Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 101: Sonambula

Passaram-se algumas horas.

As aulas já haviam terminado.

Era noite.

Alissa caminhava pelo corredor da escola, depois de sair da sua sala, adiando por um momento uma leitura bem imersiva, em um de seus novos livros recém-comprados.

Caminhava tranquilamente.

Tinha deixado o sobretudo na sala — nem se lembrou da existência daquilo.

Logo chegou onde queria... a sala dos professores.

Ao entrar, viu duas pessoas: Katherine e Louis. Ambos em pé. Ambos olhando diretamente para ela na porta.

A Exterminadora cruzou a porta e disse:

— Que que foi?

— Eu...

— Tô falando com ela. — Alissa jogou o rosto na direção de Katherine, a voz seca e direta.

O corte foi tão afiado que Louis até sentiu dor física, fechando a boca e recolhendo o gesto da mão.

Katherine olhou de lado para ele, depois voltou o olhar para a prima.

— Louis quer falar com você... — disse, abaixando a cabeça, como se pedisse desculpas por ser o meio-campo daquilo. Desviava dos olhares de reprovação que Alissa encaminhava para ela com intensidade.

A mais forte revirou os olhos. Lançou-os a Louis e cortou o breve silêncio:

— Mandou ela me ligar, sério?

— Se fosse eu, você não viria — respondeu ele, num tom baixo e respeitoso.

"Realmente..." — Que que cê quer?

— Preciso que ligue pra Mirlim e avise uma coisa.

— Por que não faz isso você mesmo?

— Ela com certeza me mataria.

Alissa fez uma careta de nojinho.

— Até hoje não pagou os pirulitos? Sério?

— Não tem como!

— Hãm? Como não?

— Ela literalmente comprou a fábrica. Ela é literalmente a dona da marca do pirulito preferido dela! E... não vende. Toda a produção é pra uso próprio! Como vou dar a ela o pirulito que ela gosta se não vende?! — exclamou, visivelmente transtornado e desesperado com aquilo.

— Ué, compra de outra marca. Manda algo novo, um doce diferente, sei lá.

— ...Antes de ela ir pra Bahia, ela ainda não tinha comprado a fábrica. Mas eu não achei o que ela gostava, então comprei outro. Quando eu dei pra ela, ela jogou o pacote na minha cara e disse que agora eu tava devendo o dobro... por acordar ela à toa.

— Ah, mas também... foi acordar a menina.

— ISSO NÃO JUSTIFICA!

— Para de gritar. Estou sendo irônica.

— Desculpa...

Abaixou um pouco a cabeça.

Alissa suspirou.

— Fala logo o que você quer.

Louis se recompôs.

— Bom... desde janeiro do ano passado, recebo e-mails do seu pai e do ministro da economia, exigindo que a filial da Bahia mostre resultados. Falaram que é literalmente a única ADEDA que não manda nenhum único relatório para o governo. Estão querendo fechar lá, pra cortar gastos e colocar uma ADEDA em um lugar que irá realmente gerar lucro e resultado.

Hum...

— O que estão exigindo é um aluno classe A. Apenas um é suficiente para que continuem atuando por lá. Já que o governo também não quer ter que destruir uma escola inteira, gastar dinheiro com essa demolição e blá-blá-blá. Basicamente, Mirlim precisa transferir um aluno classe A em no máximo seis meses. Que foi o prazo do ultimato que mandaram hoje.

— Faz um ano que tá recebendo isso?

— Sim.

— Por que não pediu à minha prima?

— Se ela ligar, Mirlim vai sacar que o pedido foi meu. Não adiantaria, eu estaria na linha de fogo da psicopata da sua responsável.

— Não chame ela assim.

— Desculpa. Mas não tem outro adjetivo pra ela sem ser esse.

"Claro que tem: tarada, safada, ninfomaníaca..." — Tá, tá... É só isso? Avisar que ela tem seis meses e só?

— Sim. Se quiser, te mando o e-mail e você envia pra ela.

— Não, ela veria seu nome.

— Ah, é... verdade.

