A menina nem vocalizava, apenas acatava as ordens.
Sentou-se, e o garoto se agachou na frente dela, indo com as mãos no pé direito, segurando-o com delicadeza e erguendo-o para facilitar um pouco.
Do chão, Nino a olhou, vendo o rosto, que lhe encarava levemente envergonhada.
— Pezinho! Nhac! — mordeu o pé da menina, sua enorme boca engolindo metade dele. A menina gargalhou timidamente, tendo contrações para se desprender do "tubarãozinho" que tentava arrancar seu pé. — Eca! Tu tem chulé! — brincou ele, com um sorriso alegre, após retirar a boca e secar o pé dela com a própria blusa.
— Mentira! — respondeu ela, em tom de brincadeira, sua voz risonha, embora tentando mostrar firmeza.
— Menti mesmo...
Colocou as meias com cuidado, logo encaixou os tênis e amarrou os cadarços... bem, ao menos tentou...
— Não sabe amarrar? — brincou ela, vendo-o todo perdido.
— Huhum... claro que sei! — Virou o rosto com um tom de superioridade. — Apenas desisti de amarrar, porque vai ter que trocar de roupa depois, então é desnecessário.
— Aah, faz sentido.
— Vem, levanta, se olhe no espelho e veja a gatinha que é... — Estendeu a mão direita, com uma voz calma.
"Me maaaata de uma vezzz-me maaaata de uma vezzz..." Vozes juntas ressoavam na mente de Alissa. O ciúmes a consumia enquanto ouvia as risadinhas e os cochichos, tentando se controlar para não agir de forma impulsiva.
Já não queria mais matá-lo, apenas morrer... mas a dor do ciúmes era uma luta constante.
Nathaly segurou e logo se ergueu, vendo sua roupa e não se sentia mais pelada, com frio ou incomodada por nunca ter usado um short desde que era criancinha, apenas se sentia confiante e mais mulher.
Se olhava, com os olhos brilhando, não mais se rebaixando, apenas se vendo linda, bonita, charmosa e, a marca na qual sempre enojou, agora era a coisa que mais gostava em seu ser...
"Minha cicatriz... a marca da minha força..."
Nino a abraçou por trás sem malícia alguma, os braços envolvendo a cintura, colando seu corpo no dela.
— Ei...
Com o chamado, Nathaly se virou para ele, e Nino a olhava de perto, vendo-a corando cada vez mais.
— Olhe para o espelho e diga que é linda.
A jovem obedeceu e se virou.
— Eu sou linda...
— Isso...
O pensamento de Alissa agora era mais extremista:
"Que vontade de jogar uma roleta russa..." Começou a delirar... Mas o ciúmes logo assumiu. "Ao menos está ajudando ela... MAS EU SOU A MÃE! EUUUU! NÃO VOCÊ! QUEM É VOCÊ?! EU FALO QUE ELA É BONITA TAMBÉM, E AÍ? HEIN?! SÓ VAI NAMORAR ELA SE EEEEUUUUU PERMITIR, TÁ ME ESCUTANDO?!" Gritava em sua mente, mas não tinha coragem de ir lá e atrapalhar, pois sabia que sua filha ficaria chateada demais.
— Acho que é isso, vamos então? — O abraço... Suas mãos ainda querendo quebrá-la ao meio. Saciar a sede de sangue o mais rápido que desse.
A soltou, se virou e pegou suas peças pretas.
Precisou de uma saída rápida, sua intenção era fazer com que a menina parasse de se diminuir — desde que entrou naquele cubículo — por odiar seres fracos perto dele. Mas como ela era exceção à regra cravada em seu sangue preto, tentava fazê-la ficar forte. Mas quando viu o olhar e a pequena inclinação de cabeça, na possível tentativa de um beijo, a soltou, para saírem de lá.
— Hum? — Nathaly não ligou, sua tentativa radical que nem mesmo ela entendeu, mal tinha começado quando o menino se afastou. Mas quando Nino pegou as roupas, a menina notou uma coisa e deixou sua curiosidade ser vocalizada.
— Hãm?
— ...Não vai comprar cueca?
— Quê? Pra quê? Não uso isso.
— HãAm?! — Sua expressão demonstrava a surpresa sentida.
— Ué? Tu usa cueca?
— G-g-garotas não usam isso.
— Hãm? Usam o quê?
— ...C-calcinha... — Sua voz saiu acuada, envergonhada com o que disse.
Nino não respondeu, sua cabeça apenas tombou para o lado, enquanto olhava para Nathaly com os olhos abertos.
— V-você nunca viu? "E-ele está curioso...?"
Não houve respostas. Nino não estava mais lá.
— Quer ver a minha?
"Minha filha é uma assanhada... ONDE EU ERREEEEEEEIIII???!!" A raiva e frustração de Alissa tomaram conta dela novamente. A depressão que a consumia havia dado lugar a uma revolta silenciosa. Enquanto isso, no provador, fazia caras e bocas, socando o chão em câmera lenta, de forma exagerada para não fazer barulho.
Nino piscou duas vezes, acordando, claramente surpreso.
— Quê? Claro que não! — rugiu. Nino voltava a se irritar de verdade. Aquilo estava demorando mais do que ele queria. Seu tom deixou isso transparecer.
Nathaly tampou o rosto com as mãos, aquilo foi demais para ela. Não esperava escutar aquilo, apenas agiu no impulso e se viu em uma situação vergonhosa.
"O que eu disse?!"
Enquanto isso, Alissa, em sua mente, se deliciava com o momento...
"Nossa... Vai dar três horas da manhã, vai se lembrar dessa pérola e espancar o travesseiro gritando." deixando escapar um sorrisinho debochado. "Bem feito, bom que não faz mais."
Nino percebeu o "erro" e tentou aliviar aquilo, mudando de assunto:
— Achei legal o acessório da perna, parece com isso que usa no pescoço.
"Eu que dei, desgraçado." respondeu em pensamento, indignada com o menino tocando sua filha safada.
— Minha mãe que me deu... — respondeu ela, toda meiga.
— Sua mãe tem bom gosto...
"Tsc... Usando a carta mais criminosa para conquistar a filha de alguém... Safado, não merece a minha filha... O que viu nele? FALA, NATHALY, O QUE VIU NELE?!" Alissa, em sua mente, questionava a filha, como se ela pudesse ouvir.
— Vamos, então? — Nino perguntou, já louco para sair e acabar com sua atuação o mais rápido que pudesse.
— A-ah, eu preciso colocar a minha roupa de volta...
"Puta merda!" — Ah, é... Não tem como sair assim não? Vamos mostrar aquele "negócio do preço" e pegar as coisas lá. Você sua muito e — Nathaly desviou o olhar, com a informação sendo relembrada da maneira mais constrangedora do mundo — o sol tava castigando bastante no caminho. Melhor já sair com a roupa, não acha?
— ...Tá.
Nino se curvou e segurou o conjunto de moletom da menina.
— Vamos...
Sorriu e deu um passo, indo abrir a porta.
Mas, antes que saísse, Nathaly segurou seu braço e o menino olhou-a rapidamente.
— A moça não tá lá fora?
— Tá não, escutaríamos a voz dela. Relaxa, vamos — respondeu, com um sorriso "tranquilo".
Cliq...
Nino abriu a porta e saiu, segurando as roupas dele e de Nathaly. No momento em que ele saiu, uma figura apareceu vindo do fundo do corredor. Nina viu Nino com as roupas cinzas nas mãos e, em questão de segundos, percebeu Nathaly saindo do provador onde ele estava, agora vestindo um look diferente, caminhando quase saltitante, enquanto o seguia de perto.
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