Volume I
Capítulo 13: Como agradar uma mulher (que o tentou assassinar)
Peppe acordou atordoado, e ficou ainda mais incrédulo ao descobrir que tudo aquilo era real.
Ele realmente havia feito um pacto de sangue e vendeu a alma para um lulu da pomerânia em troca de se salvar de uma assassina maluca, de três brutamontes e de uma usuária de besta, que o tentaram matar após ele, de forma estúpida, cair em uma arapuca em um beco escuro, perto de um bar que frequentara instantes antes.
"Eu realmente sou muito burro", pensou. E os fatos e tudo mais que ocorrera apontavam que sim, era mesmo.
O lulu, que se chamava Gal, conversou com ele, explicando tudo.
— Então eu agora tenho uma escrava?
— Sim — respondeu o lulu. — Uma escrava sexual.
A dita escrava os encarou de canto, com um olhar furioso. O dia estava quente, mas, naquele momento, no interior do quarto estava um gelo.
— Caralho.
Continuando a explicação, o que Peppe entendeu é que agora ele tinha um poder, uma espécie de "lojinha" em que poderia comprar certos tipos de coisa, mas Gal não explicou muito bem o que eram essas coisas e nem como ele poderia usar essa tal habilidade. Só explicou que essas habilidades tinham um preço.
— As almas das pessoas que você matar — explicou. — Quanto mais gente matar, mais "dinheiro" você terá, rapaz.
— Caralho.
Peppe achou aquilo tudo muito macabro. Foi a primeira vez que realmente teve a consciência de estar dentro de um mundo fantasioso. Parecia até um jogo.
— Você fez um pacto, garoto. Isso é normal. Agora, para de me encher o saco e vai dar uma brincada com o presente que eu te dei, vá! Eu vou voltar a tirar minha soneca, se forem fazer muito barulho, arrumem outro quarto. Um longe deste, por tudo que há de mais sagrado!
Aquela raposinha era realmente muito excêntrica.
— Caralho — era tudo o que conseguia responder no momento.
Obedecendo Gal, Peppe resolveu sair do quarto.
— Vamos — disse para a garota. — Deixe o Branquinho dormir.
A garota negou com a boca, mas então o corpo se moveu sozinho, respondendo que sim. Peppe achou aquilo muito estranho. O próprio corpo dela a contradisse. Era realmente como se ela fosse uma boneca.
Levantou-se do canto do chão do quarto e foi até a porta, onde ficou aguardando seu mestre.
Não tinha mais vontade própria. Aliás, até tinha, mas o corpo não a respeitava mais. Não quando Peppe lhe dava uma ordem.
— "Branquinho"! — Uma voz soou no canto. — Quem é "Branquinho", rapaz?!
— Você, ué.
— Por quê?
Sem entender a pergunta, e não querendo desagradar uma entidade diabólica, Peppe deveria pensar bem na resposta para não desagradá-lo.
Infelizmente, ele não era do tipo cauteloso.
— Porque você é branco pra uma porra, então ou era "Branquinho", ou "Porri..."
— Silêncio, humano! Você é péssimo para dar nomes — esbravejou a criaturinha. — Eu exijo ser chamado de um nome melhor. Que tal "Nevasca"?
Peppe negou com a cabeça.
— Nevasca é nome de mulher. E você é homem, não é?
A criatura riu, sem responder a pergunta. Não confirmou nem negou.
— Floq... — A garota na porta ia falar algo, mas parou na metade.
— O que estava dizendo, humana?
— Não... não é nada. Não falei nada.
— Diga o que ia falar — Peppe sugeriu.
À contragosto, a garota começou a falar:
— Eu iria sugerir "Floquinho", pois ele é branco feito a neve, parece um floco de neve.
— Mas que nome...
Ambos olharam para ela.
— Do caralho!
— Sublime.
Ambos responderam em uníssono. A garota corou.
Dar nomes a coisinhas peludas e pequenas era realmente um dom que pertencia às mulheres. Esse fato ficou provado naquele dia.
— Muito bem, agora retirem-se do meu recinto — disse Gal Floquinho, o espírito da ganância, encolhendo-se debaixo de suas almofadinhas acolchoadas.
E eles assim fizeram.
***
Quando saíram do quarto, Peppe decidiu que deveria conversar com a garota. Ele ainda não entendia nada das conspirações e intrigas que o rodeavam, pois o príncipe original era um nerd recluso.
Muitos livros na mente, pouca vivência no corpo.
O que era curioso, pois Peppe era basicamente o contrário. E se tinha uma coisa que ele entendia bem, essa coisa era o assunto mulheres.
Dito isso, ele resolveu achar um estabelecimento que vendia algo parecido com café. Parecia existir algo como café naquele mundo, mas era caro e escasso. Então, para substituir, Peppe achou uma outra coisa, quase tão boa quanto, e que já bebia na Terra.
— Eu gostaria de um copo de leite quente e adoçado com mel e açúcar, por favor.
— Claro, meu nobre senhor. E para a moça?
O gentil garçom sorriu, apresentando as opções.
Ela fez que não queria nada, então Peppe o mandou trazer dois copos, mais um bolinho de amoras e morangos.
Moças normalmente gostavam de doces, com aquela não deveria ser diferente.
— Veja bem, acho que começamos com o pé esquerdo — disse, sorrindo. — Eu sei que você deve estar em choque pelos seus amigos... Acredite, não foi minha intenção o ocorri...
