Volume 1

Capítulo 05: Erros

Os membros temporários se dirigiram para uma parte mais afastada do pátio da academia. Essa área, cercada por grades de ferro, imitava uma pequena floresta com um descampado no centro. A leste, havia uma elevação feita de cimento e concreto, onde os demais membros aguardavam para ser chamados para o teste.

— Dois grupos entrarão na arena por partes opostas, um ao norte e outro ao sul... — explicou o oficial, retirando uma luva do bolso e vestindo-a. — O objetivo é simples: restringir seus adversários até não restar nenhum ou até que o tempo de trinta minutos termine. Quem tiver mais membros ativos ao final, vencerá. O resultado contará como nota para a pontuação final. Vocês devem estar se perguntando como farão isso em tão pouco tempo... Restrição!

Ele tocou um de seus colegas com a mão enluvada e, ao proferir a palavra, o instrutor tocado teve o corpo enrijecido, restringindo todos os movimentos e caindo no chão. Segundos depois, o oficial disse “Liberar”, e o parceiro conseguiu se levantar.

— Vocês usarão essas luvas em uma das mãos para proferir esse “feitiço de ordem” — continuou ele, retirando a proteção da mão. — Também poderão escolher uma arma branca entre as disponíveis nas mesas próximas às entradas.

O homem apontou para os tabuleiros na porta norte da área de testes, abarrotados de armas brancas como espadas de vários tamanhos e arcos com flechas. Olhos mais atentos perceberam que os gumes e pontas não estavam devidamente afiados.

— Caso algum de seus parceiros seja restringido... — prosseguiu o guarda — vocês não poderão usar o “liberar” durante a prova. Isso acarretará em desclassificação! A forma como se defenderão ou atacarão ficará a critério de vocês, desde que não ameacem a vida dos adversários. Isso também pode resultar em reprovação. Entendido?

Os primeiros grupos foram orientados a entrar pelas portas dianteira e traseira da arena, enquanto os demais subiram a elevação e se posicionaram próximos à cerca de ferro, de onde tinham visão total do campo de prova. Assim começaram os desafios.

As horas passaram, e o sol da tarde começou a se despedir. Nesse período, apenas dois grupos haviam sido desclassificados por colocarem os adversários em risco ou pelo mau uso da mana. Por sorte, os feridos sofreram apenas lesões leves, mas foram levados à enfermaria. Houve apenas um empate e uma desistência. Alguns oficiais murmuravam que aquelas eram as avaliações mais fáceis dos últimos anos.

Naquele momento, restavam apenas quatro grupos. Um deles era o grupo do Clã Eisfalken. Nate, Lisa e Callum foram chamados à arena para enfrentar os membros do Clã Erdenghule. Ao ouvir o nome de Nate, Haru se inclinou contra o apoio de ferro, observando o teste com mais atenção. O recrutado não pôde deixar de notar a semelhança entre seu grupo e o de Nate: um recrutado, Lisa, um "rear" — nome atribuído aos Grim — e Callum, um arqueiro.

Lisa escolheu duas manoplas de ferro pesado, enquanto Nate optou por duas facas médias. Os adversários pareciam todos lutadores corpo a corpo, com armas alternando entre manoplas, facas de arremesso e espadas curtas. O Falcão Recrutado sussurrou algo para os parceiros e se afastou estrategicamente. Quando a ordem foi dada, cada um se moveu em direções diferentes. A perna do ex-militar Eisfalken não o ajudava a se mover perfeitamente, e os confrontos só começaram de fato após vinte minutos de movimentações entre as partes.

Os Falcões de Gelo pareciam ter vantagem territorial, com o arqueiro se posicionando para cobrir os aliados. No entanto, a imprevisibilidade dos Erdenghule tirou Lisa da batalha por restrição. Ainda assim, ela conseguiu agir segundos antes e retirou seu adversário junto consigo. Nate defendia-se no lado leste. Haru notou sua perna esquerda vacilar.

Callum pediu a Nate que se movimentasse mais, a fim de abrir espaço para as flechas. Isso causou uma distração. Um segundo Ghoul — como eram chamados os membros dos Erdenghule — acertou o recrutado, arremessando o corpo contra seu peito. Haru estreitou os olhos ao notar algo estranho: uma faca perfurou o abdômen do ex-combatente. O ato fez Haru gritar, tomado pela fúria:

— Houve uma infração no lado leste do campo!

