Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 46: Azul e Laranja

Alissa, escondida na multidão, observava atentamente os três. Seu olhar, aflito e severo, acompanhava os movimentos de Nino e Nathaly. Usava a multidão como camuflagem, embora, com um sobretudo prateado, seus curtos cabelos brancos e olhos azuis quase gritando em brilho, não a ajudassem tanto em sua perseguição, agora interna, de um edifício.

Sua raiva interna crescia a cada passo deles, especialmente quando viu o jeito que ele tocava Nathaly, ainda mais agora que a segurava nos ombros, indo atrás de Nina.

"O que acha que está fazendo com a minha filha?!"


Ao longe, Nathaly permanecia visivelmente desconfortável, suas bochechas queimando de vergonha, enquanto Nino falava com naturalidade sobre algo que a fazia se sentir ainda mais exposta.

— Pode segurar o meu cabelo, e, se achar que vai cair, pode firmar as pernas sem medo — disse ele, quase sem pensar nas palavras.

Nathaly, corando ainda mais, tentava desesperadamente resistir à sensação de todos os olhares caindo sobre ela. Seus olhos se moviam rapidamente pela área de lojas que passavam, sentindo-se cada vez mais envergonhada, enquanto as pessoas notavam a cena.

A vergonha, no entanto, era diferente daquela que sentia na escola. Não havia medo agora, só um desconforto crescente, que tentava esconder, mas que, ao mesmo tempo que não queria sentir, não queria deixar de senti-lo segurá-la.

— N-n-não precisa me carregar! — murmurou, a voz baixinha, mas a urgência em sua fala ainda era clara.

Sua vergonha aumentava a cada momento, fazendo com que tentasse se mover sobre Nino, buscando se soltar, mas era inútil. Quanto mais tentava, mais sentia o calor da proximidade dele e mais embaraço sentia, como se todos os olhares ao redor estivessem fixados neles.

"M-muita gente vendo..." pensou, olhando discretamente para os outros ao redor. Tentando ignorar os olhares, mesmo que muitos apenas existissem em sua cabeça. — Não quero que me carregue! — sua voz saiu baixa, quase um sussurro, mas com um toque urgente que o menino conseguiu perceber.

Nino, percebendo o pedido, ergueu o rosto, sentindo a leve pressão das mãos dela em seus cabelos. O movimento fez o topo de sua cabeça encostar de novo na cintura da jovem, e ele olhou para cima, para ver o rosto dela, buscando alguma resposta no olhar.

— Não quer? — perguntou, descontraído, a voz baixa, ainda com um toque de brincadeira.

"Quero!" pensou animada, mas se conteve, envergonhada, balbuciando algo sem sentido. — S-só até a frente da loja... aí você me desce... Tá?

— Fechado. Toca aqui — respondeu ele, soltando um sorriso tranquilo. Retirou a mão direita da perna dela e levantou para um leve soquinho.

Quando Nino soltou a perna, Nathaly se sentiu estranha, o calor da mão firme deu lugar a um alívio fresco do ar, e a pressão que a mão causava era uma droga viciante que queria continuar usando. A menina soltou o cabelo com a mão direita, Tap... e obedeceu à ordem dada.

Nino, com um sorriso mais suave, abaixou o rosto, mas, quando foi segurá-la novamente, a pegou um pouco mais acima, próximo da dobra do joelho, e logo desceu sua mão, mas... deslizou de forma maliciosa.

Fwopsh...

Resultando em um movimento de contração instintivo de Nathaly, fechando as pernas com um movimento nervoso, pressionando a cabeça do menino.

— Igh... — Fechou os olhos com um leve gemido de susto envergonhado no processo, e nem havia percebido o que fizera.

Nino, preso, aliviou um pouco a pegada nas canelas e deslizou as mãos, agora subindo, até chegar nas coxas, onde as posicionou sem pressa, afofando suavemente, de forma controlada.

Com firmeza, segurou e abriu as pernas da garota, de uma vez, com uma brutalidade calculada para não machucá-la com sua força.

