Volume 1 – Arco 1
Capítulo 25: Coisas Importantes
Apesar de um leve alarme interno lhe sussurrar que aquilo era errado, sua natureza, misturada com inocência, abafava qualquer remorso. Para ele, era como experimentar algo novo, um pequeno ato de curiosidade.
Após as compras, os gêmeos insistiram em carregar as sacolas para Marta. Ao chegarem em casa, Marta começou a guardar tudo nos armários da cozinha, enquanto os gêmeos a observavam.
— Querem comer alguma coisa agora? — perguntou sem olhar para eles.
— Faz filé de cobra! — Nina respondeu de imediato, animada.
— Tá, mas hoje não vai ser no disco de arado, ok?
— Ok!
— Vou fazer aqui dentro. Quero evitar bagunça. Vovó tá velha, já não tenho tanta energia assim.
Nina se aproximou e a abraçou, apertando-a com força calculadíssima.
— Vou compartilhar a minha energia com você!
Marta sorriu, sentindo a sinceridade na brincadeira. Era um momento de leveza que aquecia seu coração.
— Liga a televisão pra vovó, quero ouvir minha novela enquanto preparo as coisas.
Nino, perto da TV, prontamente respondeu:
— Vou ligar.
— Obrigada. — Marta voltou a organizar os armários enquanto Nina foi até o irmão.
De repente, Nino puxou o pacote de salgadinho de dentro do corpo, escondido por baixo da blusa.
— Hã? — Nina olhou para ele, surpresa.
— Será que é bom? — perguntou, virando o pacote nas mãos para analisá-lo.
— Onde você achou isso? — perguntou, intrigada.
— Eu peguei lá.
Marta, distraída até então, captou partes da conversa e virou o olhar em direção aos dois. Foi então que viu o pacote de salgadinho nas mãos de Nino.
Sua expressão congelou. A visão daquele pequeno ato atingiu seu coração como um sopro gelado.
Sentindo-se tomada por uma tristeza profunda, começou a andar em direção a eles. Seus passos eram lentos, quase hesitantes, devido à dor que sentiu no peito ao ver aquilo. Sabia que precisava corrigir aquele erro para não se repetir, mas o desgosto e a decepção a consumiam.
Marta olhou fixamente para Nino, tentando controlar a mistura de emoções que pulsava dentro dela.
— Nino... Não acredito que você roubou. P-por que não me pediu? Eu compraria!
Nino baixou o olhar, hesitante.
— Mas a gente não tem dinheiro...
— Nino, isso não importa! — A avó ergueu a voz, não conseguindo esconder a decepção. — O que foi que eu te ensinei?! Você não pode simplesmente tomar de outro o que não é seu!
O tom duro machucou o garoto. Nino ficou sem reação diante daquele olhar cheio de mágoa. O peso de suas ações o atingiu em cheio, e seus olhos se encheram de lágrimas.
— D-desculpa... Desculpa, vovó. Desculpa...
Sem pensar duas vezes, correu até Marta, Thumpf... e a abraçou apertado, chorando. Nina, ao ver o irmão naquele estado, também se emocionou. A culpa e o medo de ter desapontado a avó apertaram seu pequeno coração.
— Desculpa, vovó... — disse ela, juntando-se ao abraço e deixando as lágrimas caírem.
Marta, com os dois agarrados a ela, sentiu um nó na garganta. Apesar da tristeza, sabia que aquele momento era uma oportunidade importante. Precisava ensinar, mas também acolher.
Respirou fundo, acalmando o turbilhão de sentimentos dentro de si, para conseguir acalmar o turbilhão dentro dos netos.
— Não estou brava com vocês. Só quero que me prometam, de coração, que nunca mais farão isso. Isso é muito errado. Meus netinhos não são assim. Me prometam que vão pensar antes de agir. Não quero que façam isso nunca mais.
Os gêmeos levantaram o rosto, as bochechas molhadas de lágrimas, e disseram ao mesmo tempo, embora não mais em sincronia, enxugando as lágrimas:
— Pr-prometo...
