Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 5: Uma Palma

A luta se transformava cada vez mais no cenário que o Primordial mais sentia prazer: um espetáculo de terror, onde apresentava um show de torturas, manipulando com uma graça maligna em meio ao caos, com uma naturalidade apática, desdenhosa e arrepiante de um predador sádico.

Olhava para sua presa abatida, os filetes feitos da carne de Taylor. O sorriso em seu rosto abaixo do tecido marrom, sua saliva sendo produzida com abundância, sentindo desejo em comer aquela carne fresca.

"Um banquete tão farto... buscarei especiarias para preparar suas carnes. Dar-lhes utilidade, seres inúteis, seres de merda." O sorriso sádico, seus olhos em êxtase, queriam mais, queriam mais sofrimento, dor.

"Mostrem-me o que tomarei de vocês, insetos."

Quando o ataque do exterminador finalmente chegou, a lâmina azul cortando o ar com um brilho incandescente de magia, Blacko simplesmente se esquivou para a direita, sua visão sendo preenchida pela beleza efêmera do golpe.

A espada, uma mistura de água e magia, com o fluido seguindo o movimento da lâmina, era um espetáculo visual, mas não passava de uma fraqueza diante de sua força superior.

Shr-runch!

O som de algo cortado ecoou no ambiente, mas não era o ataque do exterminador que havia atingido seu alvo. Ao errar o ataque, tentou voltar sua lâmina para um novo golpe, entretanto, antes de seu cérebro ordenar aos nervos e seus membros responderem com o movimento, seus pulsos foram cortados pela espada que, ironicamente, pertencia a seu próprio amigo.

Tink-tin...

Blacko soltou aquela lâmina humana, "repugnante", após o corte, e o eco do metal no chão acompanhou o movimento do Primordial, que segurou o humano pelo pescoço. Erguendo-o sem pena, escutava os sons prazerosos de dor, choro e sofrimento vindo daqueles seres desprezíveis.

— Hi-hi-hi... HEAAAAHAHA!! — A gargalhada de Blacko reverberou pelo ambiente, um som tão profundo e maligno que engolia qualquer resquício de esperança que restasse naqueles que assistiam.

Seu Eu voltava, enfraquecido, mas voltava.

— AAaAarghh! UuNnghh!

Tsssssss!

— AAAAAAAAAARRGHH!!

Com sua palma da mão queimando em magia escura mesclada com fogo, a dor que causava no humano se tornava ainda mais intensa. Cada grito, cada gemido de agonia alimentava ainda mais sua força, uma força que o preenchia com um prazer insano. Sentia cada fibra do corpo humano, cada pulso de dor e sofrimento, como um brigadeiro que só ele poderia saborear.

Aquele humano, mesmo sem mãos, debatia-se, tentando de qualquer forma escapar, mas as forças que ele opunha eram ínfimas diante da imensa força de Blacko. O Primordial, indiferente à resistência que o inseto oferecia, Pah... simplesmente o jogou no chão como se fosse um saco de batatas.

A marca de sua mão, uma impressão profunda e queimada, ficou gravada na carne do humano, agora derretida pela intensa dor. O rosto de Leonardo, em lágrimas, era um reflexo do terror infantil, o medo de uma criança perdida no escuro, mas sem chance de escapar.

Deitado no chão, o exterminador olhou para frente, vendo Felipe, ainda vivo, babando... sem controle de sua boca. Chorando... sem controle de seus olhos. Agonizando... a poucos centímetros de si. A visão de seu amigo sendo dilacerado pela dor o feriu mais que sua carne viva exposta no pescoço.

— Fel...

CRUNCH!

Com um movimento rápido e implacável, Blacko pisou na cabeça de Felipe, esmagando-a sem compaixão. O som de ossos quebrando e de sangue espirrando foi abafado pelo impacto, enquanto o rosto de Leonardo se cobria com o sangue de seu próprio amigo.

Não havia mais espaço para dúvidas. A morte pairava sobre todos como uma lâmina afiada, e ninguém mais tinha coragem de enfrentá-la. Seus amigos apenas observavam o que acontecia, com os corpos tremendo de medo de agir, e isso levou Leonardo ao inevitável.

Creck!

Seu pescoço foi esmagado, Pahf... e seu corpo foi descartado no chão como se fosse pão para pombos.

Satisfeito com a carnificina, voltou a andar em direção aos outros. Seu olhar se fixou em Alan e Eduardo, os últimos sobreviventes, que recuavam a cada passo de Blacko, temerosos.

Grrr! Au! Au!

