Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 119: Não há competição, apenas dois nomes

Ano 2023.

Estavam em maio, e, assim como completou 17 anos em março de 2022, Nathaly brincava e até mesmo enchia um pouco o saco, sempre falando que era a mais velha, até que os gêmeos finalmente chegassem à mesma idade... Faltavam alguns meses... uma pena.

Nada que fosse muito ruim. Nina não ligava muito, gostava de passar o tempo com ela. Mas Nino se irritava um pouco. A arrogância era muito alta, seu ego era maior que o corpo, e perder em qualquer coisa não era uma opção, mesmo que a disputa maior fosse entre os dois irmãos.

Na segunda-feira, dia 26 de julho de 2020, os alunos apresentaram o para casa de Alissa... ou tentaram. Ninguém conseguiu desenvolver um segundo elemento ou um possível poder único. O que mais chegou perto foi Samanta, que, em dois dias, conseguiu aprender a fazer o vento ficar mais gelado ou quente, sem o uso de magia de gelo ou fogo.

Não era a mesma intensidade que os elementos, mas era muito bom.

Sabrina era a dita cuja mais fraca do Primeiro Esquadrão, só porque seu poder era o ar... era o vento... assim como Samanta. Mas Sabrina não ligava, não se importava de não ser reconhecida, apenas fazia seu trabalho sem esperar nada; curtir e se divertir com seus amigos era mais importante do que um ranking popular de quem era mais forte. Por que iria estressar a cabeça por um no máximo Top 2?

Mas ainda assim, Sabrina possuía uma magia única. Seu cabelo rosa era natural, e sua magia de vento possuía essa característica de cor. Mas vento ou ar não possuía cor. Sua manipulação era refinada... sutil. Alissa notou isso em Samanta.

A magia de vento dela possuía cor. A cor de seus olhos.

Era fascinante vê-la demonstrando a magia com tamanha precisão e sutilidade... mas Nino ficou com ciúmes da mais forte estar dando tanta atenção a outrem. Sua cara emburrada, olhos desdenhosos... Ops... não conseguiu fazer nada. Não pôde estragar o momento.

Alissa jogou um olhar tão rápido que apenas Nino e Nina puderam ver. Aquele olhar era pura ameaça, e o menino tremeu, com Nina rindo para dentro, zoando-o, apontando o indicador esquerdo sutilmente.

"Calada..." resmungou ele, em pensamentos.

Mesmo com a falha de todos, e Alissa já naquele mesmo dia sabendo quais seriam os integrantes do seu esquadrão oficial, decidiu deixar essa atividade de estudo por tempo indeterminado. Thales era o mais velho da turma; atrás dele, os alunos mais velhos tinham 15 anos. Mas a idade não importava tanto.

Louis já havia se decidido e conversado com Alissa e Katherine bem antes das duas iniciarem os trabalhos em sala. Os alunos escolhidos se enfrentariam dia 27, e a nomeação do terceiro e quarto esquadrão oficial seria no dia 28 de julho de 2023, pegando uma quinta e sexta-feira, para que os alunos rejeitados e que não iriam disputar não precisassem ir no fim de semana para a escola, caso não quisessem.

Katherine não poderia selecionar 15 alunos caso Alissa não tivesse 15 alunos para escolher; logo, quem ditaria o número de alunos que podiam ser selecionados para o esquadrão era Alissa. Mesmo com Katherine tendo uma sala com muitos talentos, teria que escolher a mesma quantidade.

Desde a atividade dos desenhos, seu esquadrão possuía cinco integrantes: Nino, Nina, Nathaly, Samanta e Arthur. Com a chegada de Thales, confiou em Mirlim e o adicionou. Seu para casa "infinito" foi colocado justamente para isso.

Ainda possuía dois anos; assim, ainda dava tempo de quem era fraco poder se tornar mais forte... mesmo que não acreditasse. Quando maio de 2023 chegou, notou que o tempo de fato estava acabando.

Sempre deixou o treino e estudo livres, só dando algumas ideias por cima e ensinamentos mágicos por fora. Mas no início daquele mês, sabia que era hora de ver na prática como todos estavam.

Não era treino, era uma competição... mas não para todos.

Velocidade.

Força.

Magia.

Habilidade, manuseio e mobilidade com espada.

Inteligência.

Alissa queria testar tudo, mas sem testar nada.

Não iria forçar ou "ensinar", como fazia junto de Mirlim nos professores do passado. Ela mandava... e via como obedeciam.

