Volume 1 – Arco 2
Capítulo 123: Tóxico
Passaram o dia treinando. Sem a supervisão de Katherine, não passaram do limite do risco de ferir alguém com muita intensidade, mas isso não queria dizer que não estavam cansados e com dores pelo corpo.
Vinícius era o mais dedicado, também o mais forte do grupo. Sua dupla sobressaiu-se sobre as outras duas. Não saíram do campo uma única vez, não perderam nenhuma das rodadas.
Mas, quando o dia começou a se despedir, decidiram dar um tempo. Todos foram embora, de volta para seus apartamentos. Não ficavam no mesmo prédio que os integrantes da sala de Alissa, muito menos no mesmo condomínio.
Moravam no condomínio da ADEDA, na rua de trás, na R. Des. Guimarães. Helena e Vinícius não moravam juntos, mas naquele dia entraram juntos no apartamento do menino.
Suado de tanto treino, Vinícius balançava os cabelos bagunçados com a mão. Helena olhava a geladeira, procurando algo para cozinhar para os dois, Thumf quando Vinícius a abraçou por trás de forma carinhosa, no primeiro momento. Helena abriu um sorriso, recebendo o aperto aconchegante, o rosto dele apoiado em seu ombro.
— O que quer comer? — perguntou com inocência.
— Você — respondeu ele, com malícia.
Ela riu um pouquinho, mas respondeu com um pouco de firmeza, embora com a voz risonha:
— Já disse que ainda não. Não tô preparada pra isso.
— Aaah, por favor. Faz dois anos já.
— Eu disse que seria só depois dos 18, e você concordou que esperaria.
— Ah, mas... tá quase lá. Que tem de ser hoje? Vamos comemorar o dia... terminar feliz — tentou argumentar. — Mwa... — deu um beijo no pescoço. Seus movimentos pareciam uma dança lenta, a menina apoiando as mãos nos braços dele envolvendo sua cintura.
— Eu fui bem clara com você quando me pediu em namoro. Eu disse que só faria isso depois dos 18 e de um pedido de noivado. Você concordou. Então, para com isso.
— Aah, vamos tomar só um bainhozinho juntos então?
— Não. Você vai tentar.
— Prometo que não.
— Me solta. Deixa eu fazer algo pra comer — pediu em um tom mais firme.
— Vamos... por favor. Rapidinho, é só um banho, amor.
— Já disse que não.
Vinícius desceu a mão até o shortinho da menina, passando os dedos sobre o tecido jeans cobrindo a vagina. Helena ficou um pouco irritada.
— Para, eu não vou fazer. Eu já disse, que saco isso!
— Por favor... — pediu, começando a desabotoar.
— Não!
Helena tentou sair de perto, mas Vinícius a segurou, tentando desabotoar. A menina usou mais força e se desvencilhou, olhando-o irritada.
— Eu já falei que não vou! Que saco! Para com isso! — gritou irritada, mas em um tom baixo para os vizinhos não ouvirem. Não deu tempo a Vinícius de se explicar; apenas saiu irada com a atitude do namorado, indo até a porta.
— Amor, desculpa! — exclamou ele, o rosto arrependido. Segurou a mão dela, mas Helena puxou de volta e saiu pela porta, bufando. Pa! Bateu-a sem pena. Nem esperou o elevador, subiu as escadas frustrada até o sexto andar. Vinícius morava no segundo.
Subindo quase em choro, puxou o celular, abrindo o aplicativo de mensagens da ADEDA. Vinícius mandava diversas mensagens:
— "Amor, desculpa, sério... Não sei o que passou na minha cabeça. Eu tava com muita vontade. Me perdoa, por favor. Não vou fazer isso de novo. Prometo! Prometo que dessa vez não vou fazer mais isso. Eu te amo, me perdoa, por favor."
Helena leu por cima, mas não entrou na conversa. Procurava a conversa com Manoela, quando recebeu uma sequência de mensagens do namorado:
— "Eu me sinto muito triste todos os dias. Me sinto fraco e você me ajuda sempre. Com você eu me sinto forte. Eu te amo. Mas eu sinto que você não me ama de verdade. Não quer fazer comigo, não quer ser minha primeira e eu o seu primeiro. Isso me deixa paranoico. Geral da sala que namora já fez, e isso faz parecer que você não me quer de verdade. Sei lá, se você tem outro, termina de uma vez. Não precisa ficar brincando com meus sentimentos. Talvez você ame mais ele."