— Isso. — A voz de Marta suavizou enquanto enxugava as lágrimas deles com cuidado. — Vocês são bons. Eu sei disso. Agora, podem comer o salgadinho.
Os olhos deles se arregalaram de surpresa.
— Quando eu voltar lá, eu pago. Não se preocupem.
Nino fez que sim com a cabeça, mas sua tristeza ainda pairava. A vovó percebeu e sorriu de leve, colocando a mão na cabeça dele.
— Já disse que está tudo bem. Para de chorar, hein? — brincou, bagunçando o cabelo dele de propósito.
Nino deixou escapar uma risada involuntária. Nina, sentindo ciúmes, cruzou os braços com uma expressão emburrada em meio a marcas de lágrimas em sua bochecha e delineado natural.
— Ei, vem cá também. — Puxou Nina e fez o mesmo com o cabelo dela, bagunçando enquanto ria.
Os gêmeos riram juntos, o momento de tensão se dissipando como fumaça.
Enquanto observava aqueles dois pequenos milagres rindo, pensou:
"Eu só quero o bem de vocês... meus pequenos..."
Enquanto transmitia mais um importantíssimo aprendizado para os netos, antes de voltar a preparar o almoço naquela tarde, a rotina de Louis e Katherine se seguia no escritório que dividiam na escola.
A tarde transcorria tranquila, sem nenhuma denúncia de anomalias ou eventos inesperados.
Louis aproveitou o momento calmo para orientar Katherine nos processos administrativos: relatórios, registros e as burocracias envolvidas na gestão da escola. Estava preparando-a para assumir responsabilidades maiores, um futuro que pretendia compartilhar ainda naquele dia.
Com o fim da tarde, a escola começava a esvaziar. Apenas alguns pré-adolescentes permaneciam no campo de futebol, aproveitando o espaço para treinos informais. Louis decidiu agir. Uma ordem que sabia que Katherine reclamaria.
— Katherine.
— Senhor? — respondeu prontamente, girando na cadeira para encará-lo.
— Tenho algo importante para conversar com você e Alissa.
Os olhos da jovem se estreitaram.
"Imaginei."
— Quer que eu a chame aqui, senhor?
"O quê?"
A resposta dela foi tão calma que o pegou de surpresa, não deixou sua raiva ser sentida no tom de voz.
Louis ficou sem reação momentaneamente, mas logo manteve a postura.
— Sim, preciso das duas aqui. Serei breve, não se preocupe.
— Sim, senhor.
Katherine levantou-se com postura profissional, mas por dentro fervia. Cruzou o corredor em direção à sala de sua prima, apertando os punhos até sentir as unhas pressionarem a palma das mãos.
"Sempre ela..."
Quando chegou à porta, respirou fundo e ajustou sua expressão para a neutralidade.
Toc, toc...
Poucos segundos depois, a porta se abriu, revelando Alissa, sem seu sobretudo, pois odiava usar aquele item que achava desnecessário. Ainda assim, mantinha o seu impiedoso desdém, que encarava Katherine naquele momento. Sua postura sempre desafiadora, sempre uma ameaça de morte.
— Quê...? Você? O que você quer que eu faça hoje? Vir até aqui me cumprimentar, imagino que não veio.
Katherine sustentou o olhar, a voz firme:
— Louis está te chamando no escritório.
Alissa ergueu uma sobrancelha, claramente desinteressada.
— É...? Legal, hein.
Thom!
Antes que Katherine pudesse reagir, sua prima fechou a porta em sua cara. O leve movimento de ar fez os cabelos da jovem balançarem, mas ela permaneceu imóvel.
— Harrf... — bufou, controlando-se.
Toc, toc...
Alissa abriu a porta novamente, uma expressão ainda mais sarcástica no rosto.
— Quê...? Você? O que você quer que eu fa...
— Ele disse ser importante — cortou-a, impassível.
— Ah, é...? Tô afim não.
Assim que foi fechar a porta mais uma vez, escutou sua prima dizer seu nome. Não a zombou novamente, apenas permitiu-se escutar o que a garota tinha a dizer:
— ...Alissa, por favor, venha. Ele disse ser importante, não estou brincando.