O teste de velocidade foi bem simples: uma marcação no campo, ela com um cronômetro no celular. Todos os alunos em suas posições de "corrida"... menos Nino e Nina, que fingiam um para o outro que não estavam ligando para aquilo. Parados, suas poses entediadas; Nina o imitava com as mãos no bolso, mas apenas deixava o dedão das mãos para dentro do bolso do "short" de seu macaquinho.

— Já.

— VENCI!

— VENCI!

A largada veio, e os gêmeos apareceram na linha de chegada se xingando e dizendo quem foi o primeiro... O cronômetro nem tinha chegado a um centésimo de segundo. Quando toda a turma se assustou ao vê-los lá na frente, ao lado de Alissa, os gêmeos se bicavam, parecendo que iam cair na porrada a qualquer instante.

"São muito rápidos!" pensou Thales, chegando em quarto lugar.

— SEU CU!

— SEU CU!

Mesmo com o tempo deixando-os "diferentes", além do fato de fazer anos desde a última vez que se misturaram, a disputa e a arrogância de querer ser melhor que o outro os faziam agir de forma espelhada, gritando juntos, ao mesmo tempo, na mesma entonação. Não passavam da versão masculina e feminina do mesmo ser.

— EU QUE VENCI!

— EU QUE VENCI!

Alissa, infinitamente mais rápida que os dois, marcou no cronômetro a chegada de cada aluno. Os gêmeos chegaram juntos no 00:00,00... mas não roubaram, saíram quando a mulher iniciou.

Samanta foi a terceira, chegando em 00:00,37. Thales chegou em quarto, 00:00,53. Arthur em quinto, 00:00,62. Nathaly chegou logo atrás, ocupando a sexta posição, 00:00,69.

O aluno mais rápido fora eles, chegou em 00:04,39.

— FOI EU!

— FOI EU!

Olharam ao mesmo tempo para Alissa, que devolvia um olhar preguiçoso.

— QUEM GANHOU?!

— QUEM GANHOU?!

O cronômetro só mostrava a partir do centésimo, não mostrava milésimo, mas, vendo tudo a olho nu, deu o veredito:

— Empate.

Frustrou-os... ambos emburraram o rosto lentamente, cruzando os braços, não se olhando por pura raiva um do outro. Alissa continuou com o rosto entediado; não tinha paciência de ficar vendo gente fraca, e ainda tinha uma manhã pela frente vendo o que mais temia.

Não estavam sozinhos no Allianz naquele dia. Katherine usava a outra metade com sua turma. Alissa, de certo modo, não ligava se eles já estivessem treinando com intensidade há anos. Isso pouco importava para ela. Mas, mesmo com o treino deles sendo bem afastado, chamava olhares de alguns alunos da turma pelo barulho das magias e pela intensidade das lutas.

Mas quem, de fato, importava no meio de todos, não se importava e nem olhava para o lado. As atividades continuaram. O teste de potência de magia era simples. Alissa ficava parada e o aluno em questão tinha que disparar sua magia nela.

BUUMMMRRRNN!!

...Os gêmeos não se atentaram e perderam para Nathaly, que parecia muito desejar matar Alissa com aquela explosão nuclear que a mulher suprimiu até que virasse uma bolinha maciça de fogo solidificado...

A turma de Katherine olhou, assim como a mulher, assustados. O barulho foi muito intenso, e surgiu a curiosidade de como Alissa absorveu a magia. Os gêmeos eram os mais impressionados: Nina com o poder de Nathaly, Nino com o de Alissa.

— Thales.

— Sim?

Alissa estendeu a palma, verticalmente.

— Acerta um soco aqui. Não sabe magia, mas deixe-me ver se Mirlim não mentiu sobre sua força.

Bm...

O revezamento era feito enquanto a turma ficava sentada na arquibancada, esperando sua vez de ser chamado. Thales saltou do lado de Nino — ainda escondia seu rolo com Samanta, e nem ao lado dela estava naquele dia — e aterrissou no campo.

Sniiff, fuu...

Vu-BAAM!

Avançou e acertou o soco... ou pensou.

Não acertou o tecido da luva branca da mulher; a gravidade, sendo controlada entre o punho e a palma, o impedia.

O soco foi violento, forte de fato, mas a expressão dela não mudou, nem o corpo se moveu. Somente abaixou a palma, anotou algo no celular e ordenou:

— Pode se sentar.

Thales ficou sem reação, mas acatou.

"Foi fraco?" pensou.

Alguns testes se seguiram: Nina e Nino, Nino e Nina. Eram só os dois nomes. Não havia como alguém vencê-los; não havia como perderem para ninguém. Os dois, a todo momento, se bicando e perguntando quem venceu para Alissa. Empate... empate... raivinha... arrogância... ego.

