Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 109: Magia > Força

Para não dormir mais do que deveria, passou a noite na pizzaria, contando com o Sr. Sandro para acordá-lo no dia seguinte. O que aconteceu? Mais uma vez, ajudou no preparo inicial das comidas e levou, dessa vez, duas pizzas: uma para seu amigo e outra para se nutrir bem naquele dia tão importante.

Trerrerrrererrerleclec!

O som baixo escapando por baixo da porta era ouvido. A mão na maçaneta hesitava. Abriu. Ignorou os pensamentos e abriu. Mirlim estava sozinha, digitando sem parar, com a mesma roupa do último contato que tiveram. Thales foi até a mesa, abaixou a cabeça e, com os braços tensos para baixo, disse:

— Vim buscar o meu lugar de volta, Sinhá. Onde aquele menino está? Quero desafiar ele.

Mirlim parou de teclar. O olhar ainda voltado ao monitor. O ergueu e olhou nos olhos do menino.

— Como assim?

— ...A Sinhá me trocou, não trocou? Escolheu ele, mas eu quero ser o escolhido de volta! — Mostrava determinação em sua voz, mas Mirlim mantinha o olhar entediado e cheio de desprezo.

— Não é um menino, é uma menina.

Thales arregalou os olhos e ergueu o rosto.

— Quê...? — O olhar das mil dúvidas.

Mirlim desviou e voltou a teclar, continuando seu trabalho enquanto seu cérebro dividia as tarefas de ler, escrever, pensar, estudar, programar, e responder o jovem que não ajudava em nenhuma dessas questões:

— Também não sei muito. Não me interesso por isso. Ela é um menino... menino trans... sei lá. Nasceu menina, agora é menino. Tava aqui comigo uns dias porque sofria muito bullying onde morava e, quando contou aos pais que queria cortar o cabelo baixinho, não gostaram e decidiram se livrar, mandando-a a um colégio militar. Foi bem distante o motivo pelo qual eu o trouxe, mas isso do colégio militar me deu um pouco de raivinha da família. Mandaram um pedido pra cá, confundindo tudo, e eu decidi aceitar — murmurava tudo, preguiçosamente.

— Ma...

— Comprei umas roupas de menino, um sapatênis horroroso que ele quis, e mandei para um barbeiro cortar o cabelo. Fiquei com ele um tempo, tentando trazer um pouco de humanidade...

"Humanidade? En..."

— ...Ser rejeitado pela família é um pouco familiar para mim. Depois... mandei ele para um professor. Tô sem tempo pra cuidar de criança. Você já consegue ser um imprestável ao quadrado sozinho — rosnou e ergueu o olhar para ele.

O olhar era cheio de dúvida, mas esperançoso e quase brilhava de alegria, mas sua dúvida precisava ser diretamente respondida:

— Pensei que a Sinhá tinha me trocado... Vi ele aqui depois que me mandou ir embora e eu não consegui entrar. Achei que tinha me trocado e fui treinar soz...

Mirlim firmou severamente o olhar, cortando-o com uma voz assustadora:

— Você ficou um mês sem vir até aqui porque tava com ciuminho? Você é o quê?! Uma menininha assustada?! Você é homem, retardado, ou pelo menos deveria agir como um. Resolva a porra do problema quando um problema surge. Mas não, a menininha saiu chorando com medinho de ser trocado. Seu inseto.

— E-...

— Qual o seu problema? Mandei você ir embora faz 30 dias. Se não foi, por que voltou agora, seu merda? Por que não voltou no dia seguinte? Por que não entrou no dia que viu o menino como um homem e perguntou o que estava acontecendo? Perguntou a próxima operação? Preferiu ficar 30 dias remoendo essa merda do que resolver de uma vez? Tava com vergonha do quê? Tava com medo de uma criança? Achou que perderia para uma criança? Se sim, suma da minha frente; se não, eu mesmo o mato. Se tem medo de uma criança que nem erguer os braços direito sabe, não tá pronto para enfrentar um mundo horrível, desgraçado e lotado de magia.

Thales se firmou e desafiou; ser comparado a uma menina atingiu sua masculinidade:

— Força é melhor que magia!

Mirlim sorriu, um sorriso estranho, sádico. Uma leve risada escapava do seu rosnado irritado:

— Você não sabe a merda que está falando.

