Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vasconcelos


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 100: Parabéns, animal

Alissa tentava manter um rosto receptivo, embora o que fosse transmitido pelas câmeras fosse uma feição levemente apática, de cara fechada.

Aproximou-se dos repórteres, já notando a guerra silenciosa que se instalava: quem conseguiria atrair mais atenção? Quem arrancaria uma resposta da mais forte?

— Srta. Alissa! Srta. Alissa!

— Exterminadora, pod...

— Ali...

Alissa ergueu a mão, os dedos levemente curvados — e o silêncio se instaurou de imediato.

Nino, em casa, observava a cena com atenção redobrada, admirado.

Aquilo era respeito.

Aquilo era autoridade.

Na tela, Alissa escolheu a quem responderia — uma jovem repórter que havia lhe chamado de "senhorita", diferente dos demais.

Baixou a mão e encarou a jovem:

— Comece.

— Com a sua licença... — disse a repórter de forma meiga, curvando a cabeça com educação antes de começar. — Poderia nos informar sobre o que aconteceu aqui?

Assim como ela, todos esticavam os microfones, buscando o melhor áudio da resposta.

Iluminada pelas luzes dos holofotes, Alissa respondeu com calma:

— Aqueles dois são meus alunos. Vieram de um lugar com bastante vegetação. Sempre brincavam em matas e coisas do tipo. Então decidiram vir até essa reserva para treinar e lembrar um pouco do antigo lar. Mas acabaram sendo atacados por aquela anomalia... e a seguraram até minha chegada.

— Senhorita, você disse que são seus alunos, correto?

— Correto.

— Muitas pessoas gravaram os dois lutando e diversos vídeos já estão circulando o mundo... Internautas mostraram, com informações diretas do site da ADEDA, que aquela anomalia já havia sido registrada antes e que se tratava de uma Calamidade. As redes sociais estão eufóricas querendo saber quem sã...

— Vou dizer apenas uma vez — Alissa a interrompeu.

A repórter apenas assentiu em silêncio.

— Responderei mais algumas perguntas, mas antes quero que todos se lembrem: são... crianças. Não quero a mídia atrás deles. Não quero paparazzis. Não quero pseudos repórteres tentando caçá-los ou filmá-los para conseguir algum furo. Não são figuras públicas. Ainda não fazem parte de um esquadrão oficial. Sou a responsável pelos dois, e não vou permitir que a mídia destrua a infância deles, como fizeram com a minha. Deixando minha vida nas ruas uma merda, sendo perseguida dia e noite por imbecis tirando fotos.

Todos os repórteres, câmeras e assistentes sentiram as palavras, mas mantiveram o profissionalismo e tentaram não demonstrar abalo.

Nina soltou um leve fungado mais aliviado, e Nino a olhou de canto por um instante... depois voltou os olhos à televisão.

— Caso um dos dois me notifique de alguém os assediando com fotos, vídeos, perseguição, qualquer mínimo achismo que for, eu irei atrás, e quando descobrir o nome do indivíduo, não me importarei de acabar com uma carreira prematura.

Ficou em silêncio por um tempo, seu olhar mostrando a seriedade do momento.

— Pode finalizar sua pergunta. Mas esteja ciente dos limites... em relação aos dois.

A repórter engoliu seco, mas continuou:

— Muitos querem saber os nomes deles... e nas redes sociais já existem até fã-clubes, dizendo que serão seus sucessores. Agora, com essa confirmação de que são seus alunos, acredito que a internet vai à loucura.

— Compreendo... Bem, são dois irmãos gêmeos. Nina e Nino... se serão meus sucessores... não sei dizer. — O olhar de Alissa ponderava aquela informação. "Seria bom... Uma aposentadoria cairia bem..."

— Mas a senhorita acredita que eles podem ficar mais fortes que você? Aind...

Tsc... Não viaja.

Seu sorrisinho de canto, junto do tom da sua voz, mostrava sua ironia e soberba.

Nino, do sofá, revirou os olhos... Seu semblante claramente aborrecido com a resposta.

— São muito fortes em muitos aspectos, mas existe um abismo que eles ainda não conseguem atravessar para chegar até mim.