O cachorro ainda latia sem parar, com latidos graves que acabaram irritando muito aquele ser sem piedade. Ao se aproximar muito do Primordial, tentando amedrontá-lo com seus latidos ferozes, o mesmo deu um triste fim... a sua curta vida.

O demônio, sem pressa, deu um passo à frente, um som sinistro acompanhando cada movimento. O latido do cachorro, que antes era um mero incômodo, tornou-se um grito final quando Blacko, com um gesto de desdém, Crumn! formou uma lança de pedra sob o animalzinho de rua.

Ploch!

A lâmina emergiu com precisão implacável, atingindo o coração do animal.

O corpo do cachorro foi suspenso pela lança, e, em um instante, se tornou apenas mais uma vítima no caminho centenário de destruição do Primordial. O sangue escorreu pela lança, antes dela desaparecer de imediato.

Pahf...

Deixando o som abafado da colisão de seu corpo com o chão, um eco aterrorizante, uma sentença de morte para todos os presentes.

Alan e Eduardo, distraídos com a morte do caramelo, Crummn! nem perceberam a lança de pedra que emergia do asfalto, indo em direção... ao meio do rosto... de um deles. Shk! Com a adrenalina a mil, Alan conseguiu, no último momento, mover sua cabeça para evitar a morte instantânea, mas não foi rápido o suficiente para escapar do corte profundo na bochecha.

O corte foi grave, mas o exterminador não sentiu a dor de imediato. A adrenalina estava tão alta que só percebeu a gravidade da situação quando viu o sangue escorrendo. Mas... não importava. Estava vivo, e isso era o importante. Entretanto... o terror, a sensação de estar sendo caçado, tomou conta de sua mente.

"Vamos todos morrer!"

Ofegantes e com a adrenalina pulsando nas veias, os dois exterminadores recuaram, sentindo o ar ao redor se tornar cada vez mais pesado.

Crum-crum-crmnn!

O som constante das lâminas de pedra emergindo do asfalto ecoava pelo ambiente, mas ainda era impossível entender o verdadeiro propósito do ataque de Blacko.

"Ele é rápido demais... Por que está nos avisando com esses sons antes de cada ataque?!" Eduardo pensava, enquanto golpeava e desviava freneticamente dos ataques que brotavam do chão.

Tudo não passava de um jogo... Uma mera distração.

De repente, o cenário mudou.

Após um instante angustiante de silêncio, Alan e Eduardo fixaram o olhar à frente. Thum! Thum! Seus corações batiam descontrolados. Foi então que avistaram algo que gelou seus estômagos: um brilho preto e roxo cortava o ar, tão intenso e avassalador que parecia devorar a própria luz.

Era uma flecha de magia escura, aproximando-se com velocidade esmagadora.

Sem tempo para planejar ou reagir, os dois fizeram o que podiam: estenderam os braços à frente, os olhos arregalados pelo terror.

Alan, com a mente em pânico, lançou sua magia de vento misturada com fogo. Eduardo, desesperado, disparou gelo.

BOOOM!!

A combinação das magias gerou uma explosão titânica. Um estrondo ensurdecedor cortou o ar, acompanhado de uma onda de pressão tão intensa que quase os derrubou.

Uma fumaça densa e escura se formou, quase um pesadelo materializado, envolvendo tudo em seu caminho. A nuvem destrutiva tornou-se uma barreira entre eles e o inimigo, criando uma falsa sensação de segurança.

A flecha, no entanto, não passava de mais uma distração. Uma farsa planejada com precisão para permitir que Blacko continuasse economizando energia, enquanto prolongava seu jogo sádico de medo e desespero com os dois últimos "seres de merda".

Os exterminadores se entreolharam. Seus olhos revelavam o pavor, mas seus pensamentos se sincronizaram sem que precisassem trocar palavras:

"Ganhamos tempo!"

"Ganhamos tempo!"

Ambos pensaram em uníssono, mas Alan foi o único a verbalizar:

— VAMOS SAIR DAQ...

Seu grito foi interrompido. Alan congelou, sentindo um frio absoluto invadir sua alma.

A fumaça densa foi sugada pela própria escuridão, e Blacko emergiu, atravessando-a. Seu corpo era um borrão preto, a própria escuridão, a própria noite materializada.

Em sua mão, uma espada feita de sangue se formava, gotejando com um brilho ameaçador. A lâmina pulsava com uma energia implacável enquanto avançava com precisão grotesca, mirando a cabeça de Alan.


