Volume 1 – Arco 1
Capítulo 6: Calamidade 4
Neste momento, Alan e Eduardo avançaram contra Blacko, seus corações batendo forte com a determinação de finalizar aquela luta. A oportunidade era clara: a anomalia estava debilitada, seus poderes reprimidos por Katherine.
Aquele ser ameaçador, antes uma Calamidade, agora não passava de uma aberração qualquer.
No entanto, algo raro aconteceu. Um poder que Louis mal compreendia gritou em sua mente. Sua consciência foi tomada por uma visão distorcida, uma premonição aterrorizante de dois segundos à frente.
Viu Alan e Eduardo se atirando contra o ser caído — e, num piscar de olhos, viu suas mortes inevitáveis.
A visão se dissipou tão rapidamente quanto viera, deixando Louis imerso em puro pavor. Voltou a si com um grito desesperado que ecoou pela praça:
— SAIAM DAÍ!
Mas já era tarde. O grito de Louis, como um aviso, nunca chegou a tempo. No instante seguinte, seu desespero apenas serviu para despertar Blacko. O Primordial, ao ouvir o grito carregado de medo, experimentou um prazer sádico que quebrou sua exaustão momentaneamente, restaurando sua força de forma tão instantânea que parecia que nada o afetava.
O terror de Louis foi um combustível para sua fúria, reacendendo a chama da destruição dentro dele.
Alan e Eduardo, tomados pela fúria e pela determinação de acabar com aquilo, atacaram simultaneamente.
Mesmo com um braço decepado, o demônio se ergueu com agilidade surpreendente e desviou a lâmina de Alan com a palma da mão.
Shirrrriip!
O som do metal cortando sua pele foi agudo e agonizante, mas não se importava em sentir dor. Foi um movimento fácil, sem esforço. Desarmou Alan com uma rapidez brutal e, com um gesto impiedoso, tomou a espada.
A velocidade foi tão assombrosa que Alan mal teve tempo de reagir. Aproveitando sua vantagem física, o Primordial ergueu a espada, fazendo Alan perder o equilíbrio. Em um movimento fluido, virou o exterminador de costas, Thumf! jogando-o contra seu próprio peitoral, usando-o de escudo humano, nos poucos milissegundos que precisaria.
A lâmina, ainda presa em sua carne cortada, foi arremessada de maneira quase desdenhosa. Com um simples movimento, a lâmina se soltou do ferimento, e Blacko a empunhou com uma precisão cruel, vendo Eduardo se aproximar.
Ploch!
Tomado pela confiança de um golpe certeiro, cravou sua espada no peito direito da anomalia com uma precisão imbatível. Mas o ataque, "sincronizado" com o de Alan, foi um erro fatal. No curto intervalo entre os golpes, nem mesmo deu tempo para perceber sua falha.
Sua espada, destinada a Blacko, perfurou o corpo de Alan. A visão que se seguiu foi um pesadelo para Katherine e Louis.
Sh-shkruch!
Com um movimento brutal e incontrolável, a lâmina do "ser incontestável" cortou as cabeças de ambos, separando-as de seus corpos com uma facilidade agonizante.
Pah-pahf...
O som dos corpos caindo foi um golpe final na alma de Louis, que ficou paralisado. Seus olhos fixaram-se nos corpos mutilados de seus amigos. Não conseguiu reagir, sua mente inundada por um turbilhão de desesperança e horror, procurando inutilmente uma explicação para o caos.
"Morre! Morre! Morre! Não chegue perto! Não chegue mais perto! Eu sou forte! Eu também sou forte!"
Enquanto isso, Katherine mantinha a mão estendida, tentando se concentrar, mas dizer ser forte não mudava nada. Seu poder era imenso, mas sua limitação era clara: dependia completamente de outros exterminadores para ser eficaz. Não era uma de fato uma exterminadora; era apenas uma ferramenta.
Os pensamentos de Louis estavam perdidos em súplicas, implorando que o poder dela fosse suficiente para deter a criatura. No fundo, porém, sabia a verdade: não seria. O medo de se aproximar era esmagador; não ousaria enfrentar aquilo sozinho.
"Ela tem que vencer. Ela tem que vencer!"
