Volume 1 – Arco 2
Capítulo 71: Biquinho
O caminho até a escola foi tranquilo.
Desceram para a R. Turiassu e seguiram com o sol ameno por todo o trajeto, com os três caminhando a maior parte do tempo em silêncio. Nino mantinha as mãos nos bolsos e uma expressão tranquila, Nina parcialmente seguindo a mesma linha, e Nathaly olhava-os de canto, sem saber muito o que fazer ou dizer.
"Tão muito quietos... Eu fiz algo errado...? Ou só não querem conversar?" pensava, as paranoias sendo implantadas em sua cabeça começavam a falar mais alto que a lucidez. "Vamos... Vamos... Pergunta. Coragem!"
Com uma motivação forte em seu peito, seguindo o que lhe foi dito por ambos, decidiu quebrar o silêncio, para dizer o que estava sentindo e perguntar se aquele silêncio, que apenas para ela era torturante, tinha a ver com ela:
— Eu...
— Trouxe o celular, né? — Nina notou a inquietação envolta da menina, assim como Nino, mas diferentemente dele, que apenas ignorou, Nina decidiu interrompê-la, acreditando que o que sairia da boca dela fosse algo prejudicial. "Eu o quê? Não ia falar um 'eu te amo' pra ele não, né??!" pensou, suando frio por dentro.
— S-sim! Por quê? — Nathaly inclinou levemente a cabeça para o lado, imitando um gesto típico dos gêmeos.
Olhou para Nina, que desviou o rosto, escondendo um sorriso gentil, agora olhando para a frente — estavam quase chegando na entrada da escola.
— Vamos tirar fotos hoje, ué. Muuuita...
— Muitas nã...
Pa!
— Muitas fotos... Não precisa ser todas na escola, se quiser.
Nino semicerrou os olhos, depois de levar um tapa na boca e sua irmã continuar lhe prendendo. Nathaly observava a cena — Nino tentando se desvencilhar e Nina quase realizando um mata-leão — enquanto mantinha um rosto sereno, olhando a menina.
— Vai querer ir a algum lugar?
— Mmnmnmnmn...! — Nino tentava protestar, tinha planos bem específicos, e os mesmos envolviam assistir ao jornal das 20h... sozinho, mas não conseguia nada além de grunhidos estranhos, com todos na entrada olhando-o ser segurado à força por uma menina que nem mesmo demonstrava estar fazendo tamanha força.
— Não vai machucar ele assim, não? — questionou, um pouco preocupada.
— Já é acostumado. Eu sempre ganhei no...
Bum!
Nino soltou uma leve explosão de chamas vermelhas, não para machucá-la — ali não era nem de perto um bom lugar para uma luta assim —, foi apenas para conseguir se soltar. E deu certo.
Nina olhou para a própria palma, vendo uma fumaça cinzenta saindo levemente, mas sem tocá-la nem nada.
"Hum...? Isso. Exatamente assim. Usou a cabeça..." pensava ela, analisando friamente. "Não imaginava que me atacaria. Se me fizesse sangrar, meu sangue não estaria vermelho... Tenho que me atentar... ou apenas deixar sempre dessa cor ao sair de casa... acho que é mais fácil."
Fu!
Todos na entrada da escola se assustaram com o barulho alto repentino, e em meio à fumaça da explosão controlada, Nino passou seu braço como um corte de lâmina, dissipando-a com magia de vento.
Seu rosto... nada agradável.
— Encher o saco, beleza. Agora mentir?
— Onde eu menti? — Nina quase riu em sua provocação disfarçada de incredulidade.
— Tcsah! Aaaatá! Eu que sempre ganhava!
— Seu cu!
Nathaly, vendo a tensão no ar quando os dois deram um passo se peitando e olhando no fundo do olho um do outro, bem pertinho, decidiu interromper também, notando que toda a atenção da área se voltava para os três juntos:
— Gente... São uma prás oito.
— Que isso?
— Que isso?
Perguntaram em uníssono, completamente sincronizados, o que resultou nos dois se aborrecendo também ao mesmo tempo, seus olhos roxos, em uma reação mais que espelhada, se semicerrando.
Já Nathaly...
"Ontw..." Viajou por um momento, ainda sendo bem afetada com a fofura que enxergava sempre que aquilo acontecia. "Pera? Não sabem isso?" — ...Uma prás oito significa que falta um minuto pra dar 8h...
— ...A.
— ...A.
Disseram em sincronia... Mas... bem espertinhos... Acreditando que suas mentes já se diferenciavam bastante... Pensaram em uma coisa ao mesmo tempo, e essa coisa envolveu uma leve olhada de canto, mas sem olhar.
Olharam um para o outro, sem nem mover suas íris. Apenas com o campo de visão que tinham...
Nathaly mantinha um sorriso nervoso, um olhar duvidoso, no tempo que quase suava frio.
Mas num instante seguinte do silêncio, onde intercalava seu olhar em um e depois no outro, sem entender absolutamente nada do repentino silêncio, Nino viu que sua irmã o olhava pelo reflexo na íris de Nathaly, e no exato momento, Nina percebeu... que o desafio foi travado.
— O ÚLTIMO PERDE!
— O ÚLTIMO PERDE!
Gritaram juntos, antes de desaparecerem em disparada, com seus olhos sedentos pela vitória e a humilhação da derrota do seu "inimigo mortal".