N enhum dos instrutores reagiu, o que o levou a gritar mais alto:

— Houve uma INFRAÇÃO no leste do campo!

— A reclamação procede? — perguntou o instrutor principal, um homem com o rosto coberto de cicatrizes.

Os demais negaram.

— Então o teste continua.

— Há um membro sangrando, e vocês vão negar socorro a ele?! — A mão de Grim pousou no peito de Haru, que se preparava para pular a grade.

— Haru, se acalme... — O recrutado quis responder, mas viu os olhos do parceiro e entendeu: Grim também estava se contendo, assim como Laki, que rangia os dentes.

— Contenham seu parceiro ou serão desclassificados.

— Sim, senhor. — respondeu Grim, com tom sério.

Callum, vendo a situação, voltou sua atenção a Nate. O sangue encharcava a mão do colega, que se mantinha de pé, mesmo com os joelhos trêmulos.

— EU ESTOU BEM, CALLUM! NÃO SE PREOCUPE COMIGO! — gritou Nate.

Mesmo ferido, Nate continuou lutando, protegendo a ferida com a mão direita. Mas logo foi restringido. Callum se viu sozinho, olhando o veterano deitado. Sussurrou um “Me desculpe”, ergueu a mão e pediu desistência.

Os oficiais declararam a vitória do Clã Erdenghule. Isso foi o suficiente para que Haru pulasse as escadas e abrisse a grade em um rompante, passando pelos instrutores que se aproximavam lentamente. Ao chegar a Nate, calçou a luva e usou o “Liberar”. Pegou o lenço que Laki havia usado para limpar o próprio sangue semanas antes, procurou uma parte limpa e o pressionou contra a ferida.

— Aguenta firme!

Os olhares dos dois se cruzaram. Nate se assustou com a raiva e preocupação estampadas no rosto de Haru. Tentou dizer algo, mas o cansaço o impediu.

— Um médico! Instrutores!

Callum desceu da árvore e tirou a camisa. Com a ajuda de Haru, improvisaram um curativo. Os médicos demoraram dez minutos a mais que o ideal para chegar. Tempo suficiente para Laki liberar Lisa da restrição. A arqueira correu até Nate, ajudando-o a subir na maca.

Haru virou-se para o primeiro instrutor que encontrou, agarrou-o pelo colarinho com a mão suja de sangue e gritou:

— É disso que vocês se orgulham?! Negar socorro a alguém por julgarem que não o merece? Para quê? Formar uma nação de guerreiros exemplares?!

— É só um pouco do que vocês merecem — respondeu o instrutor com desdém, olhando nos olhos do ex-detento. — Se fosse por mim, seriam todos jogados na boca dos monstros.

Haru ergueu o punho, mas hesitou.

— Não... — abaixou a mão. — Não vou te dar o gosto de me desclassificar.

— Então escolha suas armas. Vocês são os próximos.

A apreensão dos três Dragões deu lugar à raiva. Nenhum deles queria abrir mão de serem condecorados. Apenas Haru se mantinha mais controlado, por seus parceiros. Laki pediu o arco e as flechas de Callum, que seguia com a maca. Pegou também duas facas de arremesso. Grim escolheu um machado, e Haru pegou uma das facas de Nate, prendendo-a na cintura.

Os adversários do Clã Mastella entraram com um ar despreocupado, o que irritou Haru. Laki e Grim se aproximaram do novo parceiro, focando nos inimigos.

— Cobrirei vocês de cima, nas árvores — disse Laki, séria. — Cooperem! O arqueiro deles é meu!

O Clã Mastella era composto por um mago, um arqueiro e um guerreiro. O cavaleiro se posicionou à frente do mago para protegê-lo, enquanto este concentrava mana em sua joia de cetro. O arqueiro inimigo se movimentou como Laki, indo para as árvores.

— Eu vou enfrentar o guerreiro! — disseram Haru e Grim ao mesmo tempo.

— Você tá brincando, né? — retrucou o rear.

—Eu posso enfrentá-lo!

