Volume 1 – Arco 2
Capítulo 129: Animo
O evento foi finalizado naquela manhãzinha.
O esquadrão de Katherine se desfez junto com o encerramento. Cada um foi para um lado. Vinícius não queria papo, só foi direto para seu apartamento, assim como muitos outros, todos igualmente frustrados pelo desempenho terrível na frente de suas famílias e tantos telespectadores.
Helena se sentia mal. Ter sido ignorada foi doloroso. Tendo muitos ingredientes variados para suas centenas de receitas de doces e salgados que gostava de fazer, decidiu fazer um agrado para o namorado.
Chegou em seu apartamento. As janelas da sala estavam abertas, o vento fazendo as cortinas balançarem um pouco, reluzindo a luz de fora, Pli e também a luz que a garota acendeu na cozinha.
Sozinha, apenas com a própria companhia. Não dizia e nem pensava, só fazia as coisas no automático, mas sempre com um sorriso no rosto. Cozinhar era arte. Fazer comida tinha que envolver amor, paixão. Não raiva, ou qualquer sentimento ou coisa negativa... "Fica mais gostoso quando fazemos com muito amor", sua mãe dizia.
Abriu o armário da pia e pegou uma panela funda. Plic colocou-a sobre o fogão. O copo medidor e alguns recipientes de vidro encontrou no armário de cima. Pa pegou uma espátula de silicone, uma faca, uma colher normal e uma peneirinha metálica na gaveta, deixando-as sobre o balcão, enquanto ia buscar pelos ingredientes do recheio de chocolate que ia preparar para o seu bolo.
Na geladeira, buscou por manteiga, leite integral, duas caixas de leite condensado e duas caixas de creme de leite. Pla fechou-a. Colocou as coisas no balcão e buscou por cacau em pó no armário, junto de amido de milho e chocolate ao leite em barra.
Tlak-Tlak... Pi, Pi, Piiiiii...
Quebrou alguns tabletes e colocou em um recipiente de vidro, para derreter no micro-ondas. Abriu as duas caixas de leite condensado e despejou na panela com o fogo ainda desligado. Com sutileza, Shi...-Shi...-Shi... colocou três colheres de cacau em pó em um dos recipientes separados.
Segurou o objeto de vidro junto com a peneira e levou até a panela. Shi-Shi... onde peneirou tudo bonitinho, para não deixar bolinhas grossas no recheio, atrapalhando que se dissolvessem no leite condensado. Não queria precisar passar o creme de brigadeiro por um mixer no fim.
Com as bolinhas, só agitar a peneirinha com os 60 g de cacau não era suficiente. Colocou a mão em jogo e amassou-as, para peneirar tudinho. Shiik-Shik... deu algumas mexidas com a espátula de silicone e, com a mesma colher que separou o cacau, pegou uma colherzinha com cerca de 15 g de amido de milho, Shi e jogou na panela, voltando a misturar.
Pi. Pi. Pi.
O micro-ondas apitou.
Misturou até que o leite condensado ficasse bem escurinho. Tlac abriu e retirou o recipiente com o chocolate já derretido, Trac fechou a porta e foi colocar o restante dos ingredientes.
Bloblololo...
Colocou o leite integral no copo medidor, chegou nos 400 ml e parou. Abriu as duas caixinhas de creme de leite, Plob despejou dentro, Shuuaa... e o leite veio logo em seguida. Os 300 g de chocolate ao leite derretido, Shirp-Shik foi arrastado pela espátula do recipiente para dentro.
Helena enfiou uma colher na manteiga — sem sal — e retirou cerca de 20 g, Pl jogando dentro da sua receita, para que aquela coisinha desse o brilho final do seu recheio cremoso. Era um mar de leite sobre uma areia escura. Começou a mexer tudo novamente e, depois de um tempinho, o líquido finalmente chegou na cor marrom do chocolate, mesmo que tivesse algumas pelotinhas brancas nas bordas.
Titititiburn...
Ligou o fogo no médio, e não parou um único minutinho de mexer. Sempre com um sorriso, sempre com um rosto tranquilo, fazendo o que mais gostava: cozinhar. Mas como não era boba, e mesmo que amasse, perder tempo era burrice, Titititiburn... ligou o forno para já deixar pré-aquecendo em 180°.
Alguns minutos mexendo e mexendo se passaram. A textura cada vez mais encorpada. As bolhas de fervura estouravam, deixando um relevinho. A colher passava e era possível ver rapidamente o fundo.