Alissa a encarou por um momento antes de responder com descaso:
— É bom que seja mesmo. Se atrapalharam meus estudos por nada, garanto que precisarão usar dentaduras.
Passou por Katherine no corredor, andando sem pressa.
— Seu sobretudo — Katherine comentou, observando que ela não o havia levado.
Como se aquilo fosse uma provocação planejada, Fuuuuosh! o sobretudo saiu da sala sozinho, voando até Alissa e ajustando-se em seu corpo. A garota continuou andando, mas lançou um olhar por cima do ombro esquerdo.
— Vai ficar aí parada?
Katherine fechou os olhos por um instante, respirando fundo antes de segui-la.
"Não zombe de mim!"
No escritório, Louis aguardava, sentado à mesa. Ao ver as duas entrarem, manteve-se composto, embora os olhares das duas dissessem muito sobre a tensão no ar.
O exterminador começou, virando-se diretamente para Alissa:
— Obr...
— Cala essa boca e seja direto. O que você quer? — o interrompeu com grosseria, os braços cruzados, o semblante impiedoso.
"Mirlim, desgraçada!" Louis engoliu a irritação. — Certo... Quero falar sobre o futuro. Atualmente, temos apenas 10 professores, 11 se contarmos Mirlim na Bahia. O resto, né... Pulou fora.
Fez uma pausa, buscando medir as reações delas. O que encontrou foi uma atenção submissa vinda de Katherine; já Alissa mostrava-se pronta para quebrar seu pescoço se continuasse enrolando. Nervoso com a pressão, continuou:
— N-nossos alunos mais velhos de 10, 11 anos podem ser contados nos dedos, mas isso não é exatamente o problema. Quero deixar avisado que, quando os alunos, a galera em si, começar a completar 13, 14 anos, vocês deverão selecionar a dedo os mais qualificados para compor suas salas.
Katherine inclinou a cabeça, confusa.
— Como assim, senhor?
"Senhor?" Alissa olhou de canto para sua prima, não entendendo o respeito repentino.
Louis continuou:
— Quero que vocês se tornem professoras e, futuramente, líderes de esquadrão oficial.
— Era só isso? — Alissa respondeu com desdém, os braços ainda cruzados, um olhar destruidor.
Louis assentiu, temendo por sua vida.
— Sim, mas... caso queira estudar como fazer relatórios, enviá-los para o governo, e essas coisas, seria bom.
Alissa riu baixinho, mas com sarcasmo.
Louis viu aquilo, seu olhar refletia todas as suas memórias felizes. Tudo passando rapidamente: momentos com os pais, a infância com seu falecido irmão.
"Isso... Isso é o fim?" Achando que sua vida passava em sua mente porque morreria, se viu abençoado apenas com um discurso cheio de desinteresse vindo de Alissa:
— Tenho coisas mais importantes para ler e estudar. Quanto aos alunos, não escolherei ninguém. Apenas mande os melhores qualificados depois que Katherine escolher os dela. Quanto aos relatórios, vou redigir e mandar para você. Se quiser que cheguem ao governo, faça isso sozinho.
Louis sorriu, um sorriso que não chegou aos olhos.
— Pode ser também.
"O quê? Mas ele me ensinou a mandar pra lá..." Katherine ficou calada, mas sentiu o ciúme crescer. Se dedicava a aprender cada detalhe do processo, e a resposta de Louis soou como um descaso aos seus esforços.
Alissa se virou para sair.
— Voltarei à minha sala.
— Tudo bem. Me perdoe pelo incômodo, era necessário ter sua presença — Louis disse de forma suave, sua cabeça levemente inclinada em submissão.
Alissa o ignorou completamente.
Após vê-la sair, Katherine murmurou, tentando manter a frustração sob controle:
— Os meus relatórios, será você quem enviará também?
Louis hesitou por um momento, distraído com os pensamentos que a presença de Alissa ainda deixava em sua mente.
