Volume 1 – Arco 2
Capítulo 67: Especial
Seguindo o pedido de Nina, Alissa se sentou na cama, à esquerda do garoto, que ainda mantinha o rosto voltado para a sacada. Nina, por sua vez, se aproximou do guarda-roupa, fingindo ser a frente de uma sala de aula.
— O que o meu irmão disse faz sentido.
Alissa estreitou o olhar, desconfiada, enquanto Nino voltou-se para a irmã, atento à explicação.
— Óbvio que não estou falando da brincadeira. Mas o seu rosto é muito importante. Você é muito bonita, mas esse não é o ponto. O ponto é que, em sala, parece que você está morrendo de preguiça, tédio e ódio ao mesmo tempo — comentou com tranquilidade, gesticulando suavemente e mantendo expressões ponderadas, deixando claro que não era provocação, apenas observação.
Alissa estreitou ainda mais o olhar, deixando-o denso. Já Nino lançava olhares de canto para a irmã, com seus olhos bem abertos e surpresos com a forma que Nina abordava aquilo sem receio de puxar um gatilho da ira da mais forte — mas fazia isso sem mover nenhum milímetro do seu rosto em direção à professora.
— Você se irrita muito rápido. Eu sei que o meu irmão é insuportável, mas não foi apenas com ele. Quando uma menina levantou a mão, sua expressão corporal, tudo em você, parecia uma ameaça para ela continuar com a mão erguida.
— Como assim? — Alissa quebrou o silêncio, sua voz fria, porém receptiva à crítica.
— Você parece com isso... Huhum... — Nina esticou os braços para frente e começou uma espécie de dança robótica, com um semblante raivoso. — Bziii, zuuuu, puu-puu... Rrrr, au! au!
— Ts...
BAM! CRASHH!
Nino mal havia começado sua risada, quando foi pego desprevenido com aquilo, e Alissa já havia lançado o braço direito para o lado, dando um soco no braço esquerdo do menino, que o fez sair voando em direção à sacada, onde estilhaçou uma enorme área da parede de vidro com a sua própria cara.
Quatro andares abaixo, Nathaly teve um sobressalto com o barulho repentino. Seus olhos se abriram devagar. Ainda abraçada ao travesseiro, ergueu-se levemente, sentada, olhando a linda noite lá fora, com sua paleta de cores sombrias dando cor ao seu leito.
— Que foi isso? — sussurrou, a voz deslizando com dificuldade pelos seus lábios. O sono voltando e pesando cada vez mais a cada leve piscada. — Uoooaaah... — soltou um bocejo, Frsh-Frsh... coçou os olhos. — Parecia... vi...dro...
Paff...
Deixou-se cair para trás, o travesseiro ao seu lado quase que a chamando.
O abraçou novamente, aproximou seu rosto e o afofou, se afogando na maciez...
— Harff...
Antes de suspirar pesadamente, deixando o ar esquentá-lo, voltando o calor para o seu rosto, fazendo-a voltar a dormir em paz, animada para tirar as fotos que sua melhor amiga disse, no dia que ela tanto queria que chegasse.
Nina, assustada, olhava para o chão próximo da sacada cheio de pedacinhos de vidro, quando Nino surgiu na sua linha de visão. Trik-trk... pisando sobre os estilhaços, voltando para a cama enquanto segurava o braço esquerdo com a mão direita, e fazia um beicinho emburrado.
Sentou-se ao lado de Alissa, sem nem olhá-la. Indignado e bravo, abriu a boca para reclamar:
— O...
Entretanto, Alissa o cortou com uma rápida resposta:
— Antes mesmo de voltarem pra cá depois das aulas de amanhã, já estará consertado. Relaxa.
Interrompido, se emburreceu ainda mais. Fechou os olhos, e abriu a boca mais uma vez:
— ...Doe...
— Não perguntei. Fica quietinho, fica. — Alissa nem mesmo o olhou. Os dois olhavam para frente, indiferentes um com o outro, enquanto Nina era o rumo de seus olhares, e a menina ficava trocando o ponto dos seus, indo do rosto do irmão para o rosto da professora.
— Eeeeh...