Nathaly travou, sentindo a profundidade das mãos em suas partes, e abriu os olhos, vendo-o olhar para ela, com a cabeça para trás, roçando em sua cintura. Suas mãos queriam agarrar fortemente o cabelo dele, deixá-lo fazer o que quisesse, contanto que a fizesse sentir aquilo... fizesse sentir aquele calor profano.

O menino abriu um sorriso ligeiramente divertido ao ver a expressão dela ficar ainda mais desconcertada.

— Tá tudo bem? — ele perguntou com suavidade. — Não tá muito calor com essa roupa?

— O-oi? — Nathaly quase não conseguiu responder, o nervosismo fazendo sua voz sair um pouco falha, enquanto sentia um leve tremor no quadril, resultado de cada parte sendo pressionada, ou em contato com o corpo do menino de preto.

— Você tá suando bastante no meu pescoço, tá passando mal? — perguntou com um tom mais calmo, mas ainda "preocupado".

Tssssssiii...

Nathaly corou mais uma vez, um pouco sem saber o que fazer, mas sua mente girava. Sentiu uma onda de calor ainda maior, parecia que começaria a derreter sobre ele de vergonha. A menina quase evaporou, sua cabeça soltando fumaça igual uma chaminé.

— ...Tá bem aí? — Nino observou com um sorriso travesso, vendo-a cambaleando toda tonta, sem conseguir se segurar com firmeza no corpo dele, mas sem querer afastá-lo.


"Que demora, tão fa..." Nina, um pouco à frente, virou o rosto para trás, procurando pelos dois que ainda não haviam chegado. Mas, ao olhar, a cena que encontrou não era só uma.

No fundo, viu um vulto prateado desaparecer antes que seus olhos pudessem se mover em direção ao objeto. A sensação foi tão repentina que não conseguiu processá-la direito. Sua velocidade foi capaz de ver apenas uma "sombra" que lhe gerava uma sensação estranha de ser observada... Mas... A sensação que Alissa trouxe sumiu de imediato.

Quando seus olhos fixaram em seu irmão, vendo-o com a cabeça para cima e na direção de Nathaly, e a jovem sendo segurada. A menina já "havia" se recomposto, ao menos dizia isso ao Primordial, para ao menos não ficar mais envergonhada com os roxos e intensos olhos voltados a ela.

Quando Nina olhou, Nino voltava sua cabeça para frente e, antes que ele acabasse o movimento, a Primordial voltou-se para frente primeiro.

Depois que Nina percebeu o que estava acontecendo, um turbilhão de pensamentos invadiu sua mente:

"Que isso? Uma vingança?! Vai jogar assim? Sério? Usá-la como arma para me atacar?" Ficou confusa, tentando entender as intenções dele, mas um pensamento não a deixava em paz: "Não parece gostar dela... mas será que não gosta de verdade? Parecer não quer dizer não gostar..."

Tentou manter a calma, o semblante indiferente, o mesmo após o que acontecera na escada.

Os dois finalmente chegaram até ela. Nina esperava pacientemente em frente à loja e, ao ver Nino colocar Nathaly no chão com cuidado, não pôde deixar de observar os olhos da menina e como agia de forma entregue para com ele.

Quando os três entraram na loja, um breve silêncio se instalou, observando as roupas expostas em todos os cantos.

— Voc...

Quando Nathaly o quebrou, ambos olharam para ela rapidamente, interrompendo o curso de seus pensamentos. A menina travou por um momento, antes de continuar.

— Hum? — murmurou Nina.

— P-podem pegar o que e quanto quiserem de roupa! Se for muita coisa, eu peço um agente para deixar na recepção do prédio, e quando formos embora, pegamos lá, antes de subirmos para os apartamentos.

Os gêmeos se entreolharam rapidamente, antes de voltar o olhar para ela.

— Uma ou duas peças é mais do que suficientes — respondeu Nina, de forma simples, mas clara. Então, os dois se viraram e caminharam na direção de um estande com roupas, atraídos por uma peça de roupa preta, o único lado onde encontraram a cor que tanto almejavam.

