Volume 2
CAPÍTULO TRÊS Relacionamentos Definidos Distâncias Indefinidas
No dia seguinte ao nosso encontro no festival com Yanashita e o "Cocoricó imbecil" da Yan , Yuzuki estava estranhamente ausente da escola. Meu palpite era que ela estava exausta demais para manter o ato de sempre, fingindo ser ela mesma.
Não contei aos meus amigos o que aconteceu na noite passada. Não era porque queria esconder o perigo que enfrentei ou porque não queria preocupá-los. Era porque eu mesmo ainda não entendia o que havia acontecido entre Yanashita e Yuzuki para fazê-la reagir daquela forma. Sem todos os fatos, não podia simplesmente contar uma história incompleta aos meus amigos. Quem sabe que tipo de repercussão isso poderia ter para a Yuzuki, Afinal?
Ontem, depois de levar Yuzuki para casa, mandei uma mensagem antes de dormir, perguntando se ela estava bem, mas a resposta dela foi simplesmente: "Vou faltar à escola amanhã." Eu sabia muito bem que perguntar a alguém que claramente não tá bem se ela estava bem era a coisa mais burra possível. Eu imaginava que teria outro encontro com os caras do Yan em algum momento, mas Yuzuki parecia aterrorizada. Isso eu realmente não esperava.
Talvez eu precisasse me esforçar mais para entendê-la.
Pensei nisso o dia todo, e então as aulas terminaram. Fui com Tomoya a um Saizeriya local para estudar para as provas. Honestamente, não estava muito a fim, mas como hoje estava livre do papel de namorado da Yuzuki, achei que tinha tempo livre para aconselhar Tomoya em assuntos amorosos, por uma vez.
N/T: Saizeriya é uma rede japonesa que serve culinária italiana.
Estudamos por cerca de duas horas para as provas do meio do semestre, que começariam no dia seguinte. Parecia um bom momento para uma pausa. Pedi um bife à hambúrguer com molho de legumes e uma porção grande de arroz, decidindo jantar mais cedo. Tomoya pediu o doria à milanesa, um gratinado feito com arroz no lugar de macarrão.
Quando nossos pedidos chegaram e já tínhamos feito inúmeras viagens ao refil ilimitado de refrigerantes, Tomoya limpou a garganta como se estivesse esperando uma oportunidade para conversar.
"Então, como foi o festival ontem?"
Sem perder tempo, hein?, pensei, mas fazia sentido. Dada a situação do Tomoya, não era surpresa que ele quisesse saber disso.
Não seria justo ficar calado. Afinal, eu já tinha dito a ele que levaria Yuzuki ao festival. Na noite passada, não estava a fim de dar conselhos amorosos descontraídos a Tomoya, então o fiz esperar pelo relato do "encontro". Como ele era louco pela Yuzuki, não teve escolha a não ser ser paciente, por mais que odiasse.
Mas meu estado de espírito era meu, e eu não deixaria nada escapar na frente do Tomoya.
Tentei aliviar meu próprio humor e respondi num tom casual.
"Ah, sim. Um encontro no festival é realmente incrível, cara."
"Óbvio. Você andou por aí com a Nanase de yukata. Eu devia enfiar esse prato de doria na sua cara." Tomoya me encarou com rancor.
"Não seja assim. Afinal, estou aqui, abrindo mão do meu tempo livre por você hoje."
"Só porque a Nanase faltou. Ela não costuma fazer isso, né? Ela não me pareceu doente da última vez que a vi."
"Talvez seja um daqueles dias. Dê um tempo para ela."
"Lá vem você com esses comentários nojentos…"
Hmm. Talvez não fosse a melhor piada para fazer durante o jantar.
Tomoya suspirou, como se frustrado. "Talvez tenha algo a incomodando…?"
"Olha…"
Terminei de cortar meu bife à hambúrguer e ovo frito em pedaços pequenos, então larguei a faca.
"Como eu já disse antes, você precisa mesmo se livrar desse mau hábito. Tentar romantizar tudo sobre as garotas, como se estivesse escrevendo uma história na sua cabeça sobre elas. Se não for o palpite dela estar naqueles dias que eu acabei de fazer, então ela provavelmente pegou um resfriado de repente e está cheia de ranho."