Colocou os nomes de todos em um sorteio no celular. Os dois que caíssem iam até o campo e duelariam com espadas do tipo katana, sem fio. A ordem de Alissa foi clara:

— Se matem. Eu estou aqui — murmurou para fora, perna direita cruzada sobre a esquerda, braço apoiando o rosto desdenhoso de tanta preguiça. Acima dos dois adolescentes, seu ego não podia ser contestado.

O único ser no qual Nino reconhecia grandeza de força e poder além de si mesmo e Nina era Alissa. Mesmo que não fosse a intenção da mais forte, agir daquela forma só lhe dava munição para agir de forma igual.

Assim como Mirlim, somente vivendo e agindo normalmente, influenciou Alissa; por Alissa gostar muito dela, Nino era influenciado por Alissa, por gostar muito dela.

Depois da ordem, e dos primeiros dois nomes serem alunos fracos, o que viu foi de dar sono. Magias fraquíssimas; o peso da espada, que já era um tipo bem leve para não dar esse problema, parecia imenso demais. O manuseio e os movimentos eram travados, horríveis.

Mesmo com todos "brincando", de certo modo, torcendo em divisões de menino contra menina, Nino, Nina e Alissa dividiam da mesma preguiça em seus semblantes. O que foi se intensificando com luta após luta.

Depois de diversas, dois novos nomes foram sorteados:

— Nathaly e Arthur — disse Alissa, sentando-se melhor para assistir.

Thum-Thum-Thum...

O coração do menino disparou, olhando à direita, quando viu Nathaly passar, indo até o campo, já esperando com uma espada. O jovem se levantou, engoliu o embaraço e foi. O estômago vazio. Alissa não queria perder tempo e ignorou todos os sinais das pausas para lanche.

Pegou a espada e ficou a alguns metros de distância de Nathaly.

— Comecem — ordenou Alissa... mas o que viu não lhe agradou.

Tin-tn-tink!

Não parecia uma luta. Não pareciam estar seguindo sua ordem. Não pareciam querer se matar, e muito menos se machucar. Não podia ser chamado de duelo, luta... nem mesmo dança.

Era uma piada.

Avanços curtos, espadas se colidindo. Nino via infinitas formas de eliminar o "inimigo". As espadas batiam? Joga para baixo, ergue e penetra o pescoço. Joga para o lado e penetra o rosto. Joga para o lado e corta o braço. Joga para o lado e desce cortando as pernas... Eram infinitas as formas de vencer somente dessa forma tosca de bater de espadas.

O som irritava-o, assim como Nina sentia-se meio irada do nada. O som agudo das espadas era meio... doloroso. "Mate-o logo. Mate. Mate. Mate ele logo." O sangue dos gêmeos sussurrava ao mesmo tempo para os dois.

"Por que está com receio de usar o seu poder? Eu disse que estou aqui..." pensou Alissa. Mas, mesmo com essa frustração de ver aquela luta patética, notava que Nathaly sentia dificuldade de segurar aquela espada.

A forma como segurava era muito diferente. Empunhava uma katana como se fosse uma espada muito mais pesada que a mesma... empunhava como se fosse uma espada longa.

Uma Claymore escocesa ou algo ainda mais bruto, como uma Montante Ibérico.

Alissa fisgou isso.

"Essa espada é leve demais pro estilo que ela apresenta. Vou mandar forjarem alguns modelos diferentes de espadas longas... quero ver se muda seu desempenho." pensou, analisando friamente. Mas havia algo que a deixava bem irritada além da "luta", onde nenhum queria se machucar.

Assim como Nino, Alissa não aguentava mais escutar a conversa no meio daquilo.

Tink!

Bateram as espadas. Disputavam força, empurrando metal em metal.

— Isso! Foi muito bom! Você é forte — Arthur elogiou.

Nathaly não respondia. Vul... afastou-se.

BurnTn-tk-Tink...

E avançou com uma pequena explosão para ganhar impulso, chegando bem rápido com um corte bem amador de duas mãos... Aquela katana, sendo segurada daquela forma, mataria Louis do coração. Nenhum espadachim merecia ver aquela aberração de manuseio.

Arthur recebeu o ataque, conseguindo bloquear com a lâmina os três cortes em ângulos diferentes. Nathaly recuou quando não conseguiu abertura, e Arthur continuava...

— Booaa... minha vez! — exclamou, animado com o "duelo".

Seu rosto ficou mais desafiador.

Flush-Tink!

Logo avançou.

Um rastro azul-neon de água sendo deixado pelo seu movimento rápido. Nathaly se assustou, mas bloqueou, e uma disputa de empurrar lâmina em lâmina recomeçou.

