Volume I
Capítulo 17: Motim e desejo doentio (parte II)
O ar cortante das adagas da assassina era uma melodia mortal. Peppe sentia o cansaço queimar seus músculos, cada bloqueio um esforço hercúleo.
Sua espada era um peso inútil, uma barra de metal que mal servia para se defender. A psicopata de cabelos negros dançava à sua volta, seus olhos azuis preenchidos com um êxtase perverso.
— Por que tanto se esquiva? Me dê o que eu quero! Venha! — ela gritou, sua voz um misto de frustração e prazer antecipado.
Shiiin! Uma lâmina raspou seu braço, deixando um novo fio de sangue escorrer. A dor era aguda, mas o desespero era maior. Ele ouviu Sara gemer de dor mais uma vez, imobilizada no chão. O som de vozes e passos se aproximando do corredor principal significava que o tempo estava se esgotando.
Talvez os marujos já os tivessem percebido.
"É agora ou nunca", pensou Peppe, um plano desesperado e ridículo se formando em sua mente. Se ela queria violência... ele daria, mas do jeito dele.
Ele fingiu uma tropeção, deixando a guarda baixa por uma fração de segundo. Foi uma abertura da qual a assassina, naturalmente, iria se aproveitar. É o que ela fazia, afinal.
Ela investiu como uma víbora, o braço esquerdo estendendo a adaga em um golpe certeiro para o pescoço do rapaz.
Rápido como um raio.
Mas Peppe não estava tentando um bloqueio complexo. Em um ato de puro instinto, ele ignorou a lâmina mortal e se jogou para dentro do golpe. A adaga sibilou perto, mas muito perto mesmo, de seu rosto, só que seu próprio corpo colidiu com o dela, desequilibrando-a levemente.
No caos do impacto, a mão direita, que segurava a espada de forma desajeitada, voou para frente. Não era um golpe de lâmina. Era um movimento bruto, quase um tapa desgovernado.
largou a espada e esticou o braço em forma de "V".
O que ele almejava era se aproximar dela e dar uma espécie de armlock, travando-a. Apesar de não ser um mestre em jiu-jitsu, era uma arte marcial que ele também praticava na Terra. Afinal, era modelo, então tinha muito tempo livre.
Infelizmente, o golpe falhou. A assassina percebeu a aproximação súbita e firmou os pés para trás, afastando-se do aperto.
Talvez por um capricho do destino, ou por pura sorte, sua mão encontrou não acertou o alvo que queria, porém fez algo igualmente eficaz.
Tapf!
Um tapa! Ele abriu a palma da mão e estapeou a face da assassina. Acertou em cheio, com força. Por estarem muito perto, ela não conseguiu desviar.
A bochecha ficou quente, um fiapo de sangue escorreu pelos lábios da linda e delicada assassina.
"Fudeu!", Peppe pensou.
Qualquer um que tivesse sua face estapeada ficaria puto. Não apenas pelo golpe ou pela dor em si, mas sim pelo dano moral que isso causava. Bater na face representava bater na honra. E para mulheres era ainda pior, pois danificava seus lindos rostos.
Era para ser o fim, Peppe sabia. Estava desarmado e acabou de cruzar uma linha perigosa diante de uma formidável assassina. Agora era só esperar para sentir o frio da adaga em seu peito.
Mas o que aconteceu foi diferente.
A assassina não contra-atacou. Um som escapou de sua garganta — um suspiro que se transformou em um gemido profundo e rouco.
Seu corpo, antes tenso como um aço, arqueou-se subitamente contra o dele. Seus olhos azuis, antes cheios de fúria lúdica, rolaram para trás, mostrando o branco. A adaga caiu de sua mão com um ruído metálico no chão de madeira.
— S-sim... — ela ofegou, sua voz um fio de ar. — Isso... Ãn! Isso é tão bom...
Peppe ficou olhando, incrédulo.
Os joelhos da assassina afrouxaram. Ela se ajoelhou perante a ele, ficando com a face extremamente corada em frente à altura de sua cintura.
O corpo todo dela foi tomado por um tremor incontrolável, um espasmo de prazer tão intenso que a consumiu por completo.
— Vamos, faz de novo! — Ela pediu.
Peppe ficou sem entender aquilo. Mas não bobeou.
— Sua vagabunda imunda!
Tapf! Tapf!
Deu logo dois. Aumentando a força, no objetivo de nocauteá-la.
— Ãn! Isso! Mostra pra sua vagabunda, mostra. Dá outro!
Tapf! Outro. E mais outro.
Uma sequência de tapas se seguiu, um mais violento que o outro. A garota se regojizava com cada um, tremendo seus joelhos e balançando o pescoço, como se para chegar mais perto das mãos do rapaz.