Desligou o fogo.
Mexeu rapidinho para tirar qualquer bolha de ar quente no meio do recheio e ergueu a espátula. Caía de forma densa, criando uma pequena montanha sobre o recheio... era o ponto.
Foi até o armário e pegou um grande recipiente de vidro, uma tigela assadeira oval. Despejou todo o recheio, a tigela ficou lotada, quase na borda. Pegou papel-filme e tampou-a, deixando o plástico em contato com o recheio, para não criar uma película na superfície enquanto esfriava ali mesmo, sobre o balcão.
Enquanto o recheio descansava em temperatura ambiente, foi atrás do liquidificador para enfim começar a massa do bolo. Tuc colocou-o sobre o balcão... os ingredientes eram o próximo passo.
Três ovos, 200 ml de leite integral, 100 ml de óleo, 200 g de açúcar, 60 g de chocolate em pó, 280 g de farinha de trigo e 15 g de fermento em pó. Tek-Tek... quebrou e colocou os ovos, Shuuablolb... despejou o leite. Shuu... colocou o óleo. Shiii... o açúcar, Shii... o chocolate em pó, tampou e, Vrruuuuuunn... bateu toda a massa por um minuto, deixando tudo bem homogêneo.
Transferiu a massa para uma tigela de vidro funda, circular. O cheiro do chocolate, mesmo que daquilo ainda frio, dava uma aumentada na produção de saliva de forma súbita. Shik-Shirk-Shirk peneirou a farinha de trigo sobre, misturou delicadamente com um fuê e, depois de um tempinho incorporando a farinha de trigo, colocou o fermento e misturou mais um pouquinho...
Pronto.
Hora de levá-lo ao fogo.
Sprisssh!
Pegou um desmoldante no armário e passou alguns sprays, dando uma besuntada em sua assadeira metálica de 20 por 30 e 5 centímetros de altura. Despejou a massa. Não ficou volumosa, era para ser uma massa baixa mesmo. Fon... Trlic... Fon Colocou no forno e já foi preparar a calda. Gostava de bolo bem molhadinho. Comida seca, só salgados... mas tinham que ser bem crocantes, óbvio.
Para os ingredientes da calda, separou: 500 ml de leite integral, 60 g de chocolate em pó 50%, 100 g de açúcar e 15 g de manteiga sem sal. Porém, também deixou separado no balcão um pacote de granulado de chocolate para a finalização do bolo.
Já com uma panela sobre o fogão, Shuuabloblob... soltou o leite, Shiii... o chocolate em pó, Shiii... o açúcar, Pl a manteiga sem sal, e Titititiburn... ligou o fogo. Com um fuê, ficou mexendo até que a fervura levantou e a menina abaixou o fogo, contando exatos dois minutos com o celular para desligar a calda, deixando-a esfriar para não ficar muito encorpada. Queria ela fluida, não uma espécie de brigadeiro mais mole.
Não tinha mais o que fazer a não ser esperar... e foi o que fez. Depois que desligou o fogo, ligou a televisão e se deitou com a cabeça apoiada no braço do sofá. Estava um pouco para baixo. Olhava a tela do celular; seu namorado nem mensagem havia mandado. Tentou esquecer aquilo e aproveitar a programação das 10h, mas era difícil.
Pouco mais de 40 minutos depois, já estava de pé, com a assadeira com a massa do seu bolo sobre o balcão. Fez o teste do palitinho e saiu sequinho. Deixou esfriar por menos de dois minutinhos, Shirrrrk, e passou uma faca nas extremidades e desenformou o bolo. Seu sorriso era impagável.
— Tá perfeito! — exclamou para si mesma, tocando na "bundinha" daquilo e sentindo a maciez, a fofura da massa. Com uma faca extremamente afiada, passou no meio daquilo, dividindo-a em duas placas na horizontal.
A parte de baixo colocou de volta na assadeira, mas, para começar a montar o bolo, buscou uma bisnaga grande, para facilitar na hora de colocar a calda. Com uma concha metálica, despejou dentro da bisnaga e a fechou. Voltando ao bolo, foi generosa na hora de molhá-lo. Aquela massa parecia uma esponja, absorvendo o líquido com perfeição.
Tirou o plástico filme do recheio, pegou uma colher metálica grande e deslizou sobre o creme, vendo que estava perfeito. Aquele brilho era divino, mais que só delicioso aos olhos, mais que só saboroso ao cheiro.
