Volume 1 – Arco 1
Capítulo 3: Uma Foto
No corredor, uma garota pequena e jovem aguardava ao lado da porta. Sua pele era muito clara, seus olhos de um azul profundo de tão belo, enquanto seus cabelos longos e brancos caíam sobre os ombros, sem franja — um detalhe que mostrava sua aversão a se parecer com uma outra criança específica.
Tentando manter-se no oposto da outra criança, usava um short e uma regata simples de cor preta. Por cima, também usava um sobretudo dourado, que, devido aos seus 1,20 metros de altura, se arrastava levemente pelo chão. As inscrições em seu peito esquerdo diziam: "Katherine" "9" "1" "A" "A".
Katherine havia ouvido a conversa desde o início, curiosa e levemente irritada. Esperava que Louis saísse logo, e, ao vê-lo, tentando esconder seu ciúme, não pôde evitar a pergunta, embora tentasse não soar grosseira:
— O que você está procurando? — Olhou para cima, encarando o rosto de seu professor e líder de esquadrão.
Louis, tentando disfarçar sua própria tensão, respondeu de maneira prática:
— Estou procurando a Alissa, mas ela não está aqui. Fique atenta, podemos ter uma emergência. Caso o tio Luan ligue, precisaremos sair imediatamente para ajudá-lo. Seu poder é essencial.
Ao dizer o nome proibido pela menina à sua frente, conseguiu perceber o traço de emburramento no rosto dela.
— Por que estava procurando a Alissa, então?! — Katherine não conseguiu segurar e perguntou quase em um grito, a frustração transparecendo em sua voz.
Louis, percebendo o tom irritado, tentou suavizar:
— Era apenas para garantir mais força na missão. — Colocou a mão direita na cabeça dela e deu-lhe um cafuné carinhoso. — Não se preocupe.
Sorriu, mas Katherine apenas cruzou os braços, ainda emburrada.
— Não quero você perto dela — murmurou, com a tristeza palpável na voz.
— ...Tá bom. — Tentou acalmá-la, passando a mão pela cabeça dela, enquanto observava seus olhinhos bravos.
— Eu já sou sua, você não precisa dela!
Louis olhou ao redor, assustado, temendo que alguém tivesse escutado.
— Para de falar isso! — gritou em murmúrio. — Não fala essas coisas tão alto assim.
Katherine deu dois passos, com a mão dele ainda sobre sua cabeça, e o abraçou de frente.
— Então me prometa que só eu sou sua.
Inquieto, Louis continuou olhando para os lados, dando sorte de os corredores estarem vazios.
— Depois conversamos, para com isso. — Sua voz mostrava a urgência de terminar aquela cena.
Katherine o segurou com mais força.
— Eu vou gritar — ameaçou, pressionando a cabeça na virilha dele, enquanto olhava para cima.
— Só você é minha! — gritou em um murmúrio desesperado, tentando garantir que ninguém os visse. Seu olhar levemente se suavizou, vendo o leve sorriso que apareceu nos lábios dela antes de soltá-lo.
Katherine juntou as mãos para baixo, colocando um pé à frente e alisando o chão em uma atitude envergonhada.
— Promete...? — Sua pergunta saiu arrastada, com um olhar malicioso, uma provocação infantil.
Louis ficou sem reação.
"Me ameaçando dessa forma..." — P-prometo...
Katherine ficou feliz e deu dois saltos sorridentes. Caminhou até ele, esticou os braços para cima e o olhou com os olhos brilhantes.
— Papai, me pega no colo!
Louis ficou levemente travado, observando-a fazer aquilo.
— Claro... filhinha. — Mas não conseguiu contestá-la.
A segurou em seu colo, Katherine apoiando o rosto em seu peito, olhando-o de baixo enquanto Louis seguia até a área que sabia ser mais tranquila, onde não haveria tantas pessoas naquele início de dia.
"Pare de me fazer tantas ameaças... por favor." Seu olhar era distante, sentindo Katherine o abraçar, e ele a segurava firmemente para evitar uma nova reação abrupta.
Enquanto isso, Luan caminhava por uma rua vazia...
"Jesus... Uma cidade inteira deserta..."
Olhava em volta, sentindo uma sensação crescente de inquietação. Era como se uma cidade inteira tivesse sido subitamente abandonada: carros novos, prédios e lojas intactos, como se todos tivessem deixado tudo para trás sem aviso, em um apocalipse de proporções incalculáveis.
Aquela cidade parecia ter sido esquecida em um instante.
Dentre todo o ambiente impecável — exceto pelo sangue — Luan se aproximava dos edifícios destruídos na brincadeira que Blacko finalizou, matando a anomalia classificada como Calamidade 1.
Enquanto caminhava sobre as manchas de sangue, sem qualquer vestígio de roupas ou sinais de que aquilo um dia fora uma pessoa, Au au! Levou um susto e, instintivamente, colocou a mão sobre o cabo de sua espada embainhada, ouvindo os latidos de um cachorro.
— Porra, não brinca assim... — murmurou, mas a curiosidade o fez se aproximar para entender por que o animal estava tão agitado.