"Meu Deus... é um jogo de turno? Tô vendo desenho animado?" pensou Alissa, completamente aborrecida com a demora que aquilo estava levando.

— Eu vou ven...

BAM!

Nino se irritou, e Alissa não se moveu para impedi-lo de entrar naquele "duelo".

O Primordial surgiu, acertando um soco na boca do estômago de Arthur; o corpo do menino reagiu ao impacto, indo para trás, mas Nino não deixou. Agarrou o pescoço, segurando sua raiva como se fosse um animal selvagem lutando para não ser capturado, para não deixar-se estilhaçar aqueles ossos frágeis. Mas não se impediu de apertar a ponto das unhas quase perfurarem a carne, e o menino ficou completamente sem conseguir respirar.

Alissa manteve-se assistindo, entediada... mas um pouco aliviada.

"Finalmente fez algo que preste..." brincou, de certo modo, em sua mente, vendo Nino em um estado de fúria muito diferente do que qualquer briga ou rivalidade com a irmã.

Nina não fez nada.

"Se Alissa deixou, não me importo." resmungou em desdém, vendo Arthur tentando respirar.

— DÁ PRA CALAR ESSA BOOOCAA?! — berrou.

Seus olhos, encarando o humano, desejavam o sangue, a morte. Os olhos da menina ao seu lado sentiam desejo, sentiam-se cuidada. Sentia que era uma demonstração de...

"Ficou com ciúmes de mim?" pensou ela, não conseguindo notar que o menino estava a ponto de explodir de ódio.

— SEU ANORMAL DE MEERRDA! — Quase babava, quase surgia espuma em sua boca da forma arrastada que berrava. — ISSO É UM DUELO, NÃO A PORRA DE UMA BRINCADEIRA, SEU INSETO!

— Nino — murmurou Nina, chamando-o, notando que o menino estava para passar dos limites. Nino ouviu, mas ignorou.

— VOCÊ NÃO AVISA! VOCÊ NÃO CONVERSA! VOCÊ SÓ ATACA EM SILÊNCIO! AVANÇA EM SILÊNCIO! FAZ TUDO EM SILÊÊÊÊÊNCIO, SEU IMBECIIIRRRLL! — Arthur tentava lutar contra o agarrão, mas seus braços não tinham força para contestar o braço direito de Nino o segurando. — VAI GRITAR PRA PORRA DE UMA ANOMALIA QUE VOCÊ TÁ CHEGANDO?! NÃO ME FAÇA PERDER MAIS TEMPO VENDO HUMA...

Nina teve um movimento brusco, ia avançar para atacá-lo e forçá-lo a calar a boca para não fazer merda.

— UMA PENCA FRACOS!

Nino segurou e trocou rapidamente sua ofensa. Nina não avançou, mas Alissa viu o movimento estranho que ela teve. Olhava-a de costas para si, mais abaixo. Ficou curiosa, mas não entendeu muito o que Nino estava falando. A voz irada, arrastada em fúria, estava um pouco confusa.

— NÃO DESPERDICE O MEU TEMPO ME FAZENDO VER ESSA MERDA PATÉTICA DE DOIS IMBÉCIS QUE NÃO QUEREM LUTAR PRA VALER, LUTAR ATÉ A MORTE, TREINAR DE VERDADE, EXPERIMENTAR A DOR, A QUASE MORTE!

Arthur estava quase desmaiando. Escutava o que o menino dizia, mas com dificuldade. O olhar já turvo, mas em meio à escuridão, o roxo dos olhos do menino parecia sugar sua alma para um inferno de cor diferente do que aprendeu na Bíblia.

— E VOCÊÊÊ! — Nino voltou o rosto à Nathaly, olhando-a igualmente irritado. A menina escutou a voz ofensiva, forte. Não sentiu medo, ou temeu algo, mas não esperava receber gritos vindo dele. — TÁ COM MEDO DE QUÊÊÊ?! CADÊ O SEU PODERR?! ME MOSTRE O QUE ESCONDE! TÁ AGINDO COMO UMA COVARDE DE MER...!

BAAAM! Pahf...

Haaaarrrrfhhh! — Arthur caiu e buscou ar como um afogado ao sair do mar.

Nina interveio.

"Cala essa boca, seu retardado." ofendeu-o em sua mente. Irritadíssima com a forma que tratou Nathaly, interveio com um chute na lateral direita do corpo, separando-o de Nathaly, com sua postura corporal agressiva.

Scrresecrs...

Nino não caiu.

Foi arremessado muito longe pela força do chute silencioso que não previu e muito menos escutou... olha só, Nina provou, sem querer, o que o menino tentava dizer. Aterrissou de pé, arrastando-os na grama. Seu rosto baixo.