Não leu.
Somente uma parte ficou visível na notificação. Abriu a conversa com Manoela e gravou um áudio enquanto chegava no seu andar e caminhava até o 609:
— Manu, preciso conversar, você tá ocupada?
Enviou.
Entrou no apartamento e foi até o quarto. Paff...
— Aaaarrhhh!
Caiu de rosto na cama e berrou, descarregando sua raiva, permitindo que a coberta abafasse sua frustração. Brr... o celular vibrou com uma mensagem da amiga:
— "Tô indo."
Manoela chegou pouco tempo depois. Sabendo a senha numérica, entrou no apartamento e foi até o quarto da amiga, vendo-a jogada na cama.
— O que aconteceu? — perguntou espantada.
Helena se sentou na cama, pernas cruzadas sobre as colchas, travesseiro sobre o colo, sendo abraçado pelo corpo tristonho. Manoela olhou-a; a expressão da amiga ficou irritada, indignada, e então disse:
— Foi o babaca do seu namorado?
Helena a olhou e então abaixou o olhar sem confirmar. Manoela subiu na cama, sentando ao lado da amiga.
— Eu já te disse. O Vinícius não presta. Ele é todo estranho. Parece que vive uma vida paralela da nossa. Tudo tem que ser imediato. Quer tudo na hora. Reclama se passar um minuto a mais e o mimadinho atrasar o início dos treinos dele. Parece que acha que vai morrer quando chegar aos 30, sei lá. Não quer viver com calma, quer tudo rápido, não aceita que a vida não funciona assim. Odiei que esse babaca foi escolhido como líder pro nosso esquadrão. Vai ser horrível. Já é uma cobrança insuportável agora, imagina depois?
Helena não respondeu.
— O que ele fez? Tentou te obrigar a transar de novo?
Helena confirmou com o rosto triste.
— Olha isso... — Manoela balançou a cabeça negativamente, indignada. — Termina com esse babaca. Sério. Caça alguém melhor. Já não é a segunda nem terceira vez que ele tenta. Isso é abusivo. Ele é um manipulador, tenho certeza que forçou choro pedindo desculpas de novo.
Helena começou a lacrimejar.
— Alguém melhor...? Ele é meu primeiro. Me prometeu que iria me pedir em casamento quando eu fizesse 18. Eu amo ele, não quero terminar. Ele só tava com muita vontade, só isso. Homens têm disso.
— Jogar palavras ao vento qualquer um faz. Eu mesmo posso vir e dizer: Helena, eu te amo. Quer casar comigo?
Parou olhando-a nos olhos; Helena a olhou de volta. Parecia um pedido real, e não apenas um exemplo jogado ao vento. Continuou depois de dois segundos, olhando-se de perto em silêncio:
— Posso te prometer o mundo, falar mil coisas diferentes, mas não quer dizer que eu vá cumprir. Ele só quer o seu corpo. Você é linda, gostosa, inocente... Ele só quer isso, só quer tirar isso de você. Conseguir tirar sua virgindade e usá-la para se gabar com os amigos nojentos que ele arruma. Nunca vi você falar bem dele, só que ele tenta fazer sexo e só fala coisas voltadas a tentar te fazer querer dar pra ele.
— Não é verdade — protestou em um tom um tanto firme, defendendo o namorado.
— Não?
— Não. Ele também faz coisas boas pra mim.
— Tipo o quê? — contestou, olhando-a com seriedade, mas via Helena perdida, olhando para os lados, buscando algo.
— ...Me... Me elogia. Mexe no meu cabelo.
— Aaaaah, Helena! Por favor, né? Não força. Ele é um mentiroso. Promete sempre que vai mudar e não muda. Não vale a pena. Olha o Arthur, bonito, não se veste como uma criança estranha, é educado, cavalheiro e cordial... Por que não tenta com ele?
— Tá me pedindo pra terminar com quem eu amo para tentar com outra pessoa que eu não sinto nada? Ainda mais um amigo do Vinícius?