— Entendo... — disse a repórter, engolindo em seco o nervosismo e a admiração pela mais forte. — Mas, continuando: ambos serão classificados como S? Pela primeira vez no mundo, além da senhorita, outra pessoa derrotou uma Calamidade.

"Pela segunda vez... Mirlim só não quis os créditos..." — Não derrotaram. Eu matei. Eles apenas a seguraram. Não podem ser classificados como S, mesmo que não tenham se machucado e tenham visivelmente mostrado ser superiores àquela ameaça. Como já disse, não fazem parte de nenhum esquadrão. Logo, nem o título de S como esquadrão podem ter.

— Entendi... muito obrigada por falar um pouco. Não tenho mais perguntas, todas eram sobre eles. Vou respeitar o que disse.

Alissa moveu a cabeça lentamente em concordância, antes de voltar a falar.

Quando seus lábios ameaçaram se mover, todos os microfones foram esticados novamente, numa avalanche silenciosa.

— Em relação àquela bolinha de carne — comentou, apontando de forma desleixada, com um joinha torto para trás, na direção onde a anomalia havia caído, perfurando o solo. — Não é leve. Não tentem levantar. O peso da anomalia não é reduzido, apenas a massa que foi compactada em uma bolinha minúscula. A limpeza trará as máquinas necessárias para levantar as possíveis toneladas que aquilo pesa.

Fez uma breve pausa, encarando todas as câmeras, ignorando os flashes incessantes.

— Agora, sobre os danos: entrem em contato com o governo de São Paulo. Com fotos, vídeos e comprovantes dos bens perdidos. Tudo será reembolsado, cada centavo, usando dinheiro público. Não precisam se preocupar. O prédio será reconstruído, e casas serão alugadas temporariamente para que ninguém fique desabrigado.

Deu outra pausa, voltando o olhar levemente para a floresta, antes de concluir:

— A limpeza deve chegar ainda esta madrugada. Mandarei trazer drones com câmeras infravermelhas para varrer toda a área. Caso haja outra anomalia escondida, será localizada e eliminada o mais rápido possível.

Seu olhar endureceu uma última vez.

— Com isso, a entrevista está encerrada.

— Alissa! Alissa!

— Sr...

O fervor de quererem mais respostas voltou. Todos iniciaram gritos e chamados... mas Alissa havia desaparecido... não por escolha... por ser rápida.

Clap!

Louis, assistindo a tudo de casa pela TV, bateu uma palma e a teletransportou diretamente para a recepção do prédio dela.

Alissa surgiu lá... e, pela primeira vez, não o xingou em pensamentos. Só aborreceu o olhar, se recusando a ser educada mentalmente em um agradecimento completamente indireto.

O recepcionista, assustado com a chegada repentina, se levantou de imediato, quase prestando continência.

— Boa noite, Srta. Kubitschek!

Alissa parou de andar, antes de chegar aos elevadores.

Não se virou — apenas falou, com a voz fria:

— Já te avisei uma outra vez... Se me chamar novamente por este nome, irei substituir você...

Virou o rosto de leve, olhando-o intensamente por cima do ombro esquerdo:

— Louis é muito pão-duro. Se acha que ele pode te ofertar um trabalho melhor... vá, diga-me novamente esse nome.

O homem baixou ainda mais o rosto, olhando para o chão em uma postura submissa, com os braços para trás... não respondeu, nem mesmo produziu som algum. Alissa voltou seu rosto para frente e seguiu até o seu elevador.

"Sucessores...? Quero mesmo colocá-los numa responsabilidade tão grande assim?" pensou. Seu elevador se abriu... e a moça entrou.


No instante em que a exterminadora desapareceu da tela, Nina desligou a televisão e se virou para Nino... que foi o primeiro a falar:

— Por que aquelas coisas preferiram arriscar a vida com um celular na mão do que fugir e ficar seguro? Raiva dessa escória... — rugiu, tão tomado pela ira que sua voz parecia vir das entranhas.

Mas Nina o encarava com frieza, tentando filtrar o máximo possível de xingamentos — sendo objetiva, não emocional.

— Nem era pra estarmos lá! Olha a merda que você nos colocou... Alissa pelo menos aliviou com isso de não poderem encher o nosso saco nas ruas.