— Ok então... — Alissa se virou. — Bye bye.

Louis deixou os olhos descerem por um momento... vendo a bunda da Exterminadora, mas logo se firmou, respeitando-a e afastando o pensamento. Foi até o computador, retomando o trabalho.

Assim como Alissa, Louis tinha uma sala própria, mas se Katherine chamasse Alissa para lá, ficaria óbvio que era um pedido de Louis, então o exterminador foi até aquela sala, e aproveitou para trabalhar com o auxílio de Katherine por lá.


Vrr, Vrr...

Mirlim dormia no momento em que sua mesa começou a tremer.

Não havia nada de novo, apenas que sua roupa do dia era uma saia curta e uma blusa social, de escritório. Todas as suas outras estavam sujas, e por conta disso decidiu pôr para lavar tudo de uma vez em sua casa.

Lavar roupas era chato, mas para lavar seus brinquedos e roupas eróticas era tranquilo.

Ergueu o rosto, sua mesa babada, seus lábios molhados. O palito do pirulito sempre presente na boca. Seus olhos se mantinham quase fechados, um decote marcante nos seios. Dois botões lutando para conter o que parecia ser uma força da natureza.

Assim que viu a foto e o nome de Alissa, acordou instantaneamente, segurando o celular no ouvido, após atender...

— ...

— ...

Porém... nenhuma das duas disse uma única palavra.

Alissa caminhava lentamente pelo corredor da escola, e Mirlim não sabia como começar uma conversa depois do clima que ficou na última ligação. Mirlim queria muito quebrar o silêncio, mas sempre que seus lábios se moviam... não conseguia pronunciar nem produzir som algum.

Finalmente, Alissa iniciou:

— E aí? Tá muito ocupada agora? — sua voz soando normal, casual.

— N-não... tava só tirando um cochilo.

Hum...

— ...

O silêncio se instalou novamente, então Mirlim ignorou tudo e tentou consertar o que poderia ter quebrado:

— Desculpa... sério mesmo.

— Não tô brava, relaxa — respondeu, sem alterar o tom. — Só queria avisar você de uma coisa.

— Tem a ver com a anomalia que passou na televisão?

— Não.

— Quer falar comigo sobre como isso aconteceu?

— Não. Não é muito importante, não.

"Tá brava sim..." Mirlim aborreceu o olhar e apoiou as costas na cadeira, seu corpo quase derretendo, seu olhar fixo no teto. — O que seria então?

— Chegou um e-mail do governo alertando que pretendem fechar a sua filial aí na Bahia. Disseram que você não manda nenhum relatório desde que essa escola foi criada. Deram um prazo de seis meses pra você transferir um aluno classe A pra cá. Caso não mande, a escola daí de Salvador será fechada e outra será aberta em um estado que gere lucro e resultado.

Mirlim analisou as palavras com calma. Abaixou o rosto, encarando com seriedade o monitor inativo à sua frente.

Depois de um breve silêncio, murmurou:

— Você disse "chegou", e não um "eu recebi"... Louis que pediu pra você me ligar?

Alissa abaixou um pouco o rosto, levemente admirada pela esperteza da outra.

— Foi...

Mirlim ergueu a mão esquerda, os dedos levemente curvados, como se fosse desrosquear uma lâmpada invisível.

Girou o pulso em um movimento rotatório.

— AAAAAARRHHGT!!

Alissa olhou para trás no corredor, quando escutou um forte grito vindo da sala dos professores... Mirlim travou e moveu as bolas de Louis, gerando uma avassaladora torção testicular.

PAHF!

O homem caiu ajoelhado, apoiando-se na mesa do computador, gemendo e quase chorando de dor.

Katherine se assustou e correu até ele, tocando-o e anulando a magia de Mirlim.

— O-o que foi?! — questionou, aflita.

— Harf... Harf... — ofegante, Louis nem mesmo conseguiu responder de imediato. Recuperou o fôlego, o rosto suado da dor repentina. — Achoff... acho que Alissa falou pra Mirlim que eu que pedi... harf... pra ligar...