Nathaly se assustou com o grito, mas saiu correndo até a sala, de forma bem rápida, mas muito inferior aos dois, que chegaram na classe em meros dois segundos... Segundos esses em que Alissa também chegava, de forma normal, mas notou os dois vindo.
Entrava pela porta, quando algo chamou sua atenção. Virou o rosto para o corredor.
Os gêmeos podiam ver as coisas um pouco mais lentas, devido ao poder e velocidade que possuíam, mas Alissa era muito mais rápida. Os dois vinham em uma velocidade absurda, mas era uma que a jovem adulta podia brincar com os dois como bem quisesse.
"Rum!"
Ainda irritada com a chatice do menino na noite anterior... Entrou na sala, fechou a porta e a segurou com uma mão.
PÁÁ!
Toda a sala se assustou, e na porta, um novo detalhe foi criado... Um rosto agoniado, moldado perfeitamente. Com um sorrisinho no canto dos lábios que não conseguia disfarçar, Alissa abriu a porta, e com ela, Nino, com a cabeça presa no metal, foi arrastado, mole feito um boneco, enquanto Nina rolava no chão para todos os lados, mantendo-se abraçada à barriga, rindo igual uma maluca.
Nathaly chegou, vendo a cena de Nina no corredor.
— O que aconteceu? — pensou alto, olhando em volta, sem que ninguém lhe respondesse.
Caminhou até a sala e, quando viu Nino com a cabeça enfiada na porta, se desesperou.
Agiu rápido, de forma instintiva para ajudá-lo. Deu dois passos, abraçou as costas do menino, encurvada, e o puxou com força.
Plub!
Fazendo a cabeça da lenda sair com um barulhinho de rolha de vinho.
Alissa se segurou muito para não fazer como Nina, que não ligava para nada, apenas continuava gargalhando da cara do irmão, que teve o azar de estar na esquerda, tendo a vantagem de entrar primeiro na sala.
— Cê tá legal?! — Nathaly perguntou com afobação e uma preocupação muito forte.
Nino continuou sentado após ser retirado da porta. Suas pernas um pouco abertas, seu tronco ereto, embora o rosto não... não naturalmente. Nathaly caiu com ele para trás quando o puxou com força, e se ajoelhou entre as pernas do menino, erguendo o rosto do mesmo com as mãos.
Segurando-o como uma joia rara e frágil. Um item que jamais poderia pensar em perder. Um toque de ternura, um toque de uma forte paixão... uma paixão cega... Que Nino reparou... mas reparou em outra coisa também.
Enquanto Nathaly se preocupava, com os olhos bem abertos, brilhando e o encarando com uma fixação absurda, Nino notou que o sorrisinho no rosto de Alissa saiu, e que a intensidade do olhar da mais forte caía sobre ele mais uma vez.
Nina viu a cena, mas não se enciumou, apenas parou de rolar após um tempinho, passando a manga comprida do macaquinho para limpar as lágrimas da cena que alegrou absurdamente seu dia.
"Sai daí!" pensou Alissa, vendo que sua vingança não deu tão certo. "Saco!" Irritada, tentou manter-se calma... seguindo o plano de Nina.
Sem mover um dedo, a porta voltou ao normal. O amassado apenas desapareceu, sem fazer um único som, quando Alissa o desamassou com seu poder.
A mais forte deu um passo, saindo da sala e indo até o "casalzinho", que queria a todo custo impedir de ficarem juntos. Não por Nino ser o Nino, mas por Nathaly ser a Nathaly... Entretanto, Nino notou a mudança no ambiente, a aproximação da sua fixação.
Sem perder tempo, seu semblante se tornou o de um gatinho, dramático e pidão. Nas mãos de Nathaly, o menino decidiu brincar com a morte, e com uma voz arrasada e baixinha, lançou sua carta de suicídio, para que a moça que chegava pudesse ouvir suas últimas palavras:
— M-minha testa está doendo um pouquinho... Dá um beijinho pra sarar?
Dessa vez... Nina sentiu. Não ciúmes, pois sabia que aquilo era para provocar Alissa. Mas sim dor... Uma dor muito forte no peito, por não ser ela a pronunciar aquelas palavras.
No tempo que seus olhos se arregalaram, vendo Nathaly se erguer um pouco mais, para beijar a testa do seu irmão...
Alissa também arregalava os dela, mas o corpo da exterminadora se encontrava mole, a alma querendo sair do corpo, enquanto sua cabeça girava... Seu espírito deu tchau para sua carne, e começou a sair pelo nariz, subindo para um novo lugar... Entretanto, todavia, a mais forte acordou a tempo.
— Sssniff!
Puxando sua alma de volta e, no mesmo momento...
Vu!
Com uma jogada de indicador para trás, Nino foi arremessado pela gravidade corredor afora, Pa-Paf-pf! capotando sem rumo, sem Nathaly sentir, reparar ou ver.
Só notou que Nino havia sumido quando levantou o rosto — e deu de cara com sua mãe.
Alissa a encarava com um carão impassível, os braços cruzados, a aura esmagadora.
Que a menina devolveu desfazendo o biquinho, abaixando as mãos juntas que seguravam o menino, assumindo um semblante envergonhado, com um sorrisinho nervoso que quase parecia debochado.
— He-... He...
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