Volume 1 – Arco 1
Capítulo 2: Pirulito
Em um corredor de uma escola, a principal ADEDA do país, localizada em Água Branca, São Paulo, caminhava um homem bem-vestido de 1,82 metros. Usava uma calça social cinza-escura e uma camisa cinza-clara, complementados por um sobretudo chamativo, embora de cor única: inteiramente dourado.
Sua pele era clara, e o cabelo liso e preto caía longo sobre seus ombros e costas. Neste dia em específico, o deixara solto, enquanto seus olhos, de um tom verde-acinzentado, observavam o ambiente ao redor. Andava de forma elegante, uma mão no bolso do sobretudo enquanto a outra segurava o celular ao ouvido.
No peito esquerdo do sobretudo, havia uma inscrição: "Louis" "25" "1" "A" "A".
Enquanto seus passos ecoavam pelos corredores ainda vazios naquela manhã, Louis conversava com seu irmão ao telefone:
— Como estão as coisas? — perguntou ele, sua voz acompanhando os ecos no corredor.
— Vamos sair daqui a pouco... — respondeu o irmão, observando seu esquadrão terminar de arrumar as coisas para a patrulha. — Estou com medo.
— Hã? — Louis parou de andar, sua expressão assumindo um tom sério. — O quê?
— Hm... Não é medo de lutar. É medo de a anomalia já ter saído daqui — Chirk-chirk, o irmão coçou a cabeça, visivelmente preocupado — e acabar fazendo outra chacina por aí... E se não for só uma?
— ...Relaxa, não deve ser mais que uma — Louis tentou encerrar o assunto para não deixar o irmão mais tenso do que já parecia. — Tenho algumas coisas pra fazer aqui. Se a encontrar, me ligue na hora, e eu vou com a garota.
— Ok, Louis — respondeu o irmão, voltando a atenção ao esquadrão que já se preparava no apartamento em Belo Horizonte, onde estavam hospedados desde o massacre. — Galera! Estamos saindo.
— Boa sorte, Luan — respondeu Louis antes de encerrar a ligação e guardar o celular no bolso.
Continuou caminhando pelos corredores naquela manhã tranquila até então, observando de longe algumas crianças que começavam a chegar pelo portão principal.
"Vocês são o futuro..." pensou, de forma meio melancólica, antes de suspirar e seguir para a sala dos professores.
Poucos minutos depois, chegou a uma porta com identificação que indicava ser a sala certa. Mesmo possuindo seu próprio escritório, procurava por alguém específico ali, mas, para sua surpresa, encontrou a pessoa errada.
Assim que entrou na sala, foi recebido por uma visão inesperada: uma jovem sentada de costas para ele, lendo relatórios em frente a um computador antigo de monitor de tubo, meio branco e meio bege.
Embora fosse uma velharia, ainda assim os aparelhos da ADEDA, desde celulares a equipamentos normais, eram muito mais tecnológicos, portando coisas que muitas pessoas jamais imaginariam existir naquela época.
A sala era um retrato do desleixo da jovem. Não gostava de usar seu sobretudo e sempre o deixava jogado em algum canto, como naquele dia, em uma cadeira. Diferente do dourado de Louis, o dela era inteiramente prateado. Mesmo amontoado, as inscrições ainda eram visíveis: "Mirlim" "15" "2" "A" "S".
A jovem tinha pele muito clara, cabelo preto com uma franja agressiva que escondia a testa, que detestava por achá-la gigantesca. Seus olhos eram de um rosa vibrante e penetrante. Tinha 1,64 metros e sempre mantinha um pirulito na boca, para adoçar seu dia, ainda mais tendo que ouvir a voz de uma pessoa que detestava.
Como não havia uniforme pré-definido na escola, embora nem fosse "exterminadora" por preguiça, sua roupa destoava de qualquer formalidade: uma regata branca e um pequeno short cinza por baixo de uma blusa de frio azul-escuro. Para Mirlim, o sobretudo era uma peça de roupa desnecessária e irritante.
"Melhor eu sair..."
Tentou se afastar silenciosamente, mas, ao olhar para a porta, viu seu reflexo fraco na superfície metálica. Nesse instante, percebeu que simplesmente sair não era uma opção.
"Deus, não me deixe morrer..." Fechou os olhos, quase chorando em seu drama interno, pedindo ao divino que o poupasse de um fim trágico nas mãos de uma pequena adolescente.
— Gulp... — Engolindo em seco, virou-se novamente para a garota. Reprimiu o medo que o consumia e perguntou, forçando um tom sério: — Mirlim, você viu a Alissa por aí?
