Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 117: Academia

Sábado chegou, era 9h da manhã, e Thales acabava de chegar à academia que Mirlim o colocou em São Paulo. Seguia as setas holográficas criadas pela IA. As pessoas na rua achavam a cena estranha, mas não fizeram nada além de olhar, já que a IA bloqueava a imagem de ser reproduzida nos vídeos que tentaram gravar.

Chegou.

A academia ficava na Barra Funda, vizinha de Água Branca, onde ficava a ADEDA e os apartamentos dos alunos. Thales passou pela rotatória, entrando na Rua Robert Bosch, e já via a fachada de onde iria entrar. Era enorme, e já havia muitos carros estacionados.

Poucos instantes depois, entrou na recepção, e alguns homens que passavam não conseguiram deixar de olhar para o monstro que entrava no lugar. O menino ficou levemente tímido, mas manteve sua postura e caminhou até duas mulheres atrás dos monitores da bancada.

O chão era em retângulos de pedra que pareciam ferrugem. Partes brancas, cinzas, laranjas, tudo misturado como uma pedra cheia de terra. Os monitores eram cinza, assim como o emblema da academia na parede de madeira ripada escura.

O som de uma trilha épica de um boss se aproximando podia ser escutado.

Chegou.

As duas olhavam-no com temor, e Thales abriu a boca como um executor:

— A Srta. Mirlim mandou que eu viesse aqui — disse tranquilo, e a música saiu na mente das mulheres, vendo que o menino era simpático e educado.

Ham...? Srta. Mirlim? Trouxe sua identidade?

Thales puxou do bolso e entregou. A mulher procurou no sistema e localizou a matrícula feita pela ADEDA. Confirmando que era o jovem, se espantou por ter apenas 18 anos com aquele físico.

"...Ah, mas é um exterminador. Com certeza é isso."

No tempo que finalizava algumas coisas, um homem também grande, porém bem menos em relação a Thales, chegou, estendendo a mão para a figura nova no local.

— Prazer, sou Marcos. Novo aqui?

— S...

— Ele é o exterminador não oficial enviado pela Srta. Mirlim Schmidt, da ADEDA baiana.

Marcos escutou olhando-a e voltou o olhar para o jovem.

Aah, entendi. Você é imenso, haha! A academia é completa, relaxa. Não vai sentir falta de nenhum equipamento que tinha na sua academia anterior — comentou com um tom amigável.

— ...Mas eu nunca fui a uma academia — disse com sinceridade e serenidade.

...Silêncio.

Pssh... Hahaha! — Até que Marcos soltou um sonzinho de vento pela boca, iniciando uma risada, junto das atendentes que riram de forma mais recatada. Aquilo só poderia ser uma piada; ninguém acreditou nas palavras.

Apoiou a mão no ombro do jovem, mas Thales olhava-os meio sem jeito, um sorriso bem falso no rosto tentando disfarçar.

— Acabei. Aqui, sua identidade — disse a mulher, estendendo o documento.

Thales recebeu com calma.

— Maaarcos! — uma mulher gritou ao longe.

Marcos olhou e fez um sinal, voltando o rosto para Thales.

— Espero que goste da nossa academia. Ah... não queria ser chato, mas Mirlim deixou bem claro que preciso avisá-la todos os dias que você vier. Ela deixou isso tão claro que parecia uma ameaça, mas eu acho que não, né? Só um cuidado com você, eu acho.

Uhum... — Balançou a cabeça lentamente, lábios para dentro, fazendo uma careta sem querer.

— Vou ajudar minha aluna, tenha um bom treino! — exclamou com um sorriso.

— Obrigado, pra você também — respondeu com um também.

— Sr. Thales — Thales olhou-a —, fique à vontade com nossos equipamentos. A academia ainda não está lotada, então você consegue fazer suas máquinas preferidas tranquilamente, ok? Mas, ainda assim, por ser exterminador, possui preferência, como diz a lei. Caso alguém esteja atrapalhando o seu treino, fazendo o senhor perder tempo esperando, só diga que é um exterminador que o aparelho será cedido para o seu uso integral até que vá embora — informou em tom suave.

Thales não escutou metade do que a mulher falou, então apenas afirmou com a cabeça, fingindo que entendeu, e a viu apontando à sua esquerda.

— Pode entrar. Só precisa escanear seu rosto que a catraca irá liberar.

Uhum... — murmurou, indo até lá e fazendo assim como a mulher mandou.

Não demorou muito. Logo se deparou com um lugar gigante, cheio... abarrotado de máquinas, tudo em uma decoração no tom preto e vermelho, contracenando com o prateado dos metais.

Uma academia mais que moderna e espaçosa. A iluminação de teto, em estilo geométrico com luzes LED brancas, era mais que sofisticada. O piso inteiro esborrachado, preto, com faixas vermelhas que dividiam os corredores centrais.

Thales nem mesmo sabia o nome de tudo aquilo, todos os equipamentos de alta qualidade, todos os pesos, bancos, halteres, barras... a imensidão de aparelhos variados. Toda a disposição dos equipamentos era organizada em duas fileiras principais ao longo do corredor central e outros aparelhos distribuídos pelas laterais.

Uma bandeira do Brasil, grande, com presença, estava pendurada na parede ao fundo, além de telões imensos exibindo vídeos e imagens relacionadas ao treinamento e, principalmente, fisiculturistas com corpos... inferiores ao jovem.

O ambiente estava bem movimentado e iluminado. Várias pessoas utilizando os equipamentos e circulando pelo espaço. O jovem roubava olhares. Homens erguendo seus pesos e parando para ver o gigante passar com um rosto confiante, embora sem saber o que fazia.

Caminhou até que se perdeu e ficou diante de um leg press... olhava-o e o equipamento voltava o olhar.

"Como uso isso?" O menino olhou para os lados. Procurou por pessoas com o uniforme de Marcos e as recepcionistas... todos que encontrou estavam ocupados conversando e auxiliando mulheres bonitas... mesmo que em máquinas dos lados, alguns ratos de academia também se encontravam perdidos, fazendo o exercício de forma errada.

Olhou novamente para o aparelho.

"Isso é uma cadeira?" Sentou... de ladinho. Piscava sem entender e se deitou no encosto. As pernas para baixo, tentando entender. "Como eu..."

— Oii!

Thales olhou para a esquerda quando uma menina apoiou-se no seu ombro. As duas mãos, o rosto sobre elas, deixando os dois rostos tão próximos que o menino corou imediatamente. A menina tinha um sorriso gentil e alegre. Os olhos... verde-chá.

Olhava-o bem de pertinho. O menino travado, olhos arregalados, sem saber como reagir. A jovem era bonita. Encantou Thales com os olhos em um tom parecido. A menina se ergueu, colocando os braços na cintura... Samanta usava uma legging preta, com um blusão muito maior do que o número que usava no cotidiano, para evitar olhares maldosos em exercícios como abdutora.

A roupa que costumava usar no dia a dia estava dentro de sua sacola ecológica, no seu armário pessoal, guardada para vestir depois do banho ainda na academia. Thales mantinha-se travado, olhando-a, e ela riu de forma boba, vendo o negão com as bochechas vermelhas.