Foi parar no meio de um duelo entre alunos de Katherine... Vinícius duelava com uma garota loira, quando foram interrompidos com Nino surgindo ao seu lado, ficando parado. Vinícius se irritou, seu semblante se alterando:

— V...

BAM!-CRAASH!

Nem abriu a boca direito. O braço de Nino surgiu estendido na sua direção. O soco que recebeu nem mesmo viu, só sentiu quando suas costas colidiram com a arquibancada, destruindo uma grande área, deixando-o com falta de ar e uma dor imensa... Era para ter morrido. Alissa aliviou o impacto tanto do soco quanto da colisão naquele lugar.

O projétil humano quase acertou alguns alunos que estavam sentados. Todos ficaram assustados.

Katherine se levantou, muito irritada, mas quando começou a estender as mãos para Nino, a fim de bloquear os poderes dele, a mão de Nino emanava chamas vermelhas na direção dela... Perderam. Nenhum dos dois venceu.

Alissa interveio.

Travou o corpo de Katherine, bloqueando-a de ter acesso ao próprio poder, e surgiu segurando Nino, erguendo-o no ar pelo braço que esticava instantes antes. O menino não sentiu o toque, muito menos havia notado que Alissa havia atrapalhado seus assassinatos.

TUC!

Iiight...

Mas notou, quando um cocão de dedo dobrado bem duro acertou sua cabeça, fazendo seu cérebro vibrar e um gemidinho trêmulo e tonto sair entre os lábios. Levou a outra mão até a cabeça, tentando amenizar a dor avassaladora que sentira já várias vezes em poucos anos que chegou naquele lugar.

— Chega — rosnou para Nino e o arrastou, andando lentamente de volta aos seus alunos, para dar tempo de provocar Katherine: — Não atrapalhe o treino desses fracos, Katherine já faz muito bem esse trabalho — deu um sorrisinho de canto, em sua voz risonha. Katherine rosnou de volta, irritada com a provocação e sua impotência de não poder fazer nada.

Alissa sabia muito bem da raiva, do ódio que a prima sentia dela. Era um mecanismo de defesa; nunca deixou Katherine "livre" por aí. 24h por dia, Alissa mantinha seu poder sobre Katherine, apenas a deixava usá-lo no dia a dia. Não queria correr riscos da mulher bloquear os poderes dela e a colocar em uma armadilha. Mesmo sendo forte fisicamente, como Mirlim, ainda assim, sem poder usar magia, qualquer um poderia virar um civil.

Voltou com Nino até onde o conflito se iniciou. Nina ainda olhava o irmão, muito irritada. Nino olhou-a de volta e desviou o olhar. Era o que precisava para perdoá-lo e ficar de boa. Aquela reação era uma espécie de "desculpa", porém disfarçada.

"Em casa vai me pedir. Não quer fazer isso na frente de humanos... Harrff... Cresce logo, muleque." pensou, suspirando mentalmente de forma arrastada. Mas o perdoou e ficou de boa próxima dele.

Alissa voltou ao seu assento escolhido mais acima.

— Pede desculpas pro Arthur — ordenou ela, e Nina quase riu.

"Se fudeu!" provocou-o em sua cabeça.

Nino protestou, seu semblante deixando bem claro:

— Quê?! Eu não tô errado! — Deu um passo de raiva.

— Não está. Eu concordo com o que disse — respondeu.

— Por que eu deveria pedir, então?! Não sou fraco! Ele que deveria me pedir desculpas por mostrar essa fraqueza porca! Essa mediocridade insana — Nino ergueu os dedos com a palma para cima, olhava-as enquanto falava com rigidez e uma raiva intensificada — que eu não consigo entender como alguém consegue fazer algo tão patético!

...Foi quase um déjà-vu... Alissa olhava para Nino e via quase um espelho.


Vinícius foi ajudado a sair dos destroços.

— Viní?! Cê tá legal? — perguntou um dos colegas. Vários reunidos em volta, Katherine no meio, olhando-o.

Vinícius sentia dor, mas não era algo que o impossibilitaria de andar, continuar treinando ou de viver. Seus olhos raivosos, suas íris cinza-claro, emanavam chamas azuis.

Seu corpo rígido, não de dor, mas de raivosidade, de fúria. Não disse ou respondeu às diversas perguntas se eles estavam bem, só cortou tudo com sua voz muito mais rouca que o comum:

— Professora, posso descontar atacando ele? — rosnou, olhos retos nos de Katherine.

A mulher não pensava por si mesma, só pensava em como queria acabar com Alissa. Não hesitou.

— Permitido — disse, seus olhos sérios, seu rosto irritado querendo uma retaliação.