— Eu nunca vi a Sinhá usar magia!

— Seu imbecil, acha que magia precisa ser coloridinha? Acha que tem que sair foguinho da mão?

Thales esqueceu com quem falava. Esqueceu completamente e só tentava provar que não era uma menininha. Sua vida em jogo, mas sua cabeça só queria se defender argumentando o impossível:

— Ma-mas a Sinhá quebrou as rochas com um tocar de unha! Aquilo foi magia?!

— Não.

— Então força é maior que magia, e eu sou muito forte!

Mirlim abaixou o rosto, a franja cobrindo de ver a pele da face. Sua irritação superou a preguiça, coisa que poucas vezes na vida aconteceu... a mulher estava perdendo sua estabilidade emocional. Rosnou como uma mamãe onça protegendo seus filhotes:

— Você quer ver o que é magia?

Thales firmou o olhar, confiante, e com um confirmar de cabeça... tentou responder:

— S...

BRRRACKEKEK!!!

O monitor, o gabinete, foram dilacerados com o erguer da mulher... nada que a IA controlando as nanomáquinas e nanorrobôs não pudesse consertar em segundos. O real computador era todo no ar; aquele gabinete era estético, puramente uma decoração colorida.

Thales teve todos os ossos do tórax dilacerados. Os órgãos se moveram em posições absurdas. A morte o chamava, mas Mirlim mandou-a ir se fuder. Tudo voltou ao lugar, os ossos se firmaram mesmo com a dor sendo preservada sem pena. Quis e agora recebia, a magia da segunda mais forte irritada.

A parede da sala foi arrombada, assim como todas as paredes que dividiam o escritório até o campo de futebol... lotado de crianças treinando suas artes marciais escolhidas. Scrrrrsree! O som da explosão e o aparecer de Thales rolando pelo chão era um sinal.

Os professores que já haviam recebido a ordem que, se o menino estivesse lá, tudo era para ele, juntaram seus alunos, que se assustaram, e os levaram de volta para as salas, para fazerem exercícios teóricos e o que era possível de práticos naquele espaço.

A dor...

O menino caído só sentia isso.

— Levante e me acerte o soco mais forte que conseguir. Não se diz forte? Prove — rosnou, olhando-o de cima, como um inseto, como um inferior. Não protegia o corpo, estava imóvel, braços para baixo... da mesma forma que venceu e destruiu a arrogância de Alissa, no auge do ego aos recém nove anos de idade.

Thales arfava forte, a mão esquerda sobre o peito direito.

"Tô inteiro...? Isso não é magia... TÁ PROVANDO QUE FORÇA É MELHOR!" Continuava com sua crença. Apoiou a mão no chão e se levantou, olhando-a a menos de 10 metros, olhando-o com nojo. O corpo vulnerável. Era só uma mulher. Pele fina, macia. "Eu consigo. Vou provar!"

Respirou mais um pouco, Vrun! disparou.

O chão tremeu levemente quando seus pés o empurraram, se impulsionando a milhão na direção da mulher. Usou o que a mesma o ensinou. Chegou. Olhava no olho. O soco sendo projetado na direção do rosto e os joelhos cederam até a altura desejada — o abdômen de Mirlim.

BAKRKRRKEKEKE!!

O soco colidiu com agressividade... mas nem mesmo a regata sensual da preguiçosa foi movida. Nem mesmo conseguiu fazer a blusa de frio, caída abaixo do ombro exposto, descer um pouco mais. Era impossível tocá-la sem que Mirlim deixasse.

Sua enorme mão, aberta, dava o tamanho da barriguinha da mulher, "colidiu", e, conforme os milhares de quilograma-força eram expelidos, seu próprio abdômen era afundado na exata forma do seu punho. Seu soco era de fato muito forte... mas a resistência do corpo era inferior, e ainda mais, recebendo um golpe direto três vezes mais forte que o original.

Tudo foi esmagado.

O soco fantasma penetrou a carne, e as tripas nem podiam sair... viraram purê.

A morte desejava e começava um romance íntimo com o menino, mas Mirlim ainda o queria vivo. CRASH-CRASH! BIIIIII! Foi arremessado longe, varando paredes que separavam o campo da Av. Octávio Mangabeira.