— Sou da sua sala, seu bobo.

— Linda você — murmurou para dentro, como um ser irracional aprendendo a falar.

— O quê? — Ela não conseguiu ouvir pelo barulho ambiente, e o menino sacudiu o rosto, absorvendo o que disse sem pensar... ou pensando demais?

— E-eu... desculpa, não lembro de você...

Aaah — resmungou com um rosto abatido, cômico.

Estava brincando. O rosto logo se animou, deixando o menino ainda mais curioso com tanta energia e felicidade. Uma eletricidade, uma coisa que o contagiou, querendo mais... querendo entender e saber mais.

— Pois bem... — murmurou e caminhou com passos de perna reta, os braços cruzados nas costas. O rosto empinado, olhar afiado como um personagem de filme, um general dando sua instrução a um soldado. Thales a seguiu com o rosto, vendo-a circulá-lo no aparelho.

— Pelo que vejo com os meus olhos... obviamente... você não sabe nada do que está fazendo... Tô errada?! — exclamou em brincadeira, mantendo o tom mais autoritário, olhando-o com uma jogada de rosto e olhar afiado.

Thales negou rapidinho com a cabeça.

RuRum... — Voltou a caminhar. — Pelo que vejo... está precisando de uma professora... Tô errada?! — Olhou-o.

Thales negou rapidinho com a cabeça.

RuRum... — Voltou a caminhar... um sorrisinho se formou. — Por sorte, estou disponível para dar aulas nesta manhã... Quer aprender?! — Olhou-o.

Thales confirmou rapidinho com a cabeça.

RuRum... — grunhiu sua risadinha mais uma vez e ergueu a mão esquerda, soltando o braço direito das costas, protegida pelo blusão branco. Puxou o dedo em uma ordem silenciosa, que vocalizou para ser mais clara: — Vem, você aguenta mais peso que isso. Vamos buscar.

Thales a seguiu, e a jovem o levou até um monte de pesos brilhando em prateado de tão limpos. Halteres magníficos, mas os pesos que queriam não eram aqueles. Porém, Thales não sabia da informação. A menina tinha 1,69 de altura. O topo da cabeça batia na altura da boca do menino.

Ele olhava-a à sua frente. O cheiro do cabelo perfumando seu oxigênio.

— Pegue algumas anilhas, quero v...

...A garota travou.

Todas as pessoas próximas olharam no exato momento em que viram o menino erguer tanto o suporte de anilhas quanto halteres simultaneamente. Além de desafiar a física, erguendo algo longo daquela forma sem que o meio cedesse...

Era absurdo. Todos os presentes olharam um cara erguer tudo aquilo de uma vez, sendo que mal aguentavam erguer seus humildes 10 quilos em cada lado sem parecer um bisonho na elevação lateral.

Huh? Alô? — murmurou ele, olhando a jovem travada. A menina ergueu um pouco o rosto para olhá-lo no dele. Os lábios fechados como o de um gatinho. Olhos curiosos, grandes. — Fiz algo errado?

— ...Se você aguenta levantar tudo isso... por que veio aqui se não precisa?

Ah... minha treinadora que mandou. Disse que não vou treinar força, mas sim como calculo ela, pra não quebrar os equipamentos — comentou com normalidade. Sua voz não demonstrava nem um pouco que aquilo poderia estar pesado.

Samanta olhou para baixo novamente, vendo a física ser desafiada.

— ...Deu pra ver. Pode deixar no chão, vamos levar só um pouquinho de peso então.

Thales pousou os suportes no piso esborrachado com cuidado. Nem mesmo barulho do impacto suave foi possível ser escutado. Samanta segurou 200 quilos em anilhas e levou até o leg press em que estavam. Não que aguentasse erguer esse peso. Mas já dominava sua magia com uma precisão absurda.

Sua magia de vento era como todas as outras já mostradas por alunos ou pessoas que já pisaram e desenvolveram ainda vivos em terra... mas, ao mesmo tempo... era única. A precisão em que manipulava, a velocidade que os ventos atingiam sem se moverem. Podia fazer do seu dedo uma lâmina que cortava aço, só fazendo com que o ar se agitasse em volta do membro.

Algo que ninguém nunca conseguiu. Uma magia considerada fraca, usada muitas vezes como complemento em combinações ou apenas para se mover mais rápido, na mão da menina era mais letal que carbonizar uma anomalia por completo em uma explosão.

Manipulou o vento por baixo dos metais e diminuiu o peso para que aquilo parecesse isopor de metal. Chegou no equipamento e ia colocando os pesos quando Thales decidiu quebrar o pequeno silêncio criado na caminhada:

— Qual o seu nome?

Samanta colocou as anilhas e olhou-o com um sorriso e um fechar de olhos na resposta:

— Samanta.

— O meu é Thales, muito prazer!

A menina estreitou os olhos novamente e voltou à brincadeira, mantendo os braços cruzados nas costas. Caminhou, rodando-o em pé, ao lado do equipamento, esperando por ordens e informações do que fazer.

— Pois bem... Thales... Sente como estava quando eu cheguei.

Thales obedeceu.

Tuc-Tuc...

A menina deu dois toques com a unha do indicador esquerdo onde o jovem tinha que colocar os pés e logo ordenou:

— Os pés são aqui.

Thales obedeceu.

— Agora, só precisa empurrar até o limite e trazer o peso até embaixo. Depois repete isso novamente. Mas você é muito forte. Lembre do que me disse. Calcule sua força para não quebrar essa coisa. Entendeu, soldado?

Thales afirmou com a cabeça.

RuRum... Já que é assim. Faça 200 repetições, soldado.

Thales entrou na brincadeira vocalmente dessa vez:

— Entendido, general!

Samanta gostou, e um sorrisinho quase escapou do semblante que mantinha na brincadeira... só não sabia que o menino era uma máquina. Imparável. Incansável. Guerreiro. Focado. Thales fez os movimentos muito rápidos. O peso subia e descia, os joelhos flexionando com maestria e cuidado para não forçar e arremessar o peso na cabeça de alguém na reta da máquina.

Vu-vu-vu-vuvu...!

Acabou bem rápido... e a menina manteve os olhos bem semicerrados, caminhando ao lado. Naquele instante, virou uma disputa, onde o colocou e ensinou como executar cada exercício, colocando repetições na casa das centenas para serem feitas, e o que resultava era Thales sem nem arfar de um possível cansaço, muito menos aparecer suor em seu corpo.

Mas ele não fazia sozinho. Samanta acompanhava, mas até a falha, diferentemente dele, que fazia mais rápido e com a mesma precisão ensinada, coitada. Perdeu por muito. Aquilo nem deveria ser uma competição, não era justo nem mesmo ser cogitada.

A brincadeira continuou.

A menina ficou mais tempo do que costumava ficar na academia. Passaram por muitas máquinas do salão... a jovem iria morrer se passassem por todas em um único dia. Mas por todas que passaram, testava o menino, que nem se sentia testado.