Antes mesmo que Nathaly chegasse perto para perguntar, os dois já estavam com as peças em mãos. Nina havia pegado um macaquinho preto, de manga comprida, que se ajustava ao corpo, e uma blusa preta, também de manga comprida, com short curto. Nino, por sua vez, escolheu duas calças e duas blusas de manga comprida, todas em tons de preto, muito parecidas com as gastas que usava naquele exato momento.

— Pronto.

— Pronto.

Ambos responderam quase ao mesmo tempo, com uma sincronia quase perfeita, algo que acontecia cada vez menos, devido ao abismo de diferença que seus pensamentos iam se diferenciando conforme os dias se passavam.

Nathaly sentiu uma atração forte quando responderam juntinho, e piscou duas vezes, um pouco desnorteada, antes de lançar um olhar e observar as peças nas mãos deles.

— Só isso?

— Sim.

— Sim.

— Vocês já têm roupa preta, pra que outras iguais?

— Preto é a nossa cor favorita.

— Preto é a nossa cor favorita.

"...Parecem robozinhos falando juntos, que fofo!" A menina não pôde evitar um sorriso dessa vez. Pareciam tão... robóticos, mas ao mesmo tempo fofos com as respostas em uníssono. Achou graça, sem deixar de admirar a conexão entre os dois.

— Hum? — Nina murmurou, desconcertada, ao notar o sorriso do mais absoluto nada no rosto da menina.

— Vocês só gostam de preto? Não têm uma segunda cor favorita?

— Laranja.

— Azul.

Ambos responderam na mesma hora, em sincronia, mas com cores diferentes.

Assim que Nina escutou "Azul", seu rosto virou instintivamente para Nino, seus olhos se abriram e sua cabeça tombou para o lado, buscando uma explicação para a resposta do irmão.

Nino sentiu um arrepio.

Olhou rapidamente para o lado, sem perceber o olhar atento da irmã... o arrepio não veio disso. Não viu o rosto dela e voltou sua atenção para Nathaly. Mas sua mente processou a situação com atraso, e ele percebeu, por fim, a direção do olhar de Nathaly. Toda curiosa, tentava entender o que Nina fazia com a cabeça tombada.

Nino direcionou os olhos de volta para Nina, que permanecia com a cabeça inclinada, fixando-o com um olhar intenso.

"Por que eles fazem isso...?" pensava a jovem, observando atentamente. Dessa vez, foi apenas Nina quem reagiu de maneira estranha, e isso a intrigava ainda mais.

— Tá curiosa com o quê, idiota? — perguntou Nino, ao notar Nina um tanto absorta, tentando encontrar uma explicação para algo que nem Nino compreendia.

Quando tombavam a cabeça, sempre sendo por curiosidade, focavam tudo em procurar uma resposta para seu interesse. Mas isso apenas ocorria em momentos "normais", momentos onde não havia preocupações, como sobreviver.

Não tombavam a cabeça em tudo que lhes deixavam assim, apenas para aquilo que sentiam muito interesse em entender. Ambos, em uma luta, podiam ficar curiosos com um acontecimento ou com o próximo passo do adversário, mas obviamente não desligariam seu ser, destinando suas energias a apenas descobrir ou entender o que podiam esperar.

Com a provocação de Nino, Nina voltou do transe com uma pergunta em um tom levemente agressivo pelo "idiota" ouvido, mesmo ainda sem resposta para sua dúvida:

— Desde quando gosta de azul?

— Essa pergunta se aplica para você também — respondeu Nino com um deboche, mas sem entender muito bem por que havia escolhido "azul" como sua segunda cor favorita. Também não sabia o motivo de sua irmã ter dito "laranja", nem mesmo fazia ideia.

"Ele gosta de azul?" pensou Nathaly, lançando um olhar furtivo ao redor, em busca de algo para comprar. Seus olhos finalmente caíram sobre um monte de jeans azuis. "Ali!" pensou, então voltou a olhar para os dois, quebrando o silêncio e a troca intensa de olhares entre eles:

Nino, com seu sorriso debochado, e Nina, com um semblante enjoado e violento, queriam partir para o confronto. Uma porradaria sincera.