O jovem colidiu no capô de um carro do ano, um HB20 que mal saiu da concessionária, destruindo o motor e deixando o homem em choque, Biiiiii!... buzinando assustado com a quantidade de sangue na barriga do jovem caído sobre o entulho da parede que destruiu do posto de gasolina.

Mirlim moveu um dedo. Se imaginou com o corpo inteiro, sentindo dores agonizantes, e mandou para o jovem, que foi curado. As vistas cinzas voltaram a ter cor, mas a garganta só queria gritar... mas a mulher não queria deixar. Se imaginou não tendo boca, e Thales deixou de tê-la para poder se aliviar.

Grotesco.

Abria a boca internamente tampada. Não saía nada. Um filme de terror.

Bill e Will surgiram do nada. Haviam deixado o café da manhã no escritório da mulher, mas, ao ver a parede destruída, seguiram e viram tudo. Sabendo que não podiam interferir, foram cuidar dos danos. Se dividiram e um foi até o motorista e o outro até o posto.

Thales nem viu, só sentiu quando Mirlim surgiu, erguendo-o pelo pescoço.

— Vamos, seu verme. Não disse que força é melhor que magia? — Os olhos não eram humanos. Aquele brilho não podia ser real.

Fu!

O menino nem viu quando o cenário mudou. Mirlim não queria ser vista quebrando-o inteiro em público. Mesmo que fosse impossível expô-la. Sua IA faria tudo sem nem precisar ser ordenada. Meio segundo para tudo ser alterado, modificado, excluído... falsificado.

Sua velocidade. Thales nem conseguiu sentir o vento. Estavam de volta no campo. A IA controlava nanorrobôs para reconstruir tudo que foi destruído. A mão suave, delicada, macia, sedosa mostrava que a força não precisava de músculos. Ele entendia? Segurava-o tão forte que o menino não conseguia mover nenhuma parte do corpo, enquanto era sufocado.

— Vamos, escravo malcriado. Prove o que disse. Cadê sua força? Cadê? Me acerte uma única vez. Mostre que estou errada, enquanto eu te provo que você não é nada — rosnou sua ordem. PAHFF! e o atirou contra o chão, devolvendo-o à boca.

Thales girou e se ergueu... pelo menos tentou.

CREEEEEK!

Mirlim segurou o braço e o virou ao avesso, olhando-o no fundo dos olhos antes de jogá-lo para baixo, voltando o osso para o lugar. A dor agonizante, o jovem nem conseguiu se manter na mesma posição agachada. Não conseguiu se erguer e escutou:

— Levante. É sua última vez aqui. Ou prova, ou morre. Te escolhi para treinar e fazê-lo virar um exterminador. Mas o que eu vejo é um ser fraco, chorão e substituível. Levante e prove o contrário, ou não morrerá por uma anomalia, morrerá pelas minhas mãos.

Thales lançou o rosto na direção.

PHAAH!!

Um chute quebrou seu maxilar.

Scrererrrerrrrch...

Arranhou-se em todo o gramado, a regata já era um amontoado de trapos e o que deveria ser um dragão estampado. Thales não conseguia dominar a dor e levantar... e Mirlim não iria perdoar.

CRRREEEK!

— RrrrghhT!

Segurou a perna direita e quebrou-a ao meio... mas não curou. Deixou-o agonizando, chorando de dor enquanto o rodeava. Andava lentamente envolta, exalando desprezo e descaso em seu olhar.

— Levante, escravo de merda... Acha que comprei você por nada? Se não pagar com utilidade, pagará com o sangue da sua família. Não me prove que eu perdi meu tempo treinando um amontoado de merda, um inútil sem magia. Não adianta a força que você tem no soco, se derruba uma montanha ou nações. Deixe a porra de uma anomalia chegar perto, te atingir e você morre.

Thales continuava chorando, sua agonia sendo cortada por soluços profusos.

— Presas de Massacre... anomalias irrelevantes, fracas, estão sendo estudadas e testadas pela Limpeza em Brasília. Querem criar espadas, lâminas com esse material. Presas que rasgam aço como se fosse manteiga. Você é fraco. Sua carne não passa de músculos irrelevantes para esses seres dilacerarem. Se você vacilar, você morre.