Por um momento, o jogo virou. Thales era o general com o rosto empinado e braços cruzados para trás. Incentivando e brincando enquanto a menina rugia e gemia com gritos de força para aguentar mais uma repetição pesadíssima. Erguer os 200 kg que trouxe para Thales. As pernas dando tremeliques quando chegou na trigésima e última repetição que se colocou quando ouviu o "eu duvido" do menino.

Uma reação foi criada de forma espontânea. Após cada máquina, cada exercício difícil que a menina revirava o rosto fazendo força, quando finalmente conseguia escutando incentivo do rapaz, Samanta se levantava depois de recuperar o fôlego, Clap! e dava um tapa na mão erguida do jovem, dando um pulinho para alcançar.

Animados. Era o ritual que nasceu na brincadeira para dizer "missão cumprida, soldado".

Saíram do lugar 12h em ponto. A barriga da menina roncava já fazia um tempo. Nem mesmo tomou seu banho. Apenas pegou a sacola com a roupa, seu celular e cartão de crédito e voltou até onde o jovem a esperava para irem embora juntos.

Passos alegres, animados, como se continuasse na brincadeira passada.

— Vamos passar no supermercado do shopping antes de irmos pro seu apartamento — comentou, dando passos como um soldadinho de brinquedo.

Thales olhou-a, vendo o corpo dela se movendo todo duro, com a sacola no ombro.

— Quê?

Samanta o olhou.

— Tem algo que não come? Salada... coisas verdes... Tá de dieta regrada pro físico ou coisa assim? — Olhos imensos, boca fechada como a de um gatinho, encarando-o.

— ...Não faço dieta. Como qualquer coisa.

Samanta virou-se para frente.

— Ainda bem.

Thales piscou sem entender muito bem.

"Meu apartamento?" Estendeu a mão. A menina olhou-a e voltou ao rosto, curiosa. — Deixa eu levar pra você — disse com suavidade. Não sentia vergonha nem estava corado, só curioso e contente de conseguir uma nova amizade.

Samanta entregou a sacola, e o menino colocou no ombro. Agora a jovem andava com mais liberdade, pernas e braços retos em cada passo. Esticou o braço apontando para frente.

— Vamos até o shopping, soldado!

— Entendido, general! — exclamou de volta.

RuRum! — Apoiou as mãos na cintura com os olhos fechados.

Chegaram no shopping que ficava na rua da ADEDA. Samanta ainda corria animada, passos quase que saltitantes pelo supermercado enquanto Thales a seguia com o carrinho e suas rodinhas barulhentas. A animação contagiante do sorriso e pensamentos altos.

Olhava-a correndo e olhando tudo com olhos bem atentos, lendo as coisas, murmurando sozinha, porém para que o jovem também escutasse, e também conversando com o mesmo tudo ao mesmo tempo:

— Vamos fazer hambúrguer de almoço! Você lembra se tem pimenta-do-reino no seu apartamento? — Virou-se rapidamente para ele, olhando-o nos olhos com atenção. Thales não tinha respostas.

— Não sei. Comi só pão com salada de ovos desde que cheguei aqui.

Samanta aborreceu o olhar antes de se virar para as prateleiras e sair correndo até a área de frutas, hortaliças e vegetais. Thales a seguiu rapidinho com o carrinho.

"Sal, pimenta... se não tiver temperos lá, eu pego no meu ap."

Chegaram, e a menina começou a escolher cada item, Schsch... colocando-os em sacolinhas diferentes para serem pesadas depois.

— Cebola roxa e normal. — Schsch... — Alho. — Schsch... — Alface. — Schsch... — Picles. — Schsch... — Salsinha. — Schsch... — Cebolinha. — Schsch... — Limão...

Thales parou um instante pensando, enquanto via ela pegando os itens e colocando no carrinho. Na pizzaria do Sr. Sandro também trabalhavam com hambúrgueres, e o jovem se lembrou de um item que usavam com frequência:

— Tomate?

Samanta se virou na velocidade de um relâmpago, olhando-o no fundo da alma com os olhos bem grandes e abertos. O rosto de uma assombração. Não dizia nada, mas o olhava procurando pela alma do menino... e Thales notou que a palavra era perigosa de ser pronunciada.

— Ecá, ight! Tomate não... — Forçou um nojinho.

Samanta abriu o rosto com uma expressão feliz e voltou a pegar os itens.

— Maçãs... Maçã é minha fruta preferida — disse baixinho, quase que de forma íntima.

Thales ia seguindo... e ela se virou para ele mais uma vez.

— Ouviu?!

— Oi? — Thales viu o rosto se fechando, e o dele foi se espantando.

— Maçã é a minha fruta preferida! — exclamou na ponta dos pés, o intimidando. — Anota, ouviu?!

— ...Onde?

— Na cabeça!

Recuado, confirmou rapidinho com a cabeça, e a jovem aliviou o rosto, voltando a pegar os itens.

— Batatas... — Schsch...

Terminou de pegar tudo que tinha que pegar por ali e pesou na balança. Saiu correndo com seus saltos pelo lugar, e Thales voltou a seguir. Pegou leite, óleo, azeite extra virgem e de oliva, queijo prato e também o cheddar inglês, pão brioche, manteiga, bacon já fatiado, e no açougue, pediu duas misturas: 400 g de fraldinha com 200 g de costela e a segunda moagem pediu 300 g de maminha e 300 g de peito bovino.

Thales observava a jovem balançando o corpo na ansiedade de receber a carne moída logo. Abriu um pequeno sorrisinho olhando-a de costas para ele. Uma sensação estranha. O primeiro contato com uma garota e estava sendo tão natural... mesmo que parecesse estar sendo feito de refém.

Schsch...

Colocou as sacolas no carrinho e olhou para o menino. Meio curiosa com ele olhando-a, deu um sorrisão em resposta e saiu com sua energia exuberante de tão alta. Thales viu-a sair, seu olhar ficando cada vez mais calmo, fisgado... interessado? Apressou o passo e voltou a segui-la.

Chegaram no caixa. A menina pegou o cartão na sacola ecológica que o menino ainda segurava e pagou tudo. Pelas ruas, mantinha os passos de pernas e braços retos, boca fechada como um gatinho, olhos sempre grandes e atentos... Thales um pouco atrás carregando tudo.

Enfim, chegaram. O menino colocou a digital na porta e abriu seu apartamento. A jovem entrou na frente como se o apartamento fosse, na verdade, dela. Foi até a cozinha, Fon e logo viu se havia panelas no forno.

— Nadinha — murmurou, Pa fechando a porta.

Huh? — balbuciou Thales, olhando-a, Schschscs... enquanto colocava as sacolas sobre o balcão.

Samanta afundou o regulador do forno, Tititititiburn... e segurou o botão de acender o fogo. Quando acendeu, soltou o regulador em 200 graus. Foi até as sacolas e ergueu o olhar risonho para Thales.

— Já comeu hambúrguer?! — exclamou animada.

— Não... Mas sei fazer pizza.

— SABE FAZER PIZZA?! — Quase saltou, o rosto aberto, olhos brilhando.

O menino ficou meio acanhado.

— Sim... Trabalhei em uma pizzaria e aprendi a fazer algumas.

— Trabalhou?! Quantos anos você tem?

