Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 70: Libido

Huuuuuhrr...

Nathaly despertou sem a ajuda do despertador.

Seus olhos pesados, o corpo mole e sua cabeça pesando mais que o próprio planeta.

Esticou os braços para cima na cama, espreguiçando-se como uma gata preguiçosa.

Por um momento, daria uma boa briga de quem era mais preguiçosa contra Mirlim... mas Nathaly perderia. Mirlim continuava dormindo naquele instante, TRARARARAARARAARAR! mesmo com o despertador — o intenso som de uma M134, cartuchos insanos de 7,62×51mm NATO — pipocando há mais de uma hora.

Com esforço, ergueu minimamente parte do corpo, deixando apenas uma fresta de seus olhos abertos devido à claridade do dia. Notou o celular ao seu lado e, ao tocá-lo, a tela se iluminou, refletindo o rosto da menina, que logo o fez se desbloquear.

Assim que o iniciou, o Wi-Fi ligou sozinho, e junto com a internet...

Plin!

Uma notificação chegou.

— "Oi".

Era a mensagem que Nina havia enviado do celular de Nino.

Tão simples.

Tão devastadora.

Thum! Thum! Thum!

Seu coração disparou instantaneamente, acordando-a de forma abrupta naquela manhã que, até então, era serena.

Paff...

Nathaly caiu de lado na cama, escondendo o rosto no travesseiro que compartilhou um abraço durante toda a noite. Seus olhos continuavam arregalados, sua surpresa dando lugar à vergonha, tingindo suas bochechas de vermelho.

Olhava para a conversa aberta, via que a mensagem foi feita ainda de noite, mas não conseguia criar coragem nem mesmo para abrir o teclado e mandar alguma coisa.

Queria responder, precisava responder... Mas suas mãos tremiam, o pensamento travava.

"O que eu mando?! O que eu mando?!" pensava, mas não conseguia agir nem mesmo em pensamentos. Olhou durante bons segundos para a tela, mas no mesmo instante o grupo da sala, que deixava silenciado, recebeu uma mensagem da única pessoa que o usava.

Alissa mandou uma mensagem confirmando que o horário do dia seria às 8h, então Nathaly se levantou na cama, Pf... largando o celular nos lençóis, para ir tomar seu banho.

Pegou sua roupa nova no chão e correu com seu leve pijama balançando ao vento, junto a seus movimentos apressados, até o banheiro.

Tlac...

Entrou e apoiou as costas na porta, como se fugisse ou se escondesse de algo. Seu coração ainda batia mais forte que o comum. Respirando fundo, olhou em volta, seus olhos encontraram a arara, onde deixou suas roupas novas.

Se olhou no espelho... seus olhos, seus lábios fechados não conseguiam esconder a vergonha. Pla!–Pla! com dois tapas sincronizados em suas bochechas, ambas ficavam cada vez mais avermelhadas, no tempo que seu rosto ia de encontro com seu reflexo...

Seu olhar era intenso... mas fechou os olhos, inclinando-se cada vez mais, até entreabrir um pouco seus lábios trêmulos, indo em um beijo... Seus lábios iam com vergonha, se umedecendo cada vez mais e... mais.

Pli...

Tocou o espelho.

Sentiu o molhado se misturar ao frio da superfície. Era estranho, mas foi nele... que começou a treinar a sua primeira vez. Mua... Mwah! Seu beijo foi fluindo, tentava imitar o que viu em vídeos de ensinamentos.

Movia sua cabeça, sua língua queimando, dançava com o espelho. Sentia-se cada vez mais quente, imaginando que era Nino tocando seus lábios. Mantinha os olhos fechados, sua fantasia fluindo como um rio forte e contínuo, assim como seu libido, que começava a deixá-la molhada.

A menina avançou um pouco... e sua cintura tocou a pia. Quando sentiu o toque, sua mente continuava mudando o cenário para um encontro com seu amado, onde Nino a beijava, e o mesmo a tocava... com uma safadeza calculada.

Seus movimentos mudaram, seu quadril começou a se mover, Fricsh-Fricsh... e logo a fria quina da pia tocava suas partes, fazendo com que a respiração da menina, entre os beijos e balanços de cabeça, ficasse pesada, quente e ofegante, embaçando o vidro à medida que se entregava à fantasia.