— Quê? Como ela fez isso da Bahia? — perguntou Katherine, seu olhar exibia um toque de ciúmes.

— Não seiff... Não seiif...

— Como ela fez você sentir dor no saco? Você já mostrou pra ela, Louis? — A voz ficou mais áspera, nitidamente enciumada. Louis olhou para o rosto dela, e viu que era um dos piores momentos para uma crise de ciúmes.

"Agora não... por favor..." — Por favor, não me solta. Eu não sei com OOOAAAHAHH!

Katherine soltou-o por um instante — e imediatamente tocou-o de novo, interrompendo a nova onda de dor.

— Como ela tá fazendo isso?!

— Eu não sei! Eu juro que não sei! — O desespero estampado nos olhos. A dor era insuportável, e ele não estava mentindo. Ninguém sabia de fato qual era o poder de Mirlim.

— Por que ela fazia parte do esquadrão então?! Vocês ficavam...?! Você já transou com ela, Louis?!

— NÃO! NÃO! A-amor... me escuta, eu não sei! Eu juro! Você sabe que ela é forte. Você tava quando ela ganhou da Alissa! Ninguém sabe o que ela faz! No m-máximo a própria Alissa!

— Não respondeu se já transaram.

— Amor... eu já tive namoradas antes de você, mas eu nunca nem olhei para Mirlim dessa forma.

— Acha ela bonita?

"Puta que pariu..." — Amor... falar que ela é feia é um pecado... — Ao ver o olhar ficando mais irritado, se adiantou para que a mulher não retirasse a mão. — Mas isso não importa, já que você é centenas de vezes mais maravilhosa — terminou com um sorrisinho, um tanto sedutor e um tanto desesperado.

— Chamou ela de maravilhosa?

— Não! Não! Não! Longe de mim! Só quis dizer o que vejo olhando para você...

Seu sorriso era bonito, um homem estiloso e atraente... mas não colou.

— AAAHHRRRHG!

Tocou-o novamente.

— COMO CONHECEU ELA?!

— E-ELA...

[ Ano 2005.

Mirlim vinha de uma família boa de dinheiro. Não a ponto de ostentar bilhões como Alissa, mas de uma vida boa, sem nenhuma dificuldade... Entretanto, a jovem era muito preguiçosa. 

Não fazia nada além de dormir... e dormir...

Na escola?

...Nem ia.

Faltava o ano inteiro até que ligavam dizendo que a moça seria reprovada.

Mas, devido ao bom capital da família, sempre conseguiam que isso não acontecesse, trocando o ano por um único dia, onde a matéria de todo o ano, todas as provas, seriam aplicadas de uma vez... e sempre, mesmo dormindo em pé... Mirlim tirava a nota máxima em todas.

Ninguém entendia... a menina era um gênio... mas seus pais não se contentavam com isso.

Queriam a jovem disciplinada, com autonomia e responsabilidade.

Algo que sempre teve... mas só quando queria.

Devido a isso, decidiram colocá-la em uma escola militar, mas acabaram confundindo com a ADEDA e fecharam um contrato mandando-a para lá. Não julgo, uma escola onde prometia deixá-la forte, responsável, além de ser integral... quase a mesma coisa de uma militar, mas com magia.

Desde o dia em que pisou no campus, dormia em pé.

Andava para onde tinha que andar, sentava e dormia sem parar. Tudo isso aos recém-completados 14 anos de idade. Ainda não tinha se viciado em chupar pirulito.

No dia em que foi mandada para lá, devido ao grande número de novos alunos, estava acontecendo o evento de inicialização, onde cada um tinha que escolher qual classe tentaria entrar.

Louis era o juiz naquele dia.

Chamava os alunos e os colocava para escolher alguma das diversas opções que ainda tinham naquele ano.

Em 2005, ainda era um sistema mais inclusivo. Criança ou adolescente menina que escolhia uma classe, lutava com uma representante menina da classe A, B ou C. Algo que mudou devido à escassez de professores e alunos após os eventos de 2006.

Quando chegou no nome dela, Louis a chamou... e até então, ninguém apareceu.