— Tenho 18...

Samanta piscou duas vezes, imóvel.

— Tenho 15.

— V...

— Você me ensina a fazer pizza amanhã?! — cortou-o, sempre animada.

— ...O forno que eu fazia era de pedra e grandão, n... — Notou os braços indo parar na cintura e o rosto ficando fechado, olhar semicerrado. — Mas acho que esse forno serve, soldado. Amanhã ensino você como faz!

Samanta voltou à alegria.

— Vamos ao supermercado amanhã e compramos as coisas pra fazer a massa de pão.

— ..."Massa de pão"? — repetiu, rosto confuso.

Humm... — Estreitou os olhos em brincadeira, sorrisinho debochado. — Vai ficar curiosa até amanhã...

— ...Seu malvado!

Hmnp! — Fechou os olhos e imitou a pose que ela fazia com as mãos na cintura.

— Já que é assim... hoje eu vou te ensinar a fazer hambúrguer. Soldado...! Vá lavar as maçãs e todas as coisas do sacolão que eu comprei.

— Entendido, general! — Thales prestou continência e pegou os itens para ir lavar.

RuRum... — Samanta colocou as mãos na cintura e fechou os olhos em vitória.

Começaram então os preparativos. Thales foi lavando e colocando as coisas em recipientes separados; já a garota foi preparando os temperos, principalmente sal, páprica defumada e pimenta-do-reino, junto do liquidificador e frigideiras, que já foi deixando posicionadas sobre o fogão.

Sblooshshs... encheu um canecão metálico com água, Pac posicionou em uma das bocas, Titititburn... e acendeu o fogo... mas a fome era muita e, mesmo que não soubesse magia de fogo, sabia bem como usar sua magia de vento.

Controlou o vento ao redor do fogo, conseguindo maximizar as chamas, melhorar a temperatura para conseguir fazer a água ferver mais rápido... Thales nem viu, o vento manipulado da garota era tão preciso que nem fazia som.

O menino ainda lavava folha por folha do alface... Samanta ria internamente vendo-o na pia.

"Só vamos usar duas folhas... Hehe. Vai lavar tudinho!" Brincava com ele em sua cabeça. Pegou quatro grandes batatas, Plush e soltou-as na água fervente... só não se ligou na quantidade de água.

O líquido transbordou quando as batatas entraram em cena, mas a menina manipulou o ar, conseguindo conter a água de não voar para todo lado. Logo levou a água fervente voando até a pia; foi quando Thales olhou aquilo curioso, olhando-a logo em seguida.

— Magia...?

Uhum! — balbuciou junto de um movimento de cabeça afirmativo. — Qual o seu elemento?

— ...Socos.

A garota riu, e Thales olhava-a com um toque de carinho.

— Socos, é? — disse com um tom risonho.

Uhum... Não sei magia, mas sei dar socos!

— Fortão você é.

Thales abriu um sorriso, sua regata dragão favorecendo os músculos.

Samanta deixou as batatas por alguns instantes dando uma cozinhada e foi atrás de açúcar. Pegou quatro maçãs, Pa-Pa! cortou-as com golpes fortes e retirou o miolo de todas junto das sementes. Plo-tutu levou ao liquidificador, Shciii adicionou o açúcar, Shhblolololo e despejou água mineral... mas antes de bater o suco, retirou as batatas do fogo.

Thales deu licença imediata sem pedido algum quando ela tomou a pia do domínio do garoto. Shhhhhuaa... Resfriou as batatas com água corrente, Pa-Pa! e as cortou em canoas. Cada batata virando oito canoas.

Praouch!

Colocou três dentes de alho no balcão e amassou-os com a lateral da faca, pressionando com uma mão por cima. Tirou a casca e colocou sobre as batatas em uma travessa de vidro.

Thales voltou a lavar o alface, mas ainda assim prestava bastante atenção na garota preparando as batatas que acompanhariam o prato principal. A jovem adicionou o equivalente a duas colheres de sopa de azeite de oliva, sal e páprica defumada no gosto da garota... que era um tanto alto.

Antes de misturar tudo, amassou com os dedos os dentes de alho para fazer meio que uma pasta e misturou bem, deixando todas bem molhadinhas e com um tom mais escurinho devido à páprica... Fush um rápido e forte vento soprou suas mãos, limpando-as completamente e deixando o tempero que ficou nelas de volta às batatas abaixo.

Com as mãos secas, segurou a travessa, Fon manipulou o vento e abriu o forno. Tripli pousou o vidro em uma das grades, e o forno preaquecido em 200 graus já estava quentinho para assar as batatas rústicas que a menina preparava naquele momento.

Pa

Fechou.

— Pronto! As batatas vão ficar prontas no tempo certinho — disse olhando o forno, agachada vendo o vidro. Parecia um pouco que falava sozinha, mas virou o rosto para o menino. — Aprendeu?!

— Quê? — Thales abriu o olhar. — Tava ensinando?

A jovem cruzou os braços, olhando-o.

— Eu disse que ia ensinar.

— Mas você não explicou nada.

— Mas eu mostrei como fazer.

— ...

— ...

— Soldado... É pra prestar atenção, ouviu?

— Ouvi. Entendido, general! — Prestou continência, sua mão molhada molhando um pouco o cabelo e corpo.

A menina riu e se levantou.

— Seu bobo.

Vrrruuuuuu...

Bateu o suco e foi até o armário procurar por uma jarra de vidro que tinha no próprio apartamento.

— Achei! — exclamou em meio a um murmúrio.

Thales olhou-a e viu a menina fechando o armário com uma jarra bem bonita na mão esquerda. Tuc pegou uma peneira metálica, Shploshhhp... e coou o suco na jarra. Thales se mantinha atento; o alface parecia infinito, e treinado para ter mãos leves quando queria, as folhas não se quebravam com seu cuidadoso toque.

— Você é canhota?

Samanta olhou-o e olhou para a mão esquerda segurando o copo do liquidificador. Corou um pouco, o que a fez não virar-se para ele, mantendo-se de costas com seu cabelo escondendo sua face.

Uhum...

Pediu para o menino prestar atenção no preparo das coisas, mas não esperava que ele prestaria atenção nela também. Manteve-se de costas mesmo após acabar de coar o suco. Guardou a jarra na geladeira e caminhava de costas como uma anomalia conhecida como Curupira... mesmo que a única semelhança nem existisse de fato.

A anomalia tinha os pés ao contrário, mas andava para frente, mesmo que parecesse para trás. A menina andava de costas mesmo, desviando o rosto do jovem até que sentisse que não estava mais embaraçada.

Thales, vendo aquilo, percebeu que parecia uma menina de um filme de terror que passou na televisão quando era mais jovem. Samanta, com aquele blusão branco enorme e cabelos escuros, lembrava um pouco a Samara com o cabelo tampando o rosto.

O menino deu um tremelique com a cena aterrorizante dela passando pelo outro lado do balcão, mas a jovem virou-se do nada com um sorrisão e olhos alegres como sempre.

— Lava o copo do liquidificador pra mim. Vou fazer a maionese agora!

— Maionese?

— Sim. Maionese verde!