A sensação de calor só aumentava, enquanto se entregava para o seu amado.

Seus fluidos quentes começavam a escorrer discretamente por suas pernas, molhando, de certo modo, seu leve pijama.

Nathaly continuava a se esfregar. O Nino imaginário a segurava com força, acariciando-a embaixo, um toque firme e possessivo, semelhante ao que sentiu em suas pernas no dia anterior.

Nino a beijava com garra, deslizando a lasciva mão direita pelo seu corpo com a maestria de um violinista com seu violino. O quadril da menina balançava num ritmo involuntário, seus dedos trêmulos se apoiavam na pia.

O calor que sentia era avassalador, incontrolável.

Mas o cenário em sua mente mudou num movimento. Nino se afastou, desprendendo seus lábios para olhá-la com uma malícia hipnotizante. Entretanto, com a visão de seu amado a observando com tamanha vontade, apertando sua bunda com raiva e ferocidade, encarando seus lábios quase sadicamente, a menina se esqueceu que seus olhos estavam fechados.

Num momento onde sua imersão distorcia a realidade em um todo, abriu lentamente os olhos, imaginando que o veria ali, mas no meio segundo que aquilo se iniciou, os arregalou em susto, saindo de perto do espelho babado.

Vendo o que estava fazendo, não só suas bochechas, mas todo o seu rosto quase explodiu de tão vermelho que ficou. Fumaça saía do seu cabelo, seus olhos giravam, um redemoinho âmbar.

Perdida e desesperada...

— AaaAaAAAaaAhh...

Um choque de vergonha atravessou-a como um raio.

Corria em círculos dentro do banheiro, até que se jogou dentro do box.

Shhhhuaaa!

Abriu com tudo o registro, fazendo a água gelada ir direto, Shhhblalalala! em seu rosto.

Ficou ali por um tempo, deixando a água bater, tentando apagar a vergonha que ainda queimava em seu rosto.

Mas não adiantava.

"Ninguém viu... Ninguém viu..." repetia para si mesma como um mantra desesperado.

Abaixou a cabeça, permitindo que a água deslizasse sobre seus cabelos e escorresse por todo o corpo.

Foi então que percebeu... ainda usava o pijama.

E o tecido molhado, agora transparente, moldava seu corpo de maneira indecente.

— Merda! — exclamou, Bamp! abrindo o box com tudo, arrancando o pijama encharcado e voltando rapidamente para debaixo da água.

O calor da vergonha persistia.

Mesmo sob a ducha gelada, seu rosto ainda ardia.

Ficou imóvel por alguns segundos, olhando o ralo enquanto a água descia.

"Hoje é o dia das fotos..." pensou, e um sorriso brotou em seus lábios, doce, animado e nervoso. — Será que ele tira uma me abraçando??

Ergueu o rosto sob o jato de água e, animada, pegou o sabonete, pronta para se preparar, querendo estar perfumada e impecável para ele.


A vovó finalmente terminava de moldar seus bolinhos, erguendo o prato para mostrá-los à câmera:

— "Com os bolinhos agora modelados, consegui fazer dez unidades, ó, de um bom tamanho, e agora nós vamos empaná-los. Aqui nesse prato, eu tenho uma colher de sopa de farinha de trigo sem fermento."

Enquanto a apresentadora puxava o prato, Nino rapidamente localizava a farinha e se posicionava igualzinho à bancada da vovó.

Logo a vovó puxou um potinho e continuou:

— "Colocamos uma pitada de sal, meio copo americano de água gelada, misturo bem, e essa será a nossa colinha que vou utilizar para empanar."

O jovem seguiu à risca, misturando tudo com a mesma precisão cirúrgica com que havia feito o restante da receita.

— "Além dessa colinha, eu vou utilizar aqui, ó, farinha panko, que é aquela farinha mais grossa, ó" — disse enquanto segurava e soltava a farinha em sua demonstração. — "Ela é muito utilizada na culinária oriental. Mas você pode utilizar farinha de rosca normalmente caso não tenha esta, tá?"

