Volume 1 – Arco 2
Capítulo 66: Rabiscos
— Para de fingir. Você não é fraco a ponto desse vitimismo todo de dorzinha. — A voz da exterminadora saiu arrastada, seu olhar retornando ao padrão frio e autoritário.
Observava o menino se erguer, incapaz de sustentar o contato visual, desviando o olhar para o lado, sem jeito.
Nina entrou no quarto, caminhando com calma, quando Alissa deu uma ordem cortante ao Primordial:
— Vai dizer o que estava na sua mão, ou vou ter que arrancar das suas tripas a prova de que realmente era uma melancia?
Nino ergueu o indicador, com um sorriso bobo no rosto. Agora, ousava encará-la enquanto respondia:
— Tenho uma ideia! Espera eu cagar e você vê o meu cocô!
— Grr!
Alissa ergueu o punho e Nino se desesperou.
Levantou os braços em rendição, gritando outra proposta, no tempo que seu corpo dava uma leve recuada, mantendo os olhos fechados para um impacto preparado em seu corpo:
— Eu ajudo você a ser uma professora melhor se esquecer isso da melancia!
Alissa parou o golpe, olhando-o, ponderando a proposta.
"Huuumm... Foi ele que disse isso do medo... O único que me desafia também..." — Vai realmente ajudar? — Sua voz trazia desconfiança, carregada de um aviso silencioso de perigo.
Ouvindo aquela mudança de tom, Nino abriu uma fresta do olho esquerdo, confirmando que Alissa já não mantinha mais a postura assassina. Endireitou-se, abriu ambos os olhos e, num gesto decidido, afirmou com um movimento de cabeça:
— Uhum!-Uhum!
— Vou quebrar a sua cara se não ajudar — ameaçou ela, cruzando os braços. Seu sobretudo refletia a luz do quarto, tornando sua silhueta ainda mais imponente.
— Eeehh... Uhum... — murmurou Nino, meio sem graça.
Lançou um olhar rápido para o lado, onde Nina apenas os observava, curiosa. Então, afastou-se um pouco de Alissa, caminhando até a cama, onde se sentou com um movimento exageradamente demorado, afofando a colcha como um passarinho ajeitando seu ninho.
Queria irritá-la com a demora... mas não funcionou. Não era um ataque direto o suficiente.
Nina se aproximou, sentando-se na ponta da cama, ainda atenta a toda a cena.
"Algo ele trouxe na mão... O que era? Uma melancia com certeza não. A professora deixou de seguir Nathaly pra nos seguir? Faz sentido? Por que caralhos esse animal não consegue sossegar esse fogo no cu de fazer merda? Nosso pai era assim? Puxou isso dele?"
— Huhum... Passo número um! — anunciou Nino, erguendo o dedo indicador da mão esquerda. Seu braço direito apoiava seu corpo na cama, enquanto seus olhos fechados e seu semblante transbordavam uma confiança inabalável.
Alissa... desapareceu.
...Mas por menos tempo que um ser conseguiria piscar os olhos.
Deixando o quarto dos gêmeos, surgiu no de Nathaly, apanhou um caderno e uma caneta do guarda-roupa e retornou para o apartamento dos dois — tudo em frações de segundo. Nathaly, por sua vez, acabava de terminar de assistir o vídeo de uma moça relatando como foi sua experiência ao perder a virgindade.
Devido à velocidade absurda da mãe, nem sequer percebeu ou sentiu algo passar em seu quarto. No entanto, sentada, apoiada nos travesseiros da cabeceira, com o guarda-roupa no campo de visão — mesmo no ambiente quase às escuras —, notou uma mudança sutil:
— ...Tava abertinho assim?
Mesmo que fosse menos de dois centímetros de diferença o vão que Alissa deixou em comparação com como estava antes, notou a mudança.
Com um semblante de puro tédio, tombou o rosto para a direita, olhando as cortinas tampando quase toda a bela vidraça...
— Ué?
Olhou para a esquerda... não via nenhum vulto.
Olhou para cima... nenhuma entidade macabra.
Nada a observava.
— Ué...? Tô doida?
Olhou mais uma vez para a sacada, e mais uma vez não viu nada atrás das cortinas.
Não via nenhuma silhueta.
Franzindo os olhos, desconfiada, lançou olhares rápidos para todos os lados, tentando cobrir o máximo de ângulos possíveis, para que Alissa não conseguisse escapar de algum... Mas não a vendo... parou.
— ...Tão tá.
Pegou o celular, arrastou a tela para fechar o aplicativo, desligou o Wi-Fi e bloqueou o aparelho... Deitando-se para dormir. Cobriu-se bem, não desfazendo o montinho de travesseiros, apenas usando um na base.
Fechou seus olhos, mas seus pensamentos ainda ferviam. Não com a curiosidade que lhe assombrava de forma positiva em relação ao que escutou no vídeo, mas sim o que a fez abrir os olhos, erguendo-se na cama, com os braços erguidos, prontos para assustar alguém.