Obedeceu e lavou o item. Samanta recebeu já seco, usou magia de vento para secar no tempo que Thales estendia. O jovem não entendeu muito bem, mas sabia que magia era algo difícil de entender mesmo.

Tuc

Colocou o copo sobre o balcão e foi preparar o próximo passo... mas Thales havia enfim vencido o chefão alface.

— General — chamou.

Virou-se, olhando-o.

— Oi? — respondeu meio sem jeito, pega de surpresa, olhar com dúvidas, expressão avoada.

Thales estreitou o olhar... a menina entendeu e pousou as mãos na cintura com o rosto se empinando.

— Oi, soldado?

— Acabei minha missão. Qual a próxima ordem, general?

— Separe duas folhas de alface, só vamos usar isso e... — Viu Thales olhando-a com uma expressão entediada, longe, o olhar como se tivesse morrido de decepção e quase riu. Os lábios dando uma entortada para rir, mas segurou, junto da voz, e continuou: — Ee... E corte pra mim um limão ao meio, também a cebolinha e a salsinha. Não precisa ser pequeninha, porque vai tudo ir no liquidificador.

Prestou continência.

— Entendido, general!

Separou o alface e o restante guardou na geladeira. Lá já tinha alface, assim como muitos dos ingredientes que compraram, mas a menina não queria arriscar o apartamento dele não ter sido bem fornecido como o dela quando se mudou para lá.

Pa-Pa-Pa...

Foi cortando os ingredientes no tempo que a jovem colocava os outros no copo.

Ssslhua cerca de 100 ml de leite. Puc meio dente de alho sem o miolinho branco do meio. Pluc mais ou menos uma colher de sopa de mostarda, que a menina quase explodiu ao ver que esqueceu, mas na geladeira tinha. Shi uma pitada de sal no gosto da jovem, e não perdeu tempo.

Fechou e...

Vrrruuuuuuu...

Nem esperou muito e abriu o vidrinho circular da tampinha. Logo começou a despejar um fiozinho de óleo enquanto o líquido batia e ela buscava por uma consistência mais corpuda, cremosa. Thales acabou de cortar e deixou em um recipiente de vidro ao lado da garota... que lutava por um momento para não olhá-lo.

O jovem obedecia à ordem. Prestava bastante atenção, mas ser olhado assim o tempo todo era constrangedor. Enfim, chegou na consistência que queria. Desligou, tirou a tampa e finalmente disse algo ao invés de só mostrar:

— Quando a maionese chega nesse ponto, é só adicionar a salsinha com a cebolinha e espremer algumas gotinhas de limão. Depois é só deixar bater mais um pouco.

Thales afirmou com a cabeça e a menina colocou a tampa novamente.

Vrrrrruuuuu...

Passou por ele rapidinho e buscou uma pequena cumbuca para despejar o molho. Achou no armário e voltou, desligando o equipamento e mostrando a cremosidade escorrendo do copo para a cumbuquinha branca. Thales curvou-se um pouco, observando.

— O cheiro é muito bom — comentou.

— O cheiro? — murmurou ela em um tom curioso.

— Isso o c... — erguia-se enquanto respondia.

Samanta passou o dedo rapidamente pelo molho e deu uma lambuzada no nariz do garoto, que ficou sem reação. Já a menina começou a gargalhar, olhando-o, uma risada espontânea e muito sincera. Algumas travadinhas parecendo o som de um porquinho.

Thales serrilhou os lábios, segurando para não rir muito, mas sua expressão mostrava que a brincadeira foi, sim, divertida... só não queria mostrar que foi pego. A jovem ainda ria, o menino não havia se limpado até então.

— Tá cheiroso aí? Tsihaha! — tentou segurar o risinho com um som de boca, mas não adiantou muito.

Ha...ha — riu de forma sarcástica em resposta.

— Se limpa logo, seu bobo!

— Eu que sou bobo?

— Sim! Você que é bobo!

— Tão tá, então.

— Guarda a maionese na geladeira, por favor.

Thales obedeceu e levou. Quando voltou, viu-a preparar dois pratos sobre o balcão, cada um com um dos blends que ela mandou moer no açougue do supermercado. Fazia duas bolinhas com os dois. Metade, metade. Cerca de 300 g para cada carne de hambúrguer que seria preparada.

— Vem cá — chamou ela, estendendo a mão quase como se pedisse para andar de mãos dadas.

Thales chegou ao seu lado, e ela segurou uma das quatro bolinhas na mão.

— Agora, precisamos fazer isso aqui ó.

Pla-Plo-Pla-Plo!

Jogou a bolinha de uma mão para a outra duas vezes.

— Entendeu?

— ...Pra que isso, general?

— Pra deixar a mistura mais homogênea... Garantir que a carne fique na textura certa e bem suculenta. Pra isso, precisamos misturar bem, já que são duas carnes diferentes, e a gordura precisa ficar bem juntinha com as carnes. Aí precisamos bater ela um pouco assim, até que fique uma bolinha bem bonita.

— Entendi.

Thales pegou uma.

Pla-Plo-Pla-Plo!

Samanta olhou contente.

— Isso! Certinho!

Pla-Plo-Pla-Plo!

Pla-Plo-Pla-Plo!

Continuaram batendo as bolinhas. Os dois focados, mas sempre brincando, mesmo que apenas com risos bobos do encontro que nem percebiam estarem realizando. A menina acabou primeiro e, antes de colocar as carnes para fritar, Schsch... pegou as cebolas roxas e normais da sacola.

Thales finalizou as duas dele — uma de cada blend — já recebendo uma nova ordem:

— Pica em rodelas para mim, por favor.

Confirmou com a cabeça, recebendo os alimentos em suas grandes mãos, e logo foi cortá-las. Frrrach-Frrrach... Movimentos leves, a faca bem afiada fazia um ótimo trabalho de suporte ao menino que cresceu ajudando sua mãe cortando os vegetais.

Tititititburn...

Samanta ligou o fogo de uma das frigideiras, Schsch... pegou quatro pães brioche e colocou-os no balcão. Thales usava a faca que separou e, com uma leve preguicinha de ir até a gaveta atrás do menino, cortou os pães com ar mesmo, dividindo-os do nada na visão do garoto confuso, erguendo o olhar para ela.

Sorriu em resposta, e Thales sorriu meio sem jeito, voltando a atenção às cebolas.

Tsss...

O som da manteiga queimando ao ser jogada na panela ecoou. O cheiro maravilhoso subindo logo em seguida. Segurou a frigideira e sacudiu, espalhando a manteiga por toda a superfície para, Tss... dar uma selada no pão, e...

— Eu gosto de dar uma tostadinha no pão, porque ajuda a evitar ele de ficar encharcado e todo molenga devido ao suco da carne e também dos molhos que eu costumo usar — comentou, sem olhá-lo, mas Thales olhava-a, absorvendo o ensinamento.

— General, acabei.

Samanta olhou-o, voltando sua atenção aos últimos pares de pães sendo selados.

Acabou.

Logo pegou as cebolas normais.

Tsss...