Era uma cena muito suja.
Um último suspiro, longo e satisfeito, escapou de seus lábios antes que ela desabasse no chão, inconsciente, um sorriso estranho e sereno estampado no rosto.
Uma poça de água se formou abaixo de sua saia. Pelo cheiro, Peppe deduziu que era uma mistura de mijo com squirting.
Ele ficou parado, ofegante, sua mão ainda formigando com a sensação da bochecha suave e fria dela. Ele olhou para o corpo da mulher, depois para sua própria mão, em estado de choque.
— Mas... que porra foi essa?! — sussurrou para o nada.
Não havia tempo para entender. As vozes dos amotinados estavam logo ali.
— Sara! — ele gritou, correndo para a garota.
Ela estava pálida, segurando a coxa ferida, mas os olhos fixos na assassina desmaiada com a mesma incredulidade.
— O que você fez? — ela perguntou, voz trêmula.
— Não sei! Mas vamos sair daqui agora, caralho! Vai!
Com um pouco de esforço, Peppe puxou Sara para cima, apoiando-a. Depois deu uma última olhada para a assassina.
Era bizarro. A mulher quase os matou e agora parecia pacífica, como uma criança dormindo.
Ignorando o absurdo da situação, eles se arrastaram pelo corredor lateral, contornando a cabine do capitão onde a discussão ainda acontecia. Eles escutaram sons de corte e tiros vindo de lá. Provavelmente os rebeldes estavam fazendo algumas execuções.
A sorte estava com os dois. O tumulto do motim havia distraído a todos, e o conflito com a assassina passou despercebido por algum tempo. Ao menos o suficiente para darem o fora dali.
Encontraram os botes salva-vidas com algum esforço. O mecanismo de liberação era complicado. Peppe acabou resolvendo do jeito antigo.
Deu um tapa na valvula, que fez o bote descer.
Com um último empurão, o pequeno barco deslizou pelas roldanas e caiu nas águas escuras do oceano.
Peppe remou com força, afastando-se o mais rápido possível do navio, que agora parecia uma ilha de luz e caos contra o vasto manto da noite. O silêncio que os rodeava, quebrado apenas pelo bater das ondas contra o casco do bote, era surreal depois do barulho infernal.
Sara encolheu-se no fundo do barco, encarando Peppe.
— Ela... ela desmaiou porque você a estapeou? — perguntou, a confusão superando a dor.
Peppe parou de remar por um momento, olhando para suas próprias mãos. Depois balançou a cabeça, um misto de alívio e perplexidade. Foi então que uma risada profunda escapou do fundo de sua alma.
Sara ficou olhando.
— Que mundo doido, Sara. Que mundo doido!
Quase foram mortos por uma assassina ninfomaníaca com fetiche de submissão.
Enquanto a escuridão os engolia, uma única certeza permanecia em sua mente: ele tinha escapado da morte não por ser mais forte, mas por ter, completamente por acidente, dado à sua carrasca exatamente o que ela mais desejava: alivio sexual.
Naquele momento um desejo de poder tomou conta de si.
Se quisesse sobreviver naquele mundo brutal, Peppe precisava ser forte. Ele precisava chegar logo em Rochedo e aprender magia.
Ele nem queria a princípio, mas talvez quando se formasse pudesse fazer as conexões certas para retormar o controle da nação em que era principe, embora esse fosse um sonho distante.
Se ele fosse um rei, teria um exército a sua disposição, e também dinheiro para contratar pessoas tão fortes quanto aquela assassina para matar seus adversários.
Peppe não soube dizer quando começou ou o porquê, mas nesses últimos dias esses pensamentos andaram perturbando-o. Um sentimento de que não tinha o bastante. Ele queria mais e mais.
Talvez fosse a influência de Gal Floquinho, mas não sabia dizer. Nem era conciente disso.
Balançando a cabeça, ele voltou a si.
Naquele momento, deveria pensar baixo. Primeiro chegar em Rochedo em segurança. Depois aprender magia para conseguir sobreviver naquele mundo. Só então decidiria o que faria a seguir.
Eles não sabiam quando foi, mas Floquinho se juntou à pequena canoa salva-vidas. Estava com voz de sono e lerdo, sem entender o que havia acontecido enquanto se recuperava da ressaca.
— Você não é um espírito ancestral?
Bom, parece que até um espírito ancestral se embreagava caso bebesse em demasia.
Voltando ao navio, longe dali, a assassina de cabelos negros encarava o nada com um sorriso de antecipação doentia. Algo mudou dentro de si. Ela decidiu.
A caçada, ela sabia, tinha apenas começado. Começado de verdade agora. E ela precisava encontrar aquele garoto de novo.
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