Volume 1 – Arco 1
Capítulo 5: Uma Palma
O som de algo cortado ecoou no ambiente, mas não era o ataque do exterminador que havia atingido seu alvo. Ao errar o ataque, tentou voltar sua lâmina para um novo golpe, entretanto, antes de seu cérebro ordenar aos nervos e seus membros responderem com o movimento, seus pulsos foram cortados pela espada que, ironicamente, pertencia a seu próprio amigo.
Tink-tin...
Blacko soltou aquela lâmina humana, "repugnante", após o corte, e o eco do metal no chão acompanhou o movimento do Primordial, que segurou o humano pelo pescoço. Erguendo-o sem pena, escutava os sons prazerosos de dor, choro e sofrimento vindo daqueles seres desprezíveis.
— Hi-hi-hi... HEAAAAHAHA!! — A gargalhada de Blacko reverberou pelo ambiente, um som tão profundo e maligno que engolia qualquer resquício de esperança que restasse naqueles que assistiam.
Seu Eu voltava, enfraquecido, mas voltava.
— AAaAarghh! UuNnghh!
Tsssssss!
— AAAAAAAAAARRGHH!!
Com sua palma da mão queimando em magia escura mesclada com fogo, a dor que causava no humano se tornava ainda mais intensa. Cada grito, cada gemido de agonia alimentava ainda mais sua força, uma força que o preenchia com um prazer insano. Sentia cada fibra do corpo humano, cada pulso de dor e sofrimento, como um brigadeiro que só ele poderia saborear.
Aquele humano, mesmo sem mãos, debatia-se, tentando de qualquer forma escapar, mas as forças que ele opunha eram ínfimas diante da imensa força de Blacko. O Primordial, indiferente à resistência que o inseto oferecia, Pah... simplesmente o jogou no chão como se fosse um saco de batatas.
A marca de sua mão, uma impressão profunda e queimada, ficou gravada na carne do humano, agora derretida pela intensa dor. O rosto de Leonardo, em lágrimas, era um reflexo do terror infantil, o medo de uma criança perdida no escuro, mas sem chance de escapar.
Deitado no chão, o exterminador olhou para frente, vendo Felipe, ainda vivo, babando... sem controle de sua boca. Chorando... sem controle de seus olhos. Agonizando... a poucos centímetros de si. A visão de seu amigo sendo dilacerado pela dor o feriu mais que sua carne viva exposta no pescoço.
— Fel...
CRUNCH!
Com um movimento rápido e implacável, Blacko pisou na cabeça de Felipe, esmagando-a sem compaixão. O som de ossos quebrando e de sangue espirrando foi abafado pelo impacto, enquanto o rosto de Leonardo se cobria com o sangue de seu próprio amigo.
Não havia mais espaço para dúvidas. A morte pairava sobre todos como uma lâmina afiada, e ninguém mais tinha coragem de enfrentá-la. Seus amigos apenas observavam o que acontecia, com os corpos tremendo de medo de agir, e isso levou Leonardo ao inevitável.
Creck!
Seu pescoço foi esmagado, Pahf... e seu corpo foi descartado no chão como se fosse pão para pombos.
Satisfeito com a carnificina, voltou a andar em direção aos outros. Seu olhar se fixou em Alan e Eduardo, os últimos sobreviventes, que recuavam a cada passo de Blacko, temerosos.
Grrr! Au! Au!
O cachorro ainda latia sem parar, com latidos graves que acabaram irritando muito aquele ser sem piedade. Ao se aproximar muito do Primordial, tentando amedrontá-lo com seus latidos ferozes, o mesmo deu um triste fim... a sua curta vida.
O demônio, sem pressa, deu um passo à frente, um som sinistro acompanhando cada movimento. O latido do cachorro, que antes era um mero incômodo, tornou-se um grito final quando Blacko, com um gesto de desdém, Crumn! formou uma lança de pedra sob o animalzinho de rua.
Ploch!
A lâmina emergiu com precisão implacável, atingindo o coração do animal.
O corpo do cachorro foi suspenso pela lança, e, em um instante, se tornou apenas mais uma vítima no caminho centenário de destruição do Primordial. O sangue escorreu pela lança, antes dela desaparecer de imediato.