— Não entendi o que quis com esse exemplo prático. Tá falando que eu pareço um robô bravo?
— Sim.
— Tsi...
Alissa escutou o risinho do garoto, e virou seu rosto lentamente para ele. Um momento aterrorizante, que Nino percebeu e ergueu os braços, balançando a cabeça sem olhá-la diretamente, torcendo para que nada lhe acontecesse.
Alissa chegou com o rosto até ele. Vendo-o de cima, mantendo o rosto empinado, da mesma forma que Blacko olhava todas as raças que exterminava. Tudo durou dois segundos... o suficiente para Nino congelar.
Quando a moça voltou o rosto para frente, Nino se sentiu seguro novamente, embora ainda assim, mantivesse seus olhos bem abertos, sempre olhando-a de canto.
— Huhum... — Tentando controlar o momento, Nina limpou a garganta, antes de continuar seus comentários: — Você não parece natural em sala. A forma que faz tudo, nada parece espontâneo. Parece que não tem um pingo de vontade de estar ali. Além do seu controle ser bem severo, todos têm medo de fazer qualquer coisa que possa irritar você.
— O que sugere?
— ...Talvez uma mudança na forma que fala e se comporta. Meio que tentar falar com um tom mais divertido, já que são criaçCof-cof!
A menina abriu um pouco os olhos de susto com o que dizia, e viu Nino com o mesmo olhar, mas Alissa nem notou e nem desconfiou que aquilo na frente dela não era uma humana.
Após a tosse forçada...
"Cacete, quase..." se aliviou em sua mente. Um alívio que durou pouco, pois viu os lábios de Alissa se moverem.
— Exemplo?
"Ufaa..." O alívio voltou, mas não deixou transparecer em seu ser. — Falar gesticulando, com um tom alegre, de bem com a vida. Chamar alunos para participarem, perguntar coisas sobre o que está explicando e ver se sabem. Coisas assim. O problema é que no início o receio ainda vai estar presente neles... Aí entra o Nino.
— Eu? — Nino franziu as sobrancelhas, surpreso e desconfiado.
— Ele? — Uma reação que se espelhou em Alissa, antes da moça virar o rosto com os olhos semicerrados para o menino, que os arregalou, ficando completamente imóvel, acreditando que a predadora iria embora se ele conseguisse se fingir de morto.
— Sim — respondeu Nina com naturalidade. — Mas terá que ter mais paciência. Se Nino brincar em sala, e nada acontecer... — Antes de concluir seu raciocínio, abriu um pouco mais os olhos, e gesticulou ponderando outro ponto: — Obviamente você deve reprimir esse idiota, mas nada muito "agressivo". Só moldar uma nova linha de limite, para que todos se sintam mais livres, até chegar nela e não a ultrapassarem.
Alissa abaixou o olhar, pensativa.
"Faz sentido até..."
— O limite atual é... nenhum. Você não tolera nada. Única coisa que tolerou foi quando Nathaly ergueu a mão...
Alissa voltou o olhar para Nina instantaneamente, o que fez a menina sentir um leve tremelique no corpo com a intensidade que era aquilo.
"Cacete... Isso é uma humana mesmo?" — Eeh... Acha que consegue tratar os outros como você trata a Nathaly? Meio que ao menos tentar ser mais tranquila, assim como é com sua filha?
[ — Acha que consegue tratar todo mundo como se fossem... sei lá, um humano que você não sente sede de matar? ]
"Hum?" Nino sentiu um déjà-vu das palavras que a irmã acabara de usar, recordando-se do pedido que ela lhe fizera algum tempo antes.
Alissa ficou em silêncio, ponderando. Sua respiração audível marcava o ambiente, tranquila, mas densa de reflexão.
"Mirlim..." pensava em sua "mãe", momentos da conversa constrangedora se passando em sua cabeça, e notava que o que Nina dizia parecia, de certo modo, com o que Mirlim disse para tentar.
— Acho...
Ergueu o rosto, olhando para a menina com um olhar agradável, o que não deixou Nina com a típica pressão esmagadora do peso do seu olhar normal.
— Acho que é uma boa ideia.
Nina abriu um pequeno sorriso, fechando os olhos de maneira fofa e gentil.