— Eles não eram meus amigos — disse de forma ríspida, interrompendo-o. — Nós não tínhamos nenhum tipo de relação além da profissional.
Ele concordou, acenando. Quando uma mulher fazia um apontamento, o mais certo era apenas concordar com ela, evitando situações de desagrado que podem fazer com que ela grite ou brigue com você.
O ar corrente passou pela fresta da janela, esfriando a cabeça e a mente da garota.
Peppe a ofereceu a torta de morango. Ela até tentou negar a princípio, mas o estômago roncando a entregou.
— Garotas bonitas precisam comer doces para ficarem ainda mais bonitas — comentou, passando o prato para ela.
Ela pegou, a contragosto, mas gostando. Em seguida deu longas e rápidas garfadas. Provável que estivesse com muita fome.
— Meu nome é Petrus, mas pode me chamar de Peppe — sugeriu, tomando cuidado para não parecer uma ordem e conspurcar a vontade da garota.
Ela fez que sim, com a boca cheia de doce.
— E você, como se chama?
Ela ficou apreensiva. Pensou um pouco, porém chegou à conclusão que, a esta altura, não adiantava mais tentar escapar de seu destino. O que quer que tivesse que acontecer, aconteceria.
Ao menos era o que uma vozinha no fundo da mente lhe dizia.
— Meu nome é Sara Akel.
— Nome bonito. "Sara" é princesa na língua antiga, correto?
Ela fez que sim e corou.
— Certo, Sara. Tem um pouquinho de doce na sua boca.
Ela ficou vermelha e tirou rápido o guardanapo da mesa, limpando os lábios com pressa.
— Se não se importa, eu sei que essa não é a situação ideal, mas espero que possamos nos dar bem. Eu não quero uma escrava, para ser sincero. E gostaria de libertar você desse pacto. É só que... eu não sei fazer isso.
Ela o encarou, curiosa com a declaração.
— Enfim, me perdoe. Quando o Floquinho acordar eu peço ele pra te livrar desse pacto.
Ela então bateu as mãos na mesa, com força, surpreendendo o rapaz.
— Eu não quero a sua misericórdia!
O grito dela o acordou dos pensamentos.
Querendo apaziguar a situação, ele concordou com a cabeça e acenou para que ela voltasse a se sentar.
— Você não quer ser livre então?
— Não é que eu não queira ser livre, é só que não preciso da sua complacência e piedade — disse, chocando o rapaz. — Tudo tem um custo, e eu, querendo ou não, tentei te matar e agora tenho uma dívida de morte. Que seja, eu a pagarei sozinho, obrigado.
Parecia que todo o mal-humor e o ódio daquele mundo estava encarnado naquela mulher. A violência e a certeza de suas palavras refletia o estado de seu espírito.
Em algum momento, ela havia decidido se tornar uma escrava. Nem ela mesmo entendia, mas era uma condição para quitar a dívida que tinha feito. Sua alma sabia. Deveria servir àquele rapaz debruçado sobre a mesa da cafeteria, a encarando com um certo olhar ardente e vigoroso.
— Tudo bem, eu admiro isso. Que seja. Então vou tomar você como minha escrava, Sara Akel! Me servirá até quitar sua dívida.
Vendo que ele concordou, ela se aquietou sobre a mesa. E, vendo a figura máscula, com cabelos ao vento, e aquele rosto belo, esculpido em mármore na pele do rapaz, até mesmo ela corou.
Contudo, olhando melhor, ela notou que ele também a encarava, e não apenas a encarava. Seus olhos estavam voltados para os seios da garota.
— Seu... cafajeste!
Ela se irritou, levantando-se para descontar a ira. Tapas e socos foram a sequencia que aplicou no peito de Peppe, que, apesar de não parecer gostar, também não pareceu odiar aquilo.
Ele então a pegou pelo braço, interrompendo as agreções. Depois pediu perdão, como o miserável amoroso que era, e inventou uma desculpa qualquer.
E depois disso conversou sobre os planos que tinha de estudar magia, ocultando a parte de ser um princípe reencarnado (transmigrado) de outro planeta mais evoluído, e outras coisas mais.
Também não entrou no assunto de ela ter o tentado matar, nem perguntou nada disso.
Parecia não o interessar, ao menos não naquele momento. O que a deixou surpresa.
— Não vai perguntar nada sobre eu ter tentado te matar?
— Como o que?
Ela ficou desconcertada novamente.
— Como quem foi o mandante, ou pra quem eu trabalho, o que faríamos a seguir e coisas assim.
Ele negou novamente.
— O mandante eu já tenho uma boa ideia de quem é. Você certamente não trabalha para ele, nem deve ter alguma relação com aquela outra moça assassina, ou ela não te deixaria pra morrer. E o que vocês fariam a seguir não me interessa. Eu taria morto se tivessem conseguido, né, caralho?! Que se foda essas coisas.
A garota ficou receosa novamente.
Notando, ele pediu que falasse o que era.
— Você não sente rancor? De mim?
— Eu não sinto rancor de mulheres bonitas — respondeu.
Ela corou novamente.
Pegando-a pela mão, ele deixou o recinto, voltando para a estalagem. No caminho, acabou comprando mais algumas bugigangas e umas roupas, para si e para Sara, que pareceu feliz.
Peppe realmente fazia parecer fácil agradar uma mulher. O segredo parecia ser doces à base de morango e roupas, mais alguns galanteios exponenciais.
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