Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 24: Passeio

Poucos instantes se passaram.

Katherine manteve sua roupa, mas obedeceu à ordem de Louis. Após se vestir e colocar seu sobretudo, virou-se para ele. Suas mãos estavam juntas, apontadas para baixo, enquanto tentava imitar o semblante sério e reservado dele.

O homem caminhou até ela, fixando o olhar em seus olhos por um momento. Segurou delicadamente seu queixo e o ergueu, quebrando a tensão com um leve sorriso.

— Você está muito bonita — disse com um tom firme, mas carregado de admiração. Então, inclinou-se ligeiramente, Mwah... selando seus lábios calmamente. — Gosto de quando prende o cabelo, mas tenho ciúmes. Fora daqui, prefiro que deixe-o solto.

— Sim, senhor — Katherine respondeu com seriedade, desprendendo-se do toque dele. Seu olhar brilhava, transbordando felicidade pelo elogio. Mesmo assim, manteve o semblante respeitoso e disciplinado.

"Vamos ver até onde esse comportamento durará." — Vamos?

— Quando quiser, senhor.

Louis visualizou rapidamente a imagem enviada pelo fazendeiro em sua mente e direcionou o teletransporte.

Clap!

Num piscar de olhos, surgiram na margem do rio.

Piii-Piii-Vrrruuurum...

O som de caminhões manobrando em marcha à ré ecoava enquanto os trabalhadores começavam a operação de remoção.

Um dos funcionários públicos percebeu os dois.

— Bom dia, exterminadores.

Louis e Katherine voltaram-se para ele.

— Bom dia — respondeu Louis com naturalidade, enquanto Katherine fez um discreto aceno com a cabeça, silenciosa e atenta.

O exterminador observou a anomalia parcialmente flutuante na água. Seu corpo gigantesco inchava devido aos gases acumulados em sua carne em decomposição.

— Acha que quatro caminhões serão o suficiente?

Chirk-chirk...

O funcionário coçou a nuca, com uma expressão de incerteza.

— Senhor, para ser sincero... não. Mas vamos ver. Ah, devido ao tamanho da anomalia, decidi pegar uma amostra para uma análise rápida. E tudo indica que se trata de um Massacre 2.

— Há outras?

— Não, senhor. Um Massacre solo.

Louis assentiu, analisando a situação com atenção.

— Entendido. — Fez uma breve pausa e olhou novamente para o rio. — Encontraram a cabeça? Fui informado de que estava separada do corpo.

— Ainda não, senhor. Estávamos pensando em mandar uma equipe para explorar as margens leste e oeste, mas é possível que a cabeça tenha apenas seguido o fluxo do rio, já que o corpo veio parar aqui e imagino que a cabeça seja bem mais leve que toda essa carcaça.

— É uma possibilidade. — O exterminador observou o maquinário em operação por alguns segundos e tomou uma decisão. — Não há necessidade de mandar ninguém.

— Oi?

— Me dê um minuto.

Clap!

Num instante, Louis se teletransportou para o alto, onde flutuou por um segundo antes de começar a despencar do céu. Enquanto caía, analisou rapidamente o curso sinuoso do rio, FuuuUuuUU... com o vento assobiando ao seu redor.

Então, avistou a cabeça colossal próxima a uma ponte, cercada por uma poça de sangue coagulado.

— Achei — murmurou para si mesmo.

Clap!

— Localizei.

Reapareceu ao lado do funcionário, assustando-o com a súbita chegada.

— A-achou? — gaguejou o homem, dando um pequeno salto para trás.

— Sim. Envie um dos caminhões para buscá-la. Está perto de uma ponte — Louis apontou na direção, com a mão direita — logo depois de um posto de gasolina naquela direção. Eu vou dar uma olhada de perto, mas não voltarei aqui. Tenham um bom dia de trabalho.

— A-ah, sim. Claro, senhor. Obrigado e igualmente desejo um bom dia de trabalho para os dois.

Louis olhou para Katherine e, sem dizer nada, indicou o próximo destino.

Clap!

Surgiram ao lado da cabeça da anomalia. O odor era sufocante, quase tangível no ar.

