Volume 1

Capítulo 4.5: Aliado?

Acordei em meio à floresta. Uma sensação de dormência percorreu meu corpo. Me levantei, sentindo arrepios pela superfície negra onde deveria ser minha pele. Todos pensavam que eu não sentia nada, estavam meio certos.

Por que me drogou, Gerechi? Deveria saber que eu não tentaria nenhum tipo de trapaça. Coisas como eu, não precisam de vantagens ilegais. 

Estiquei meus ossos e expandi minha reserva de sonho. Luzes douradas ao meu redor iluminaram a floresta escura. Um sorriso macabro, sem dentes, apenas um vazio branco e luminoso, se formou em meu rosto.

— smo kot živali, tigraste oblike [aprimorar habilidade] — o sonho que me envolvia foi moldado em olhos e orelhas apuradas.

Vaguei pela imensidão da floresta por algumas horas. Essa floresta silenciosa seria um lugar ideal para um belo chá, contudo não é hora para isso.

(...)

Escalei as árvores com minha destreza superior, avistando uma pequena vila, curioso, talvez salvar plebeus seja de algum benefício.

Sons de conversa inundaram minha mente, o barulho dos passos delatou sua localização.

— Die Dunkelheit verbirgt sich [invisibilidade] — teci o sonho ao meu redor em um manto.

Entre as densas copas das árvores, avistei três elfos, observei esse grupo por cerca de 2 horas. Falta coordenação além de perderem tempo à toa. Sem dúvidas esse elfo, exausto após pouco tempo, é o mais patético. São dignos de pena, contudo esse com a pele escura…

Ficarei nas sombras, sem dúvidas, a melhor forma de descobrir informações. Em meio à minha vigília, o da pele escura parece ter sentido minha presença, nem que seja por alguns segundos. Gerechi teria me punido por algo assim.

(...)

Continuei afastado.

Meus olhos fechados, apenas me concentrando em suas palavras. Não mencionaram nenhuma informação valiosa e, sem dúvidas, não se conhecem, essa pequena discussão entre esses dois provou isso.

Um forte rugido me atordoou temporariamente. Vindo da vila, um grito tao bestial apenas seria feito por um Pesadelo.

Ambos não perderam tempo, mergulharam de cabeça em um mar desconhecido, tal loucura seria recompensada apenas com morte. Seria útil segui-los? Duvido que seja algo com que eu não possa lidar.

Os permiti correr a frente, e com um poderoso impulso me joguei a telhados da casa mais próxima, meu peso ou a falta dele não produziu muitos ruídos, me ergui, ainda embrulhado no manto invisível.

A fonte do som se revelou em 4 patas e uma cabeça de leão: uma manticora, classe caçadora como eu desconfiei, o que se passa na cabeça de quem organizou isso?

Sentei-me no telhado, observando o combate, a decisão mais sensata seria evitar um confronto contra essa coisa, porem eles não estão pensando logicamente.

(...)

O primeiro a cair foi o pobre invernal. Com uma patada, o elfo de pele escura desmaiou e paralisado pelo veneno, o mais fraco nem mesmo foi útil.

Como eu suspeitei, nunca tiveram chances. A manticora se aproximava para devorar até os ossos desse grupo patético. Seria minha deixa para sair, contudo, talvez esse elfo de pele escura possa ser um filho do rei.

Removi meu manto invisível. Saltei próximo ao elfo mais fraco. Seu nome era? Renshu? Não importa. Ele ainda respirava. A manticora fixou seus olhos escarlates em mim, junto a ela diversos Pesadelos humanoides chegavam.

Muita coincidência eles estarem apenas esperando, isso só poderia ser obra de um bispo. Sem tempo a perder, expandi minha aura dourada, e todos os monstros se voltaram a mim.

Um largo sorriso branco e vazio se formou em meu rosto. Finalmente posso me provar. É melhor limpar o terreno rápido. Juntando minhas mãos, gritos tomam conta da noite.