— Não foi culpa minha! Não tinha como eu saber que aquilo tava lá!

— Você foi até lá. Você atraiu essa merda. Como não é culpa sua? Para de ser tão irresponsável, caralho! Por favor... só me ajuda, só isso. Toda hora uma coisa nova, toda hora... — Nina virou o rosto. — Só tente ser mais calmo, só realmente tente ver os humanos com um pouquinho menos de ódio, de nojo.

— Eu não matei humanos... eu matei a escória deles.

— Sim, eu entendo. Mas dava pra só matar, não acha? Fez todo um show, que fez barulho pra caralho e atraiu aquela coisa. Essa anomalia quase matou vários humanos. Olha a destruição que ficou naqueles dois prédios.

— Saímos como heróis! — Nino retrucou, elevando o tom, o olhar se tornando mais agressivo.

— Mas não SOMOS heróis! — Nina avançou um passo, a tensão no ar se intensificando.

— E se não estivéssemos lá?! Aquela coisa uma hora ou outra ia matar aquelas pessoas! — gritou ele, cheio de raiva, não querendo aceitar que fez algo muito errado.

— Aaarrhh... a porra do "e se" deixou de ser burrice?! Agora que lhe convém, não é? — Nina esticou os braços para os lados, sua voz arrastada mesclando com o seu sorriso estressado. — Vai entrar nessa? Fingir que se importa com aquela gente? Fala mais baixo. Não grita comigo, imbecil.

Nino bufou, virou o rosto para a esquerda, balançando a cabeça em negação.

— Se não estivéssemos lá e aquela coisa tivesse atacado os humanos... foda-se. Não seria culpa nossa. Não teríamos nada a ver e você ia estar sorrindo pra televisão, passando a notícia desse massacre hipotético.

Nino ainda olhava pro lado... Mas Nina continuava encarando — sem piscar.

— Tô falando com você. Olhe pra mim.

O menino voltou o olhar. O rosto bem rígido, fechado.

— Não é uma discussão de quem tá certo, ou quem é melhor, blá-blá-blá... Só tô tentando mostrar pra você o erro que cometeu, pra não cometer mais uma vez. Não vou brigar ou proibir você de fazer suas saidinhas.

Nino começou a aliviar a expressão, mas seguia em silêncio.

— Mas será reduzida de duas por semana para uma. Eu ainda continuo com duas, e não quero discussão. Quando sair, não é pra fazer algo grande assim. Quer torturar uma galera? Um bando de criminosos? Tenha certeza que o lugar que vai levá-los não tem ninguém. É isolado e nem sequer tem uma anomalia. Verifique tudo, porque se acontecer algo parecido mais uma vez, não teremos desculpa de que era um treino. Ainda mais você estando sozinho.

— Por que você vai continuar com duas?

— Já disse que não vou discutir. Sou mais responsável que você. Não vou pôr nossas vidas em perigo. Deveria pensar um pouco nisso também... não acha? — Nina desviou o olhar e virou de costas, indo para o quarto. — Vou dormir.

Nino ficou parado por alguns segundos... até ouvir:

— VOCÊ TAMBÉM! ANDA LOGO! — gritou ela de volta, em tom baixo e agressivo.

O Primordial aborreceu o rosto novamente e seguiu-a, fazendo biquinho, olhando para o lado com raiva de ter que obedecer por estar completamente errado.

Nenhum se limpou com uma explosão ou magia de água, só seguiram e se deitaram. Não estavam sujos, principalmente Nino, que usou magia de fogo em todo o corpo para explodir a anomalia.

Deitaram-se em suas posições, os rostos próximos, olhos fechados e respirações divididas no mesmo travesseiro. Não diziam nada. Nina só queria esquecer aquela noite e ver Nathaly no outro dia. Já Nino... pensava bastante, não no que fez... mas na visão que teve do pai.

— Ei... — murmurou ele, um sussurro abafado, quase como se não quisesse que ela escutasse.

— Moleque...

— Não-não... não é zoeira, nem pra te irritar.

— Fala logo — Nina abriu os olhos, murmurando com um tom de irritação leve.

— Você já... sonhou com o papai?

— Haaaam... já — respondeu ela, após olhar para cima, buscando na memória.