— Nossa... que fedor — Katherine comentou, cobrindo o nariz com a mão.

Louis olhou para ela, surpreso com o tom sério e direto, sem os trejeitos infantis de brincadeira que geralmente a acompanhavam.

— Sim. Está fedendo muito — respondeu ele, continuando a análise da cena. Circulou a cabeça, observando seus detalhes grotescos. O objeto era imenso, quase ultrapassando sua altura de 1,82 metros.

— Acha que foram as crianças? — perguntou Katherine.

Louis tocou o tecido endurecido de carne ao redor do corte, tentando avaliar a precisão e o tipo de arma usada.

— Acho que sim. Nunca recebi pedidos de contrato vindos daqui, então imagino que não tenha alguém que saiba magia além desses dois. Se houvesse, já teriam entrado em contato solicitando entrevista ou valores pelo alistamento público.

— Faz sentido. Quer ir até a casa deles? Posso tentar conversar com a avó. Talvez ela escute uma garota.

Louis refletiu por um momento, antes de balançar a cabeça negativamente.

— Sinceramente, é melhor não. O fato de os netos dela terem matado isso provavelmente a deixou com medo de alguém aparecer na casa dela atrás dos dois novamente.

— É verdade. Faz sentido — Katherine assentiu, respeitando a decisão.

— Vamos deixar isso seguir naturalmente. Avisei que era só me ligar caso quisessem o contrato. Por enquanto, só podemos esperar. Esses dois jovens podem ser uma adição valiosa para o Brasil. Precisamos de bons exterminadores.

Katherine não respondeu, mas concordou com um movimento firme da cabeça.

— Bom... Natanael já deve ter liberado a entrada na escola — comentou Louis, mudando de tom.

— Uhum. Vamos então — respondeu prontamente.

Clap!


Após se empanturrarem com filés de anomalia durante o dia anterior inteiro, os três dormiram profundamente. Na nova manhã, Marta foi a "primeira" a acordar, como de costume.

"Hoje é dia de fazer compras..."

Ao passar pela cozinha, seu olhar pousou no calendário pendurado na geladeira. Suspirou, meio entediada, e foi até o rack da televisão na sala. Viu sua blusa favorita largada sobre o sofá e murmurou consigo mesma:

— Nossa, estou ficando esquecida das coisas.

Pegou a peça e a vestiu, sentindo-se um pouco mais arrumada para sair. Abriu algumas gavetas no rack e retirou uma sacolinha verde-escura onde guardava o dinheiro. Começou a contar algumas notas de dois e cinco reais, juntando também um punhado de moedas.

"Acho que dá..."

Enquanto isso...

— OOOAAAAAaah... — bocejou de forma arrastada e preguiçosa, no tempo que se espreguiçava de olhos fechados.

— Ond...

— AAAHH!

Os gêmeos surgiram ali, em pé na sua frente, observando-a atentamente.

— Que susto! — exclamou, colocando a mão no peito. — Querem me matar?!

— Desculpa.

— Desculpa.

Curvaram a cabeça ao mesmo tempo, suas vozes unidas se misturando em uma sintonia única.

— ...Onde a senhora está indo? — perguntou Nino, inclinando ligeiramente a cabeça para o lado, como um gato curioso.

— Vou à cidade rapidinho.

— Deixa a gente ir, por favor... — pediu Nino com um olhar de coitadinho, que sabia ser difícil de resistir.

— Não — mas Marta resistiu e respondeu de forma seca. No entanto, os gêmeos não desistiram.

— Por favor... A gente nunca foi. — Nino intensificou seu olhar, os olhos esbugalhados.

— Você disse que quando aprendêssemos a esconder a marca, nos levaria — lembrou Nina, cruzando os braços em desafio.

Marta estreitou os olhos, os encarando com desconfiança.

"É sério isso?" — Harrff... — suspirou derrotada. — Tá bom. Vão trocar esses trapos. Vou levá-los, mas ouçam bem: se saírem de perto de mim, eu nunca mais vou levá-los.

— Tá bom!

