Contra o Mundo Brasileira

Autor(a): Petter Royal


Volume I

Capítulo 14: Conspirações e assassinatos

Alguns dias depois, estavam os três à bordo de uma espécie de barco a vapor de passageiros. Eles iriam de Morus, no Ducado das Amoras, até Galica, ao sul. Era uma cidade gigante, que cortava um grande rio que passava pelo Império das Rosas.

De lá, pegariam outro navio e viajariam até Maschata, cidade ainda mais ao sul do Império. Em Maschata havia uma base aérea, onde poderiam comprar passagens em uma espécie de dirigível gigante que os levaria até Rochedo. 

Gal não gostou da ideia. Afinal, tinha o corpo de um cachorrinho peludinho de patricinha. Era bem frágil, apesar de ser a personificação de um Pecado Capital. 

O capitão, inclusive, não queria deixar Peppe levá-lo na embarcação. A situação foi resolvida com suborno em dinheiro e ameaças.  

— Que foi, Sara? Tá com cara de quem bateu na mãe desde cedo. 

— Como assim?

Eles estavam saindo do cais para o barco, indo em direção aos quartos, na parte abaixo do convés. 

— Tá com cara de quem bateu na mãe, pô. O que houve?

Ela ficou em silêncio momentâneo, não compreendendo a sabedoria bidimensional de dois mundos do rapaz. 

— Estou com um mal pressentimento — disse. 

Peppe assentiu, mas depois desconversou, pegando as malas da garota e acelerando o passo. Gal estava em seus ombros, encarando com receio o teto. 

— São só três dias. A gente dá conta. 

A garota assentiu, a contragosto. Apesar disso, algo a dizia que seriam três dias muito longos. Talvez fosse apenas seu corpo se acostumando com a nova condição de escrava, ou a mudança que teve em sua vida. Vai saber. 

***

Enquanto isso, no alto de um prédio, próximo ao mesmo cais em que os três estavam, havia uma figura encapuzada. 

A silhueta tinha cerca de 1,70m e estava sorrindo. 

— Ahn, que excitante! Não vejo a hora de repetir aquilo. Aquela sensação de ter o mundo caindo. Aquele aperto em minha garganta. 

A figura gemeu. As pernas bambearam levemente, forçando-a a apoiar-se sobre a parede lateral.

— Acho que estou com tesão — comentou, com a saliva caindo dos lábios. — Preciso tentar te matar novamente, principezinho. Preciso te matar, preciso te matar, preciso te matar... Ãhn... Eu realmente preciso!

Mais gemidos. 

Alguns momentos se passaram, e todos os tripulantes haviam adentrado. Os marujos estavam tirando as tábuas do cais, para que o barco pudesse içar motores. Foi nesse momento que a silhueta entrou. 

Silenciosa como o breu. Apesar de ainda estar dia, ninguém conseguiu ver.

Ela ainda estava sorrindo quando entrou no convés. Porém parou subitamente, retirando o capuz e atirou-o no grande rio. 

Foi então que uma figura deslumbrante foi vista. 

Os cabelos eram negros como a noite. Seus olhos, azuis como o céu no verão. E a pele era branca, límpida. Os seis pequenos eram o perfume. Encaixavam com a figura delicada de donzela. 

Com aquela aparência de patricinha nobre, ninguém, absolutamente ninguém, naquele navio desconfiaria que se tratava de uma assassina perigosa encarregada de matar o príncipe herdeiro de Tullis, que também estava na embarcação. 

***

No meio da noite escura, ainda na embarcação, uma garota se dirigia para o quarto acompanhada de um homem. Ele parecia ser um tripulante. 

— Oh, você é tão bonito. Nossa, como é forte.

Risadinhas e gargalhadas se revezavam naquela conversa. O marujo estava enfeitiçado pela beleza jovial da mulher. 

— Vamos para minha cabine. É aquela ali. 

Ela concordou e eles caminharam a passos largos para o local. 

Com muita sede, desde que viu a moça durante a comemoração, que começou bem mais cedo aquele dia, o marujo não mais conseguia se segurar. Pegou-a pelo braço e a atirou na parede. 

— Muito bem, vamos com calma, benzinho. — A voz doce e o hálito fresco invadiam as narinas e ouvidos do jovem marujo.

