Clube de Gênios Chinesa

Volume 1

Capítulo 2: Gato

— Que sonho maluco foi esta noite? Tudo tão caótico…

Lin Xian esfregou os braços, estremecendo com o vento gelado da noite que invadia seu quarto. Tinha acabado de acordar de um sonho confuso, no qual apareciam um Rosto de Gato Grande, uma máscara de Ultraman e uma espiã misteriosa. Era um misto de diversão e irritação.

— Parecia um filme dirigido por um bando de palhaços… cof, cof. — Ele tossiu, percebendo que o frio era mais real do que pensava. Na noite anterior, tinha esquecido a janela aberta, e o vento penetrante do começo do inverno não perdoava.

Fechou com força a velha janela corrediça, abafando também os sons animados do mercado lá embaixo. Com o vento barrado, o quarto ficou um pouco mais quente. Lin Xian se serviu de um copo de água quente, sorvendo devagar enquanto olhava para a lua cheia e brilhante.

— O que será que tem naquele cofre com meu nome? — murmurou.

Desde que se lembrava, Lin Xian era perseguido pelo mesmo sonho, noite após noite. Não importava sua idade, onde estivesse ou o que tivesse feito durante o dia; assim que dormia, ele se via naquela praça inexplicável, mas curiosamente familiar.

Era esquisita, porque ele tinha certeza de que nunca esteve naquele lugar na vida real. Ainda assim, conhecia cada cantinho da praça — as crianças brincando, as árvores enfileiradas, até os matinhos pareciam velhos conhecidos.

No começo, esse sonho repetido o aterrorizava. As mesmas pessoas, o mesmo cenário, as mesmas situações se repetindo como um ciclo eterno. Era como estar preso em uma prisão sem grades. Pessoas conhecidas viravam estranhas, e até os mortos o cumprimentavam de novo, como se nada tivesse acontecido. Não importava o caos que causasse, tudo se reiniciava na noite seguinte. Um verdadeiro loop sem fim.

Com o tempo, Lin Xian percebeu que o sonho sempre terminava exatamente às 00h42. Então, criou uma estratégia: se ficasse acordado até esse horário, conseguia escapar do sonho.

Essa tática funcionou por um bom tempo na infância. Ele se mantinha acordado até tarde, evitando dormir. Mas conforme foi crescendo, sua visão mudou. Começou a gostar daquela constância. No mundo real, tudo tinha regras, consequências. Já no sonho, possuía liberdade total. Podia dirigir como um doido, meter-se em brigas; tudo sem consequência. Aquele mundo onírico virou seu parque de diversões secreto.

O pesadelo virou aventura. Enquanto seus colegas perdiam horas em joguinhos online, Lin Xian vivia, dormindo, experiências dignas de “Esportes Radicais”, “Sleeping Dogs” ou “Stalker 3”.

Com essa nova perspectiva, ele passou a desejar dormir. Corria para terminar a lição de casa só para embarcar nas aventuras noturnas; o que deixou seus pais felizes, achando que ele estava mais disciplinado.

Curiosamente, Lin Xian percebeu algo importante: sempre que morria no sonho, acordava na hora. Durante o ensino fundamental, isso acontecia direto — fosse baleado pela polícia, caçado por snipers ou envolvido em perseguições insanas. Sem querer, esses pesadelos o deixaram mais ágil na vida real, tanto que ganhou o campeonato municipal de parkour três vezes durante o ensino médio.

Agora, com 23 anos, Lin Xian já não se metia tanto em confusão nos sonhos, mas ainda curtia viver papéis diferentes em cenários que mudavam sempre. Mesmo com tanta familiaridade, o mundo dos sonhos sempre trazia algo novo.

Na noite anterior, no entanto, algo inédito aconteceu: ele invadiu um cofre cheio de cofres pequenos de segurança, e um deles tinha seu nome. Não se espantou — afinal, era o próprio sonho. Mas o estranho foi que a senha de sempre… não funcionava.

Enquanto terminava de beber a água, ainda intrigado, pensou no assunto. Sempre usava senhas simples, como sua data de nascimento: 19990320. Fácil de lembrar. Mas o cofre continuava trancado.

Ding-dong! Uma notificação surgiu na tela do celular. Era o grupo de trabalho.

Líder de Design Li Juan: @todos, reunião amanhã às 9h na sala de conferências do terceiro andar. A diretora Zhao vai revisar pessoalmente as propostas! Ninguém se atrase! Confirmem recebimento!

Ding-dong! Ding-dong! Um monte de mensagens de “Recebido!” apareceram.

— Esse povo não dorme, não? — murmurou Lin Xian, notando o horário: 1h da manhã. Mesmo resmungando, digitou: “Recebido!”

“Melhor dormir. Amanhã o dia vai ser cheio”, pensou, ajustando o alarme e largando o celular na mesa de cabeceira.

Bang!

Na manhã seguinte, Li Juan bateu com força uma pasta na mesa da sala de reuniões.

— Eu avisei ontem à noite! A diretora Zhao quer ver as propostas hoje! Olhem essa bagunça!

O silêncio tomou conta da sala enquanto todos abaixavam a cabeça, tensos. Li Juan ficou furiosa. Pegou um dos projetos e bateu de novo na mesa.

— Nossa nova marca tem que atrair um público jovem e feminino! Por que tem uma raposa de meia-calça preta rebolando a cauda?

Virou-se para a garota ao lado de Lin Xian.

— Você entendeu mesmo o conceito da marca? O coelhinho que você desenhou é fofo, mas e esse cachecol florido e o casaco de algodão? Até minha avó se veste melhor!

Ela continuou: — A diretora Zhao já foi clara mil vezes: queremos algo no estilo Hello Kitty! Todo mundo conhece Hello Kitty!

Ao lado do Lin Xian, um colega robusto murmurou: — Por esse salário, querem Hello Kitty…

— O que você disse, bolota?

— N-nada, Srta. Li! Eu quis dizer que a Hello Kitty é perfeita, maravilhosa! — gaguejou, suando frio.

Enquanto Li Juan falava com indignação, os pensamentos do Lin Xian voltaram ao cofre do sonho. Uma senha de oito dígitos… O que poderia ser? O que deve ter lá dentro? Algo relacionado à Hello Kitty? Um gato, talvez?

No meio da confusão, Lin Xian pegou o bloquinho de anotações e começou a rabiscar — um gatinho simples, mas encantador, bem parecido com a máscara do Rosto de Gato Grande. A ironia daquele desenho simplista, mas expressivo, da máscara não passou despercebido.

— Ei! — o colega ao lado cochichou. — O que você tá desenhando aí, Lin Xian?