Dançando com a Morte Brasileira

Autor(a): Dênis Vanconcelos


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 12: Governo Federal

A anomalia se estabilizou após a quarta árvore destruída e, se contorcendo em um movimento grotesco, sua perna reagiu como se larvas corressem sob sua carne derretida. Ergueu-se, com um sorriso nojento estampado no rosto, empunhando seu machado com uma precisão anômala.

Nino, por outro lado, apareceu diante dele, seu olhar implacável fixo na criatura. O Tibungue desceu com sua lâmina flamejante em direção ao garoto.

BRROOOM!

Uma onda de destruição varreu o chão, criando uma trilha de chamas que se estendia por mais de 30 metros e penetrava a terra até cinco metros de profundidade. A explosão reverberou pelo ar, e Nina sentiu a magia antes que o poder efetivasse a destruição.

Sem hesitar, foi obrigada a reagir. O poder vinha na direção da vovó. Rapidamente pegou Marta e o balde com o material de pesca, desviando da investida com uma agilidade impressionante.

Marta se assustou, não com o som ensurdecedor ou a magnitude da magia, mas sim com a rapidez e força de Nina, que a segurou como se não fosse nada.

Nino, ágil, desviou com facilidade do golpe, dando um leve salto à esquerda e imediatamente avançando novamente para enfrentar a criatura. O Tibungue tentou golpeá-lo com seu machado, mas Nino, sem mover um músculo, apenas olhou nos profundos olhos escuros da anomalia.

Plo-Ploch!

Do solo, duas lanças de pedra emergiram, penetrando com violência nos braços da criatura e a imobilizando temporariamente. Aproveitando a brecha, BAAM! o Primordial saltou e desferiu um soco poderoso no peito do Tibungue.

C-crunch!

O impacto foi tão forte que arrancou os braços da criatura, ficando travados nas lanças, enquanto o corpo voava. Mas, antes que tocassem o solo, os membros regeneraram-se instantaneamente.

Nino, agora com uma espada nas mãos, avançou novamente. Sccrrrchh... A anomalia se estabilizou em sua única perna e, com um gesto grotesco, moldou seu braço direito, derretendo-o de forma nojenta em uma espada de carne maior que a do próprio Primordial.

Não perdeu tempo e avançou no encontro do garoto. O tempo se reduziu em suas mentes, os dois próximos, o início de cada ataque, olho no olho, dente por dente.

Shk!

Atacaram... e... O Tibungue conseguiu ser mais rápido.

Com um golpe impiedoso, cortou Nino ao meio... ou pelo menos achou que sim.

O corpo do garoto desapareceu da frente da criatura, deixando para trás um clone que se desfez rapidamente em fumaça preta. O verdadeiro Nino surgiu nas costas da anomalia, seu verdadeiro corte já em movimento.

Shk!

O Tibungue se virou com um reflexo ainda mais rápido, mas já era tarde. O braço direito da criatura foi cortado com precisão. Mesmo regenerado quase que instantaneamente, Nino não parou.

O Primordial não empunhava mais uma espada, não precisava, suas unhas pretas se tornaram garras, e Nino avançou como se fosse um selvagem.

Ploch!

Saltou e enfiou sua mão no peito da anomalia, BUM! Derrubando-a brutalmente no chão.

Scrrrrechh!

Não teve piedade. Apenas começou a rasgá-la inteira sem pena, Rrrssscrrrchh! Mantendo seu olhar fixo, não piscava, apenas via a anomalia reagindo à dor, tentando se levantar, tentando golpeá-lo para sair de baixo da criança, mas não conseguia.

BAM!-BAM!

Desferia socos no crânio, destroçando-o inteiramente. Rasgava todo o peito, arrancava os braços como se estivesse puxando uma folha de um caderno, e aquele ser não parava de se regenerar tentando sobreviver.

O olhar do Primordial era um ponto, nada o fazia piscar, nada o faria parar. Apenas queria fazer o ser que colocou a vovó em perigo sofrer.