— ...Como foi?

— Ah... era comigo mais nova. Ele me segurava no colo, me abraçando... Por quê?

Tsi... Ele me segurou no colo. Supera, fofa. Já passou...

Nino fez um sorrisinho debochado, e Nina fechou o punho com vontade de socá-lo — mas se segurou para não destruir o quarto. Entretanto, enquanto rangia os dentes, seu semblante mudou de repente, notando uma palavra usada.

— Pera... você disse... "papai"? — olhou-o, curiosa, e seu irmão corou as bochechas, virando-se para o outro lado da cama.

— Não disse!

— Disse sim!

Nino virou um pouco o corpo, lançando o braço na direção dela.

— Toca então, mistura aí!

— Eu já sei que tá mentindo. Usar isso de desculpa é só pra saber o que eu escondo. Não sou burra como você.

— Ha... ha.

— ...

— ...

O silêncio caiu entre os dois por um momento... Mas Nina o quebrou:

— ...Por que perguntou isso?

— ...Tive um sonho acordado com ele hoje.

— Huh?

Uhum...

— Ele disse algo?

— ...Me xingou.

Tsihahaha!

Nino fez uma careta raivosa, virando o rosto e olhando por cima do ombro para sua irmã — que agora gargalhava na cama.

— NÃO TEM GRAÇA!

Nina continuou por um tempinho, e ao se aliviar, respondeu:

— Você consegue ser xingado até por um morto. Parabéns, merece o título de menino mais chato do planeta.

— ...

Nino abaixou o olhar.

Quando Nina disse "morto", o garoto sentiu um sentimento estranho... uma leve tristeza que não entendia a razão. Nina voltou à posição, fechando os olhos e afofando o rosto no travesseiro que dividiam.

— Vamo dormir logo... deixa o que aconteceu hoje pra lá.

— Então eu...

— Não. Ainda é apenas uma saída. Esqueça a merda, não o que te falei da merda. Deixa de ser burro! — exclamou, ainda de olhos fechados, com Nino virado pro outro lado, encarando-a por cima do ombro. — Vira pra cá. Burro ao quadrado. Cê não dorme virado pra lá.

Hmph! — resmungou Nino, com o nariz empinado e os olhos fechados.

Virou-se, assumindo sua posição.

As respirações se alinharam novamente.

Mais de doze segundos se passaram em silêncio absoluto... Até que Nino o quebrou — desta vez, com apenas duas palavras:

— ...Te amo.

— Te amo... cabeça dura.


O dia seguinte chegou.

Ambos já haviam se arrumado.

Nina com um banho normal, para relaxar o seu sangue nas águas mornas, e Nino com uma microexplosão de chamas escuras.

Após a menina provar da nova receita que o irmão fez com o auxílio do "Cozinhando com a Vovó", ambos seguiram para o elevador, que ao parar no terceiro andar... recebeu uma nova passageira.

Nathaly entrou, bamba de sono, quase uma sonâmbula, e se posicionou no meio dos dois.

— Hm? Dormiu bem? — perguntou Nina, notando a amiga zonza, zonza.

AOooOOahh! — Após um forte bocejo, a menina respondeu: — Não muito... tô cansadaamnmn.

Fshii!

A porta se abriu, e os três saíram... Nathaly quase sendo carregada por Nina.


A caminhada foi tranquila.

O sol batendo no corpo da menina a deixava mais desperta. Até que enfim chegaram na portaria da escola, e... todos olhavam os gêmeos... sem nenhum disfarce, sem nenhum filtro.

Só olhavam diretamente... até que explodiram com gritos e conversas falando que viram os vídeos e que os dois eram muito fortes... O alvoroço era inegável.

Nino se aborreceu, seus olhos caídos, seu semblante estático.

Nathaly acordou de vez, estando ao lado de Nina, com a Primordial no meio dos dois, segurou o braço da amiga de susto por não entender nada.

Nina notou o leve pânico no rosto da amiga, por estar no alvo de todos os olhares e, em seguida, virou o olhar para Nino... vendo seu estado completamente aborrecido.

Se aproximou dele, rosto bem próximo, e murmurou apenas para ele ouvir:

— Parabéns, animal.

— Calada.

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