Volume 1 – Arco 1
Capítulo 16: Escolhas
Louis ergueu a cabeça e olhou para a porta.
Uma garota o fixava com seus olhos azuis penetrantes, queria arrancar algo dele. Seu olhar desdenhoso e intensamente frio não deixava espaço para dúvidas sobre sua opinião a respeito do exterminador.
Sua pele clara ficava ainda mais pálida diante da intensidade de seu olhar, que contrastava com o cabelo branco, curto, que não passava dos ombros. Uma franja bem alinhada cobria parcialmente sua testa, adicionando um contraste... o literal oposto de Katherine.
Se vestia de forma simples: um short, uma regata branca, mas o sobretudo prata que usava a tornava ainda mais imponente. No tecido do sobretudo, na altura do peito, estavam as inscrições: "Alissa" "12" "2" "S" "S".
— Não me faça perguntar mais uma vez.
Louis sentiu a pressão daquelas palavras como um golpe direto. Desviou o olhar de Alissa, seu corpo reagindo instintivamente à ameaça silenciosa que ela representava, mas a dor de sua própria situação não deixava espaço para se esconder.
— ...Está no hospital — respondeu, sua voz vazia e sem emoção, como se falasse de algo distante. Mas Alissa não ficou satisfeita. Não tinha paciência para respostas mornas.
— O que aconteceu?
O homem hesitou por um momento, as palavras pesadas em sua boca, mas a verdade era a única coisa que podia dizer:
— ...Tentou se matar, ontem à noite.
Os olhos da garota brilharam com um interesse frio, degustando lentamente a notícia, e a temendo ao mesmo tempo.
— Acreditaram na sua história?
Louis sentiu um peso na garganta. Olhava para o vazio à sua frente, enquanto Alissa ainda permanecia em seu campo de visão, mas muito desfocada.
— Nem consegui dizer. Acham que eu fiz aquilo. Acham que eu abusava dela. Me ameaçaram. Disseram que irão me denunciar se ela acordar e contar qualquer coisa que envolva eu tocá-la.
O silêncio de Alissa era implacável. Esperava por mais... Queria ouvir mais... Sua expressão permanecia inexpressiva, um reflexo de quem já havia se acostumado com o sofrimento alheio, mas não demonstrava compaixão... não por ele.
— Você fez algo?
A pergunta cortou o ar, mais direta e incisiva do que qualquer acusação. Louis desviou o olhar mais uma vez, sua mente turvada pela frustração e impotência.
— Não. Sempre deixei claro o limite. Mas ela sempre insiste e ameaça se suicidar, enquanto chora e faz pirraça... drama. Eu, com medo, a abraçava, fazia cafuné, beijava sua testa... Tentava tratá-la como uma criança de fato, embora soubesse que gostava de mim de outra forma. Mas ontem, quando começou, eu ignorei. Achei que ela não seria capaz de tentar, e por conta disso, foi parar no hospital... quando entrei no quarto e a vi desmaiada com o pulso cortado.
A exterminadora o observava sem mover um músculo. Seu olhar não havia mudado, e suas palavras, quando vieram, eram cortantes, uma lâmina invisível extremamente afiada.
— O que pretende fazer?
Louis a olhou com a mesma expressão cansada, como se tivesse sido tirado de um pesadelo e jogado em outro. Alissa não media palavras, não se importava se machucaria ou não. A jovem o encarava com o mesmo olhar calculista, sem qualquer sinal de empatia ou compaixão.
— O quê?
— Não acho que morreria com um simples corte no pulso. Katherine é fraca, mas se isso a parar por mais de um dia, aposente-se. Ser exterminadora não é o seu lugar.
A frieza nas palavras era imensa. Louis, em sua agonia, sentiu um calafrio percorrer todo o corpo, sentia medo, mas ainda assim, tentou questioná-la:
— Não acha que essas palavras são duras demais?
— Te fiz uma pergunta. Irá demorar quanto tempo para me responder?
O homem sentiu o sangue ferver. Havia algo muito desconcertante no comportamento de Alissa, algo que lembrava o desdém e o controle implacável de Mirlim. Da mesma forma, iguais. A garota não se importava com o sofrimento dele. Só queria respostas.
— Tsc... — Louis desviou o olhar mais uma vez, sua expressão agora carregada de frustração. — Mirlim criou um monstro. Sabia que aquela garota não deveria ter sido sua responsável.
— Quer que eu ligue e avise ela do erro?
O homem se desesperou levemente com a ideia e, na tentativa anterior de mudar de assunto, comentou de forma descontraída, mas o que recebeu foi uma morte encomendada.
— ...Não. Capaz dela pegar o primeiro avião e vir tentar me matar.
Alissa soltou uma risada curta, forçada e desdenhosa.
— Aham, chega de piada. Você não sabe o que fazer, não é?
Louis, finalmente perdendo o controle, soltou um grito de frustração:
— Não, não sei o que fazer! — abaixou a cabeça, seus dedos se apertando contra o rosto. Queria se esconder do mundo, queria arrancar a carne de sua face com as mãos para ver se a dor física ao menos diminuiria a dor mental.