— Vamos fazer um teste então. Fica aqui onde eu estou e comece uma aula.
— Tá!
Alissa se levantou, e Nino, ainda imóvel, acompanhou o movimento com o olhar, trocando em seguida sua atenção para Nina. Nina sentou-se à sua direita, mais próxima da área repleta de vidro estilhaçado.
— Sniiifff, fuuuu... — Alissa respirou fundo, soltando o ar quase como um assobio, e forçou um sorriso no rosto. — Bom d...
Mas no instante que Nino começou a erguer o braço, simulando uma pergunta, seu sangue ferveu, e o ódio a consumiu por inteiro, fazendo-a erguer um soco na direção do menino, que se assustou dando um salto para trás na cama, jogando os braços para frente em uma tentativa desesperada de tentar segurar o possível golpe.
— Rrrrrrgg!
— C-calma! Eu só levantei o braço e já tá com raiva!
Nina ergueu a mão esquerda até o rosto, pressionando os olhos com dois dedos, exasperada.
"Isso vai ser difícil pra cacete... Que merda que você foi fazer, sua praga? Que saco. Era só ficar de boa no apartamento!" brigava com Nino em seus pensamentos, querendo que Alissa fosse embora para brigar diretamente.
— Fica quieto, inferno! Quer morrer? — Alissa rugia, esquecendo-se completamente do combinado de menos de um minuto atrás.
— Tudo em você é falar que vai matar!
Nina sofreu um movimento involuntário nos ombros, sentindo a tamanha cara de pau do irmão como uma bofetada.
"E você é muito diferente, né? Hipócrita!" continuava querendo descer o cacete no irmão, mas o momento não era nem um pouco propício para uma discussão "amigável" de dois irmãos que se amam muito...
— Fica quieto!
— Falar que vai matar um aluno toda hora, acha que isso é legal?! Vão sentir medo mesmo!
Nino insistia, sua postura ainda recuada, enquanto Alissa se forçava a manter a compostura, avançando lentamente como uma fera domesticada à força.
— Você não é um aluno normal!
Nino quase abriu um sorriso.
Internamente, seu mundo explodiu em felicidade... Suas nuvens internas se enchiam de cores. Suas expectativas desabrochavam como flores num campo vasto.
— E-eu sou um aluno especial? — perguntou na inocência, extremamente feliz ao notar que não era apenas "mais um" na vida da mulher que seus olhos e ser desejavam-na ter por perto.
Ter o ser que tanto lhe trazia um sentimento de proteção, o ser que tanto se assemelhava na sua idealização de ter uma mãe... embora Nino não conseguisse entender isso de fato.
Agia no impulso de chamar a atenção, sem saber quase nada dos seus próprios sentimentos. Sem saber como tudo, além de sua Herança Sanguinária, funcionava dentro de si.
— Deve ser especial mesmo. Um autista com hiperfoco em encher o saco! — Alissa respondeu de bate-pronto, a provocação afiada como uma faca.
— Hãm? Você nem te...
TUC!
— AiiIiIght... — Com o cocão certeiro, Nino levou ambas as mãos à cabeça, enquanto o mundo girava, seu olhar todo embaçado. — Eeh-eu sinto meu cérebro balançando toda vez que você faz isso...
— Também, com essa cabeça oca. A noz aí dentro deve sambar batendo nas paredes sempre que tenta pensar em algo — Alissa disse com sua voz cada vez mais embargada de riso, sentindo-se alegre com a provocação feita.
— Seu...
— Tsi...
Nino vinha com uma resposta mais rápida ainda, mas Nina não aguentou o que a professora disse e soltou um risinho simples, mas na medida certa para provocar seu irmão, deixando-o irritado, para descontar minimamente o estresse que ele lhe causava naquele momento que agora tinha apenas uma "leve" tensão.
— Vocês du...
— Calado!
— Calado!
As duas dispararam em uníssono, fazendo Nino fechar a cara, cruzar os braços e virar o rosto para a porta, amuado, já que Nina permanecia sentada à sua direita.
— Insuportáveis — resmungou, quase num sussurro raivoso, apenas para si.
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