Nino encontrou a farinha panko junto com um pequeno kit de ingredientes para fazer sushi caseiro, como algas secas em uma embalagem. Olhou para a televisão e viu a vovó passando o bolinho na colinha e depois na farinha.

Abriu a embalagem, Frsrsrs... despejou em um pote e fez como lhe foi mostrado.

— "Quando estiver assim, todo empanadinho, está pronto para pôr para fritar. Acredito que assado, ou na Air Fryer, também fique gostoso, mas vai ficar diferente da minha receitinha."

Depois de mostrar para a câmera o bolinho que empanou, as tigelas e tudo que preparava foram retiradas de sua bancada, deixando-a limpa, mudando de câmera para a que irá gravar a fritura. Quando uma panela cheia de óleo surgiu na imagem, Nino correu no armário.

Trplacrtshc!

Quase derrubou tudo para encontrar uma parecida... porém... não tinha. Mas ainda era só uma panela... pegou a mais próxima e surgiu diante do fogão.

Shhplululu...

Derramou um litro de óleo inteiro.

Não ficou parecido com a quantidade da vovó, então derramou mais um.

— "Agora, meus amigos, com uma panela de óleo aquecido, eu vou começar a fritar aqui os meus bolinhos..."

TriLikLik...

Nino ligou o gás e apertou o botão para acender o fogo, mas, olhando para aquilo, notava que demoraria demais até o óleo esquentar.

Sem tempo para perder, tocou na panela, usando magia de fogo de uma forma que não explodisse o óleo jogando para todos os lados, e nem derretesse a panela — apenas o necessário para que o óleo ficasse similar ao que via na TV, com algumas bolhas pequenas na superfície.

— "Com bastante cuidado, vou colocar até fritar bem... Pode deixar por cinco minutinhos" — comentou, enquanto voltava para a bancada do início, onde já haviam deixado bolinhos prontos para mostrarem no programa. — "Quando estiverem douradinhos assim..."

Krisp-krisp!

O som seco da faca arranhando a casquinha dourada fazia qualquer um salivar.

— "É porque está pronto."

Ergueu o prato com alguns bolinhos sendo enfeitados com folhas de manjericão e pimentas biquinho. Um dos salgados, partido ao meio, revelava a suculência, o queijo transbordando, matando de fome qualquer um que estivesse sem tempo de preparar seu café da manhã antes de sair para trabalhar, assistindo ao programa.

— "Dá ou não dá água na boca? Se você gostou da receita de hoje, nos marque nas redes sociais, #CozinhandoComAVovóNaMont. Tudo junto, hein? Haha... E para finalizar... Crunch! Uma mordidona para deixar, se já não estava, de água na boca. Tchau, geeente!"

Com a vovó transbordando carisma, o programa se encerrou, fazendo Nino voltar a si, escondendo a Marca Primordial, e voltando a piscar. Fricicscics... no tempo que escutava a fritura tomar conta dos bolinhos.

Na televisão, nada lhe chamou atenção.

Entrou em horário comercial, e Nino lembrou da laranja que retirou da geladeira.

Pegando duas, Shuaaa... passou água corrente da torneira. Pegou um liquidificador, Shk! segurando-as em sua mão de forma displicente, cortou a casca fora de forma perfeita, sem deixar que nenhuma gota de suco, ou carpelo da polpa sequer caísse.

Pegou açúcar, Frsrs... despejou, pegou água gelada, Shuualblbl... acrescentou e fechou a tampa. Vrrrruunn... Ligou o equipamento, fazendo com que Nina, imersa no banho, abrisse os olhos, com o som da cozinha.

— Dormi em pé? — pensou alto, Rirgh-irgh... desligando o registro.

Burrmn...

Antes de uma explosão rápida de chamas escuras secar seu corpo e cabelo.

Vestiu seu macaquinho rapidamente, saiu do banheiro e, quando se virou para a sala, viu seu irmão sentado no sofá, comendo algo que nunca viu, e bebendo um suquinho de laranja.

Nino virou o rosto na direção dela e fez um movimento indicando a direção da bancada.

— Deixei o seu na bancada, pega lá.

Nina não disse nada, só se dirigiu até o lugar indicado.

Chegou, viu os bolinhos, a cozinha completamente limpa, com apenas o liquidificador secando na pia, e se voltou para Nino, que permanecia de costas, dando para ver apenas o topo da cabeça no sofá.