Vu!

Vinícius se ergueu e avançou o mais rápido que conseguiu na direção de Nino. O Primordial estava de costas, ainda revoltado por ter que pedir desculpas. Vinícius emanava chamas azuis de todo o seu corpo. Era como um projétil das flechas de elementos que os gêmeos costumavam usar, mas, humano.

Rrrrrggh! — rugia, enquanto avançava com um soco sendo carregado de magia...

Amador.

Nino, Nina e Alissa viraram o rosto lentamente na direção do menino... que travou em choque. O medo entrando nas veias como uma anestesia antes de cirurgia. Nino surgiu diante de si, rosto no rosto, o Primordial sorria. Bm! Agarrou o pescoço do humano, rodando o corpo dele em 360º, enforcando-o e erguendo-o para toda a sua turma ver, além da do desafiante, ao longe de lá.

Katherine e os alunos deram um passo para irem até lá e contestarem, mas Alissa travou todos, obrigando-os a permanecer parados, apenas assistindo de lá.

"Que isso?! Meu corpo não se mexe!" A reação de todos foi quase idêntica, exceto a de Katherine, que sabia que era Alissa, e aquilo a deixava ainda mais irritada.

A distância era muita; não conseguiam ouvir nada, somente ver Vinícius sendo enforcado, com pequenas explosões de chamas azuis pelo corpo sendo dissipadas.

Nino controlou o ar ao redor do corpo do humano, impedindo o que ele tentava fazer — explodir-se em chamas azuis para se livrar do agarrão. Mas, na magia contra magia, Nino prevalecia, e o humano, sendo mais fraco, não conseguia contestar a magia de ar do jovem, que era mais baixo, mas muito mais forte que ele.

— Olha só. Esse animal veio provar meu ponto — rosnou, olhando Vinícius lutar por ar, encarando-o nos olhos. Da mesma forma que Arthur fez, Vinícius tentava forçar o braço de Nino, mas não conseguia nem mesmo fazê-lo sentir algo minimamente comparável à raiva e à vontade de não pedir desculpas.

Olhou para Arthur, que estava um pouco assustado e confrontoso, dando um passo na direção do amigo sendo enforcado.

— Tá vendo, Arthur? Você não avisa. Não grita. Não faz barulho. Apenas avança até seu alvo. Olha só esse ser patético... se não tivesse rosnado igual um cachorro assustado, talvez tivesse me acertado, mas não... não, não, não... Ele preferiu fazer barulho. Preferiu ser burro e se colocar em uma situação de vida ou morte — disse tudo um pouco devagar, olhando diretamente nos olhos de Arthur, quase desdenhando do sobrinho do diretor.

Vinícius, quase desmaiando, sentia suas forças acabarem.

— Solta ele, por favor — pediu.

Hãm? — Sorriu. — Por que eu deveria?

— Porque ele é meu amigo. Solta ele, por favor — pediu com educação, embora seu rosto mostrasse pressa.

Nino sorriu ainda mais, apertando ainda mais a mão.

Tsii... Mas não é meu — desdenhou em murmúrio.

— Solta ele.

Pahf...

Haaaarrrrfhhh! — Vinícius caiu, a lucidez voltando, enquanto o corpo buscava ar.

Arrrrggff... Vocês não sabem brincar! — resmungou Nino, de olhos fechados e rosto brincalhão, debochado, depois de acatar a ordem de Alissa instantaneamente.

Vinícius se ergueu na velocidade que um gato pulava ao ver um pepino no chão. Ergueu-se e "peitou" Nino, mas o coitado do humano estava assustado. Só não queria mostrar que era fraco na frente da outra turma.


"O que tá acontecendo lá?" pensou Katherine, frustrada por não conseguir ajudar.


— Volte para junto da sua sala. A não ser que queira ir parar no hospital. Vou permitir que Nino te bata até você apagar, e seus amigos não poderão fazer nada, apenas olhar de lá. Então, retire sua postura patética tentando intimidar quem provou ser muito mais forte que você e vá embora. Não vou avisar uma segunda vez — disse Alissa, tom neutro, mas ameaçador para quem não estava acostumado.

Vinícius encarava, irritado, Nino, bem de perto, olhando-o de volta com desdém e deboche. Vinícius o olhava de cima; Nino erguia um pouco o rosto para olhá-lo nos olhos. Não disse nada, mas saiu andando furioso, tentando manter alguma postura após ser humilhado.

"Que merda... Era pra mim ser forte. Era pra mim ser mais forte... Mentiram pra mim?" pensou, saindo todo estressadinho. Alissa liberou todos do seu domínio, e os amigos de Vinícius se aproximaram quando ele já chegava próximo.

