Volume 1 – Arco 1
Capítulo 10: Roupas de Sangue
De volta à casa, Marta colocou os gêmeos no chão e foi até o fogão verificar a carne. Após notar que cozinhou um pouco, tirou-a da panela e transferiu para a frigideira.
Fricicscics...
Começou a fritar no óleo quente.
Os gêmeos se sentaram à mesa, esperando, enquanto o cheiro apetitoso se espalhava pela cozinha. A vovó abriu a geladeira e teve uma pequena surpresa. Ainda restavam dois ovos na porta. Com cuidado, Tc-tc... Fricicscics... quebrou-os e, em uma frigideira separada, fritou para reforçar o café.
"Uma linguiça só não vai sustentar essas ferinhas a tarde toda... Melhor caprichar."
Quando tudo ficou pronto, montou dois pratos. Sua própria barriga quase roncava em protesto, vazia, sem nada, mas Marta ignorou. Precisava economizar e não se importava em passar fome, contanto que os gêmeos estivessem bem alimentados.
"Quando eu for buscar a vara, pego algumas jabuticabas para enganar o estômago."
Colocou os pratos na mesa, passando as mãos carinhosamente nos cabelos de cada um. Os gêmeos, com os olhos brilhando e sorrisos ansiosos, esperaram pela permissão.
— Podem comer.
Foi o suficiente. Como dois tubarãozinhos, olharam para os pratos, seus dentes extremamente afiados, Tk-tk! e atacaram o alimento com entusiasmo.
— Nhami-Nhami-Nhami!
— Nhami-Nhami-Nhami!
Marta riu baixinho, observando a cena. Não demorou para os pratos ficarem vazios.
— Já vou ir pescar, ok? Nãa fa...
— Não façam tanto barulho brincando.
— Não façam tanto barulho brincando.
Marta parou, surpresa.
— I-isso... E se fo...
— Se forem assistir TV, quando a música do jornal começar, desliguem.
— Se forem assistir TV, quando a música do jornal começar, desliguem.
A vovó cruzou os braços, incrédula, olhando para os dois com um meio sorriso.
— Isso mesmo. Estou indo, tchau!
— Tchau, vovó!
— Tchau, vovó!
Antes dela sair, desceram das cadeiras e correram até a vovó, Thumpf... abraçando-a com força.
"Bobos..." pensou Marta, sorrindo.
Pegando o material de pesca e enchendo um recipiente com jabuticabas, saiu, determinada.
"Só volto com o balde cheio... Não é como se eu tivesse escolha."
Seguiu firme pela BR, com o Rio das Velhas como destino.
Assim que viram Marta se distanciar, correram para a área de lazer, onde pilhas de coisas velhas e ferramentas largadas chamavam sua atenção.
— ÓÓ! — exclamou Nina, seus olhos fixando-se em uma marreta enferrujada.
Com a mão esticada, criou uma versão da marreta cinco vezes maior que seu próprio corpo, formada inteiramente de sangue.
— ÓÓ! — Nino olhava a cena, seus olhos brilhando de empolgação. — Que lega...
Bam!
Antes que terminasse a frase, Nina desferiu uma marretada com força, jogando-o longe como um boneco de pano.
Sccrrrchh...
Nino deslizou na terra, arrastando os pés para se estabilizar. Antes que pudesse reagir, Nina avançou novamente.
Bum!
A marreta esmagou o chão em um golpe vertical, mas Nino aproveitou a brecha no sangue. Não se moveu, percebendo que Nina não havia firmando o sangue o suficiente para impedir que se misturassem. Deixou-se ser acertado, fundindo-se com a marreta.
"Burrona!"
Bam!
Nina escutou o pensamento do irmão, assim como sentiu quando se misturaram, mas a reação foi rápida e o avanço com um soco certeiro no seu rosto a arremessou para trás.
Sccrrrchh...
A irmã se levantou rapidamente e, ao vê-lo avançar, criou uma espada de sangue. Nino fez o mesmo. Ambos atacaram em sincronia, resultando em um duelo de lâminas que não dava espaço para nenhum dos dois recuar ou avançar. Era um empate interminável, Tin-tin-tink! com espadas colidindo sem parar.
Mas então, Nina teve uma ideia diferente.
No instante de mais um impacto, amoleceu sua espada, transformando-a em líquido. A lâmina de Nino passou direto, sem resistência, e, no mesmo momento, a Primordial solidificou sua arma novamente.
Shk!
Nino arregalou os olhos, surpreso, mas era tarde demais. Nina o cortou, decepando seu parte do peito e braço direito.
