Volume 1 – Arco 1
Capítulo 11: Parada Cardíaca
— AaaaAAaAaaaAhh... — Cheia de preguiça, depois de passar a primeira hora sem que um peixe ao menos beliscasse a isca. Com os olhos fechados, seu corpo bamboleava enquanto resmungava sem parar. — Anda, log...
Quando finalmente abriu os olhos, percebeu que o isopor havia sumido.
Seus olhos se fixaram com a precisão de um caçador. Quando viu a linha se mover, Marta não hesitou: Vull! Lançou um golpe brutal para a direita e puxou com toda a sua força, lutando contra a monstruosidade pesada presa em seu anzol.
— Arrrggh!
Com toda a garra que ainda possuía, lutava contra aquele animal.
— Não vou perder pra você!
Seus braços doíam; não era mais aquela jovem pescadora do passado, mas a determinação não a deixava desistir.
Sccrrrchh...
— Não, não, não, não, NÃO! EU VOU GANHAR!
O peixe a puxava com tamanha força que começou a arrastar a terra da margem. Mas Marta, com uma precisão aguçada, afrouxou a linha e deu um passo à frente, deixando o peixe avançar com tudo, confiando que a força do animal o faria se desgastar.
Seu plano... funcionou.
O peixe avançou, mas foi aí que Marta fez um movimento inesperado. Soltou a linha rapidamente, e então, sem piedade, se firmou com a vara mais uma vez. Apoiando-se com todo o seu corpo, lançou um golpe quase perfeito, um ippon com a vara, que fez a força da puxada ser devastadora.
— AAAAAAHHH!!
O peixe, um belo matrinxã de 63 centímetros, foi puxado com violência da água, brilhando em prata sob a luz do sol, balançando freneticamente enquanto aprendia a voar de forma brutal.
Pah!
Bateu com tanta força no chão que quase morreu no mesmo instante.
— Harrff... Haff...
Marta, visivelmente cansada, olhou para o tamanho do peixe e, ao ver sua captura, a exaustão se aliviou, substituída por uma alegria imensa.
— Isso!... Ufa!... Isso! — Pafh... Se sentou no chão por um momento, recuperando o fôlego. — Aaah... Queria umas piranhas fritinhas... Mas pescar com jabuticaba seria pedir demais... — De repente, arregalou os olhos, ao perceber... — Vou usar você!
Erguendo-se, pegou uma velha faca, já cega no meio de seus equipamentos e, com um golpe preciso, Plarssiir! cortou a cabeça do peixe, fazendo iscas para atrair piranhas. Em seguida, voltou a pescar.
A partir daquele momento, a vida ficou mais fácil. Marta sabia o que estava fazendo ao tentar pescar com jabuticaba, mas não imaginava que pegaria um matrinxã tão grande.
A espera valeu a pena, afinal, agora poderia usar o peixe para fazer as porções de piranhas fritas que tanto desejava.
Durante a tarde, o grande peixe foi sendo cortado e cortado, resultando em cada corte, uma piranha nova no balde. Marta mantinha um sorrisão, aquilo era quase um déjà-vu de quando era apenas uma jovem moça.
— Vou encher aquela geladeira... — Uma lágrima escorreu de seus olhos, mas logo a limpou com o braço, usando sua blusa favorita para secar o rostinho.
Percebendo que a noite se aproximava, parou de pescar.
Sssshuaa...
Logo retirou a água do balde para começar a matar e limpar as piranhas. Não demorou muito, pois já havia passado sua faca em uma pedra mais cedo, amolando-a para facilitar o corte no matrinxã. Com isso, apenas fazia um corte rápido na barriga das piranhas.
Abriu, retirou os dejetos, a espinha visível e separou, para voltar rapidamente para casa.
Acabado o trabalho, o balde agora bem mais leve, Marta iniciou toda a caminhada de volta, feliz... muito feliz por ter conseguido um dia tão bom. Seu sorriso meigo não saía do rosto.
— O que eles vão dizer? Parabéns, vovó! Te amo, vovó! Aaaaahh... — Viajava em pensamentos altos, sem perceber o perigo que se aproximava ao seu lado.
Nas árvores, um ser observava em silêncio. Uma anomalia regional de Minas Gerais, uma criatura que já havia sido encontrada e registrada, depois de ser exterminada. Apelidada de "Tibungue", classificada como Ruína 1 na última aparição, era uma visão de puro terror e muito, muuuuito feia.
Com 2,02 metros de altura, seu corpo era uma visão grotesca: apenas uma perna, uma pele avermelhada que se derretia de forma distorcida e repulsiva, braços longos e elásticos, e nenhum vestuário — exceto pelas manchas de pele derretida que ocultavam suas genitais, parecendo pelugem feita de carne retorcida.