—Não, o mago vai ser mais fácil! — o rear argumentou. —Ele vai manipular a vegetação, você consegue passar por isso!

—O raio de campo dele é maior, e eu não tenho experiência contra magos! — Haru respondeu, correndo para a vegetação junto ao companheiro.

—Vocês dois podem parar de agir como crianças?

Algumas raízes emergiram da terra, forçando Haru a empurrar Grim para que ambos não fossem atingidos. Com mais um salto, o recrutado desviou por pouco da próxima pancada, mas o impacto da aterrissagem foi forte, fazendo-o vacilar. Enquanto ele e seu veterano desviavam de mais vinhas, pilares de pedra se formaram em sua direção, tentando atrapalhar a coordenação dos dois. Ambos ajustaram as luvas nas mãos direitas, buscando brechas no combate — até que flechas começaram a voar em direção a eles.

Seus pensamentos eram constantes e conflituosos, o que os levava a agir de forma parecida. Laki alterou sua rota entre os galhos para cobri-los, visivelmente irritada. Seus olhos percorreram as árvores à esquerda até avistar o outro arqueiro se aproximando. Ela puxou uma das adagas e tentou atingi-lo. Os projéteis passaram por cima das cabeças de Haru e Grim. O arqueiro inimigo trocou golpes de faca com ela enquanto pulavam entre os troncos. Numa finta, ele impulsionou-se e direcionou sua atenção para Grim. Um segundo de atraso foi o bastante para Laki pular e empurrar o parceiro em direção ao recrutado, protegendo ambos. Ela girou apoiando a mão no chão e tocou o arqueiro inimigo ao mesmo tempo que ele a tocava. Ambos gritaram:

—Restrição!

E se paralisaram ao mesmo tempo.

Grim ergueu os olhos ao ver a situação da parceira, desviando de algumas vinhas. Durante uma pausa, esbravejou com Haru:

—Qual é o seu problema?!

—O meu problema?! — Haru o encarou, incrédulo. —O MEU PROBLEMA?!

—Por sua causa, a Laki foi derrotada!

Um bloco de pedra surgiu entre eles. O guerreiro Mastella se aproximou rapidamente, atacando Grim com o machado. Haru acertou um coice no joelho do oponente, enquanto Grim deu uma joelhada no rosto do inimigo.

—Mais um golpe! — ordenou o recrutado.

—Não me diga o que fazer!

Grim se virou, acertando a ponta do cabo do machado na costela do adversário, enquanto Haru se esquivava do fio da lâmina, apoiando-se no chão. O recrutado se posicionou às costas do oponente e ergueu a mão. Ao mesmo tempo, o Dragão rear tocou a costela do inimigo. Ambos gritaram:

—Restrição!

—Pelo menos parece que você tem um cérebro, sua mula! — Haru zombou, apontando para a própria cabeça.

—Isso não muda o que você fez! — Grim pegou o machado do inimigo.

—O que eu fiz? — Haru se aproximou. —Você quer dizer o que nós fizemos!

—Não me envolva nas suas burradas.

—Se a gente não estivesse discutindo desde o começo, a Laki não teria se “sacrificado” pra gente ter uma chance! — Haru puxou Grim pela gola da camisa. —Você quer ser um líder? ENTÃO COMECE ADMITINDO SEUS PRÓPRIOS ERROS!

Grim o empurrou, mas foi interrompido por um tremor no solo, seguido por uma nova raiz surgindo entre os dois. Ambos se afastaram, buscando cobertura atrás de pedras.

—Parece que as salamandras estão com problemas no paraíso... — zombou o mago.

—Não acredito que estou tendo que cooperar com você... — o Dragão negro murmurou, encolhendo-se.

—Se é pra reclamar, reclame com um plano. — Haru respirou fundo, espremendo-se na cobertura.

O Dragão negro analisou o campo de batalha em busca de brechas. Sua experiência contra magos era limitada, mas, ainda assim, ele via uma vantagem.

—Chega aqui, Haru! — chamou, desviando de alguns blocos de pedra e se posicionando próximo ao parceiro. —Está vendo aquele arbusto atrás do mago?

—O que tem? — Haru se encolheu, desviando de mais um ataque.