Nunca antes imaginara a possibilidade de sequer receber um olhar de uma beldade daquelas. E, no entanto, lá estava ela. Tudo parecia um sonho. Tudo estava lindo. E ele se recusava a acordar. Obedeceria com gosto. 

— Tudo bem, serei calmo. 

— Ótimo. Agora sente-se. 

A garota certificou-se de que a porta estava fechada antes de se dirigir à cama do tripulante. Chegando lá, ela se sentou calma, fazendo com que suas nádegas se acochoassem na cama como as folhas caem no outono. 

O frescor da noite era apenas intensificado pela maré elevada do oceano. Era como se a Lua parasse para olhar para todos naquela noite iluminada, na companhia de todas as estrelas. 

E o marujo ficava cada vez mais animado. 

E a beldade caiu sobre si, afogando-o mais ainda com seu encanto.

Contudo, antes de realmente conseguir o que queria, algo aconteceu ao rapaz. Algo que mudaria completamente seu estado de espírito e o faria congelar o fogo do coração. 

Sentiu um frio no pescoço, seguido de um calafrio na nuca; outro, na barriga, e mais um calafrio na espinha. 

— Muito bem, benzinho. Agora você vai deixar escapar tudo o que tem que sair dessa boquinha — disse a garota, revelando um novo semblante. 

Dessa vez, o rosto branco e meigo dela estava rígido, com um sorriso assassino que ia de orelha a orelha. Ela nem tentava esconder que gostava daquilo. 

Portava duas facas, ambas encostadas em regiões letais do rapaz. 

Estava por cima, mostrando que o corpo magro e a pele translúcida eram apenas fachada. Na realidade, pelo aperto que sentiu o marujo, era como se ela pesasse meia tonelada.

— E-eu não sei de nada! O que v-você quer saber?!

— Calma, fala baixo. Sem gritar... — Ela aumentou o aperto, forçando um pouco a lâmina superior, encostada sobre a traqueia.  

O chiado frio lembrou o marujo quem era a vítima ali. E ele então se viu obrigado a manter a compostura. Até pensou em gritar por ajuda, mas ela não viria. Aquela realmente era uma assassina treinada. 

O desespero interior contrastou com o silêncio do quarto. 

— Preciso saber mais dessa tal "revolução" e também do "motim" que vocês pretendem fazer amanhã — Ela sussurrou baixo, próximo aos ouvidos da vítima. — Infelizmente, ontem seu amigo falou alto demais, e eu não consegui terminar nossa conversa. 

— V-você... Você matou o Cassius? 

— Oh, então esse era o nome dele? Eu o chamava de docinho. Ele era tão meigo...

Algo na voz da assassina mostrava que ela sentia prazer naquilo. Ela deixava escapar uma espécie de gemido interior. Quase erótico. Era como se tivesse começado uma relação, e agora estivesse entrando no clímax.  

— Comece a falar dos detalhes, benzinho. Talvez você ainda possa ser útil pra mim. 

O marujo engoliu seco. 

E assim a noite transcorreu. 

Peppe também estava naquela festa, junto de Sara e Floquinho. 

Fingiram que eram um casal, à contragosto de Sara, e que Floquinho era seu pet. O espírito ancestral, claro, não gostou. 

Foi então que um terço do vinho acabou indo embora, aparentemente o espírito da ganância era realmente ganancioso. E gostava de vinho.

— Você gosta mesmo de uma cachacinha, seu danado — disse Peppe a Gal, que caminhava meio bambo, esgueirando-se para encontrar a outro terço dos barris de vinho que os marujos haviam escondido.

— Desconheço o que seja essa tal "cachaça" — respondeu Gal —, mas, se for tão boa quanto esse vinho, então eu lamento, rapaz, então é uma porcaria do cacete! Gub!

— E mesmo assim você tá bebendo. 

— E mesmo assim estou bebendo — confirmou.

Sara olhou para eles com um ar de reprovação. Peppe sorriu. 

A dinâmica daquela madrugada continuaria assim. Um lulu ganancioso sumindo. O ex-príncipe desaparecido de Tullis bebendo feliz. Uma escrava furiosa. Uma assassina perigosa à solta. E uma conspiração a caminho.  

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