— Aan... Mirlim Schmidt? — chamou mais uma vez, agora com o sobrenome e então... uma sonâmbula se ergueu na plateia. A menina vestia sua roupa preferida, que usou também por boa parte de 2006.

Todos olharam aquilo, um balão se formava, se enchendo e esvaziando a cada respirada em seu nariz. Seu rosto de bobona, seus passos lentos indo até seu lugar no campo de futebol.

Louis observava a menina, mantinha um rosto estranho, uma careta confusa com o que via. Tudo demorou bastante, e surpreendentemente o estádio ficou em silêncio em todo o percurso lento e cambaleante da jovem seguindo até o diretor.

Quando finalmente chegou, continuou dormindo em pé.

— Eh... Mirlim, qual classe irá tentar?

ZzZzzZz...

— ...

Louis se aproximou da menina.

"Como consegue dormir em pé?" se questionou, e então levou sua mão até ela...

Tap...!

Tocou no ombro direito... e teve uma previsão do futuro, onde a menina reagia, segurando-o com força e o imobilizando sem piedade.

Louis voltou assustado da previsão... e não conseguiu ser mais rápido mesmo sabendo do que aconteceria.

Mirlim segurou o braço do homem quase que instantaneamente.

Um movimento que Louis nem mesmo conseguiu ver. Logo puxou para frente, fazendo o Exterminador perder o equilíbrio e, em seguida, puxou para trás, rodando Louis e fazendo-o se curvar com o tronco para o lado oposto do dela, com a jovem torcendo o braço dele, quase quebrando o osso.

Mais um movimento que fosse, e os rangidos se tornariam mais crocantes.

— Aiaiaia... — Louis gemeu, segurando para não gritar com a dor que sentia, não só da imobilização, mas também das unhas cravadas na pele.

— Não me toque — sussurrou Mirlim, sua voz saindo assustadora de tão arrastada.

Não mais dormia.

Olhava-o de quatro para ela, o bumbum bem redondo e marcado na calça social, enquanto a menina puxava o braço com firmeza e agressividade, com sua cintura quase tocando-o.

Não o sarrou, ou o humilhou ainda mais em público.

FuPaff!

Só o empurrou, fazendo-o cair na grama... o que já era uma humilhação muito grande.

O diretor se levantou devagar, o rosto ardendo de vergonha. Tentou disfarçar com um sorriso:

— Qual será...

ZzZzZzZz...

A menina já havia voltado a dormir.

Louis ficou com o sorriso congelado, a boca aberta, paralisado.

Procurava uma forma de continuar o evento sem ir chorar em posição fetal num cantinho qualquer.

"Que menina forte é essa? Como foi mais rápida que a previsão?!!" Não entendia nada, mas assim como foi com os gêmeos, se interessou no poder da menina e, nesse caso, já a queria no Esquadrão Um.

— Sabrina! — chamou uma das integrantes do esquadrão.

— Fala?! — respondeu a jovem, de cabelos longos e cor-de-rosa. Sentava sobre suas pernas cruzadas, por cima do assento do estádio.

— Faz o teste dela!

— Ok...

Sabrina saltou muito alto, Paf! aterrissando próximo dos dois.

— Ué...? Mas ela tá dormindo.

— Não tem problema. Só lute!

— Huh...? — Olhou para ele, o semblante cheio de dúvida. Mas o de Louis transbordava animação.

O diretor se afastou, mantendo-se na reta do meio das duas.

— Pronta? — perguntou a Sabrina, que respondeu com um aceno de cabeça.

— Pronta? — perguntou a Mirlim.

ZzZzZZz...

Que lhe respondeu com um belo vácuo.

Louis o ignorou e ergueu o braço direito ao céu... com uma expressão séria, o abaixou em um gesto firme, gritando:

— Comecem!

Sabrina cortou a distância que havia entre ela, vindo com um soco sem magia, apenas para vencê-la sem machucá-la tanto. Seu murro cortava o vento, era nítida a aura do ar sendo empurrada, mas Mirlim mal fez nada.