— Abaixe seu tom ao falar comigo. — A voz da garota destruiu o ar, sombria e agressiva. O ambiente ficou denso, literalmente pesado e difícil de respirar. Alissa ficou irritada. Irritada de verdade. O encarava com olhos implacáveis, o rosto empinado, o olhar carregado de desdém.
Seu comportamento era um reflexo direto de Mirlim, que não aceitava nenhum tipo de desrespeito, embora ambas, frequentemente, cometessem esse erro com os outros.
O que Alissa exigiu era simples, e Louis sabia disso: quem tinha poder, tinha tudo. E quem ousaria desafiar a pessoa mais forte do mundo? Ele sabia, com a mesma clareza com que sabia respirar, que peitar Mirlim era uma sentença de morte. E Alissa seguia a mesma lógica.
— Estou muito estressado. Me desculpe. — Não teve coragem de olhar para ela enquanto se desculpava, sua voz mais suave, mas a dor e o cansaço eram evidentes. Tentava se controlar, mas a tempestade dentro dele não cessava.
— Quando ela sai?
— Não sei. Me disseram que ela está no soro, talvez amanhã, talvez depois. Depende de pessoa para pessoa.
A menina não se interessava por respostas vagas, mas sabia que Louis não tinha respostas melhores para dar.
— Ela vai fazer pior da próxima vez. Para ser sincera, sua vida acabou.
Aquelas palavras caíram sobre ele como uma chuva de granizo, metralhando sua carne. Louis já sabia disso, mas ouvi-las de Alissa tinha uma sensação muito mais crua. A menina o observava com uma expressão que ele não conseguia interpretar — fria, calculista, sabia que aquele homem foi condenado desde o momento em que entrou naquele jogo.
— Eu sei disso.
— Existe algumas opções, ao meu ver.
— Ela contar mentiras para eles, achando que isso me obrigará a namorá-la?
— Essa é uma. Katherine está doente, uma doença cega. Mas acho que não irá fazer isso. Não vai inventar nada. Ela vai assumir a culpa e te colocar na coleira.
Louis ergueu o olhar, os olhos cheios de confusão.
— Como assim?
Alissa, com um sorriso sádico, parecia adorar o desespero que ele sentia. E Louis percebeu isso, de certo modo.
"Por você me odeia?" Não teve coragem de vocalizar seu pensamento.
— Ela não vai contar para eles, mas se você não aceitá-la, vai contar. Quando ela perceber a preocupação de todos em saber o que realmente aconteceu, o lado dela, Katherine vai perceber que tem o poder de acabar com sua vida. E isso será sua moeda de troca. Ou você a ama de verdade, ou perde tudo com uma acusação falsa. Ela é uma menina de família importante. Acha que vão pensar duas vezes antes de, sei lá, me mandarem ir atrás de você, se fugir?
Louis sentiu o peso das palavras, uma pressão brutal se somando a todas as outras em sua mente.
— Tsc... "Já me ameaça quase todos os dias..." Cerrou os dentes, momentaneamente. — Você me prenderia?
Alissa soltou uma risada curta, cheia de desdém.
— Acha mesmo que eu iria executar um pedido do meu pai?
— Você já faz isso.
A exterminadora o olhou com um sorriso torto, antes de responder com um tom irônico:
— Claro, vou deixar uma Calamidade destruir uma cidade porque eu odeio ele? — O deboche estava claro em sua voz, um toque de leve grosseria no ar. Para ela, tudo era apenas um jogo entediante, desde desobedecer ao pai até ajudar o futuro da vida do homem à sua frente.
— ...Realmente.
Louis a observou com uma expressão inexpressiva e, logo em seguida, Alissa comentou em tom brincalhão, para agravar a destruição na mente do líder do primeiro esquadrão:
— Sinceramente, boa sorte em sua decisão. Viver uma mentira ao lado dela, para conseguir mantê-la viva, ser livre e acabar resultando em uma possível tentativa bem-sucedida de suicídio, ou ser preso em uma cela como um rato para experimentos...
O líder sentiu que o destino já havia decidido por ele.
— Harrff... — suspirou pesadamente. Fazer isso foi a única coisa que pensou que poderia aliviar o peso esmagador que sentia.
— Se aparecer alguma ameaça problemática, não me ligue, não quero ouvir sua voz. Apenas mande mensagens rápidas e eu irei entender. Estarei estudando no meu escritório, não me interrompa e nem mande ninguém até lá. Quero silêncio, e apenas isso.
Com um último olhar de desprezo, Alissa se virou e começou a caminhar pelo corredor. Louis, em um estado de angústia, murmurou, sua voz quase inaudível:
— ...Pode deixar. — Mas Alissa já estava longe, seus passos despreocupados ecoando pelo corredor da sala deixada com a porta aberta, enquanto o exterminador ficava sozinho, com o peso da decisão que... nem mesmo precisava tomar... mais.