Colocou colheradas extremamente generosas sobre a massa molhada. Deslizou a colher como se estivesse surfando um mar de creme de brigadeiro cremosinho. A onda de chocolate se fechando, a prancha metálica saindo do tubo. Cobriu toda a massa. Nivelou tudinho, porém não usou todo o recheio. Deixou um pouco reservado para o fim.
Cobriu com a tampa de massa e molhou toda a placa, vendo a "esponja" absorvendo a calda de forma sublime. Escurinha, molhadinha, já estava pronta... mais ou menos. Chegou a pior hora: a hora de esperar por horas e horas. Cobriu o bolo na assadeira com plástico filme e depositou-a na geladeira.
Pla...
Fechou-a. Agora restava esperar... esperar e esperar.
14:52.
O evento aconteceu às 9h da manhã. Já estava quase em cima da hora marcada por Alissa. Nina olhava sua parte no guarda-roupa. Via dois shortinhos, duas blusas de manga longa e um macaquinho. Todos de cor preta. Com o body macaquinho de manga longa que estava usando, somava-se quatro conjuntos. Assim como seu irmão, que, do lado dele, só tinha mais três calças e três blusas de manga longa de cor preta.
Aquele tom não a agradava. Ambos só se sentiam satisfeitos quando usavam roupas de sangue, pois o preto ficava próximo ou, de fato, em preto absoluto. Mas não podiam, era arriscado acabar deixando a marca ser revelada por precisar constantemente manter a roupa moldada ao corpo.
Mesmo que, sempre quando iam comprar uma nova peça — o que era bem raro —, procuravam pelo preto mais preto possível, não se sentiam bem. Era difícil achar uma peça decente; sempre tinha um frufru, uma estampa ou algo escrito.
Nina fechou o guarda-roupa tranquilamente, embora o rosto tedioso estivesse presente, e caminhou até a sala, onde Nino assistia televisão, esperando com muito ânimo — embora tentasse esconder — para ir ao lugar que Alissa disse que levaria o esquadrão.
— Precisamos comprar roupas novas — murmurou Nina, indo até a cozinha.
— Preguiça. Taca fogo, talvez queime um pouco — provocou.
— Haha — olhou-o no sofá. Nino não a olhava. — Quantas horas são?
— Sei lá.
— Olha no celular, seu preguiçoso — provocou, mesmo que soubesse da resposta, e que o menino não estava com o aparelho.
— Não gosto de usar isso — respondeu em tom neutro, olhar tedioso, vendo a televisão, embora o coração estivesse acelerado, na ansiedade de ir com a sua "mãe" passear.
"Eu sei que não." pensou ela, retirando o próprio celular do bolso, olhando-o. — Já tá na hora, vamos.
Nino desligou a televisão e espreguiçou os braços, se erguendo beeeem lentamente.
— Anda logo! — exclamou ela. Também estava ansiosa, queria ter enfim um passeio com a garota que amava.
— Calma! Tô indo — reclamou, olhando-a com desinteresse.
Chegaram na frente da escola pouquíssimos minutos depois, onde todos já aguardavam Alissa...
Ssskkrrrt!
...quando uma van cortou a rua com uma derrapada sinistra e parou quase comendo a calçada, em frente a todos.
Vuuup! A porta foi aberta e Alissa saiu com um salto.
— Tadammm!!... — exclamou, apontando os dois braços para a van prata, com um sorriso no rosto.
Todos ficaram sem reação. Um silêncio constrangedor. Alissa na pose, sorrisão e expressão animada, contrastando com as expressões de vergonha alheia e tédio do seu esquadrão. Nem Nathaly ajudou-a com um pingo de ânimo que fosse.
— ...Tá meio velha pra essas coisas, não?
Alissa saiu da pose, olhar de cima, olhos quase queimando.
— Garoto, eu vou matar você.
— Calma, cara, é só uma brincadeirinha... — respondeu Nino com um tom provocador, sorrisinho de canto e um suor frio que não previu deslizando em sua testa, com um receio grande de levar um cocão na mente.
Todos entraram. Não era Alissa dirigindo, era um agente da ADEDA. Não demorou muito: todos já estavam sentados na mesa luxuosa da churrascaria que Alissa reservou. Pouco menos de uma hora depois... a mesa se encontrava com uma montanha de pratos limpinhos, somente com alguns ossos. Nada comível sobrava... nada.