— Sim. Arthur é responsável, rico, bonito. Um bom partido para uma menina bonita, feminina como você. Eu odeio cozinhar; se não fosse você, eu passaria fome de manhã com meu talento incrível para esquecer coisas no fogo.
Helena deu um risinho da piada para aliviar o momento, que Manoela soltou.
— Tô falando sério — disse, forçando para não rir um pouco. — Esse babaca não te merece. Você é boa demais para se submeter a isso.
— Eu amo ele. Ele vai mudar, eu sei que vai — disse com esperança, a voz doce, calminha, com o rosto em contato ao travesseiro abraçado.
Manoela moveu a cabeça em negação.
— Miga... ele não vai. Não caia nessa que vai conseguir mudar ele. Se ele não quiser mudar, ele não vai. E se ele já disse que ia mudar tantas vezes e não mudou... desculpa, mas ele não vai mudar por você. Ele não te ama; se ele amasse, escutaria você e não te deixaria triste assim.
— Ele só tava com muita vontade. Ele não faz isso na escola, só no apartamento.
— Claro... Até porque ele é super romântico na escola, só se gabando por ser o mais forte da turma e querendo treinar a todo momento. Obrigando todos a treinarem com ele para perderem e ele se sentir melhor com essa fixação doentia de querer viver 48 horas em 24.
— Não é verdade! Ele me ama e sempre me diz isso — afirmou com certeza no olhar.
Manoela a olhou diferente.
— Quando tenta te comer? — Não pensou direito e acabou sendo grosseira.
— ...
Helena ficou em silêncio, não tinha palavras para conseguir responder.
— Sniiff, fuuu... — respirou com força e soltou. — Lelê, você não precisa dele. Esse relacionamento é tóxico, está te fazendo mal. Nunca vejo você feliz, só te vejo irritada, triste, aborrecida com ele, e isso não é normal, sério. Acredita em mim, não vale a pena passar por isso. Você não precisa de homem; essa criança mimada não é um homem de verdade. Foque na sua carreira, larga esse babaca. No futuro, se ele mudar de verdade, você pode tentar mais uma vez, mas agora é idiotice. Termina com ele.
Helena desviou o olhar.
— Ele vai mudar... eu sei que vai.
Manoela aceitou, cansou de tentar. Abraçou a amiga, não tinha mais palavras para soltar.
— Vou ir então... Desculpa se te magoei com algo que eu disse. Mas pensa um pouquinho, tá? Eee... obrigada pelas marmitinhas. Deixei uma descongelando no micro-ondas. Aquela lasanha tá linda demais — cochichou com tom doce e amigável ainda no abraço bem apertado.
— Não precisa agradecer.
— Preciso sim! É o mínimo!
— Eu gosto de cozinhar.
— Não é porque gosta que eu vou deixar de agradecer. Você parou e fez algo pra mim, pensando em mim, gastou seu tempo por mim. Obrigada! Eu morreria de fome... sério. Você é um anjo... o mais lindo que eu já vi!
— Aaaah... não precisa disso — murmurou com tom agradável, contente pelo que ouviu.
Manoela soltou o abraço, olhando a amiga de frente. Apoiou as mãos no queixo dela, apoiando o rosto e erguendo-a para si.
— Precisa sim, você é a minha melhor amiga.
Helena sorriu... e Manoela corou um pouco.
Nino ainda estava na escola. Depois que os escolhidos o abandonaram com medo de Alissa, Nino foi levado até o escritório da mulher... mas não contava com um detalhe: Alissa tinha guardado uma fantasia que Mirlim comprou na época em que Alissa virou uma escrava dela. Uma fantasia de empregadinha, que usava para zombar da menina, obrigando-a a fazer massagens nos pés da segunda mais forte.
Nino foi obrigado a vestir aquilo... com meia-calça e tiara, estava toda fofinha... com carinha de brava, fazendo tudo que a mulher ordenava. A primeira ordem foi simples, mas deixou de ser quando a mulher o proibiu de usar magia para agilizar as coisas.
Obrigou-o a tirar a poeira com um pano seco de cada página de todos os livros da estante dos livros já lidos... nem era necessário, a mulher já era uma doida da limpeza; suas luvas deixavam isso claro. Mas Nino teve que fazer, e aquilo durou horas inteiras, passando o pano por cada unidade de página.