— Aqui tem tênis também, não querem trocar os seus?

Os dois olharam para baixo, para os tênis que usavam, antes de voltarem a olhar para Nathaly.

— Não, esse tá de boa ainda. — Responderam em uníssono, por um momento voltavam para quando crianças, mas a irritação começou a transparecer em suas vozes. As palavras saíam com a mesma tonalidade, quase unidas. — Quando rasgar ou se nosso pé crescer, compramos um novo.

— Não, esse tá de boa ainda. Quando rasgar ou se nosso pé crescer, compramos um novo.

Os dois se encararam por um longo momento, seus olhares semicerrados, com os punhos direitos fechados. A tensão entre os dois começava a se intensificar, cada vez mais perto e prontos para um confronto físico.

O silêncio entre eles era denso, apenas grunhidos como selvagens, e Nathaly podia sentir no ar... Mas ignorou... por outra razão.

"Que fofos! Quando falam assim é tão legal!" Abriu um sorriso largo, os olhos brilhando, encantada com a cena. Não tinha ideia de que, se não houvesse nenhuma razão para esconderem suas intenções, aquele lugar já teria sido destruído em um duelo mortal entre os dois.

Blululu... — murmurou ela, balançando a cabeça com a língua de fora, antes de sair quase correndo na direção da pilha de roupas azuis.


Chegou lá rapidamente, encontrando calças e shorts de estilos variados.

Seus olhos se focaram nas calças, mas ao estender a mão para pegar uma, sua mente foi invadida pela dúvida que surgira mais cedo:

"Não! Roupas leves, nada de peças longas... Não quero desaparecer como ele disse..."

Retirou a mão das calças e foi diretamente aos shorts. Quando pegou um jeans azul-escuro com suspensórios acoplados na coxa direita, levantou-o para avaliar.

"M-mas... não é muito curto?" se questionou, observando o tamanho do short, e uma leve sensação de desconforto passou por ela.

Enquanto isso, Nino e Nina, notando que ela tinha sumido, começaram a procurá-la. Por ser mais baixa, se escondia com facilidade entre as araras, mas não demorou muito até que os dois a vissem.

Quando se aproximaram furtivamente, mesmo que sem querer, quebraram o silêncio de forma abrupta, assustando-a de leve:

— Ach...

— AH! — Nathaly escondeu rapidamente o short azul atrás das costas, mas acabou se esquecendo de que as araras ao redor estavam cheias de peças azuis.

Os dois trocaram olhares, notando a confusão dela.

— ...

— ...Achou algo que gostou? — perguntou Nina, observando a cena com um suspiro silencioso. "Foi direto para uma peça azul..." pensou, desanimada. O peso de suas preocupações a afetava mais do que ela gostaria de admitir.

— A-achei... — a menina respondeu, com um tom de voz um pouco embaraçado.

— Vai procurar mais alguma coisa ou já podemos ir? Nino vai desmaiar de fome se continuar assim — Nina comentou com um sorriso meio desconfortável, mas sem perder o tom brincalhão.

"É mesmo, tô morrendo de fome!"

ROOOOMNN!

O som do estômago roncando foi tão alto que, quase como um reflexo, Nina se viu aliviada por não precisar falar mais nada. O som fortíssimo, forçado por pelo Primordial, havia ajudado a dar a deixa perfeita para o dia passar mais rápido.

Seu dia havia acabado, manter-se com um sorriso e um semblante tranquilo era torturante.

"Eu só quero que esse dia acabe logo... Preciso perguntar diretamente a ele a vê. Preciso saber se meu irmão vai realmente tentar afastá-la de mim..." Mantinha seu semblante controlado, a expressão fria como sempre nas discussões com Nino. Mas lá no fundo, uma dor profunda apertava seu coração, uma dor pela qual não havia remédio. "Que idiotice... Eu falo como se ele estivesse me roubando... Como se eu a tivesse. Como se ela fosse minha... Nunca a tive, só ele a tem... Desde a primeira conversa."

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