A voz de Louis ecoou na sala, fazendo Mirlim dar um pequeno salto abrupto ao ter seu silêncio interrompido, como um gato surpreendido enquanto cochilava. Seus ombros se contorceram para cima, sua cabeça abaixando de ódio.
— Grrr... — rosnou baixinho, parecendo mais um filhote de gatinho irritado do que uma ameaça real.
Louis arregalou os olhos. Para seu terror, ela começou a se virar lentamente em sua direção.
Quando finalmente Mirlim o encarou, sua expressão era um misto de desdém e tédio, embora a força com que mordia o pirulito sugerisse algo mais perigoso. Sem se dar ao trabalho de falar, lançou um olhar cortante e voltou a encarar o monitor.
"Talvez eu mereça morrer mesmo..." pensou Louis, mas algo dentro dele se rebelou. — ...Te fiz alguma coisa? — arriscou perguntar, ignorando a oportunidade de escapar com vida.
Mirlim permaneceu em silêncio, agora digitando com uma intensidade preocupante.
Tlec-trak-tlak!
Os estalos das teclas ressoavam pela sala. Mais um pouco e o teclado criaria vida para implorar por piedade.
"Switches lineares deveriam fazer tanto barulho assim?" questionou a si mesmo Louis, percebendo que acendeu uma bomba.
Finalmente, sem sequer desviar os olhos do monitor, ela respondeu, seca:
— Nasceu.
Louis piscou, atordoado.
— Eu... ééé... t-te dou um saco de pirulitos em troca da resposta.
TLEC-TLALAK!
— Você já tá me devendo uns cinco, seu merda! Não tem vergonha na CARA?! — exclamou, lançando-lhe um olhar furioso antes de voltar ao monitor.
— ...Eu juro que pago.
— Desde quando sua palavra vale algo? — retrucou, sem olhá-lo.
Louis ergueu as mãos, fingindo rendição.
— Nossa! Pega esse monitor e taca na minha cabeça de uma vez então! — provocou, tentando aliviar a tensão.
Mirlim não precisou de mais incentivo. Num movimento brusco, começou a arrancar o monitor da mesa.
— Claro! — respondeu com firmeza, os olhos brilhando com um misto de determinação e puro ódio.
Louis avançou, segurando seus braços antes que ela completasse o ato.
— Eu tô brincando!
— Eu não — respondeu ela, olhando-o diretamente nos olhos, sem um pingo de humor.
Houve uma pausa desconfortável, os dois bem próximos, se encarando.
— Paga o que me deve, caloteiro.
— Prometo que vou... Mas, sério, preciso da Alissa. É urgente. Ela tem que ajudar lá em BH. — Vendo que Mirlim não parecia mais inclinada a atacá-lo, a soltou e se afastou por precaução, sem desviar o olhar. "Felinos atacam suas presas de costas..." pensou, com lentos passos para trás, olhos bem abertos.
Mirlim observou a reação exagerada, antes de cruzar os braços e responder com total indiferença, ainda sentada:
— Não vai dar. Mandei ela pra outra missão.
— Como assim, outra missão? — Assumiu uma expressão confusa.
— Outra calamidade.
— Quê?! — Deu um passo para trás, chocado, olhos arregalados. Calamidades eram extremamente raras.
— Não é tão séria quanto a de BH, mas, pelas informações que recebi, três exterminadores não oficiais já morreram tentando enfrentá-la. — Mirlim fez um gesto exagerado com as mãos, não ligando para as vidas e explicando o óbvio para Louis. — Então não dá pra ignorar, né?
Louis abaixou a cabeça por um momento, em respeito aos mortos.
— Três... entendi. Obrigado por me avisar.
— Obrigado nada. Pague o que me deve.
— E-eu... Eu esqueci minha carteira em casa — murmurou, sem jeito.
Mirlim o encarou, incrédula com a desculpinha da vez.
— Te perguntei alguma coisa?
— Não.
— Mandei você fazer algo?
— Sim.
— Então obedeça. Quero meus pirulitos — ordenou ela, com uma firmeza que faria até um comandante militar hesitar.
Louis abaixou a cabeça e suspirou novamente.
— Harff... Vou buscar...
— Tem 15 minutos.
Olhando-o e criando um silêncio sufocante de tão doloroso, depois de alguns segundos, seus lábios começaram a se mover lentamente até começar uma contagem lenta, um carrasco prestes a puxar a alavanca:
— 14:56... 14:55...
Louis estreitou os olhos.
— Você é insuportável.
— Aham, aham. — Mirlim acenou distraidamente, já voltando aos relatórios. — Vai lá, vai.
Sem mais opções, Louis deixou a sala, fechando a porta com cuidado para não irritá-la ainda mais.