O soco foi direto no rosto, o punho se aproximou muito, a ponto do ar afetar um pouco a franja da jovem que odiava sua testa por achá-la grande demais... mas não foi por esse motivo a reação... bem... nem houve reação.

BAAMM!!

O soco veio, Mirlim o levou em cheio... mas nem se moveu ou sua pele oscilou.

Sabrina virou o rosto, o impacto do próprio golpe foi redirecionado para o seu corpo.

Mirlim nem mesmo acordada estava, mas com o próprio golpe da adversária... a nocauteou.

BUM!

Sabrina voou desmaiada para trás, seu corpo colidindo com o chão com tamanha violência. Sangue em sua boca saía, seu nariz foi quebrado, sua cara parcialmente amassada. Rapidamente foi levada até a enfermaria, e caso fosse muito grave, seria levada ao hospital.

Seu golpe foi forte, mas não para ser aquilo tudo... ela não sabia, mas Mirlim era quase um refletor direto... com uma pequena adição de três vezes o poder ou a força que lhe foi aplicada, de volta ao ser de origem.

Se uma Calamidade disparasse um poder capaz de reduzi-la a nada... o poder voltaria para a Calamidade, a reduzindo a nada. Não apenas isso, como se Mirlim apenas imaginasse alguma dor ou ferimento em si, ela conseguiria redirecionar para outra pessoa.

Caso quisesse que morresse, ou imaginasse isso, poderia mandar a enfermidade para outro, e outro morreria. Não precisava nem mesmo ser algo possível, como a dor nas bolas de Louis. Ela não possuía bolas... (Graças a Deus) Mas sabia como eram e imaginou ter, para dar-lhe a Louis uma lembrancinha que, se ela o quisesse morto... ela poderia matá-lo.

Desde aquele momento então... Louis só a jogou no Esquadrão Um... extremamente preocupado com o estado de saúde de Sabrina, mas muito contente com um reforço que, mesmo não sabendo muito sobre, era forte e ajudaria na guerra contra anomalias. ]

— Depois de me bater e bater na Sabrina, eu tive cautela pra tentar comunicar com ela que havia entrado direto no nosso esquadrão. Fiquei com medo de tocar o ombro dela e apanhar mais uma vez. Então falei de uma distância segura e, quando a menina se mexeu, eu pulei pra trás, assustado...

Katherine se mantinha em silêncio. Segurava-o firme, enquanto Louis contava tudo.

— Eu então fui na frente... e ela me seguiu capengando pros lados. E-eu não sei o que ela faz, porque foram muito poucas interações que tive com ela nessa época. Ela não fazia nada. Nunca saiu em um extermínio. Quando perguntei se podia me contar sobre o poder dela, ela só me olhou como se fosse me matar... e mandou eu sair da sala. Eu só obedeci. Saí olhando pra trás, com medo de ser atacado. Ela parecia um gatinho... e felinos atacam por trás.

— Chamou ela de gata?

— NÃO! NÃO! NÃO! NÃO! — Balançou a cabeça negativamente, o desespero presente, a velocidade mostrava que não podia deixar aquilo ser entendido de forma errada. — É um exemplo! Só isso!

— Vocês não faziam nada juntos? Já vi vocês conversarem sozinhos...

— Co-conversar?! Duvido que em todas as vezes que viu isso, não ouviu uma ameaça clara em relação à minha vida por parte dela!

— Ela não gosta de você. Por quê?

"Como eu vou saber o motivo disso, meu Deus...!" — Não sei... Talvez porque eu acordava ela, não sei. Essa menina só sabia dormir, chupar pirulito e mexer no computador... Dormir chupando pirulito, dormir mexendo no computador, e dormir chupando pirulito e mexendo no computador. Ela não fazia nada além disso! Vivia aqui nessa sala igual uma antissocial. Era raro ver essa menina acordada e, quando tava acordada, tava mal-humorada de fome!

— E você dava comida pra ela?

Louis só aceitou.

Seu olhar desesperançoso, seu rosto se movendo em negação automaticamente.