Tudo bem, desta vez, pelo menos, Tomoya acertou em cheio sobre Yuzuki estar incomodada com algo.
Ainda assim, arremessar cem bolas e acertar uma boa por acaso não é o suficiente para fazer de alguém um arremessador.
"Tenho tentado ser mais cuidadoso com isso desde que você apontou, Chitose, mas às vezes não consigo evitar. De qualquer forma, seja a Nanase doente ou em apuros, eu só quero ajudá-la como puder."
Tomoya mexeu no doria com a colher, sorrindo e corando.
"Ter um cara com quem ela mal interagiu aparecendo desesperado para fazer de enfermeiro só vai fazer Yuzuki achar que está num filme de terror. Além disso, só assumir que você pode resolver os problemas dos outros… é totalmente pretensioso."
…Então o que exatamente você está fazendo, hein?
No espelho mental, um palhaço sorria de volta para mim.
"Mas você ajudou o Kenta Yamazaki com o problema dele. E aqui está, me ajudando. Isso não conta como resolver os problemas dos outros?"
Eu sabia. Sabia que ele iria atacar o ponto fraco.
Ele estava certo. Eu acreditava que podia fazer um trabalho melhor que a maioria. Mas também admitia que havia pessoas que poderiam fazer melhor que eu.
Era uma inconsistência, sim, mas era a minha inconsistência. Agora, eu precisava encontrar as palavras certas, para o bem do Tomoya.
"Receber ajuda dos outros, receber um empurrão—tudo isso é bom, mas, no fim, você é o único que pode se ajudar. É o mesmo para você, Tomoya. Se você não consegue nem falar com a Yuzuki, nunca vai fazer o menor progresso."
"Você não poderia me apresentar…?"
"Claro que poderia, mas você não tem coragem de se aproximar dela sozinho? Yuzuki nunca se apaixonaria por um cara tão fraco; eu sei disso."
"Acho que você tem razão…" Tomoya baixou a cabeça, parecendo estranhamente desanimado.
"Não pense demais, Tomoya. Só diga oi. Pergunte a ela: ‘Lembra daquela vez que eu comi terra fora da escola?’ ou algo assim. Ah, espera, não faça isso. Isso pode assustá-la."
[Moon: Não me diga kkkk]
"Foi meio marcante, então tenho certeza que ela lembra. Mas e se ela não lembrar? E se ela disser: ‘Quem é você mesmo?’ Talvez eu morra."
"Então diga algo como: ‘A região de Hokuriku está sempre tão nublada, né?’ ou ‘Com licença, você viu um sanduíche com croquete? Eu deixei um cair por aqui.’ Qualquer coisa, cara; apenas fale com ela! Poxa, você é tão negativo! Você não vai a lugar nenhum até conseguir pelo menos isso."
Tomoya ficou abrindo e fechando a boca. Eu o ignorei. "Agora, escute," continuei. "Nem mesmo eu sei a maneira certa de se apaixonar. Mas sei que você começa conhecendo a outra pessoa e deixando que ela te conheça. Você tem que se esforçar e dar a ela um motivo para gostar de você. Precisa deixar claro como se sente. Esses são, tipo, fundamentos básicos, concorda?"
Eu não acredito em coisas como amor à primeira vista.
Esse sentimento não passa de uma percepção de que você está interessado em alguém. É mais uma etapa preliminar para o amor.
"Você nem sequer deu o primeiro passo, Tomoya. Lamento dizer, mas na vida real, todas aquelas situações de ‘destino’ que você vê em filmes e lê em romances têm zero aplicação prática. O mundo está cheio de relacionamentos comuns, meio chatos e sem inspiração começando e terminando todos os dias entre homens e mulheres. Então…"
Fiz uma pausa para efeito e olhei nos olhos de Tomoya.
"Então se contente em falar com ela de forma desajeitada e hesitante. Gagueje ao pedir o ID dela no LINE. Convide-a para um encontro, deixe-se sentir aquela excitação e náusea o tempo todo. É assim que as coisas começam. Você pode chamar de destino depois."