— Mano, cê t...

— Vamos continuar os treinos — ignorou o amigo e voltou para a posição no campo.

Todos olhavam-no, notando que o jovem estava mal, mas como o mesmo não queria ajuda...

"Fazer o que... Vamos treinar então."

A menina loira o olhava mais sentida que todos os outros. Mas não disse nada para ele, só se posicionou e continuou o duelo que estavam tendo antes da interrupção.


Quando Vinícius se afastou um pouco, a mais forte voltou ao assunto passado.

— Peça desculpas — ordenou sem paciência.

— Não! — protestou imediatamente.

Sniifff, harrff... — Alissa suspirou fundo. — Vem cá.

Nino foi. Subiu entre os assentos e, TUC!

Iiight! — Agachou de dor, com as mãos na cabeça, depois de levar um cocão.

— Quer outro?

IghhNãão...

— Peça desculpas então.

Nino desceu, uma lágrima no olho direito pela dor que sentiu. Olhou para Arthur e desviou o olhar.

— Desculpa — sussurrou, quase que só para si.

— Não ouvi — resmungou Alissa.

— Desculpa — disse um pouco mais alto.

— Tranquilo — respondeu Arthur.

Nino virou-se para Alissa.

— Peça para Nathaly também.

Nino fez um olhar aborrecido, mas foi mais fácil pedir para ela.

— Desculpa.

— Desculpado — murmurou ela, com um sorriso tranquilo.

— Agora, quero que todos desçam para o campo e formem uma espécie de círculo em volta dos gêmeos, não precisa ser um círculo perfeito. Nem mesmo um círculo, na verdade, apenas se espalhem próximos a eles.

"Hãm?" pensou Nino.

"Como assim?" pensou Nina.

Todos obedeceram.

— A atividade é a seguinte: todos contra os dois.

Todos se entreolharam, menos os gêmeos, que fizeram um olhar aborrecido, com preguiça.

— Mas não é tão simples. Encostem nos dois, e vocês vencem, mas caso eles derrubem todos no chão, eles vencem. Deu pra entender?

— Sim! — Thales exclamou mais alto que todos, ficando do lado esquerdo de Nino, já que a irmã estava no direito. — Pode deixar — completou confiante, seu olhar desafiando Nino, que deu um sorrisinho de resposta, mesmo que desdenhasse daquela atividade.

— Comecem.

Alissa deu a largada... o punho de Thales se erguendo na direção de Nino... em câmera ultra lenta. Os gêmeos derrubaram todos, deram rasteiras, desviaram os pés dos passos que iniciaram ou apenas empurraram de leve. No tempo que tudo corria, todos despencavam bem lentamente. Mas faltava um... faltava Thales.

Nino e Nina estavam agachados atrás dele. Nino amarrando os cadarços de um tênis no outro, quando:

— Maldade fazer isso.

Pah-Pah-Papapapapaaphff...

Alissa surgiu ao lado dos dois, também agachada, observando com um semblante curioso, mãos apoiando o rosto. Os dois levaram um baita susto. Se fossem Marta, teria sido mais uma parada cardíaca. Nino e Nina surgiram a bons passos para trás de onde estavam. Ambos com olhos arregalados, expressões surpresas, poses mais ainda.

Olhavam para Alissa, sentada no mesmo lugar na arquibancada, sorrindo com deboche, olhos fechados... era, por parte... assustador.

"Que que isso?!" pensou Nino, quase tremendo.

"Ela é rápida demais... Que porra foi essa?" pensou Nina, quase tremendo de medo também.

Todos os alunos caíram ao mesmo tempo. Ninguém entendeu nada, e muito menos foi explicado o que aconteceu. Os cadarços de nanorrobôs se desamarraram. Thales se ergueu no tempo de todos, e todos viram os gêmeos com poses engraçadas, quase se abraçando de rosto no rosto, olhando na direção de Alissa... com o sorriso pacífico, meigo e sereno... mas assustador.

"Que medo..." Samanta e Thales praticamente dividiram os pensamentos.

Os duelos retornaram, mas depois dos eventos passados, as coisas ficaram levemente melhores... bem levemente. Nino ficou de castigo, sentado ao lado de Alissa... não que isso fosse bem um castigo, mas ele fazia parecer que era, mesmo amando estar ao lado dela.

Suas reações eram monitoradas por Alissa. Cada gesto, cada negatividade, cada respirada, cada resmungada... tudo era analisado. Assistir àquelas lutas estava sendo mais torturante para ele que para ela, e ela sabia muito bem.

