óbvio que não!
Os dois, indo para suas cadeiras, se olhavam com raiva, brigando em palavras:
— Óbvio que ganhei! Quando a porta abriu, meu corpo entrou. Fui o primeiro!
— Seu cu!
Alissa se segurou para não xingá-los. Seu rosto neutro, caminhando até sua mesa.
Nathaly arregalou os olhos com a discussão em sala, assim como todos os outros alunos.
Olhavam para os dois quase caindo no soco, em suas trocas de olhares e rugidos, enquanto caminhavam para o fundo. E, quando olhavam para Alissa, a viam tranquila, organizando algumas anotações que deixou preparadas sobre a mesa.
"Sorria, gesticule, fale com brincadeiras, reações tranquilas e não se irrite com perguntas... Eu consigo! Hoje uma aula mais rapidinha, e depois voltamos à programação normal das planilhas!"
As leu rapidinho, um sorriso alegre pelo ânimo que sentia ao tentar ser uma pessoa melhor por sua filha, no tempo em que via os dois chegando em suas cadeiras, sentando-se e mudando completamente a postura e expressões.
A discussão já havia acabado, e não valia mais a pena brigar por quem havia de fato vencido.
Os outros alunos, no entanto, continuavam em estado de choque.
"Por que não fez nada?" pensavam quase em uníssono.
Alissa se ergueu, indo até o meio do quadro, com a atenção de todos voltada para ela.
Seu ânimo que mais assustava do que passava, de fato, uma ideia de bondade. Seu semblante era sereno, de uma paz avassaladora, mas com o trauma da sala, apenas um sorriso não era o suficiente para que confiassem em se "soltar" mais.
— Bom dia, turma! — exclamou alegremente.
— Boooom diiiaa! — responderam em uníssono... roboticamente.
Algo que estressou Alissa instantaneamente, embora tivesse fechado os olhos e contido a raiva com um sorriso um pouco forçado.
"Calma, vai dar certo..." Abriu os olhos e juntou as mãos, levemente erguidas, gesticulando enquanto iniciava as aulas: — Hoje a aula vai ser curtinha, preciso resolver algumas coisas fora, então apenas vou apresentar uma coisinha que eu espero que a maioria já tenha entendid...
Nina negou levemente com a cabeça, sinalizando para a professora.
"Essa imposição não ajuda..." pensou ela, querendo que Alissa pudesse ouvir, mas Alissa "entendeu" o recado.
— Se não aprenderam, não tem problema, e... — corrigiu de imediato, o tom mais suave.
Nina assumiu uma expressão entediada, mas quando percebeu o olhar de Alissa, cheia de dúvidas, respondeu a ela em silêncio, movendo discretamente seus lábios em palavras, para que a professora entendesse:
"Só fale tranquilamente, tentando não impor nada..."
Durante três segundos... um silêncio gritante reinou, mas foram necessários para que Alissa retomasse o fio da meada.
— A aula de hoje é sobre... os conceitos da magia. O que é... Como funciona... — dizia enquanto andava de um lado para o outro, tentando ser mais presente, tentando ser mais didática, dinâmica e divertida. — Sei que já passei essa matéria para vocês no início do ano, mas recebemos dois novos alunos que não possuem essa... ideia de como isso funciona.
"Isso, continua assim. Tá indo bem..." pensou Nina, sempre dando seu feedback com suas expressões e olhares, o que ajudava muito Alissa na continuidade de suas falas e ações.
"...O que tá acontecendo?" Nathaly olhou para o lado por um momento, um brilho tímido nos olhos, antes de voltar para Alissa falando. "Está... realmente tentando mudar, mãe?" Nathaly a olhava feliz.
Sua postura em sala havia mudado, e a menina nem mesmo tinha se dado conta.
Não se escondia mais na carteira, permanecia sentada, tranquila com a cabeça erguida, observando a aula. Sentindo o frescor do ar-condicionado em sua pele, coisa que nunca havia experimentado com seus moletons largos e robustos.
Alissa prosseguia:
— A magia... — Seu sorriso na explicação era contagiante... mas uma coisa aconteceu e a fez perdê-lo imediatamente.