Pilhas sobre pilhas de pratos.
Samanta, Thales, Arthur e Nathaly já caídos no chão de tanto comer, enquanto os funcionários corriam desesperados para trazer mais carne para a mesa onde se encontravam as três máquinas insaciáveis. Nino, Nina e Alissa não paravam de comer um segundo sequer em sua competiçãozinha criada.
Estavam na mesma "linha" de comparação. O que era para ser entre os gêmeos, Alissa entrou e, por parte, liderou, tendo ingerido uma peça de picanha wagyu e uma de prime rib a mais que os outros dois desafiantes. Eram três malucos devorando tudo.
— Vo...cês são... ma...lUcos — depois de dizer isso, Pahf... Thales caiu no sono... e a batalha continuou. Arthur, quase explodindo, estava deitado com as costas no encosto da cadeira, segurando a barriga com as mãos, a boca aberta para cima, como se pedisse piedade divina.
Samanta quase caía em pé, morta de sono também. Nathaly, Pahff... rendeu-se como Thales... Os funcionários desesperados, os pratos e espetos de carnes mal chegavam e já estavam limpos. Mal se aproximavam da mesa e já haviam sumido. Bananinha da terra frita, batata, entradinhas...? O estoque já havia acabado.
Mais duas horas se passaram... O dono do estabelecimento percebeu que o valor alto que a mulher pagou para reservar todo o espaço era ínfimo perto do prejuízo que teria de mercadoria... It´s over.
Um funcionário, visivelmente cansado, se aproximou:
— Senhores, a comida acabou. Por gentileza, retirem-se — abaixou o rosto enquanto dizia de forma calma.
— Vou deixar como um empate. Veremos o vencedor na próxima — disse em tom baixo Alissa, palitando os dentes. Costas na cadeira, braço direito com o meio apoiado levemente na mesma. Olhos fechados, rosto levemente satisfeito e bem soberbo.
— Faz parte — comentou Nino, imitando-a perfeitamente, não errava nem mesmo os movimentos do palito entre os dentes.
Nina, com os olhos bem estreitos, encarava os dois, um do lado do outro, parecendo dois idiotas.
Arthur e Samanta ainda estavam acordados quando subiram na van.
Nina carregou Nathaly, que dormia, e Nino carregou Thales... quase em coma.
18:04.
Alissa os deixou na rua dos apartamentos. Nina levou Nathaly, ainda adormecida, até seu apartamento, Fff a colocou na cama com a maior delicadeza que conseguiu. Segurou a coberta e a cobriu. Entretanto... ficou olhando para ela por um tempo, admirando-a.
Ergueu a mão e levou na direção com quase medo. Parecia perfeita demais. Sensível demais. Frágil demais. Tinha medo de tocá-la com muita força e o rosto quebrar.
Passou os dedos pelo cabelo, tirando algumas mechas da frente do rosto, para vê-la respirando melhor. Sua mão foi na direção da pele... mas hesitou. Não queria acordá-la. Queria ser amada. Queria que Nathaly soubesse que ela a amava. Mas o receio de Nino, de alguma forma, colocá-la na mesma prateleira do sentimento estranho e odiante que sentia pelo pai era maior.
Entre seu amor e ser odiada pelo irmão, escolhia continuar sendo só dois contra o mundo.
Saiu de perto da sua melhor amiga... foi embora em silêncio, mesmo que quisesse estar lá, deitada ao lado daquela garota. Uma lágrima quase escorreu. Mas a imagem do irmão em sua mente, o ser que sempre esteve ao seu lado, rindo ou disputando algo, era mais forte. Não queria que aquilo acabasse. Não queria arriscar.
Nino levou Thales para o apartamento do próprio, Pahrrf! e o colocou na cama também... Arremessou como um saco de batatas, no caso. No entanto, ao ver Thales desacordado, dormindo como uma rocha, abriu um sorriso meio sombrio e decidiu zoar um pouco.
Na teoria de que todos os apartamentos eram iguais, abriu a gaveta do criado-mudo do lado direito e encontrou um caderninho de anotações junto do que queria... algumas canetas e, dentre elas, um canetão preto... permanente. Escreveu: "Nino é gostosão" na testa do melhor amigo e segurou a risada inicialmente.
Mas, ao ver que o jovem não iria acordar, começou a rir mais alto e saiu com as mãos no bolso, deixando Thales descoberto e todo jogado na cama, sem cuidado algum. Foi embora. Fechou a porta e subiu direto para o sétimo andar, mantendo um sorrisinho triunfante.