—Em quanto tempo você chega ali?

—Uns três minutos, eu acho!

—Então vai! — Grim segurou os dois machados e correu para a área aberta. —Se ele me derrotar, só vai pra cima!

Grim saiu da vegetação, cortando algumas raízes no caminho, protegendo o parceiro. Com um pisar firme, formou um escudo de terra à frente, o flanqueou e iniciou sua investida. Mais raízes atacaram, mas ele as cortou com os machados conforme avançava. O mago retirou uma das mãos do cajado, criando uma bola de água que foi lançada como um jato no rosto do rapaz, queimando sua pele. Mesmo assim, Grim continuou. Levava jatos de água nos ombros e no peito como se fossem socos, mas resistiu. Quando chegou ao alcance, ergueu o machado com a mão direita e atacou de cima para baixo.

Para sua surpresa, o cajado do mago bloqueou o golpe, formando um bloco de pedra que o atingiu no estômago, lançando-o ao ar. O mago sorriu, ergueu a mão enluvada e aplicou o feitiço de comando:

—Eu juro que esperava mais de vocês, Dragões... — disse com um sorriso confiante, observando Grim de cima. —Fico feliz em tirá-los do pedestal onde se colocaram.

Ele tocou o chão com o cajado novamente, soltando Grim, que caiu pesadamente. O mago olhou ao redor até ouvir um leve farfalhar vindo do arbusto. Haru surgiu de lá.
"Como eu não senti a mana dele?" — questionou o mago, surpreso. Usou blocos de pedra inclinados para tentar atingi-lo, mas Haru desviava de todos, como se previsse onde eles surgiriam.

Haru havia jogado fora os sapatos antes de se aproximar. Isso o impediu de fazer barulho e, com os pés descalços, sentia a terra se mover, antecipando onde os blocos surgiriam. Seus movimentos eram precisos. Faltavam apenas dez passos para alcançar o mago, mas a distância parecia não diminuir. Com pouca mana, o mago tomou uma decisão desesperada: formou uma pistola de água com a mão esquerda — o tiro perfuraria Haru. Com a outra mão, fez raízes surgirem do chão para se proteger. Para sua surpresa, Haru saltou, desviando das raízes. O mago viu uma chance e ergueu dois blocos de pedra para esmagá-lo.

Ele sentiu algo estranho no vento. Viu de relance um dos pilares e, num reflexo, lançou a faca que Nate havia usado. A lâmina cortou o jato de água, que se desfez ao contato pela falta de mana, e perfurou a palma da mão do mago. Os pilares desaceleraram. Haru abaixou a cabeça, e as pedras se chocaram entre si acima dele.

O recrutado pousou com as mãos no chão e usou o impulso para correr, vendo o inimigo tentar usar o cajado como bastão. Haru acertou socos no estômago e no rosto do mago. Era como bater em uma criança. Finalizou com um chute no peito, jogando-o violentamente contra uma árvore. Agarrou-o pelo pescoço com a mão enluvada e gritou:

—Restrição!

O choque do feitiço fez o mago espumar e desmaiar. Haru ouviu o anúncio da vitória ecoar no campo de batalha, entre sua respiração pesada e o zumbido nos ouvidos. Não queria admitir, mas estava exausto. Procurou por Laki e Grim, querendo libertá-los, mas quando tentou dar um passo, seu corpo cedeu.

Grim o segurou antes que ele caísse no chão, ajoelhando-se junto ao parceiro.

—Calma... — disse, ajustando-o e percebendo que ele ainda estava consciente. —Acabou..

—Nós... — Haru sussurrou, forçando os olhos abertos.

—Nós conseguimos! — Laki correu até eles, jogou-se e os abraçou, sorrindo. —E foi graças a você, Haru!

Com a visão embaçada, Haru olhou para os dois companheiros. Tentou se levantar apoiando-se na perna, mas desmaiou com o rosto sobre o ombro de Grim. Laki se assustou até ouvir o som suave da respiração: ele estava dormindo, e isso a fez sorrir.

Grim o carregou nas costas, com Laki ajudando. As condecorações seriam no dia seguinte, mas o primeiro lugar já estava decidido:

Os Kaiser Drache venceram pela quinta vez consecutiva.

 

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