E despejou-as na mesma frigideira quente. Colocou manteiga e misturou bem, deixando-as caramelizarem em fogo baixo, pois precisava cozinhar por um tempo bem longo e cuidadoso.

— Soldado.

— Oi?

Olhou-o com um olhar semicerrado. O menino prestou continência.

— Oi, general?

— Pica algumas rodelas do picles, por favor.

— Agora mesmo.

Enquanto picava, a menina começou a preparar os pães. Thales finalizou e viu o sanduíche sendo formado. Na base do primeiro sabor de hambúrguer, o que iria receber o blend de maminha com peito bovino, a jovem colocou seis rodelas de picles em cada, assim como algumas rodelas de cebola roxa e alface que picou na hora, pois esqueceu de pedir ao seu ajudante.

Na outra dupla de pães... ainda não foi adicionado nada.

Um tempinho já havia se passado do tostar e o cheiro magnífico da caramelização da cebola sendo finalizado. A menina quase aguava vendo a cebola escura, tendo algumas um pouco queimadinhas.

— Eu fazia com açúcar... — começou a falar do nada, e Thales logo deu atenção. — Mas parei. A cebola já é meio doce, então a caramelização fica legal só com manteiga mesmo. Olha!

Ergueu a frigideira com a mão esquerda, mostrando-o, e Thales aproximou o rosto, sentindo o cheiro como viu-a sempre inalando no tempo que preparava.

Tap! — murmurou um sonzinho, junto com o toque que deu com o indicador direito no nariz do rapaz, que aborreceu o olhar escutando a gargalhada após ter sido pego mais uma vez na brincadeira.

— ...

Samanta despejou a cebola em uma cumbuca e voltou a frigideira para o jogo, agora pegando quatro fatias generosas de bacon. Tsss... colocando-os para fritar. Pegou uma panela menor e colocou sobre os ingredientes sendo fritos.

— Por que fez isso?

— O bacon costuma se contorcer. Fazendo assim, eles fritam com o corpo esticado.

AaaahCOf-CoF!

Samanta deixou os pensamentos intrusivos vencerem e, no momento que o menino abriu a boca, enfiou um dedo lá, provocando uma tosse em Thales. A jovem começou a rir com as mãos erguidas em rendição. A voz risonha pedindo por perdão enquanto o menino a olhava com um olhar estreito e os lábios serrilhados segurando o riso e a vergonha.

— Desculpa! Desculpa! ...Foi mais forte que eu — disse abaixando o rosto, segurando para não continuar rindo.

Uhummm... — grunhiu.

— Bacon você não precisa colocar óleo ou manteiga... ou azeite. Ele já é bem gorduroso e você frita ele com ele mesmo...

Uhummm... — grunhiu... com medo de abrir a boca.

Ela abriu um sorrisão em resposta, tentando quebrar a desconfiança.

Passou um tempinho. O bacon foi finalizado e retirado da frigideira, e o que entrou foram as carnes... Porém não na mesma. Samanta colocou Thales para já lavar a frigideira suja e preparou outras duas, uma com um fiozinho de azeite de oliva e a outra com azeite extra virgem.

Não queria que o óleo do bacon roubasse o gosto das carnes. Mas antes de serem levadas, a menina temperou com sal e pimenta-do-reino de um dos lados. Tssss...

— Escuta esse cheiro! — exclamou, o rosto empinado, inalando a fragrância da gostosura, tendo a gordura queimada. Thales olhou-a de canto, um sorrisinho gentil em seus lábios.

Samanta pegou uma espátula, Tsss... e pressionou um pouco os quatro blends. A maminha com peito ficou no azeite extra virgem e o de fraldinha com costela no de oliva. Como temperou o lado que ficou para baixo, agora temperou com sal e pimenta-do-reino no de cima.

Não demorou muito, Tss... e a menina virou todas as carnes... mas não deu uma pressionada como fez do outro lado.

— Você viu que eu dei uma amassada nela antes?

— Sim.

— Eu apertei ela na frigideira enquanto ainda estava fria. Depois que vira, ela já está quente e você não pode fazer aquilo de novo. Porque, se não, o suco dela é expelido.

— ...General, desculpa. Mas o que é "expelido"?

Samanta olhou-o e Thales ficou meio sentido por não saber o simples significado de uma palavra... mas ela não o julgou ou tratou aquilo com maldade, só explicou com outras palavras, no tempo que gesticulava com as mãos juntas sendo afastadas:

— Quando você aperta a carne quente na frigideira, ela expulsa os líquidos dela, aí perde toda a suculência que queremos.

Aaahhh, os...

Thales deu um passo rápido para trás, semicerrando os olhos quando a menina ergueu o dedo na direção. Ela abriu um sorriso sapeca e abaixou o dedo, olhos fechados. Cruzou os dedos escondidos e disse:

— Prometo que não faço mais isso...

Uhummm... — grunhiu.

Depois da desconfiança diminuir, mas ainda mantendo a boca fechada, Thales se aproximou quando a jovem começou a adicionar os queijos nas carnes. No de fraldinha com costela, duas fatias de queijo prato; nos de maminha com peito, duas fatias de cheddar inglês.

Pegou duas tampas de vidro.

Tss...

Despejou um pouquinho de água e tampou as carnes.

Geennal... Poonr qnm... — grunhia de boca fechada.

— Pode abrir a boca. Não precisa ter medo, não — disse ela, mas o tom era muito nítido que segurou para não rir da sua pequena mentirinha.

Thales a olhava desconfiado, então colocou as mãos sobre a boca, mas disse para fora desta vez:

— Por que jogou água?

— Jogar água e tampar ajuda o queijo derreter mais rápido.

Ah...

— Pega a maionese na geladeira, por favor.

O jovem obedeceu e saiu.

A menina retirou as tampas. Estavam prontos. Pegou os de fraldinha com costela e pousou-os sobre os pães até então sem nada. Logo depois colocou duas fatias de bacon, que deu suporte para a cebola caramelizada entrar em cena por cima.

Thales chegou e viu aquela maravilha sendo formada na sua frente.

Samanta pegou os de maminha com peito e pousou-os sobre o alface. As carnes enormes, 300 g de puro sabor e suculência. O queijo derretido cobrindo os discos. Nos dois sanduíches, pegou a maionese verde e passou no pão que fecharia o lanche.

Voalá... estava pronto.

O olhar de Thales brilhando. O estômago treinado para ser forte o suficiente para aguentar meses sem comer não queria nem saber. Só gritava entre as entranhas: "Manda pá dentu! Manda pá dentu!"

Mas... nem tudo era flores.

As mãos foram na direção e o braço da garota entrou na frente.

— A carne precisa descansar um pouco. Vai lavando a louça enquanto isso.

Acatou sem nenhum som negativo. Pegou as frigideiras e levou-as à pia, no tempo que a menina organizava o balcão, retirando lixo e guardando o que não seria mais usado. Thales lavava as coisas e sempre olhava para o lado. Aquele momento era estranho.

Os dois ali, fazendo comida juntos, arrumando casa juntos... não parecia algo novo. Parecia que estavam juntos ali há anos, tendo esses dias há anos. Não parecia que não fazia nem mesmo um único dia que trocaram a primeira palavra.