Mas... passaram-se alguns segundos da tortura e Nino se cansou da brincadeira. O prazer em rasgar aquela carne já havia passado. O desprezo, a ponto de nem se dar o luxo de querer torturá-lo por entretenimento, tomou sua mente.

Aquele ser não merecia mais sua atenção. Não merecia sua benevolência de dar a ele uma função para aquela vida patética: ser um brinquedo até a morte do Primordial Preto.

Um intervalo de um segundo foi dado. O Tibungue regenerou a cabeça mais uma vez, desesperado. Finalmente conseguiu levantar a visão, seus olhos conseguiram mostrar algo além do nada de sua cabeça estraçalhada, e viu Nino se preparando para o golpe final.

O olhar da criatura se encheu de desespero, quase um pedido de socorro. Mas Nino não demonstrava nenhum sinal de compaixão.

Ploch!

Mergulhou a mão no peito do inseto com precisão brutal, procurando o coração.

Rrrssccrh!

Arrancou-o do peito, dilacerando os tendões, e olhando para o olho da anomalia que demonstrava um olhar implorando por piedade, Crunch! Nino esmagou, eliminando a ameaça Ruína de forma definitiva.

Olhava-a com nojo, repulsa de sujar sua mão com um sangue tão viscoso. Porém... ainda irritado pelo ataque à vovó...

BRAMCH!

Deu um último soco na cabeça, destruindo-a como antes, mas agora... aquele ser nojento não podia mais regenerar.

O Primordial se levantou lentamente e olhou para trás. Nina se aproximava, segurando a mão de Marta, ajudando-a a manter a estabilidade. Quando Nino viu o rosto da avó, lágrimas brotaram em seus olhos e, com a voz trêmula e quase em choro, disse:

— E-e-ele ia machucar v-você, p-por isso matei!

Marta, ainda tonta e assustada, se aproximou dele e se ajoelhou, dando-lhe um abraço firme e reconfortante.

— Tá tudo bem... Tá tudo bem... Calma... Não estou brava, obrigada. Não entenda errado, essa coisa era má, queria fazer o mal. Nino... Nina...

Nina, de pé, a olhava, e quando foi chamada, percebeu Marta virando o rosto para ela, estendendo o braço. A Primordial então foi até a vovó e se juntou ao abraço aconchegante, enquanto Marta continuava com um semblante carinhoso e preocupado.

— Vocês dois... Fizeram o certo. Me protegeram, pois sou mais fraca. Quando verem pessoas precisando de ajuda, pessoas sofrendo ao seu redor... ajudem... ajudem. Protejam os outros, seus amigos, protejam as pessoas a quem vocês se importam... "Eu não estarei aqui para sempre... Vocês, um dia, precisarão seguir essa vida sozinhos..."

Marta queria ter dito tudo em voz alta, mas novamente não conseguiu. As lágrimas ainda caíam, mas continuou com uma voz suave e sincera.

— Vamos embora, foi um barulho muito alto... Uma destruição muito feia... Alguém deve ter escutado. Talvez venham aqui, ou apenas denunciaram as autoridades... Precisamos nos preparar. Por favor, sempre que eu mandar vocês ficarem quietinhos no quarto, escondidos, fiquem. Não saiam... não importa o que aconteça, não saiam. Me escutaram?

— Sim, vovó.

— Uhum...

— Vamos.

Marta se ergueu, indo pegar seu balde.

— Pode deixar que eu levo — disse Nina, erguendo o balde para ela, enquanto Nino pegava a bolsa de equipamentos e a vara.

A luta aconteceu em menos de 50 metros da casa de Marta, e a destruição era notória, mesmo de noite. O que Marta pensou, de fato, ocorreu: pessoas da cidade escutaram um barulho alto e, sem pensarem duas vezes, ligaram para a ADEDA.