Pahf...
Deixando o som abafado da colisão de seu corpo com o chão, um eco aterrorizante, uma sentença de morte para todos os presentes.
Alan e Eduardo, distraídos com a morte do caramelo, Crummn! nem perceberam a lança de pedra que emergia do asfalto, indo em direção... ao meio do rosto... de um deles. Shk! Com a adrenalina a mil, Alan conseguiu, no último momento, mover sua cabeça para evitar a morte instantânea, mas não foi rápido o suficiente para escapar do corte profundo na bochecha.
O corte foi grave, mas o exterminador não sentiu a dor de imediato. A adrenalina estava tão alta que só percebeu a gravidade da situação quando viu o sangue escorrendo. Mas... não importava. Estava vivo, e isso era o importante. Entretanto... o terror, a sensação de estar sendo caçado, tomou conta de sua mente.
"Vamos todos morrer!"
Ofegantes e com a adrenalina pulsando nas veias, os dois exterminadores recuaram, sentindo o ar ao redor se tornar cada vez mais pesado.
Crum-crum-crmnn!
O som constante das lâminas de pedra emergindo do asfalto ecoava pelo ambiente, mas ainda era impossível entender o verdadeiro propósito do ataque de Blacko.
"Ele é rápido demais... Por que está nos avisando com esses sons antes de cada ataque?!" Eduardo pensava, enquanto golpeava e desviava freneticamente dos ataques que brotavam do chão.
Tudo não passava de um jogo... Uma mera distração.
De repente, o cenário mudou.
Após um instante angustiante de silêncio, Alan e Eduardo fixaram o olhar à frente. Thum! Thum! Seus corações batiam descontrolados. Foi então que avistaram algo que gelou seus estômagos: um brilho preto e roxo cortava o ar, tão intenso e avassalador que parecia devorar a própria luz.
Era uma flecha de magia escura, aproximando-se com velocidade esmagadora.
Sem tempo para planejar ou reagir, os dois fizeram o que podiam: estenderam os braços à frente, os olhos arregalados pelo terror.
Alan, com a mente em pânico, lançou sua magia de vento misturada com fogo. Eduardo, desesperado, disparou gelo.
BOOOM!!
A combinação das magias gerou uma explosão titânica. Um estrondo ensurdecedor cortou o ar, acompanhado de uma onda de pressão tão intensa que quase os derrubou.
Uma fumaça densa e escura se formou, quase um pesadelo materializado, envolvendo tudo em seu caminho. A nuvem destrutiva tornou-se uma barreira entre eles e o inimigo, criando uma falsa sensação de segurança.
A flecha, no entanto, não passava de mais uma distração. Uma farsa planejada com precisão para permitir que Blacko continuasse economizando energia, enquanto prolongava seu jogo sádico de medo e desespero com os dois últimos "seres de merda".
Os exterminadores se entreolharam. Seus olhos revelavam o pavor, mas seus pensamentos se sincronizaram sem que precisassem trocar palavras:
"Ganhamos tempo!"
"Ganhamos tempo!"
Ambos pensaram em uníssono, mas Alan foi o único a verbalizar:
— VAMOS SAIR DAQ...
Seu grito foi interrompido. Alan congelou, sentindo um frio absoluto invadir sua alma.
A fumaça densa foi sugada pela própria escuridão, e Blacko emergiu, atravessando-a. Seu corpo era um borrão preto, a própria escuridão, a própria noite materializada.
Em sua mão, uma espada feita de sangue se formava, gotejando com um brilho ameaçador. A lâmina pulsava com uma energia implacável enquanto avançava com precisão grotesca, mirando a cabeça de Alan.
Cinco segundos antes, no caos da batalha, a foto tirada por Luan foi enviada, e Louis a recebeu. A ansiedade dominou sua mente enquanto analisava a imagem.
Impaciência... Desespero.
Sem tempo para ponderar, largou o celular, enquanto ergueu as mãos e juntou os dedos com força.
Clap!
Tlak-tlac.
O celular ficou para trás no corredor da escola, ecoando com um som seco em meio ao silêncio do vazio, e os dois... desapareceram dali.
