Volume 1 – Arco 1
Capítulo 18: Desde o Primeiro Dia
As horas se arrastaram, e Louis, exausto, se encontrou desabado em frente ao computador. O escritório continuava cheio de papéis não lidos. Na tela, vários e-mails: relatórios sobre pagamentos, a distribuição de verba nas escolas da ADEDA, contratos que precisavam de sua análise, pedidos para matricular alunos na escola de São Paulo. Nada disso foi tocado. Nada foi feito. Não trabalhou naquele dia, ignorou tudo e simplesmente adormeceu.
A noite chegou sem que sequer percebesse. Alguns professores, ao entrarem em seu escritório, encontraram-no em seu estado de exaustão. A expressão de cansaço profundo ainda estampava seu rosto. Era raro vê-lo assim. Ninguém ousou acordá-lo. Preferiram deixá-lo descansar e resolver tudo no dia seguinte, deixando os papéis acumulados dentro da sala.
A escola já estava vazia, apenas ele e Alissa permaneciam nos escritórios. A exterminadora, em sua sala particular, mergulhada em seus próprios estudos, sentia-se em outra dimensão enquanto devorava livros, com o silêncio absoluto que todos lhe davam, pelo medo que tinham até de passar em frente à porta de sua sala, temendo que o menor ruído custasse suas vidas.
Brrr! Brrr!
Louis acordou abruptamente, assustado pela vibração do celular. O som do aparelho parecia vir de longe, e ele levou um momento para entender o que estava acontecendo. Quando percebeu a cosquinha em seu bolso, pegou o celular e olhou a tela, ainda embaçada pela sonolência.
— O quê? — resmungou, a voz arrastada, ainda se recuperando do sono. — Harrff... Boa noite, em que posso ajudar?
— Senhor Louis, aqui é o médico do hospital. Sou o mesmo que conversou com o senhor mais cedo.
Louis espreguiçou-se na cadeira, tentando afastar o torpor.
— Ah, pensei que fosse alguma denúncia de anomalia... Aconteceu algo, doutor?
— Katherine conversou com os enfermeiros.
— ...Ela já está melhor?
— Sim, se recuperou rapidamente. Ficará com alguns pontos no pulso por um tempo, mas não é nada grave.
— Entendi. Posso ir buscá-la?
— O quê?
Louis franziu o cenho, sem entender a surpresa na voz do médico.
— Não é para isso que ligou?
— Bem, eu queria comentar sobre o que ela disse...
O exterminador permaneceu em silêncio por um instante, já sentindo um aperto no peito. Sabia que a conversa o jogaria no inferno mais uma vez, levando-o de volta ao pesadelo de sua vida, que o sono da tarde conseguiu fazê-lo esquecer.
— Eu já disse que não fiz nada. Imagino que ela tenha dito o mesmo.
— ...Sim. Nos disse que se feriu com uma faca sem querer. Caiu e a faca perfurou o pulso. Ela não sabia que retirar a faca pioraria a situação, e isso resultou no desmaio.
Louis fechou os olhos por um momento, a mente se voltando para Alissa e o que ela havia dito. "Alissa continua sempre certa. Katherine já está com aquilo em mente... Já não me resta escapatórias..." — Perguntou sobre nossa relação? — questionou, sentindo a tensão se acumular.
— Sim... Ela confirmou a história de que moram juntos desde o incidente em Belo Horizonte. Eeh... Como disse sobre isso sem eu nem citar que você havia comentado, acreditei na história. Ela disse que vê você como um irmão mais velho e que você a trata como uma irmã mais nova. Ainda assim, não me parece certo um homem de 28 anos morar com uma garota de 12, mas, se a família dela permite... quem sou eu para julgar?
Louis respirou fundo, tentando manter a compostura.
— Entendo... Posso buscá-la?
— Sim, ela já está liberada. Pode ir buscá-la na recepção.
— Ok, obrigado por salvar a vida da minha irmãzinha. — A voz de Louis saiu estranha, distante.
O médico percebeu, mas apenas respondeu normalmente:
— ...É o meu trabalho.
Louis desligou o telefone com um gesto brusco...
— Harrff...
Guardou o celular no bolso e levantou-se, seu corpo ainda pesado pela exaustão.
Clap!
Apareceu na recepção. Quando ela o viu, um sorriso se formou em seu rosto, mas Louis não devolveu o gesto. Apenas ergueu as mãos, um gesto vazio de qualquer emoção.
Clap!
O ambiente mudou rapidamente. Estavam agora no apartamento.
— Oii!
— ...Você está bem? — Louis perguntou, a preocupação visível em sua voz, mas o olhar distante.
— Acho que sim — respondeu, mantendo o sorriso alegre, como se tudo estivesse bem. Mas Louis não compartilhou do mesmo sentimento.
Paff
Sentou-se na cama ao lado dela, vendo-a em pé, direcionada para ele, sentindo o peso da situação.
— Deixa eu ver seu machucado.
Katherine se aproximou dele, e, sem hesitar, Louis a segurou pela cintura e a colocou sentada em seu colo. A ação foi rápida, mas controlada. Ao olhar para o rosto dela, percebeu a expectativa em seus olhos.
— Hum? — A menina ergueu o rosto, seus olhos brilhando.
— Fiquei muito preocupado... — murmurou, a voz rouca, lutando com o que sentia. — Prometa que nunca mais fará isso.
— Você gosta de mim? — perguntou, a inocência nas palavras e no olhar. Mas a resposta de Louis foi firme... embora atrasada.
— ...Sim.
Os olhos dela se abriram amplamente, nunca havia escutado aquilo. Seu coração se confortou, seu ser se sentiu satisfeito.
— V-você me ama?
— ...Sim.
— Então... m-me prove! — O pedido saiu de seus lábios como uma súplica, um pedido silencioso e impiedoso.
Louis, com um olhar vazio, abaixou seu rosto até o dela.
Mwa!
Os lábios se encontraram em um beijo suave, um selinho lento. Katherine, sem saber como reagir, permaneceu paralisada, os olhos arregalados em todo o momento.
Não conseguia desviar o olhar, não conseguia parar de admirá-lo. Sentia-se validada. Mas, para Louis, não havia nada de romântico, nada de verdadeiro naquilo. A abraçou forte em seu colo, escondendo seu rosto ao lado do dela, pressionando-a contra si, para sentir seu pênis, tentando agradá-la no possível após tantas tentativas frustradas de seduzi-lo.
Ao mesmo tempo do tom erótico no gesto, queria transmitir segurança, queria mostrar que ainda se importava. Mas, ao mesmo tempo, suas palavras vazias estavam carregadas de um tom sombrio, uma manipulação que tentou para fugir daquela situação, apelando para as vontades sexuais da garota:
— Prometa que nunca mais tentará fazer isso...
Katherine hesitou, seus olhos ainda brilhando com um desejo insaciável, sentindo-o a abraçar, seu rosto empoleirado no ombro do homem que jurou ter para si.
— Ma-m-mas... e-eu não posso prometer isso! — Sua voz tremia, mas a intenção era clara.
Louis fechou os olhos, a expressão no rosto se tornando um vazio doloroso.
"Eu sabia..." pensou, seu coração apertado.
A resposta dela, embora não fosse exatamente o que Alissa havia dito, tinha o mesmo peso.
Katherine não queria mudar. Nem mesmo sabia como tratar sua obsessão doentia. E, assim como Alissa, Louis sabia que a única maneira de mantê-la viva era aceitar viver essa mentira.
"Escolhi ser triste para mantê-la viva... Sabia disso desde o primeiro dia..."