Mas, um problema maior aconteceu: um carro passava pela BR quando a luta teve início. Curioso, o motorista parou e espiou um pouco. Não viu a marca dos gêmeos, e, mesmo se tivesse visto, tanto a marca quanto a arma de sangue com nitidez, não saberia do que se tratava.

As informações mais "precisas" sobre a Calamidade 4, Espada Negra, eram um segredo de estado. Poucos tinham as pouquíssimas informações adquiridas no dia do massacre. Muitos sabiam o que ocorreu, viram a matéria no dia, mas além do pouco mostrado na TV, só o governo brasileiro tinha algumas imagens do dia.

Entretanto, este homem também se juntou às várias ligações realizadas à ADEDA naquela noite, e, diferente de todas as outras pessoas, sua denúncia dizia: "Duas crianças mataram uma anomalia."


Chegaram em casa, e Marta abriu a geladeira. Com o congelador cheio de gelo, não seria suficiente para guardar todo o peixe.

— Nino, consegue tirar esse gelo?

Nino olhou para a geladeira, criou uma lâmina de sangue e dela emanou chamas escuras, que derreteram o gelo ao mesmo tempo em que o evaporavam, deixando o congelador com o espaço máximo, além de evitar descongelar as últimas três unidades de linguiça que comeriam no dia seguinte.

Enquanto Marta organizava tudo com cuidado, tendo que deixar alguns peixes na geladeira, pois ainda assim o congelador não teria espaço, pensou rapidamente, analisando a situação:

"Alguém com certeza virá. Se eu cozinhar e chegarem aqui com eu sozinha fritando tantos peixes, seria estranho. Podem achar que não estou sozinha, e não posso deixar que os vejam... não posso..." Rapidamente se recompôs, tentando manter a calma. — Gente, vocês estão com fome?

— Não muito. Comemos jabuticaba de tarde! — exclamou Nina.

— Hoje não vou poder fazer janta. — Com um leve susto em paranoia, achando que já estavam vindo, viu um vulto passar na sala e olhou. Com a visão do ambiente, lembrou do berço. — Preciso que escondam o berço para mim!

Nina olhou para o lado e foi até a sala, ergueu o berço e o levou para o quarto, escondendo-o com cuidado.

— Nino, fica lá com sua irmã. Vou dormir na sala hoje. Não saiam de lá amanhã. Fiquem quietinhos até eu os chamar. Não importa o que aconteça, não saiam. Me escutou?

Nino piscou duas vezes e confirmou com a cabeça. Marta se curvou e apoiou a mão direita no ombro esquerdo do pequeno.

— Me responda. Me escutou? — Seu tom era sério, sabia como Nino era, e precisava ouvir da boca dele aquilo.

— Sim, vovó.

— Vai lá.

O soltou, e Nino se dirigiu até o quarto.

Marta amarrou um barbante na porta da sala. Mesmo que não fosse capaz de segurar nada contra forças externas, ainda assim, era uma proteção extra, para ao menos manter a porta fechada, sem que um vento forte a abrisse.

— Por favor... Não venham — murmurou.

Apagou as luzes e sentou-se rapidamente em sua cadeira de balanço.

Do lado de fora, o cenário mudava; as coisas ficaram movimentadas. VRuUUu... O som de um caminhão se aproximando ecoou à distância. Quando parou, mesmo estando a bons metros da casa, Marta sentiu o coração apertar.

A luz dos faróis era forte e, mesmo naquela distância e a casa sendo escondida pela mata, a casa recebia uma leve iluminação.

O caminhão não era comum; nele havia algumas coisas escritas na pintura azul-escura: "Limpeza — Associação de Exterminadores de Anomalias", com a assinatura do "Governo Federal".

A ideia de ser descoberta se tornou ainda mais real. Os gêmeos estavam escondidos, mas o que viria agora era imprevisível. Precisava de tempo para pensar em algo. Tempo que Marta não sabia quanto duraria e se, de fato, conseguiria escondê-los naquele dia.



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