Thales acabou e deixou as louças escorrendo. Fon logo viu-a se agachar em frente ao forno, olhando as batatas. Só pelo olhar dela ele sabia que estavam prontas... e não só isso, que estavam lindas. Abriu um sorriso contente por vê-la feliz.

— Estão douradinhas!

Desligou o forno. A travessa saiu voando com o vento. Samanta olhou a bancada.

— Esqueci de pegar um prato...

Thales não esperou uma ordem, pegou um belo prato de cerâmica em verde-jade escuro que tinha no armário e o colocou sobre o balcão. Samanta sabia que colocar uma travessa de vidro quente em uma superfície gelada poderia dar choque térmico e estilhaçar vidro para todo lado... Já houve esse erro no passado... e ela aprendeu.

As batatas voaram com o vento na direção do prato, o vento apenas levando-as, o controle focado em não resfriá-las. Pousou todas, Tripli depois aterrissou a travessa de volta ao forno. Pa fechou-o e se voltou às belezuras douradinhas sobre o prato que reforçava e contrastava perfeitamente com aquelas batatas rústicas.

— Já pos... — iniciou Thales.

Samanta segurou uma batata e levou-a na direção da boca dele. O menino parou de falar e abriu-a, recebendo o alimento quente... só que não. Samanta diminuiu a temperatura para não queimar a boca dele, mas ainda deixou bem quentinha e gostosa.

Thales mastigou rapidinho e engoliu. A menina olhando-o sem nem piscar durante todo o momento. Seus olhos uns nos outros, o silêncio do momento gritando.

Parados... paradinhos, só se olhando

— Tá gostoso? — murmurou ela.

— ...Muito — murmurou ele.

Continuaram se olhando por alguns segundos... longos segundos, dos corpos voltados um para o outro, seus olhares, suas bocas... Mas então Samanta tomou iniciativa:

— Vamos comer! — Abriu um sorriso; os rostos, que pareciam em transe se olhando, sumiram de repente. — Liga a televisão! Vou servir o suco.

— Tá!

Deram um passo para irem executar as tarefas divididas... mas os dois, que estavam colados no balcão à esquerda, jogaram para a direita e se fecharam, logo jogaram juntos para a direita... Deram preferência, esperando.

— Po...

— Vai você pela direita — disse ela, um sorriso um tanto inquieto.

— Tá — respondeu ele, um sorriso um tanto na mesma vibe.

Thales ligou a televisão. Samanta serviu os sucos e o prato com batatas junto da cumbuca do molho no meio foi voando, acompanhando os copos e sanduíches. Pousaram na mesa em frente ao sofá. Thales sentou-se, Samanta à sua esquerda.

Os sanduíches esperando-os, e o menino olhou-a buscando por permissão. Ela segurou o dela, ele o dele e, juntos, abriram a boca para um... CrumnnmNhami! Uma mordidona bem generosa. Os olhos do menino brilhando pelo sabor que sua língua recebia.

"Robson ia amar comer isso!" pensou, mas não se tocou que mastigava de boca aberta.

De repente, a mão esquerda da jovem pousou com suavidade em seu queixo, fechando-o com delicadeza. Ele a olhou, vendo-a com um sorriso mais que gentil e um olhar mais que carinhoso.

— Come de boca fechada. Comer de boca aberta é falta de educação — chamou a atenção de forma suave, doce.

Thales acatou e continuou mastigando como o pedido. A mão macia ainda tocando sua pele. Mas ela logo saiu com lentidão... o menino se perdendo na jovem se aproximando dele, o rosto indo ao rosto, o corpo ficando cada vez mais quente... Se perdeu no momento... e foi roubado.

NHAMI! — Samanta atacou o lanche dele, comendo mais da metade com uma única mordida. Thales franziu o cenho, olhando-a rindo e olhando seu lanche agora minúsculo em suas mãos.

— EEEI!?

A menina gargalhou e o jovem tentou atacar o lanche dela, mas a jovem era muito mais rápida que ele... E depois de bons desvios, além da menina se levantar protegendo o sanduíche um pouco afastada, viu-o mudar de plano, pegando o lanche dela que ainda estava sobre a mesinha.

— Nããão... Você não tem coragem... — disse ela, vendo que ele tinha coragem enquanto ria de forma vilanesca:

UHAHAHAHA... NHAMI! — Metade do lanche dela foi parar no estômago do rapaz. Ambos se olhando com olhos semicerrados, eram heróis e vilões ao mesmo tempo, desafiando-se... Mas começaram a rir e a menina se sentou novamente ao lado dele, enquanto dividiam algumas batatas chuchadas na maionese verde.

Acabaram.

Mas, na última batata, as duas mãos foram ao mesmo tempo. E o que Thales imaginou que seria uma disputa virou uma entrega. Tentou pegar primeiro, mas nem viu quando a batata desapareceu no prato. Quando olhou-a, viu que estava na mão dela. Aborreceu o olhar pela derrota, mas a jovem esticou o acompanhamento na direção da boca dele... mais uma vez.

Thales abriu-a, e Samanta levou-a lentamente, sorrindo com ternura. Tik! Thales fechou a mordida e mordeu vento. A menina puxou, Nhami-Nhami! e comeu ela mesma, rindo da cara do menino fazendo biquinho emburrado.

— Sabia...

— Sabia nada!

— Esperava algo assim — disse de braços cruzados, imitando-o de certo modo, olhos fechados.

Uhummmm... — Vendo isso, imitou-o também.

Thales abriu os olhos e olhou-a. A menina espreguiçou-se com os braços para cima e disse:

— Tem toalha no banheiro?

Huh?

— Toalha. Tem, não?

— Tem, p...

— Vô tomar banho, já volto — cortou-o e pegou a sacola ecológica, levando-a para o banheiro.

— ...Tão tá — murmurou, escutando a porta se fechar.

Não passava nada de interessante na televisão. Então ligou o videogame e continuou no joguinho que jogou sozinho depois que Nino saiu do seu apartamento noite passada.

Samanta não demorou mais que sete minutos no banho. Molhou o cabelo, mas não quis secá-lo com magia, pois magia era muito artificial.

Água mágica não podia ser ingerida. Não era a mesma coisa que água natural, assim como o vento. Quando fazia isso, sentia que o deixava muito ressecado, logo sempre optava por secador de cabelo. Ainda treinava sozinha para conseguir tornar o ar quente sem saber magia de fogo para poder substituir seu velho amigo soprador de vento quente.

Saiu do banheiro. Pelo fato de estar em "casa", não vestiu seu sutiã. Thales jogava entretido e não a olhou. Samanta chegou e subiu no sofá, agachando-se meio sentada. Gostava de ficar assim. Mas usou uma mão de apoio no rosto, escondendo sua boca, parecendo de gatinho, olhando-o jogar.

Thales então a olhou, olhou rápido retirando o rosto, mas voltou como um ímã de volta, pausando o jogo. Achava-a linda demais, e as marquinhas nítidas davam um toque a mais na beleza que seus olhos tinham o prazer de ver.

— Vo-vo-voc...