"Não dá pra você continuar assim... Vou ter que quebrar esse ego inflado como Mirlim quebrou o meu?" pensou... mas logo teve a resposta: era sim. Puxou o celular do bolso... Nino levou um susto, jogando o corpo para o lado.

Alissa olhou-o nos olhos... O menino olhou-a de volta. Achou que seria um cocão surpresa, mas sua esquiva deixou-a irritada, a ponto de travar encarando-o com raiva, a mão segurando o celular no bolso.

— Desculpa, foi sem querer — disse ele, quase chorando de draminha... o que a irritou ainda mais.

Fuuuuu! Menino chato — bufou e resmungou baixinho.

Nino sorriu contente... provocando receber um cocão de verdade; a dor fazia parte e era mais gostosa do que dolorosa. Alissa ignorou-o e mandou uma mensagem para um zelador, pedindo que ele conseguisse 30 alvos simples de madeira e os trouxesse para ela... ele conseguiu.

Bons minutos depois, o senhorzinho chegou com o pedido. Alissa encerrou os duelos... ou os desafios de tente não dormir, e usou sua magia, controlando a gravidade ao redor de cada um dos alvos, Shki-Shki-Shki-Shki... fincando as bases finas no campo.

— Vou liberar todos mais cedo hoje.

Aaaaahh...

A reação foi inusitada: todos reclamaram, ao invés de amarem a notícia. Algo que Alissa havia se acostumado, nunca seria assim sem a ajuda dos gêmeos. Ela sentiu o coração aquecer, mas não deixou sua postura mais autoritária naquele momento ceder.

— Mas tem um porém... só podem sair daqui se destruírem seu alvo individual.

Todos olharam os alvos. Eram finos, nem a grossura de um caderno com 80 folhas possuíam. Olharam confiantes para o próximo teste.

— Podem começar, mas não podem ajudar o amigo.

BUM! BAM! Frost! Shuuush! Plast! BRUUN!! Sil-BUMMM!!

Todos destruíram seus alvos. A explosão que Nathaly e Nina causaram em seus alvos foi mais alta que todas as outras. Thales foi no soco mesmo; um único encostar foi suficiente, e ele já caminhava na direção de Nino para irem embora jogar... mas não foi bem assim.

Nino deixou-se ser o último. Queria os holofotes da atenção da mais forte... e conseguiu.

Estendeu o braço direito e puxou uma flecha com o esquerdo. Uma tempestade de chamas vermelhas se formava, roubando a atenção não só de todos da turma, como da turma de Katherine. Sil-BRRRUMMM!! Uma explosão destruidora aconteceu, um barulho avassalador que fez curvar os ouvidos de quem presenciava tal grandeza... inútil.

O alvo não tremeu, sentiu, nem mesmo foi tostado. A explosão aconteceu, e da mesma forma que o alvo estava... ficou. Ninguém entendeu, mas, olhando para Alissa, aquele sorrisinho explicava tudo. Nino foi o único que não olhou ou percebeu. Estava cego, não aceitava.

Sil-BRRUMMM!!

Nada.

Sil-BRRUUUUMM!!

Nada.

"Como? Como? O que ela tá fazendo?" pensou, a dúvida gritante.

Não sabia nem o mínimo do que era o poder de Alissa, mas não via magia naquele alvo. Só o enxergava cru, madeira, nada mais. Não conseguia aceitar que todos conseguiram, menos ele... Era o único que não conseguiu nem arranhar aquilo.

Flechas e mais flechas.

Uma mais forte que a outra em sequência. Não chegava ao mesmo nível de magia de fogo que Nathaly. Se Nino jogasse uma bomba atômica igual à garota, sabia muito bem que não conseguiria controlar o estrago, mas também não queria depender de Alissa para livrá-lo.

A sequência de flechas era insana. Uma demonstração absurda de poder. Muitos pararam para ver aquilo. Muitas salas se assustaram com os barulhos e foram ver o que acontecia no Allianz. A fama que já tinha de "o aluno mais forte da escola" se espalhou com mais força ainda.

Mas não era força que Alissa queria. Tap... pousou a mão direita com suavidade no ombro do menino. Nino cancelou a flecha que fazia e olhou um pouco para cima, vendo Alissa o encarando.

— Vamos... assuma. Diga com todas as letras que você é fraco. Assuma que não é tão forte quanto pensa — provocou... e Nino olhava-a bem no fundo dos olhos, desafiava-a quase ficando cego no azul daqueles olhos...

— Nem fodendo — respondeu... com seriedade.

TUC!

IiiiIIight...

Agachou no chão, mãos na cabeça pulsando.

— Para de falar palavrão! — exclamou ela.

— DescuUllpaAaight... — respondeu ele, gemendo de dor.

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