18:14.
O dia já havia deixado o lugar para a noite. Helena estava ansiosa. Queria acabar o bolo e levá-lo logo para o namorado. Não aguentou esperar mais.
— Oito horas é mais que o suficiente — murmurou para si, saindo do sofá para enfim finalizar a receita.
Tirou o bolo e o restinho do recheio que guardou na geladeira e colocou-os sobre o balcão. Logo pegou uma vasilha cheia de morangos frescos e colocou ao lado. Retirou o plástico filme umedecido da forma e segurou o restinho do recheio.
— Hum... Tá muito firminho — murmurou.
Caminhou até a geladeira e pegou uma caixinha de creme de leite. O recheio estava em um ponto bem consistente, mas como agora queria usá-lo para cobrir a massa do bolo, queria algo mais cremosinho do que denso.
Colocou uma caixinha de creme de leite e misturou com a espátula até que ficasse homogêneo e a textura ficasse um pouco mais rala que antes. Despejou a camada fininha sobre a placa úmida da calda. Aquilo brilhava, assim como as íris sangue dela.
Pegou o granulado, despejou sobre, tampando a camada fina anterior, deixando a aparência de um brigadeiro gigante. Mas não acabou por aí. Pa-Pa... Cortou os diversos morangos frescos ao meio e cobriu inteiramente a superfície do bolo...
Acabou.
Instantes depois, segurava a assadeira com a mão esquerda, enquanto digitava a senha do apartamento do namorado. Entrou. As luzes estavam apagadas, mas uma luz vinha do corredor virando à esquerda. Era do quarto do jovem.
— Viní? — chamou.
Caminhou até o balcão e colocou o recipiente sobre.
— Viiníí...? — chamou com uma voz mais dengosa.
Não houve resposta.
Chegou no corredor. A porta do quarto estava aberta. Somente a luz de lá estava ligada. Era estranho. O silêncio era muito estranho. Chegou. Viu o namorado sentado na borda. Sem blusa. Estava suado. Cabeça baixa. Parecia que havia acabado de fazer uma maratona.
Mal havia saído de uma paralisia fortíssima, enquanto tentava dormir, enquanto tentava esquecer o dia.
— Viní...? Aconteceu algo? — murmurou, preocupada.
Vinícius virou um pouco do rosto na direção dela. Era nítido o corpo se movendo em cada respirada.
— Tive um pesadelo. Só isso — respondeu ofegante e voltou a cabeça para baixo.
— Eu fiz um bolo de brigadeiro. Trouxe pra gente comer — comentou, tentando elevar o clima.
— Por que fez um bolo? Comemorar uma derrota? — desdenhou.
— Fiz pra tentar te animar um pouco. Nós perdemos, mas é assim que a vida é! Ainda seremos promovidos para oficiais amanhã. Isso é muito legal, não acha? É como o diretor disse, éramos rivais só durante o evento. Fazemos parte do mesmo time.
— Não romantize a derrota.
O pessimismo dele a fazia perder-se em pensamentos, sem saber o que dizer em seguida.
— ...Vamos comer, talvez isso te anime!
— Só isso não vai me animar.
Helena sacou logo o que viria a seguir.
— Eu já disse. Só vamos fazer isso em dezembro, depois do meu aniversário.
— Por que não agora? — Vinícius a olhou. — Não disse que queria me animar? Eu perdi na frente de todos. Fui humilhado na frente dos meus pais. Estou destruído. Cansado. Tento dormir pra esquecer essa merda e tenho um pesadelo que parecia a coisa mais real do mundo. Minha namorada parece que finge que me ama. Finge que se im...
— Finjo que te amo? — franziu a testa.
— É o que parece... Você não confia em mim.
— Você disse que esperaria eu me sentir confortável pra isso. Não acho que seja hora. Não quero correr risco de gravidez. Custa esperar mais alguns meses? Não quero aparecer com barriga para os meus pais e ter que contar isso. Contar que perdi minha virgindade antes de fazer 18.
— O que muda? Tá namorando comigo sem a pretensão de se casar um dia? Não queria que eu a pedisse em casamento antes do ato? Se vamos ser nós dois pro resto da vida, o que muda fazermos isso agora? Para de mentir! Fala logo que gosta de outra pessoa. Você conversa com alguém no celular? Só falta me falar que é do time da Alissa.