— Ruoor! — rugiu... mas sua desconfiança de estar sendo observada pela mãe era infundada. Naquele momento, deu-se por vencida. — Deve ser sono... Ela não se esconde tão bem assim...
Desfazendo o montinho de travesseiros, a garota, com seu leve pijama, deitou-se abraçada a um deles. Mantendo os olhinhos abertos por um tempo, foi fechando-os lentamente, até que o peso do sono a dominou, e sua respiração tranquila passou a embater na macia companhia sob seus braços.
Nino abriu os olhos, antes de continuar com o primeiro passo, e quando viu o rosto de curiosidade de Alissa — olhos bem abertos em atenção, segurando um caderno que simplesmente surgira na altura do rosto, parecia um goblin, só que branco, meu Precioooso... — Nino ficou sem entender.
— Tirou isso de on...
— Não te interessa.
PÁ!
"LÁpada ssseca do caççcete..." Mesmo que o tapa não tenha sido real, Nino sentiu a resposta como um golpe seco no orgulho.
"NuOssa..." pensou Nina, quase rindo da cara do irmão.
— Continue, qual é o passo um?
— Huhum... — Nino fechou os olhos e ergueu novamente o indicador esquerdo. — Passo número um: relaxar mais o rosto.
— Uhum! Uhum!
Riskrisk-risk...
Alissa ia rabiscando tudo no caderno, velozmente.
— Passo número dois: mudar de rosto.
Riskrisk-risk...
— Passo número três: usar um saco de papel no rosto.
Riskrik...
— Uhum! Uhum!
— Passo número quatro: melhor nem aparec...
PÁrassgg...
Ainda com o dedo erguido e um sorriso safado no rosto, Nino abriu os olhos ao sentir algo colidir com ele. O caderno agora enfeiteava seu pescoço, pendurado como uma coleira improvisada, enquanto o rosto de Alissa exibia uma raiva... complicada.
Sem se importar, Nino apenas aumentou a provocação:
— Que colar bacana! Você tem bom gosto!
[— ...Sua mãe tem bom gosto...]
"Gosto-gosto-gosto..."
As palavras do menino fizeram uma lembrancinha voltar na cabeça da mais forte... E quando a frase ecoou em seu pensamento... as coisas não ficaram tão... legais. Os olhos da exterminadora queimavam sem queimar, oscilavam em azul com a presença extraordinária que seu ser exalava sem esforço algum.
Nino se viu no reflexo do olhar assassino. O movimento da mulher erguendo o braço, nitidamente se segurando ao máximo para não matá-lo, embora mais parecesse um carregamento de um golpe poderoso.
— Se não me ajudar eu vou matar você!
— Estou te ajudando, você que não percebeu! — retrucou rapidamente, desafiando sua morte eminente.
— Ééérr? E como?
— Ué? — respondeu, com a cara mais bobona que pôde fazer. — Se só ameaçar assim, e não concluir o assassinato já é algo positivo pra senhora surtad...
PÁFF!
Nino levou um soco no meio da cara, resultando em seu corpo indo para trás, colidindo as costas no colchão com tudo... Seu sorriso se mantinha, embora sangue vermelho escorresse de seu nariz.
O caderno...?
Virou um monte de papel rasgado após o impacto, porém Alissa descartou no lixo da cozinha antes mesmo dos gêmeos se darem conta da bagunça que seria criada.
Com os olhos ainda abertos, passou um segundo. Sua regeneração reagiu pelo dano não contínuo e o jovem se reergueu, embora sem ter absorvido o sangue manipulado, para soar mais natural.
— ...Vo...
— Calado.
Alissa e Nino se viraram para Nina, agora em pé, do lado deles.
— Fica quieto, por favor — pediu a Primordial, olhando para seu irmão, completamente sem reação, com os olhos curiosos, assim como Alissa observava a menina.
Nino limpou o sangue com o antebraço, resignado.
Nina voltou-se para Alissa, dizendo:
— Poderia se sentar? Vou tentar ajudar você, já que meu irmão não consegue apagar o fogo no cu.
— Ei!
— Calado!
— Calado!
As duas dispararam juntas, com rostos ameaçadores voltados para ele.
Nino estreitou os olhos, encarando-as de volta com uma careta quase desafiadora.
"Estou em território inimigo, droga... Fui traído. Praga de menina..."
— Gostei dessa palavra. Mais direta do que um "cala a boca" — comentou Alissa, em um tom de tranquilidade na voz, e um semblante mais agradável, virando-se para Nina.
— É boa, né? — respondeu a garota com entusiasmo. — Tenho que usar com frequência...
— Ha! Imagino — Alissa soltou uma leve risada sincera.
— Ha-h...
— Calado!
— Calado!
O corte que recebeu ao começar uma risada sarcástica fez Nino assumir um beicinho dramático, no tempo que cruzava os braços, olhando para a direita, todo estressadinho, desviando dos olhares sem paciência das duas, suas "duas inimigas" naquele momento criado por sua irresponsabilidade.
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