Thales fechava os punhos, segurando terra, arrancando grama na tentativa de aliviar a dor.

— Agora levante. Prove. Prove o que ousou blasfemar na minha frente. Prove que força vence magia. Levante agora — rosnou, e continuava rodeando-o.

Thales tentou firmar, de fato tentou levantar, mesmo com apenas uma perna... mas isso não provava o que disse.

CRE-CRE-CREEEKK!!

— AIR!-RRRRRHGTT!

Nem saiu do chão... muito menos viu quando os dois braços e sua perna esquerda se dobraram sozinhas... ao mesmo tempo. Seu grito primal, seu ranger de dentes que os fazia estilhaçar em sua boca assustava crianças das salas mais próximas. Coisa que a IA resolveu logo, usando nanorrobôs para impedir a propagação do som para tão longe.

— Levante e prove, seu desgraçado. Você não é nada. Não é ninguém. Não passa de uma ferramenta que segue ordens. Mas está estragado. Tá se achando mais do que é. Seu trabalho é abaixar a cabeça e obedecer em silêncio. Seguir a ordem de extermínio sem mais nem menos. Foda-se se há riscos, foda-se se a chance de voltar vivo for mínima. Você abaixa a cabeça e segue as ordens. Mas não pensou na hora de me desafiar, não é?

— De-scul...pa, descÚulpa... — gemia o que conseguia forças para pronunciar.

— Cala essa boca e para de chorar. Seu trabalho é exterminar anomalias, não choramingar. Tá doendo? Vai levar a sério ou prefere nunca mais sentir dor? Ou prefere morrer pra primeira anomalia que aparecer?

CRERKEKE!

Em um movimento de dedos, os ossos voltaram ao lugar. Thales, deitado, esticado no chão com o peito estufando e voltando, estufando e voltando. Suado, sangrando. Shshshshs... no alto, no chão, em pé, deitado... em todas as posições e direções, um enxame de nanorrobôs se revelou, criando setas holográficas no chão, seguindo uma trajetória pré-estabelecida que passava por todos os alvos criados.

— Soque, chute, faça o que quiser nos alvos. Caso acerte o número aleatório de quanto cada um requer de força, será destruído e outro será criado em outro lugar. Caso erre, será punido. Faça rápido. Siga as setas. Levante agora e corra — rosnou, braços cruzados, olhar afiado.

Thales arfando como um búfalo, olhou-a por meio segundo e forçou o corpo a se levantar. Mas assim que sua bunda sentou já jogando o corpo para frente...

— Esquerda — um murmúrio invadiu seu ouvido esquerdo.

PAH! Scrrerererer...

Recebeu um chute e foi arrastado até outro lado do campo.

— Uma morte.

O jovem forçou-se a se erguer mais uma vez.

— Atrás.

PAAH! Srrrrrrrcrerer...!

— Duas mortes.

O golpe foi no meio da coluna. A cabeça foi jogada para trás e parecia que sairia com o movimento repentino e agressivo. Tentou erguer-se mais uma vez, mesmo chorando, sem nem sentir os olhos queimando.

— Direita.

PAA-H-...!

Chutou-o, o corpo dobrou e Mirlim segurou-o para não voar. Segurou-o quase perfurando a carne com suas unhas, e o olhava no fundo do olho, enquanto o erguia no ar.

— Morreu três vezes em cinco segundos e nem mesmo destruiu um alvo. Vou dizer mais uma vez, e é melhor que penetre esses ouvidos e fique gravado na sua carne. Na sua alma. Na porra da sua mente. Se você vacilar nesse mundo, você morre. Acha que isso é brincadeira? Preste mais atenção. Não baixe a guarda. Nunca fique confortável. Nunca se sinta seguro. A qualquer momento, a qualquer hora, alguma merda pode sair do chão e te dividir ao meio. Por uma burrice, por uma falha, um descuido.

Thales tentava manter os olhos abertos, mas a falta de ar deixava seu corpo funcionando todo errado. Mirlim mantinha o olhar severo sobre os olhos dele, mesmo que quase selados de tão fechados. A mulher ergueu a outra mão. Fechou-a e o indicador foi até a regata regaçada.

Raaasssgg!

— ArRGhT!

Thales engasgava na mistura de tudo. Não era só a regata sendo mais dilacerada, era a ponta da unha da mulher o rasgando igual faca.