No fundo da sala... Nino ergueu a mão, e com um movimento de raiva descontrolada... o menino apenas viu a mesa da professora voando ao encontro da sua cabeça. A sombra lhe tampando, seus olhos se arregalando, e mesmo tendo tempo suficiente para desviar... o menino não o fez.
BAMCrshpt!
Recebeu com tudo, sua cadeira e mesa caindo no chão com seu corpo.
A mesa da professora ainda sobre sua cabeça e peito, e suas pernas, fazendo seu drama... davam tremeliques erguidos para cima, um drama exageradamente cômico para irritar ainda mais Alissa.
Alissa, por sua vez...
— Rrrrrgg, rrrrg... — rugia baixinho, a respiração moldando seu corpo em pequenos espasmos de fúria.
Seu olhar sedento por sangue, sua postura mais lembrava um ogro de algum livro de fantasia. Mas então... notou a merda que fez.
Pa!
Toda a sala a olhava assustada, apavorada, mas dentre todos, Nina se deu um tapa na cara, incrédula do que havia presenciado. A reação da menina trouxe Alissa de volta. Pa! que fez o mesmo gesto, e mais uma vez, a sala ficou sem entender nada.
"Que saco... O que eu f..."
No tempo que abaixou sua mão, abrindo os olhos e vendo toda a sala lhe encarando, viu, na fresta de dois dedos de Nina, deixando o olho esquerdo visível, a menina direcioná-lo para Nino... Alissa, sem dizer uma palavra, mantendo um rosto confuso, moveu quase que de forma imperceptível a cabeça em concordância.
Logo se dirigiu até a mesa de Nino, com todos seguindo seus movimentos com os rostos robotizados, e tiveram uma surpresa que nunca imaginariam ver... A mesa se ergueu no ar, indo para a frente da sala sem Alissa tocá-la.
Nino continuava no chão... todo mole. Sua língua de fora, seus olhos quase em um "X" revelando sua morte.
"Sério?" pensou ela, vendo a reação forçada. — Desculpa... Mach...
"DESCULPA?!" Aquela simples palavra gritou na mente de cada aluno.
Todos arregalaram os olhos.
Alguns se beliscaram com força, sem medo algum. Uma parte ficou tonta e outros fecharam os olhos com muita força, tentando acordar na marra, acreditando estarem sonhando, atrasados para irem para a escola.
— ...ucou?
— Si-si-snif-snif... Mi-minha c-cabe-beçi-i-n-nha tá duendo... — Lágrimas se formaram nos olhos do menino, mas a graça foi além, fazendo-o não conseguir conter um sorrisinho malicioso de canto, olhando Alissa o segurando bem de pertinho, com um dos olhos dando tiques claramente assassinos.
"Doendo, né? Praga!" pensou, com suas mãos o segurando, querendo parti-lo em dois.
— F-faz cafuné na minha cabeça... — pediu o menino, atrevido.
Os tiques... mesmo com a moça agora de olhos fechados, não foram embora. O sorriso animado assustava o menino. Cada vez que o tique acontecia, o olho esquerdo dela abria, e nesse mínimo intervalo, a pressão do olhar era sinistra.
"...Credo..." pensou Nino, mantendo um sorriso fofo, e sua expressão infantil serelepe.
Frsh-csh...
Alissa passou a mão no cabelo dele, fazendo um cafuné tão leve que mal tocava.
— Assim?
— Hi-him... é... um pouquinho mais pra esquerda... hihi...
"Harrrfff..." Nina se irritou vendo aquilo, a ponto de suspirar pesadamente... em sua mente. "Assim você não ajuda também, imbecil. Para de graça!" pensou, irada, vendo os risinhos infantis e a atuação inocente forçada ao extremo.
Alissa, entre sorrisos falsos e olhar frio, sussurrou com doçura assassina:
— Certeza que quer continuar com isso? — Um sussurro baixo, bloqueando o som de se propagar além da direção dos ouvidos do menino, que escutou aquilo e quase cagou nas calças com a arrastada agonizante daquelas palavras.
— Já melhorei... hehe...
— Fico feliz... Hihi...
— Hehe...
— Hihi...
— HEhe...
— HIhi...
— HEHE!
— HIHI!
— HE...
— Chega.
— ...Tá.
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