Grrrrr, au au!
Enquanto se aproximava, avistou uma figura em pé no centro da avenida — um ser que se assemelhava a um humano, parado em um local cercado por prédios e árvores, no meio de quatro caminhos: Avenida Amazonas e Avenida Afonso Pena.
O vermelho não vinha apenas do detalhe abaixo do obelisco central ou das faixas de pedestres, mas também das manchas de sangue espalhadas pelos corpos dos milhares que haviam deixado de existir. Aquele local era o epicentro da tragédia. Ali foi onde toda a merda começou.
Sobre o obelisco, cercado por quatro pequenos postes de luz, antigos e de tom cinza, Blacko permanecia imóvel, com uma espada feita de seu próprio sangue cravada na ponta da estrutura. Se equilibrava agachado sobre a lâmina, com uma perna esticada ao lado dela e a outra com o pé firme no cabo.
Embora seu corpo continuasse coberto, era evidente que aquele ser possuía uma cabeça e uma perna, o que fez Luan hesitar por um momento, mas logo ignorou a dúvida. O exterminador sentiu um calafrio, mas, ao mesmo tempo, não conseguiu desviar o olhar — o simples medo de encarar aquilo já era o suficiente.
— Isso não é humano — murmurou, retirando rapidamente o celular do bolso e enviando uma mensagem urgente para seu esquadrão: — A anomalia está aqui! Venham para a Praça Sete de Setembro.
O esquadrão logo começou a chegar, vindo de direções diferentes. Cercavam o obelisco, mesmo que esse não fosse o plano inicial.
Quando percebeu o esquadrão se aproximando...
— Louis!
Se lembrou de seu irmão e imediatamente ligou para ele.
Brrr!
Louis, caminhando pelos corredores com Katherine ainda em seu colo, abraçada a ele, sentiu o celular vibrar e o tirou do bolso com a mão direita, notando uma reação irritada de Katherine.
— Não é ela, né? — O olhava com raiva, mas Louis ignorou.
"Luan...?" Atendeu rapidamente. — Lu...
Antes que pudesse continuar, a voz do irmão o cortou, carregada de urgência e pânico:
— Encontrei ela! Está na Praça Sete de Setembro.
Percebendo a gravidade da situação, Louis ordenou imediatamente:
— Mande uma foto!
Katherine, ao ouvir a voz do tio Luan, teve uma mudança de humor, mas não positiva. Quando Louis desligou a ligação para aguardar a foto, Katherine se mexeu, tentando se desvencilhar do braço dele.
Louis a olhou.
— Quer descer?
— Sim.
A colocou no chão e continuou com o foco na conversa aberta com seu irmão.
A exterminadora ficou com a ansiedade à flor da pele. Thum. Thum. Seu coração batia mais rápido a cada segundo. Procurando por algum apoio, segurou firmemente o sobretudo de Louis, puxando-o levemente para baixo, com uma pontada de preocupação evidente.
"Eu consigo... Eu consigo... Ele não precisa dela! Eu consigo."
Seus pensamentos refletiam não apenas o ciúme por Alissa, mas também a insegurança sobre seu próprio poder. Louis, ao ser puxado, olhou para ela.
"O que foi?"
Percebendo que não era um chamado, mas uma reação de medo, das várias crises de ansiedade e insegurança que ela enfrentava, quis deixar quieto, mas... sabia que não tinha opção.
"Que merda... Sem a Alissa não dá. Não posso permitir que Katherine falhe..."
Colocou a mão esquerda sobre a cabeça dela, fazendo-lhe cafuné carinhosamente. Katherine olhou para ele, encontrando um sorriso gentil, e seu coração se acalmou, dissipando momentaneamente sua ansiedade. Seus olhos brilharam ao se encontrarem com os dele.
— Você consegue. Eu confio em você.
A menina não respondeu, apenas o observou fixamente e assentiu com a cabeça, sentindo o carinho de seu amado.
Luan, apressado, afastou o celular da orelha, abriu a conversa com seu irmão, Tchich! e tirou uma foto de Blacko parado naquele lugar. Assim que apertou para enviar, enquanto a foto carregava, olhou novamente para o obelisco... e percebeu com um arrepio na espinha que a anomalia havia sumido.
Aquela sensação de vazio foi substituída por algo muito mais sombrio.
Antes que pudesse entender o que estava acontecendo, uma mulher de cabelo curto rosa e olhos vermelhos, cujo nome na inscrição do seu sobretudo era "Sabrina", berrou desesperada, apontando para ele:
— LUAN, ATRÁS!
Luan... congelou. O receio que sentia antes de sair para a busca sumiu. Deixou de existir. E o que restou foi o mais profundo e sincero medo...
Seus sentidos ficaram inertes, seu coração acelerou, e um medo visceral tomou conta dele. Seus olhos se arregalaram enquanto seu corpo reagia automaticamente, se jogando para o lado direito, na tentativa de escapar de algo que nem mesmo sentia, via, ou sabia o que era.
Seu corpo foi para o lado, de fato... Mas, era inevitável.
...Luan não conseguiu escapar.