— Que isso? — perguntou, com um tom repleto de curiosidade.

— Bolinho de linguiça com queijo. Nhac! — respondeu ele com naturalidade, mordendo mais um.

— Hã? Onde aprendeu isso?

Crunch... Nhami... — mastigou um bolinho inteiro antes de responder, despreocupado: — Na televisão.

Nina então...

Crunch...

Mordeu o seu bolinho.

Seus olhos brilharam.

Era delicioso...

...Surpreendentemente delicioso.

Mas, quando se atentou ao celular em seu bolso, o puxou, vendo que era 07:50.

Nhami-Nhami-Nhami!

Devorou todos os bolinhos restantes com uma velocidade impressionante.

Glub-glub!

Bebeu todo o suco em apenas dois goles.

Virou-se para Nino, que ainda comia tranquilamente.

— Vamos atrasar! Falta dez minutos!

— Hãm? — Nino lançou-lhe um olhar de soslaio antes de voltar para a televisão. — A escola é praticamente do lado aqui. Só precisamos correr, em segundos a gente chega lá.

— Quero ir como alguém normal, né? Idiota. Sem chamar atenção. Esqueceu? Tentar ser o mais humano possível — disse tudo de forma normal, um leve tom de sermão, mas ao dizer "humano" abaixou o tom, para que apenas Nino escutasse.

— Tá bom.

Vup!

Crunch-Nhami...

Nino arremessou os bolinhos restantes para cima, devorando cada um no tempo que iam caindo em sua boca. Logo se levantou, levando o prato e o copo até a pia. Shuuaa... onde os lavou e deixou secando.

Burrmn...

Uma leve explosão de chamas escuras limpou seu corpo e roupa de impurezas.

Com as mãos nos bolsos, andou até Nina, acompanhando-a na saída do apartamento.

— Hum? Não vai levar seu celular? — questionou ela, olhando-o passar para o corredor.

— Aquilo é inútil. Pra que vou usar aquilo? — respondeu com desinteresse, e Nina lançou um olhar levemente pensativo para dentro do apartamento, antes de fechar a porta.

"Interessante... deveras interessante isso..." refletiu, seus planos se formando em silêncio.

Nino chamou o elevador, que veio descendo do oitavo andar, enquanto Nina se juntava a ele. As portas se abriram — não havia ninguém. Entraram, clicaram na portaria e viram as portas se fechando, com aquilo começando a descer... Entretanto, uma coisa inesperada aconteceu.

Ao chegar no terceiro andar, o elevador parou, e quando abriu, revelou Nathaly, que os olhou com um misto de alegria, vergonha e surpresa. Nino se manteve tranquilo, mesmo humor de quando saiu do seu recinto.

Já Nina sorriu gentilmente, enquanto Nathaly entrava e ficava no meio dos dois mais altos.

— Bom dia! — saudou animada.

— Bom dia — respondeu Nina, com um tom igualmente simpático.

— Bom dia — respondeu Nino, de maneira indiferente, absolutamente normal.

O elevador fechou e começou a descer...

Foram nem dez segundos de silêncio, mas para Nathaly, sentia que o silêncio era ruim quando estava com alguém, então tentou puxar assunto:

— Vocês escutaram um barulho alto de noite? Parecia vidro. Tomei um susto — comentou, olhando para a esquerda e para a direita, alternando o olhar entre eles.

— Ah, foi no nosso apartamento — respondeu Nino sem cerimônia.

Nina, discretamente, lançou um olhar de canto para o irmão.

"Não fala muito. Ao menos não fala da Alissa ainda." pensou, apreensiva, preocupada com como Nathaly reagiria se soubesse que sua mãe havia "seguido" eles.

— O apartamento de vocês? — repetiu a menina, claramente surpresa.

— Eeh, a vidraça do nosso quarto quebrou — comentou ele, preguiçosamente, mantendo as mãos nos bolsos.

— Q-quê?! Como quebrou?

Com um sorriso desdenhoso de canto de boca e os olhos semiabertos, carregando toda a preguiça e sarcasmo possíveis, respondeu de forma arrastada:

— ...Com a minha cara.

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