Em uma tentativa desesperada de provocar alguma reação, murmurou para Katherine:
— Se isso se aproximar mais, tiro a gente daqui e só volto com Alissa — murmurou, sua voz quebrada, pelo medo do que disse resultar em ameaças e, ao mesmo tempo, pela chance de morrerem ali.
"NÃÃO! EU CONSIGO, EU TAMBÉM SOU FORTE!" Katherine esperneava em sua mente, o desespero crescente, mas seu poder era uma única coisa: inibir poder. Não adiantava tentar forçar-se mais, pois já estava no ápice de suas forças, no limite absoluto de sua capacidade.
O Primordial, exausto, mas ainda implacável, girou seu corpo com dificuldade e caminhava até os dois novos exterminadores, com passos cambaleantes, prestes a desmoronar. O tecido do lençol que o envolvia estava encharcado de sangue... mas não dele.
Apenas fragmentos de suas vítimas espalhados por toda a praça. O lençol queimava em suas extremidades, o fogo vermelho dançando nas bordas, alimentado pela magia que havia sofrido.
Seu sangue preto gotejava das feridas profundas, mas antes que tocasse o chão, se desintegrava em fumaça preta, densa e espessa. Sua essência, seu ser, continuamente, se diluía no ar.
A dor era insuportável, um peso esmagador que o arrancava de dentro para fora, e o cansaço parecia um veneno correndo em suas veias. Sem conseguir usar sua magia, sem conseguir se regenerar, isso já não importava mais.
A cada passo que dava, demorava mais para o próximo. Blacko estava morrendo. Seu corpo se desintegrando aos poucos, mas ainda assim avançava, determinado a arrastar-se até seu próximo alvo.
"Você não vai... tocar... nos meus... fi...lhos..." Seus pensamentos eram uma sussurro fraco, quase inaudível. Seus olhos estavam vazios, seu corpo já não reagia como antes, mas sua vontade ainda o mantinha de pé, arrastando-se...
Pahff...
Completamente incapaz de resistir à força de Katherine, Blacko desabou no chão, sua forma se desintegrando lentamente. Era como uma sombra do que um dia foi — o primitivo e imenso ser agora se desfazia em fumaça preta, deixando para trás o velho lençol marrom queimando, exalando o cheiro de sangue.
Louis, em um frenesi de dor e confusão, correu até os corpos. Seus olhos vasculharam, procurando algum sinal de vida, queria algo que o fizesse acreditar que isso não passava de um pesadelo, mas nenhum dos seus amigos ao menos tinham o corpo inteiro. Sua visão começou a turvar, e a angústia o consumia de uma maneira paralisante, a dor o arrastava para um abismo sem fundo.
— Por quê...? Por q...?
Blash...
Tropeçou sobre pedaços de carne e ossos, as vísceras espalhadas pelo chão, como se fossem simples objetos sem valor. A sensação de nojo e desespero o invadiu, mas não era nada perto do vazio que se formava dentro de si. O cheiro metálico de sangue misturado ao calor dos corpos sob o sol era quase insuportável, mas Louis mal notava, isso era irrelevante.
— Louis...
Uma voz fraca e quebrada, um sussurro do desespero, atravessou sua mente.
— Oi? — Louis virou o rosto, seu corpo sujo, e se ergueu, as lágrimas ainda escorrendo de seus olhos, tentando enxugar o rosto enquanto caminhava até Katherine.
Quando chegou mais perto, percebeu o corpo dividido à sua frente... Seu irmão. A realidade se despedaçou diante de seus olhos.
Pahff...
— AaaAAAAAAHH!
Desabou no chão, um grito rouco rasgando sua garganta. Cada palavra parecia arrancada de sua alma, o peso do sofrimento esmagando sua mente. Não conseguia mais respirar normalmente, o mundo girava em torno dele enquanto a dor o consumia por inteiro.
— Não... não, não... — soluçou, sua voz quebrando a cada palavra, seu sofrimento transbordando em lamentos que não tinham fim.
Katherine, sem saber o que fazer, se aproximou e sentou-se ao seu lado. Segurou sua mão com suavidade, sabendo que não havia palavras que pudessem aliviar a dor dele. Olhou-o com tristeza, mas algo dentro dela se recusava a sentir o mesmo. Não poderia mudar o que aconteceu. Mas, em sua mente, nada disso importava.