De São Paulo, teletransportaram-se para a Praça Sete, bem no meio da devastação.
Ao chegarem, seus olhos se fixaram em Blacko, que avançava de forma letal em direção a Alan e Eduardo. Antes que pudessem reagir, Katherine tomou a iniciativa.
Sua mão direita se estendeu, e, no instante seguinte, Blacko cortou o pescoço de Alan.
Mas... como um fantasma, a espada desapareceu no ar. O golpe resultou apenas em uma passagem de braço vazia, sem sequer tocá-lo.
Um único olho, com a íris preta como a dele, abriu-se de forma agressiva sobre a marca no lado direito de seu pescoço. No entanto, logo foi reprimido, assim como todos os poderes do Primordial. Com o desaparecimento de sua força, seu corpo sucumbiu a um cansaço extremo.
Eduardo, tomado por uma força desesperada, puxou Alan para trás. Sua ação abrupta e grosseira era o reflexo de alguém que já havia perdido amigos demais. Na tentativa frenética de salvar seu companheiro, avançou contra Blacko, movido por um ímpeto que nenhum exterminador poderia compreender... a não ser que, assim como ele, estivesse enfrentando a própria morte.
Shk!
Lançou um corte vertical, e conseguiu o impensável: decepar o braço esquerdo do Primordial. O golpe foi limpo, um rasgo que, por um instante, deu a impressão de que Blacko era humano. A carne preta do Primordial foi exposta, Parte do lençol que o cobria foi rasgado, do baixo para o alto, revelando mais do que deveria.
Não revelou o rosto nem o pescoço com a marca agora oculta. Apenas o torso ficou à mostra — e o que se revelou era algo estranhamente humano, vulnerável, muito além do que todos poderiam imaginar.
Eduardo demorou um instante para processar o impacto de seu golpe.
"ISSO!" pensou, vendo que o ataque havia surtido efeito. Uma faísca de esperança reacendeu em seu peito.
Por um breve momento, parecia que o próprio universo o iluminava. Um brilho intenso envolveu a cena, um lampejo divino... Mas então, Eduardo compreendeu o que realmente era.
A sensação de vitória foi interrompida por um calafrio — um aviso silencioso de algo prestes a acontecer. Lançou um olhar rápido por cima do ombro esquerdo e viu. Não era Deus o iluminando... Era Alan, que, sem aviso, disparava uma magia em sua direção, confiando plenamente que Eduardo desviaria.
O exterminador reagiu no último segundo, tomado pelo reflexo e alerta, saltou para o lado. O medo pulsava em seu peito, mas a confiança de Alan era clara. A magia, uma mistura de vento e fogo, passou raspando e avançou com força avassaladora.
BOM!
Foi certeira, atingindo Blacko no peito. A explosão foi tão poderosa que o corpo do Primordial foi arremessado longe. Seu peito ficou destroçado, colidindo violentamente próximo ao obelisco da praça.
BAMFF!
O impacto ecoou, Sccrrrchh... e o corpo de Blacko caiu ao chão, arrastando-se pelo solo, fraco, incapaz de se regenerar. Seus olhos se voltaram para Katherine, mas havia confusão em seu olhar.
"Você é igual a ela... mas não é ela. O que essa garota fez?"
Seu rosto permanecia inalterado — o mesmo desdém e apatia de sempre — mas sua mente estava em conflito. Uma dúvida sem resposta queimava em seu interior.
A exaustão tomou conta. Uma dor crescente espalhou-se pelo seu corpo, e sua respiração tornou-se ofegante. O suor escorria de sua testa enquanto suas pálpebras pareciam pesar mais que montanhas.
E então, como um último golpe cruel do destino... ele viu.
Um flash.
Os gêmeos.
Com seus rostinhos fofos e radiantes, sorrindo para ele. Os pequenos olhos roxos, herança da mãe, brilhavam na escuridão de sua mente... Estavam lá, esperando-o voltar.
A angústia se abateu sobre sua alma como um maremoto. Sabia o que havia perdido. Sabia da escolha errada que fizera. E agora, no vazio da derrota, uma dor imensurável o esmagou.