Galw Arno! [INVOCAR ELE]. — comecei a queimar meu sonho, e diversas aberrações amorfas brotaram ao meu redor.

Os gritos distorcidos das minhas criações tomam a noite silenciosa. Com um cruzar de dedos disperso minhas criações, todas rastejando apressadamente, babando um líquido negro.

Em questão de minutos, os Pesadelos de baixo nível foram devorados, sem nem mesmo conseguir reagir. Um rugido bestial puxou minha atenção, a manticora me encarava com um sorriso, uma fútil demonstração de presas.

Sem cerimônias, ela avançou, rachando o solo com cada pisar brutal, saltando sobre min a manticora desferiu um golpe de garras lento e previsível, saltei com destreza para trás, contudo em meio as sombras a cauda de escorpião me chicoteou.

Veneno queimou minhas veias, usando da minha agilidade consegui cair em pé. Encarei o Pesadelo e sorri, apontei minha minha mão em sua direção e a fechei. Minhas criações uivaram e avançaram sobre a manticora.

Ela se encolheu recuando alguns passos, em questão de segundos meus constructos saltaram sobre ela, um após o outro, se amontoando sobre seu corpo. Rasgando a pele negra e quebrando sua armadura óssea.

Minha vitória era clara como cristal, contudo, um rugido agudo e bestial fez meu corpo se enrijecer como pedra, minhas criações pararam seu ataque, congelando em suas formas distorcidas.

Diversas gravuras brilharam por seu corpo, pude reconhecer os padrões de runas do sonho vermelho me 

Sem perder tempo, a besta recuou com passos apressados. Em questão de segundos ela desapareceu em meio a floresta. A paralisia se foi junto a manticora.

Com meus músculos relaxados, suspirei, e com um estalar de dedos, dissipei minhas criaturas, juntamente a meu aprimorar habilidade.

Agora somente me restava esperar meus caros elfos saírem de seu soninho da beleza.

(...)

Observei a destruição causada pela aberração, somente um corpo infantil e mutilado havia restado, seria um erro deixar que mais pesadelos se alimentem.

Ar dân rhoi! [IGNIS]  — comecei a queimar lentamente meu sonho, criando chamas douradas que rapidamente incineraram o corpo da criança.

Uma lâmina gélida encostou em meu pescoço, virei-me lentamente para ter a visão do elfo invernal de cabelos brancos e sobretudo vermelho.

— Quem… o que é você? — suas mãos tremiam segurando um pedaço de lâmina.

— Meu nome é oito. — estendi minha mão em comprimento.

— E onde estão os outros sete?

— Humor invernal, tocante, mas gostaria que retirasse a faca do pescoço do seu salvador.

— Você matou o Pesadelo? — o invernal baixou o resto da sua espada.

— A coisa patética fugiu.

— É a criança? 

— Olhe o fim que seu corpo levou — Dei um passo para o lado, mostrando a pilha de cinzas que havia sido uma criança.

Antes que pudesse pensar, fui atingido por um soco.

— POR QUE VOCÊ FEZ ISSO?!!! — Ele me olhou cerrando os dentes.

— Por acaso era amigo de vocês? Caso você tenha perdido um amigo pela sua própria fraqueza, não adianta descontar em quem terminou o serviço. — falei me levantando, calmamente.

— Eu não conhecia, mas sei que precisava dos ritos de enterro apropriados. Uma coisa como você não iria entender.

— Ficou com raiva por alguém que nem mesmo sabia o nome? — O questionei. — Isso não faz nenhum sentido lógico.

— Você é igual a essas coisas… Não é igual ao Kron.

— Tenho curiosidade em seu amigo élfico, irei conversar com ele.

— Nunca vou deixar que um mero Pesadelo converse com ele. — Ele disse, cerrando os dentes logo em seguida. 

— … Não me resuma a tal — falei desaparecendo na floresta.

(...)

— Mero Pesadelo? — Refleti enquanto me perdia em pensamentos.



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