— Ô meu amor, me mata de uma vez. Você é a única mulher que eu amo, a única mulher da minha vida. Eu não sei como ela tá me fazendo sentir dor. Eu não sei o que despertou o ódio dela por mim. Eu só peço para que não me solte. Dói muito e não sei... e... eu... eu não sei quando ela vai parar de me fazer sentir isso. Então...

As lamentações cessaram, seu olhar e voz se firmaram... em um tom sugestivo.

— Vamos aproveitar o momento juntos. Não me solte, só me deixe sentir o calor dos seus braços até o meu último minuto. Mwah!

Louis procurou o contato e o contato veio... era sua única saída da encurralada que estava sofrendo.

Avançou com um beijo na boca de Katherine, que não resistiu e devolveu a intensidade, Paff! tombaram até o chão. Se segurando em um beijo quente... naquele frio chão.


— Louis soltou um berro aqui. Foi você? — perguntou Alissa, já voltando a andar na direção da sua sala.

— É... deixei uma lembrancinha.

— O quê?

— Uma torção testicular. Vou deixar até amanhã cedo.

— Ele parou de gritar já.

— Quê? — Mirlim fez uma careta de tacho, paralisada com seu sorriso maligno ficando sem graça. — Ah... Katherine tá lá?

— Aham.

— Ata...

— Não sei se ele merece essa dor.

— Huh? Oooo quêêê? Você tá bem? Alissa, é você ao mesmo?

Tshaha... sou eu, boba. É que esses e-mails chegam desde janeiro do ano passado e ele ignorava. Só pediu para te alertar agora porque foi um ultimato do governo.

— ...Ah. Entendi.

— ...

Ficaram em silêncio por alguns segundos, até que Alissa chegou na porta da própria sala e concluiu:

— Era só isso que eu tinha pra comentar. Quando achar o aluno, manda que vou manter uma vaga que tá livre na minha sala, pra confirmar o recebimento em e-mail e mandar pro governo não fechar sua escola.

Mirlim sentiu um frio ruim na barriga ao ouvir o encerramento da conversa.

— Ma-mas já? Não quer me contar como foi lá com a anomalia? Tô curiosa! — insistiu, a voz com um resquício manhoso e infantil.

— Ah, nem precisa. Tem tanto vídeo que eu nem preciso descrever.

— Mas eu queria ouvir você dizendo...

— Outra hora conversamos. Tô namorando o namoro de um casal em um livro que tô lendo.

— Ah... — Mirlim se acomodou, bem triste, em sua cadeira. — Tranquilo... mas acho que a escola vai ser fechada.

Alissa franziu a testa, escutando a confissão.

— Não mandei relatório nenhum porque não dá. Nenhum dos alunos sabe magia. Não conseguem aprender. Os professores tentam e tentam, mas não conseguem. Não vi um único baiano usar magia até hoje. Não vou conseguir mandar um classe A em seis meses. Os alunos só sabem lutar, e com lutar eu digo apenas com força física... Sniifff, harrf...

A mais forte conseguiu ouvir a frustração do fungado que Mirlim deu do outro lado.

— Às vezes você tá procurando errado. Se não existe alguém com magia, procura alguém com muita força... Mas é isso, outro dia nos falamos. Eu devo acabar meu livro ainda nessa madrugada.

Mirlim olhava para o nada.

— ...Vai me ligar... né?

Alissa demorou um pouco para responder... e Mirlim sentiu.

— ...Vou esperar você fazer isso. Tchau, mãe.

Absorveu as palavras e se despediu...

— Tchau. Te amo, filha.

— Uhum. Te amo, mãe.

Alissa desligou.

Sentou-se em sua poltrona com um movimento quase teatral. Cruzou uma perna com suavidade passando pela outra, e iniciou seu mergulho na leitura... Já Mirlim, manteve o olhar no nada, com o celular ainda em seu ouvido direito.

Abaixou-o devagar, ergueu o rosto para o teto e disse em voz baixa:

— Procurando errado... é...? Tô fodida... e não tá gostoso dessa vez.

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