Felizes, os dois correram para o quarto, passando como um furacão. Vestiram suas roupas pretas semelhantes às que faziam com seu sangue, mas aquelas eram em um preto bem menos intenso que seus cabelos e sangue; eram peças normais que Marta havia comprado de presente na cidade há algum tempo.

Menos de um minuto depois, surgiram ao lado dela, prontos, com medo de demorarem demais e ela ir sozinha.

— Já?

— Uhum! Uhum!

— Uhum! Uhum!

Responderam os dois em uníssono, balançando a cabeça freneticamente.

Marta riu.

— Não falem com ninguém. Tentem chamar o menos de atenção possível e, mais uma vez, não saiam de perto de mim. Entenderam?

— Sim, vovó.

— Sim, vovó.

— Então vamos.


Enquanto caminhavam pela MG-238, os gêmeos mal conseguiam conter a animação. Nino à direita e Nina à esquerda seguravam as mãos de Marta, pulando e balançando de euforia.

— De onde vocês tiram tanta energia? — perguntou Marta, rindo e acelerando o passo para acompanhá-los.

Os dois riram e responderam juntos:

— Vamos pra cidade!

— Vamos pra cidade!


Passando pela ponte, avistaram o posto de gasolina e, mais adiante, as primeiras construções da cidade. À medida que avançavam pela R. Ponto Nova, notaram crianças saindo de suas casas, todas vestindo a mesma blusa azul-escura.

Os dois já não seguravam mais as mãos dela, cansaram a velha e agora seguravam no vestido, os bracinhos erguidos.

— Vovó? — chamou Nino, olhando para ela com curiosidade.

— Oi, Nino?

— Por que eles estão com roupas iguais?

— Estão indo para a escola.

— O que é isso?

— ...Um lugar onde as crianças aprendem matemática, português... essas coisas que eu ensino a vocês em casa. Só que eu ensino bem melhor, diga-se de passagem — respondeu com um olhar de deboche, voltado para a rua.

Nina observou as crianças ao longe, intrigada.

— Parecem legais... Podemos i...

— Não — a avó a cortou friamente antes que terminasse.

— Mas você nem escutou o que eu ia falar!

— Mas eu sei exatamente o que você ia dizer.

Nina ficou brava, mas preferiu manter o silêncio, cruzando os braços e apertando os lábios, resignada.

Marta olhou para eles por um momento.

"Espero que essa ideia de cidade não fique na cabeça deles por muito tempo..."


Depois de caminhar mais um pouco, viraram à direita na R. Prof. José Réis. O destino de Marta era no fim da rua: uma pequena mercearia e armazém com vista direta para a casinha do lago.

A entrada foi rápida e discreta, e Marta foi objetiva com o que precisava.

— Segurem essas duas cestas pra vovó — disse em tom baixo, quase um sussurro.

Os gêmeos balançaram a cabeça em silêncio, obedecendo, enquanto a seguiam pelos corredores, atentos a tudo ao redor.

"O arroz acabou. Carne não irá precisar por um bom tempo. Biscoito pra comerem de manhã. Café. Asssçu...carr...? Tem lá? Marta, Marta... sua cabeça não está boa... Macarrão parafuso? Nunca comeram, né? Vou fazer! Molho de tomate para acompanhááarrr... Temperos lá tem... eu acho. Carne moída eu peço que triturem um bife do bicho lá e é sucesso. Hum... Um queijo! Vou pegar nos frios."

A lista mental ia se formando e resolvendo rapidamente enquanto Marta enchia as cestas, com o que pensava ser suficiente para manter o mês, não gastando muito. Já no caixa, os gêmeos se posicionaram estrategicamente atrás dela.

Nina, com a mão direita erguida, segurava sua blusa vinho, puxando levemente para baixo, encolhida e quieta, enquanto Nino olhava ao redor com curiosidade.

Foi nesse momento que algo chamou sua atenção.

"Vem um brinde?"

Os pacotes chamativos de salgadinhos brilhavam sob a luz do mercado. Sem pensar muito, usou seu sangue, escondido de todos, para pegar um pacote e absorvê-lo sob sua blusa, invisível aos olhos alheios.



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