— "Vovovo"? — Samanta imitou-lhe o gaguejo e riu da cara dele, uma risada forte, os porquinhos sendo escutados do corpo que se curvava de rir. Thales ficou meio corado de vergonha, mas tentou retomar o controle.

— Seu cabelo encolheu?

Samanta se recompôs e explicou:

— Meu cabelo é estranho. Quando tá seco, fica liso, comprido. Quando tá molhado, encolhe e os cachinhos ficam mais visíveis, só que ele também fica todo embolado. Mas é só até secar mesmo.

Aaaah...Pá! Thales se deu um tapa na boca quando viu-a erguer um dedo. A menina começou a rir mais uma vez, e os olhos dele, que eram um tom quase igual aos dela, se perderam na pele morena da menina.

— Seu bobo.

— ...Você gosta muito do exército?

— Oi?

— Sua calça. Além da nossa brincadeira.

Ah... — Samanta olhou para sua calça. — Gosto bastante... — Um sorriso se abriu, antes de contar seu sonho de criança: — É que... quando eu era mais jovem, eu assisti Tropa de Elite e decidi que queria entrar no BOPE!

Sorria, mas o corpo caiu com seu ânimo na fala seguinte:

— Mas eu não podia. Eu era muito jovem... — Ergueu-se animada novamente. — Depois eu vi um filme de guerra e decidi que eu iria servir o exército! ...Mas não podia. Eu era muito jovem... — Entristeceu o rosto antes de voltá-lo ao normal mais uma vez: — Depois descobri que eu sabia magia, aí descobri a ADEDA! Ela eu podia! Aí pedi pra minha mãe e ela mandou o pedido. Fui aceita e tô na escola desde meus oito anos.

— Legal...

— E você?

— Eu o quê?

— Por que entrou na ADEDA?

"Pra minha família não morrer de fome..." pensou em responder isso... mas não queria pesar o clima tão descontraído e engraçado ao lado dela.

— Eu... queria dinheiro.

Aaah, faz sentido.

O silêncio pegou-os desprevenidos.

— Quando é o seu aniversário?

Thales abriu um pouco os olhos... não sabia.

— Éeehg... — Lembrou que a identidade estava no bolso e pegou. — Tá aqui.

Ham? — Recebeu o documento, olhando-o enquanto dizia com dúvida: — Não sabe seu aniversário?

— Não gosto muito do meu aniversário, não — respondeu meio sem jeito, olhando para o outro lado.

— Não gosta do aniversário ou não gosta que seus pais gastem dinheiro com você? — murmurou com um tom quase como um desabafo para si mesma. Thales olhou-a.

— Quê?

— Nada, não — respondeu ela, olhando-o e colocando um sorriso no rosto.

Thales via que o sorriso tinha um tom um pouco triste, mas não quis perguntar e acabar sendo insensível.

— Você nasceu dia 5 de janeiro... Qual a senha numérica da sua porta?

— Um, um, um, um.

— Por que "um, um, um, um"? — repetiu com um tom alegre de brincadeira. Achou engraçado a forma em que ele disse. Sua voz voltou à normalidade. Thales não sentia mais uma pequena tristeza oculta.

Aaah, eu queria algo fácil de lembrar. Só que eu só preciso por meu dedo, então é tranquilo.

Samanta se ergueu de joelhos, meio que ficando de quatro com o rosto bem pertinho do dele. Seus olhos brilhando com o pedido que fez:

— Coloca o número do meu aniversário?!

Thales olhava os olhos dela, seus narizes quase colados, as bocas a pouquíssimos centímetros de distância... era agora? O menino não agiu.

— Q-quando é o seu aniversário? — perguntou.

Samanta se afastou, sentando-se sobre uma perna cruzada. Olhos fechados, semblante empinado.

— Hoje!

— Hoje?

Uhum!

— ...Que dia é hoje?

— 24.

— ...Qual o número do mês?

Samanta o olhou meio entediada.

— Não sabe de data mesmo, né?

Thales negou.

— Hoje é 24 do 7.

— Vou colocar.

Samanta sorriu.

— Sério?!

— Sim.

Samanta se levantou.

— Tá falando a verdade, né?

— Tô!

RuRum! — Pousou as mãos na cintura. — Vou vir amanhã cedinho pra cá e vou usar o meu aniversário na porta então. Se não abrir... você vai se ver comigo!

Thales afirmou rapidinho com o rosto, quando a mesma curvou o corpo chegando próximo dele mais uma vez.

Rum! Você me prometeu que vai me ensinar a fazer pizza amanhã. Vamos ir na academia, passar no supermercado na volta e vir pra cá, ok, soldado?

— Entendido, general!

— ...Vou ir embora. Até ficaria mais aqui, mas tenho que estudar o para casa que Alissa passou ontem.

— "Para casa"?

— É, ela disse que nem você, nem o Nino ou a Nina precisavam fazer. Então nem precisa ficar curioso, não. É coisa de magia e eu vou tentar estudar sozinha para me concentrar melhor... Além de que tenho que esperar minha mãe me ligar em mais um aniversário meu, dizendo que quer me ver, pra quando eu chegar lá eles gritarem "surpreeesa" na festa surpresa mais óbvia do mundo — disse com o tom ficando cada vez mais baixo, assim como o olhar. — Detesto que gastem dinheiro comigo. Uma das razões de eu querer sair de casa era justamente ser menos uma boca para precisarem alimentar.

— É... tenho nove irmãos.

— NOVE?! — A tristeza da menina sumiu vendo um mais fodido que ela.

Uhum...

— Entendi o "queria dinheiro".

Thales bufou, concordando, olhar baixo, rosto na direção do chão.

Uhummm...

— Entãão... é isso... — disse meio sem jeito, braços para trás, rosto ficando corado com a ideia que sua mente criava.

Thales ergueu o rosto.

— Tcha...

Mwa!

Quando foi se despedir, Samanta deu um beijo na bochecha do menino e sumiu correndo. A sacola ecológica sumiu junto. No corredor, já do quarto andar, em frente ao 405, o apartamento dela, a menina parou após rasgar as escadas com tamanha velocidade e vergonha. O coração disparado, quase pulando pela boca.

Thales ficou imóvel, olhos bem abertos.

— Sr. Thales, minhas contas somam mais de 15 vezes que podia tê-la beijado.

O menino corou com a voz da IA.

— Sr. Thales, seu coração está batendo bem mais acelerado do que quando seu pênis ficou duro para a Srta. Mirlim.

— Pelo amor de Deus, não me lembre disso — abaixou o rosto, as mãos pressionando a cabeça, se afundando em todos os momentos que poderia ter beijado e iniciado uma vida a dois. Todas as chances que perdeu passando em sua mente como cenas de guerra.

— Sr. Thales... você está apaixonado.

— IA... quais números são 24 do 7?

— Dois, quatro, zero, sete.

— ...E-eu preciso aprender a ler! Acha que consigo se me ajudar hoje o dia todo?!

Silêncio.

— IAAA?!

A coitada não queria ser rude.

— Hoje não. Mas, começando hoje, o tempo que irá demorar diminui.

— Por favor! Por favor!

— Ok, Sr. Thales. Desligue o videogame... vamos começar.

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