Depois que tirou a poeira desses livros mais antigos, Tlec! Alissa estalou os dedos, e ele prontamente obedeceu à ordem de sua dona.
O escravo caminhou até a cozinha, Shploploploplopo... pegou o café que ele mesmo havia preparado e o levou até ela, começando a servi-la enquanto ela continuava a leitura de seu livro, virando as páginas manualmente, mesmo que não precisasse.
Após encher a grande caneca que aquela amante de café sempre usava, Nino voltou para as estantes dos livros antigos, onde terminava de passar pano pela bela madeira, quando viu a bainha com a espada de Alissa dentro.
Seus olhos ficaram maiores; foi instintivo, não pensou direito e esticou a mão para segurar aquela lâmina mais uma vez.
— Não toque — um sussurro ríspido cortou o ar.
Nino travou, sua mão pendendo no ar, centímetros de distância de tocá-la.
— Você não merece segurá-la — sussurrou e passou a página. Em nenhum momento olhou para ele.
Nino abaixou o braço. Sentiu aquelas palavras e se ergueu, indo até a cozinha para terminar o que deixou por lá. Passava pano, agora molhado, pela mesa e pia, deixando-as brilhando com intensidade. Trabalhou em silêncio durante a limpeza daquela área.
Mas, de repente, decidiu quebrá-lo:
— Por que tinha uma fan...
— Silêncio! — ordenou com grosseria. — Glub... — Pegou o canecão de café, deu um gole suave e passou mais uma página.
Pow!
O corte seco de Alissa fez Nino sentir como se tivesse levado um tiro.
— Aainhn...
Soltou um pequeno gemido dramático, que Alissa ouviu, mas ignorou.
— Que grossa... — murmurou ele bem baixinho, enquanto continuava a limpar.
Passou mais horas. A tarde já tinha dado tchau, e Alissa virou-se para a cozinha, vendo Nino saindo do banheiro, colocando os panos usados de molho em um balde com produtos de limpeza, já que foi proibido de usar literalmente qualquer magia.
O menino manteve o silêncio desde sua última brincadeirinha ignorada, e quando Alissa o viu com o rosto entristecido, naquela fantasia fofinha, decidiu uma coisinha...
— Está dispensado por hoje. Pode deixar que eu guardo as coisas depois.
Nino olhou para ela, e por um momento os dois se encararam fixamente.
Silêncio...
Só os dois se olhando.
Segurava o rodo com a mão direita e o balde com a esquerda. Os braços desceram lentamente. Colocou o balde no chão e o rodo apoiado na parede... e saiu correndo desesperado, antes que a mulher mudasse de ideia. Sumiu pela porta que abriu com rapidez.
Alissa ficou irritada.
— Deveria ter feito ele limpar a escola inteira, garoto chato! — resmungou de cara feia.
Quando Nino chegou em seu apartamento, encontrou Nina deitada no sofá.
Depois que fechou a porta, a irmã se levantou e olhou para ele.
— Tem co... — começou a rir... e Nino olhava na direção com raiva. — Que roupa é essa? — perguntou, caindo em gargalhadas enquanto abraçava a própria barriga.
— Haha, engraçadona — respondeu com um tom entediado.
Nina parou de rir depois de um tempo.
— Uff... Tem comida no micro-ondas, é só aquecer.
Ele foi até o aparelho, Trac abriu a porta e viu que ela havia feito macarrão com molho branco. Tlac fechou a porta, Ti, ti, timnmnnm... e o ligou.
— Obrigado — agradeceu e foi para o sofá sem tirar a fantasia curta.
Ergueu os pés da irmã, se sentou e colocou-os sobre o colo, enquanto olhava para o teto com muita preguiça, e ela continuava assistindo televisão, deixando tanto o celular do menino quanto o dela escondidos embaixo do sofá.
— E como foi lá? — perguntou ela, esperando uma história bem humilhante para rir da cara dele.
— Sniiifff, harrrrfff... Fazer faxina é um verdadeiro saco! — exclamou, completamente desanimado.
Pi. Pi. Pi.
O micro-ondas apitou.
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