— Sua carne... Sua pele... Seus músculos... Isso não será nada quando uma presa nem mesmo afiada, uma garra nunca usada, tocar você. Você olharia para baixo... Caso ainda tivesse tempo. Veria o sangue jorrar e junto dele, lembraria desse momento, pensaria: "eu devia ter treinado mais, obedecido mais, dado mais de mim"... Mas ainda assim não daria tempo. Seu corpo cairia e seria devorado por qualquer coisa muito mais fraca que você.

Rrrrrsssg...

— Sua família teria uma visita... Um homem de terno preto, e em poucos segundos, a notícia os destruiria: "seu filho morreu em uma missão de extermínio". Tudo isso, por falta de atenção. Tudo isso por não conseguir olhar ao redor. Pensar. Agir esperando o inevitável de qualquer lado. Muitos morreram assim. Não quero perder o meu tempo treinando mais um para morrer também.

PAHScrrcrrcrc!

— Levante e seja mais rápido.

Arff-arrff! — Thales lutava para recuperar o fôlego. De bruços, quase beijava o chão molhado do seu suor.

— Engula o choro e seja mais rápido.

Jogou o corpo para se erguer.

— Esquerda.

PAAH! Scrrsrrrrh!

— Levante e seja mais rápido.

Thales jogou-se mais uma vez, ignorando a dor dos golpes e conseguiu pisar firmemente no chão, no segundo que Mirlim surgiu mais uma vez na...

— Esquerda.

Fu!

Jogou o corpo, o som de um sopro forte de vento. Desviou do golpe, mas...

PAAAH! Srrrrrersshs!

Mirlim surgiu na direita e o chutou mais uma vez. O jovem caiu já se erguendo, e após fielmente conseguir desviar de um golpe, o modo de jogo normal foi para o difícil sem sua opção de escolha. Mirlim não avisava mais, ou conseguia prever ou levava.

PAAAH! Scrr-! BAM-P!

Agrrr!

Caiu próximo de um dos alvos. Cancelou seu giro no chão e subiu com um soco, mas o um, um, um que viu rapidamente não era 111 kgf, era 111 mil kgf, e o menino subitamente percebeu que teria que calcular através do chutômetro de quanto precisava aplicar no golpe.

O alvo piscou em vermelho. Algo não era normal. Um soco fraquinho como o que deu não deveria doer muito, mas doía. Qualquer erro nos alvos era mais um motivo para não errar. Mirlim não estava mais brincando dando treinamentos fáceis. Queria matá-lo. Queria fazê-lo experimentar a morte ainda vivo.

"Essas letras, isso é 'mil'? Era um, um, um, mil?" pensou enquanto levava a mão esquerda até a direita para aliviar a dor. Tudo foi muito rápido, gotas de suor voavam da velocidade cancelada imediatamente junto do efeito do impacto. Os olhos focados no alvo quando deixou de ser vermelho... para sua visão se tornar.

BA-CREEEK!

Mirlim segurou o braço direito e o quebrou, jogando Thales de rosto para baixo no chão, comendo grama, rangendo os dentes para não chorar como uma menininha de dor.

— Eu já avisei, escravo porco. Você não tem espaço para erros. Errou, se distraiu e morreu, em um único segundo. Tá doendo, menininha? Quer chorar? Quer ir até a mamãe? Não dá, inseto! Levante e seja mais rápido. Erre o próximo alvo e quebro o seu outro braço. Acerte, e devolvo o direito. Lá fora — Mirlim esticou o braço na direção do "mundo", mesmo que Thales não olhasse, mesmo que só conseguisse agonizar — não existe perdão. Se perder o braço na missão, ou se vira sem, ou aceita e morre como um covarde, um inútil.

— Rfr-ai-...

— Levante e seja mais rápido.

Thales arregalou os olhos. O verde-água... estava sujo de sangue. Uma determinação, uma vontade de viver e vencer. Os dentes rasgando a carne da boca, o ranger se assemelhando com o de um monstro.

Do outro lado, Mirlim o olhava com o mesmo olhar de sempre, com a mesma subestimação de sempre. Com o mesmo brilho violento do seu rosa, deixando-a mais próxima de um Semi-Deus que de uma humana.

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