— Você é idiota?! — aumentou a voz. — Olha a merda que você tá falando! Eu não converso com ninguém. Não existe outro alguém. Que idiotice! Eu já disse mil vezes, é tão difícil de entender? Não quero ter essas relações agora. Acho errado. Não conseguiria olhar pro meu pai e falar que eu fiz. Só isso. Só isso. Apenas isso. Tô cansada disso. Chega!
Vinícius se ergueu.
— "Chega"? Você me faz perder e agora diz chega?
— Eu fiz você perder?
— Óbvio! Fiquei pensando que você poderia me atrapalhar, e olha só? Perdemos hoje por culpa sua! E agora, quando poderia se redimir, não quer me agradar. Sua egoísta!
— Culpa minha?! Não vi você fazendo nada! Não vi você vencendo aquele menino como disse que ia vencer. Não me culpe por isso. Quando caiu no chão, com o seu cinto cortado, EU! EU que te tirei de lá! Você não me agradeceu em momento algum!
— Você não me deu suporte na luta, por que eu agradeceria?! — desafiou.
— "Luta"?! Nós nem conseguimos lutar... Chega... Chega! Só falo com você quando me pedir desculpas. Tô cansada disso. Cansada! Eu faço de tudo pra você ficar feliz. Tudo pra tentar te agra...
— Só faz o que eu não peço. Por que não faz o que eu realmente quero?
[ — Vou ir então... Desculpa se te magoei com algo que eu disse. Mas pensa um pouquinho, tá? Eee... obrigada pelas marmitinhas. Deixei uma descongelando no micro-ondas. Aquela lasanha tá linda demais — cochichou com tom doce e amigável ainda no abraço bem apertado.
— Não precisa agradecer.
— Preciso sim! É o mínimo!
— Eu gosto de cozinhar.
— Não é porque gosta que eu vou deixar de agradecer. Você parou e fez algo pra mim, pensando em mim, gastou seu tempo por mim. Obrigada! Eu morreria de fome... sério. Você é um anjo... o mais lindo que eu já vi!
— Aaaah... não precisa disso — murmurou com tom agradável, contente pelo que ouviu.
Manoela soltou o abraço, olhando a amiga de frente. Apoiou as mãos no queixo dela, apoiando o rosto e erguendo-a para si.
— Precisa sim, você é a minha melhor amiga. ]
Uma memória arrastou-se pela mente de Helena ao escutar aquelas palavras. Lembrou-se da conversa com Manoela e só conseguiu sacudir a cabeça em negação, desapontada com o namorado.
— Não me procure até que tenha realmente se arrependido de me tratar assim — murmurou quase em choro e virou-se.
Vinícius tentou agarrar seu punho, mas a menina puxou-o fortemente, desvencilhando-se, voltando um olhar irritado, que não conseguia mais segurar as lágrimas de caírem.
— Não me toque! — exclamou, mas tentando ser baixo para que os vizinhos não escutassem.
Saiu marchando, completamente frustrada. Pegou o bolo sobre o balcão, Pah! e saiu do apartamento do namorado. Vinícius não fez nada. Manteve-se irritado. Uma parte sabia que havia passado do ponto, mas o estresse da derrota e da recente experiência aterrorizante da paralisia o fez não ter cabeça alguma para responder sua namorada.
Brr...
O celular sobre a cama recebeu uma mensagem. Havia pedido uma foto para Manoela instantes antes de Helena entrar no apartamento. A ex-namorada realizou o pedido. Com o biquíni e meias que o menino comprou para ela, a jovem posou para uma foto depois de arrumar a maria-chiquinha.
Não era explícito, não era uma pose sugestiva. Apenas a menina em pé, de frente para o espelho. Vinícius ficou excitado e mandou uma mensagem, mas no mesmo tempo que mandou o:
— "Desce aqui, bora fazer."
Ela também recebeu um áudio que ecoava em um espaço vazio, um áudio da melhor amiga soluçando enquanto chorava, murmurando em meio às lágrimas:
— "Preciso conversar, tem como vir até aqui?"
Manoela recebeu aquilo e sentiu-se sobre o muro... Mas a decisão foi muito fácil, fácil demais para quem se dizia amiga. Respondeu Helena dizendo que já estava descendo. Cobriu o conjunto sexy e foi, mas também respondeu Vinícius, dizendo que ia demorar só um pouquinho.
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