"Agora você só tem a mim... Seremos só nós dois... Eu e você... Ninguém vai tirar você de mim! Vou cuidar de você... Seremos felizes... juntos..."
Seu olhar permaneceu fixo em Louis, observando-o chorar, se afundando nas lágrimas. Seu semblante exibia uma tristeza sutil, mas sua mente, ao contrário, via aquilo como uma oportunidade única. O teria só para ela.
Já era noite naquele mesmo dia. O silêncio da casa era pesado, quase sufocante. Marta aguardava o retorno de Blacko, a preocupação latejando em sua mente como um tambor incessante. Sentada à mesa da cozinha, seus olhos constantemente se fixavam na porta, na esperança de que ele surgisse a qualquer momento.
Mas o tempo parecia congelado, e cada segundo arrastava-se com uma lentidão torturante.
Depois de horas de espera inútil, Marta se levantou e caminhou até a sala, sentindo o peso das incertezas em cada passo. Sentou-se em sua velha cadeira de balanço, Rhonn! que rangeu suavemente ao suportar seu corpo cansado.
Pegou o controle remoto e ligou a antiga televisão de tubo. A luz fraca da tela iluminou a sala escura, Dzz... e o barulho familiar de estática preencheu o ambiente vazio.
Naquele instante, um noticiário urgente começava na tela:
— "Nesta manhã, na Praça Sete de Setembro, em Belo Horizonte, oito dos nossos valentes Exterminadores de Anomalias perderam a vida enquanto nos protegiam..."
Marta franziu a testa, Thum Thum Thum seu coração acelerando.
— "Entre eles: Leonardo Teixeira, de 19 anos; Sabrina Ribeiro, de 22 anos; Taylor Rocha, de 17 anos; Alan Queiroz, de 17 anos; Felipe Israel, de 21 anos; Danilo Souza, de 18 anos; Eduardo Valle, de 19 anos; e Luan Cardoso, de 24 anos... Que Deus conforte o coração de todas as famílias."
A voz do apresentador era carregada de tristeza, uma pausa sutil dando espaço ao peso das palavras. Olhou para a câmera, seus olhos marejados refletindo o impacto da tragédia.
— "A morte foi supostamente causada pela mesma Anomalia que dizimou mais de 900 mil pessoas em Belo Horizonte na semana passada. A Anomalia, registrada como 'Espada Negra', classificada como Calamidade 4, foi finalmente derrotada pelos nossos heróis."
Com um suspiro profundo, o apresentador abaixou a cabeça antes de continuar:
— "Peço a todos que orem pelas fam..."
Tziu...
O som abrupto do silêncio invadiu a sala quando Marta desligou a televisão. Seu gesto foi brusco, queria calar o mundo inteiro naquele momento. Mas o silêncio só amplificava o peso de sua dor.
Lágrimas escorreram por seu rosto. Não tentou contê-las. Seus soluços ecoavam pelo cômodo vazio, rompendo a quietude opressiva. Com as mãos trêmulas cobrindo o rosto, se curvou, deixando que a dor transbordasse sem controle.
Ao lado, no pequeno berço de madeira, os gêmeos dormiam profundamente. Seus rostos minúsculos permaneciam serenos. As cabeças repousavam uma contra a outra, e seus bracinhos estavam misturados no corpo um do outro em um abraço instintivo.
Porém, algo inquietante acontecia. Algo que Marta não podia perceber.
O sangue que corria nas veias das crianças pulsava com uma energia estranha, antiga e perigosa. A marca que outrora pertencera a Blacko, símbolo de sua essência Primordial, agora começava a se manifestar nelas.
Nos pescoços delicados dos gêmeos, linhas pretas surgiam lentamente, como cortes deixados por uma lâmina invisível, brilhando em um tom de preto absoluto. O brilho oscilava como brasas vivas, enquanto pequenas gotas de sangue escorriam apenas para se fundirem novamente na pele.
As marcas pulsavam, vivas. Espalhavam-se lenta, mas implacavelmente, até completarem a sinistra forma da Marca Primordial Escura — o símbolo do Primordial da Linhagem Preta. Suas linhas sinuosas exalavam um poder sombrio e devastador.
O brilho intenso persistia, ecoando o mesmo fulgor maligno que Blacko exibira no início daquela manhã ilusoriamente... "tranquila".