— Aaaaaaah! — resmungou Nino, bolado, enquanto seu braço regenerava. O pedaço decepado se desfez no chão em fumaça preta.
— Ganhei, seu fraco! — declarou Nina com um sorriso vitorioso.
— Roubando até a vovó ganha! — retrucou Nino, cruzando os braços e virando o rosto com desdém.
— ROUBEI A ONDE?!
Nino abaixou os braços, cerrando os punhos, e respondeu, furioso:
— TALVEZ QUANDO ME BATEU SEM AVISAR QUE TÍNHAMOS COMEÇADO A BRINCAR!
— Fraco! — Nina cruzou os braços e virou o rosto, imitando-o com os olhos fechados.
— Você!
Não aguentando a provocação, se voltou para ele.
— Você!
— VoCÊ!
— VoooCÊ!!
Os dois se encararam de perto, seus olhos faiscando de irritação.
— Eu nasci primeiro, otária.
Nina ergueu uma sobrancelha, desdenhosa.
— O que isso tem a ver, idiota?
— Iiiiiiii, tá com ciúmes? — provocou.
— Harrff... — suspirou, tentando aliviar o estresse. — Acha que fizemos muito barulho?
Nino olhou ao redor, procurando algo que poderiam ter destruído sem perceberem.
— ...Não usamos magi...
BUM!!
Antes que Nino terminasse, sua irmã desferiu um soco imbuído de magia escura que o lançou longe, fazendo as árvores próximas balançarem com o impacto. Nino voou todo regaçado, sua blusa rasgada, e Nina avançou para continuar a brincadeira.
Entretanto, quando o irmão tocou o chão, não avançou de volta, apenas ergueu as palmas, indicando uma trégua.
— Hã? O que foi? — perguntou, confusa.
— Bora usar roupas de sangue. Olha o que tu fez com a minha roupa... — disse, olhando para baixo e vendo o estrago. — Não temos muitas. Quando formos brincar, usamos de sangue, e quando ficarmos em casa, usamos as normais. Assim podemos usar preto também! — finalizou bem animado. — Ao menos um preto mais preto, esse preto humano é muito fraco.
Nina piscou, considerando a ideia.
— Realmente.
Correram para o quarto, arrancaram as roupas, que mais pareciam trapos velhos costurados, e criaram roupas de sangue pela primeira vez. Olharam-se no espelho apoiado no chão, ao lado do guarda-roupa, e começaram a brincar com as novas criações.
Desde os três anos, Nino havia decidido sua roupa preferida, uma blusa e uma calça comprida, enquanto Nina havia criado um short e também uma blusa comprida.
Mas, ao olharem para os pés, perceberam que ainda faltava algo. Caçando no guarda-roupa, procurando por uma referência para criarem, encontraram um par de tênis de Alice. Era branco e preto, com uma marca parecendo um sinal de positivo, e de cano alto.
Seus olhos brilharam com o estilo e, usando o sangue, criaram tênis iguais. Porém, no lugar da marca original, colocaram a marca dos seus pescoços e os calçados eram inteiramente pretos, completando o visual.
Olharam-se no espelho novamente, fazendo poses e brincando, antes de correrem para fora de casa, se afastando um pouco para não destruírem nada.
Frente a frente, a cerca de dez metros de distância, se olhavam com seriedade. As mãos de ambos oscilavam, como se estivessem se preparando para uma disputa no estilo "velho oeste".
Esperando pelo sinal...
Shk!
O sinal veio.
A lâmina, arremessada para cima, finalmente retornou, cravando-se no chão entre os dois.
A luta começou. Ambos avançaram com um soco imbuído de magia escura, colidindo com a força de dois punhos contra o outro.
Boooom!!
Uma gigantesca parede de fumaça surgiu, e o som do impacto ecoou por vários minutos de distância, até se dissipar.
Marta sentiu algo estranho vibrar em seu corpo, seus pelos se arrepiando, e logo fechou os olhos.
— Espero que não estejam se matando mais uma vez... — murmurou para si mesma, sentada em seu balde e cheia de tédio, esperando qualquer sinal de peixe. Qualquer mísero belisco já iria arrancar o beiço do peixe com um puxão lateral. — Haaaarrfff...
Rrrromm!
Sua barriga roncou, e então se lembrou que não comera, apenas levara as jabuticabas.
Olhou para o lado e pegou o recipiente.
Depois de abri-lo, tremendo de fome, pegou uma, Shiiiirp! e a chupou.
— Hmnmn... Docinha! — sorriu, sentindo o doce sabor, já indo para a próxima.