"Merda, esqueci!" Recompôs a postura rapidamente. — Sim, te ensinei apenas para caso precise ou queira fazer sozinha. Ou se eu estiver indisponível... também.
— Entendi, senhor. — Curvou levemente a cabeça, queria demonstrar o respeito exigido mais cedo. A resposta dele, no entanto, trouxe um alívio que tentou esconder, mas que ainda transpareceu no sutil relaxar dos ombros.
Louis a observou por mais um instante, admirando-a pelo controle emocional que teve naquele dia.
"Agiu muito melhor hoje. Vou presenteá-la pelo bom comportamento, assim continuará agindo dessa forma." — Terminou de responder os últimos contratos que deixei com você? — perguntou, com a mesma firmeza que usava para mantê-la focada.
— Sim, senhor.
Louis assentiu, satisfeito.
— Ótimo. Vamos embora. Alissa deve apagar as luzes quando for sair.
— Uhum — respondeu de forma contida.
Clap!
Surgindo de frente para Katherine no quarto, Louis deu um passo à frente, a distância entre eles quase inexistente. Segurou o queixo dela com firmeza, mas sem agressividade, elevando seu rosto para encontrá-lo.
Mwa!
O toque breve e controlado de seus lábios a deixou atônita, os olhos arregalados enquanto fixavam os dele, agora mais intensos do que jamais vira. Quando ele se afastou ligeiramente, inclinando-se em direção à sua orelha esquerda, sua voz baixa e rouca fez seu coração disparar:
— Minha menininha fez um bom trabalho hoje. Se ajoelhe que o papai irá te recompensar. Mwah! — Terminou com um beijo suave na curva de sua orelha, um gesto que a desestabilizou completamente.
Katherine sentiu as pernas fraquejarem.
Quase instintivamente, ajoelhou-se, as mãos deslizando até segurarem a perna direita dele com reverência, abraçando-o como um gato se esfregando em seu dono, enquanto o olhava de baixo para cima, seus olhos brilhando com devoção.
Louis, agora tirando o cinto lentamente, seus movimentos firmes, o forte relevo na calça, com o olhar fixo no dela, perguntou com um tom entre a provocação e o comando:
— Quem é a menininha do papai?
— Sou eu!
— ...Quem é?
A resposta novamente veio imediata, carregada de emoção e necessidade:
— Sou eu. Sou eu, papai!
Louis retirou o cinto com movimentos controlados, seus olhos fixos nos de Katherine. Ela, ainda ajoelhada, continuava a se aninhar contra seu pau sob a calça, uma gata que buscava carinho, os movimentos delicados e quase hipnóticos.
— Me dê suas mãos — ordenou ele, a voz firme e cheia de expectativa.
Katherine obedeceu sem hesitar, os braços estendidos para ele.
Louis segurou seus pulsos com firmeza, a força de um homem bruto envolvendo-os no cinto de forma segura, mas nunca desconfortável. O gesto a fez sorrir com uma mistura de malícia e admiração.
Ergueu o olhar, um brilho travesso nos olhos e uma risada suave escapando de seus lábios.
Louis tocou seu rosto com uma ternura deliberada, acariciando a curva de seu queixo antes de segurar as bochechas com um aperto firme, impondo sua presença. O gesto era calculado, cheio de um controle quase obsessivo, e mesmo assim, Katherine não desviava o olhar. Pelo contrário, mergulhava ainda mais fundo na intensidade daquele momento.
— Boa garota — elogiou ele, um sorriso quase predador curvando seus lábios. Os olhos dela brilhavam com devoção, bebendo cada palavra como se fossem um prêmio raro. Katherine sentiu que aquele instante era a confirmação de tudo que sempre desejara: ser o centro do mundo dele, o único foco de sua atenção.
— Abra a boca, queridinha. Vamos começar — ordenou, sua voz baixa e carregada de promessa. Soltou seu rosto, observando cada reação dela com cuidado. Katherine o encarava sem piscar, sua expressão uma mistura perfeita de paixão e rendição.
— Sim... papai. — A resposta veio em um sussurro, carregada de emoção e entrega.