Seu rosto, um reflexo do horror, era marcado por dentes pontiagudos e olhos escuros, inexpressivos, eram dominados por uma força inumana. Em meio ao show de horrores, o que mais chamava atenção era a flecha flamejante fincada em sua testa.
Não era uma flecha comum, não foi um ataque disparado por um morador com arco ou balestra — aquilo pertencia a ele, uma extensão de seu ser monstruoso.
Marta, perdida em seus pensamentos sobre como os netos reagiriam quando chegasse em casa, não percebeu a criatura à espreita. Mas, ao descer pela estrada e entrar em direção à sua casa no mato, algo a fez parar... Um brilho na escuridão.
A anomalia continuava à espreita, esperando que ela o visse, para atacá-la. Gostava de caçar assim, brincava de se esconder, e, quando era encontrado, devido ao brilho da flecha no escuro, atacava.
Não gostava de ser visto.
Poucos sabiam, mas, caso acreditasse ou percebesse que estava sendo perseguida pelo Tibungue, o certo era apenas deixar por isso. Não olhar. Não ser curiosa. Apenas ignorar, pois a anomalia iria embora após um tempo, para caçar outra vítima e recomeçar sua brincadeira.
A vovó olhou para o lado. Uma luz intensa, brilhante, se projetava, iluminando um rosto repugnante. Um arrepio percorreu sua espinha. Sem reação, travada pela surpresa e medo, viu a criatura surgir na sua frente, com um movimento assustador: o braço derretido, direito, moldando-se em um machado pontiagudo, vindo diretamente para matá-la.
Com a mente nublada e sem forças, não conseguiu sequer emitir um som. Completamente paralisada, incapaz de fugir. Quando tudo parecia perdido, dois seres entraram na luta.
Nino e Nina, com as roupas normais após terminarem a brincadeira de tarde, apareceram quase instantaneamente à frente de Marta. Nina, com um salto ágil, e Nino, avançando com um movimento baixo e feroz, BRRAM!! desferiram chutes simultâneos, liberando uma onda de ódio e força.
CRA-CRA-CRASH!
A criatura foi arremessada contra árvores, que cederam com o impacto.
Nino não hesitou e avançou imediatamente, enquanto Nina ficou para trás, preocupada com Marta, que havia caído no chão, paralisada e sem reação.
— Vovó?! Vovó?! — gritou, desesperada, ao ver a avó caída, sem muitos movimentos. A vovó respirava de forma agressiva e irregular... não conseguia respirar. Nina não havia entendido, mas sabia que algo estava errado. O medo de perder a avó tomou conta dela.
Marta continuava paralisada, sentindo uma dor esmagadora no peito... Sentia que morreria, mas não conseguia pensar, agir, apenas sentia. Uma parada cardíaca. A pressão em seu coração era forte e dolorosa, seu órgão... parou de funcionar.
— VOVÓ?! VOVÓ?!
O desespero de Nina só aumentava, e sem saber o que fazer, outro ser entrou em cena. Um olho único, de íris preta, se abriu sobre sua marca, conectando-se e controlando sua alma. Seus olhos travaram, e o corpo de Nina teve uma reação brusca, movimentos travados, quase robóticos.
Se agachou e segurou Marta pelo pescoço.
Obrigou-a a abrir a boca e, com seu olhar impiedoso, seus olhos roxos com a mesma intensidade do olhar do olho preto na direção de Marta, derramou sangue de sua palma dentro da vovó. O sangue escorreu e se espalhou por dentro do corpo de Marta, indo diretamente para o coração.
O tempo acabou... A vovó... morreu.
O sangue preto penetrou nas veias da humana, invadindo todo o seu ser. O coração, que havia parado, Thum! Thum! Thum! foi forçado a voltar a bater. A vida retornou, devagar... Cof-cof! Marta tossiu, se recuperando do quase fatal colapso.
A avó finalmente voltou a respirar, seu corpo reagindo.
O olho sumiu do pescoço de Nina, seus movimentos e semblante destravaram. O sangue preto dentro de Marta virou fumaça em 90%, ficando apenas uma pequena quantia, que o "olho" permaneceu controlando para deixá-la estável, com os batimentos controlados, por todo aquele fim de dia.
Nina a olhava com a mesma preocupação, pois não se lembrava de nada do que havia acontecido.
— VOVÓ?! VOVÓ?! — repetiu, a preocupação visível em sua voz.
— N-Nina... Obrigada... Obrigada... — disse, ofegante, ainda em estado de choque.
A pequena, olhando o semblante cansado e levemente aliviado da avó, não compreendia totalmente.
— P-p-por quê? — perguntou, confusa.
— Por me salvar... — respondeu, a voz trêmula.
Com os olhos arregalados, buscando entender, olhava para a avó.
"Mas, o que eu fiz?" Foi a única pergunta que se formou em sua mente, mas não havia palavras para explicá-la.