Cinco segundos antes, no caos da batalha, a foto tirada por Luan foi enviada, e Louis a recebeu. A ansiedade dominou sua mente enquanto analisava a imagem.

Impaciência... Desespero.

Sem tempo para ponderar, largou o celular, enquanto ergueu as mãos e juntou os dedos com força.

Clap!

Tlak-tlac.

O celular ficou para trás no corredor da escola, ecoando com um som seco em meio ao silêncio do vazio, e os dois... desapareceram dali.

De São Paulo, teletransportaram-se para a Praça Sete, bem no meio da devastação.

Ao chegarem, seus olhos se fixaram em Blacko, que avançava de forma letal em direção a Alan e Eduardo. Antes que pudessem reagir, Katherine tomou a iniciativa.

Sua mão direita se estendeu, e, no instante seguinte, Blacko cortou o pescoço de Alan.

Mas... como um fantasma, a espada desapareceu no ar. O golpe resultou apenas em uma passagem de braço vazia, sem sequer tocá-lo.

Um único olho, com a íris preta como a dele, abriu-se de forma agressiva sobre a marca no lado direito de seu pescoço. No entanto, logo foi reprimido, assim como todos os poderes do Primordial. Com o desaparecimento de sua força, seu corpo sucumbiu a um cansaço extremo.

Eduardo, tomado por uma força desesperada, puxou Alan para trás. Sua ação abrupta e grosseira era o reflexo de alguém que já havia perdido amigos demais. Na tentativa frenética de salvar seu companheiro, avançou contra Blacko, movido por um ímpeto que nenhum exterminador poderia compreender... a não ser que, assim como ele, estivesse enfrentando a própria morte.

Shk!

Lançou um corte vertical, e conseguiu o impensável: decepar o braço esquerdo do Primordial. O golpe foi limpo, um rasgo que, por um instante, deu a impressão de que Blacko era humano. A carne preta do Primordial foi exposta, Parte do lençol que o cobria foi rasgado, do baixo para o alto, revelando mais do que deveria.

Não revelou o rosto nem o pescoço com a marca agora oculta. Apenas o torso ficou à mostra — e o que se revelou era algo estranhamente humano, vulnerável, muito além do que todos poderiam imaginar.

Eduardo demorou um instante para processar o impacto de seu golpe.

"ISSO!" pensou, vendo que o ataque havia surtido efeito. Uma faísca de esperança reacendeu em seu peito.

Por um breve momento, parecia que o próprio universo o iluminava. Um brilho intenso envolveu a cena, um lampejo divino... Mas então, Eduardo compreendeu o que realmente era.

A sensação de vitória foi interrompida por um calafrio — um aviso silencioso de algo prestes a acontecer. Lançou um olhar rápido por cima do ombro esquerdo e viu. Não era Deus o iluminando... Era Alan, que, sem aviso, disparava uma magia em sua direção, confiando plenamente que Eduardo desviaria.

O exterminador reagiu no último segundo, tomado pelo reflexo e alerta, saltou para o lado. O medo pulsava em seu peito, mas a confiança de Alan era clara. A magia, uma mistura de vento e fogo, passou raspando e avançou com força avassaladora.

BOM!

Foi certeira, atingindo Blacko no peito. A explosão foi tão poderosa que o corpo do Primordial foi arremessado longe. Seu peito ficou destroçado, colidindo violentamente próximo ao obelisco da praça.

BAMFF!

O impacto ecoou, Sccrrrchh... e o corpo de Blacko caiu ao chão, arrastando-se pelo solo, fraco, incapaz de se regenerar. Seus olhos se voltaram para Katherine, mas havia confusão em seu olhar.

"Você é igual a ela... mas não é ela. O que essa garota fez?"

Seu rosto permanecia inalterado — o mesmo desdém e apatia de sempre — mas sua mente estava em conflito. Uma dúvida sem resposta queimava em seu interior.

A exaustão tomou conta. Uma dor crescente espalhou-se pelo seu corpo, e sua respiração tornou-se ofegante. O suor escorria de sua testa enquanto suas pálpebras pareciam pesar mais que montanhas.

E então, como um último golpe cruel do destino... ele viu.

Um flash.

Os gêmeos.

Com seus rostinhos fofos e radiantes, sorrindo para ele. Os pequenos olhos roxos, herança da mãe, brilhavam na escuridão de sua mente... Estavam lá, esperando-o voltar.

A angústia se abateu sobre sua alma como um maremoto. Sabia o que havia perdido. Sabia da escolha errada que fizera. E agora, no vazio da derrota, uma dor imensurável o esmagou.



Comentários