"Mas… e se ela me rejeitar?"
"Aí você se tranca em um quarto escuro, chora e escreve poesia de chorão. Quando cansar disso, vai comprar um violão e transformá-las em músicas. Aí você descobre que gosta mesmo disso, forma uma banda, toca na competição de bandas da escola e descobre um amor totalmente novo."
"Uh…" Tomoya me olhou com uma expressão incomumente afiada. "Isso é porque você nunca experimentou o amor verdadeiro, Saku. Só alguém que nunca conheceu A Pessoa Certa poderia dizer coisas assim."
"Sim, talvez." E eu falava sério. "Deixando de lado a última piada do violão, eu entendo a profundidade dos seus sentimentos, Tomoya. E acho que realmente não sei o que é amor verdadeiro. Mas gosto de pensar que sei a maneira certa e errada de fazer as coisas."
A voz de Tomoya baixou, como se percebesse que talvez tivesse falado demais. "Desculpe, não deveria ter dito tudo isso. Quer dizer, você está aqui tentando me ajudar."
"Sem desculpas. Eu disse o que queria dizer, e você também."
Esvaziei meu copo de refrigerante de melão. (Por que será que sempre que venho a um restaurante familiar como este, sinto vontade de beber refrigerante de melão até secar os dispensadores…?) Então me levantei e decidi expressar um pensamento que me ocorreu.
"A propósito, Tomoya, você tem algum hobby ou coisa assim?"
"O quê? Por que está perguntando isso do nada?"
Tomoya me olhou com uma expressão confusa.
"Hmm, acabei de perceber que nunca conversamos sobre coisas de amigos."
"Bem, eu não escrevo músicas tristes no violão, mas gosto de música numa medida normal."
"Ah, é? Você deveria me recomendar algo algum dia."
"Tá bom. Vou pensar em algo."
Nós dois sorrimos um para o outro e decidimos encerrar por ali.
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Naquela noite, pensei sobre isso por um tempo e então decidi enviar uma mensagem para Yuzuki.
"Quer fazer um roleplay? Eu sou o enfermeiro que vem te atender, mas você está tão suada e nojenta que eu preciso te dar um banho de toalha."
Fiquei envergonhado assim que enviei, mas a mensagem foi marcada como lida imediatamente.
"Tudo bem, mas só se você pegar meu resfriado, e isso ativar o evento em que eu cuido de você."
"Até onde você vai me enxugar Yuzuki?"
"Até onde você quiser ser enxugado."
"Bom, é claro, todos os lugares sujos."
"Algo me diz que você já fez isso antes e fez garotas chorarem."
"Maldição! Como você descobriu isso?!"
Ela parecia ter recuperado um pouco da sua “essência Yuzuki”.
"Ei, Saku? Aquela não era eu, tá?"
Justo quando eu estava pensando que ela estava de volta a ser a Yuzuki de sempre, ela me mandou aquela mensagem sem esperar a minha resposta.
"Tarde demais. Não consigo apagar a imagem que tenho de você, Yuzuki, curtindo o festival como uma garota de verdade."
"E você estava mais garoto de verdade do que nunca, Saku."
Não estávamos usando emojis ou figurinhas do LINE, o que deixava nossas mensagens mais simples, mas tornava mais difícil entender a emoção por trás das palavras. Fiquei imaginando que tipo de expressão Yuzuki estaria fazendo agora, olhando para o próprio celular.
Decidi falar de um assunto mais leve.
"Como estão o Peixe Vermelho e o Peixe Preto?"
"Saku e Chitose estão juntos nadando felizes em cima da minha mesa."
"Ah, que bom. Lembre-se de sussurrar ‘eu amo vocês’ toda noite."
"Eu te amo, Saku Chitose."
"Você esqueceu a vírgula entre os nomes. ‘Saku, Chitose’. Não quero entender errado aqui."
"Neste momento, eu quero que você entenda certo."
Mas ela ainda não parecia estar falando sério.
Pensei por uns cinco minutos e então enviei outra mensagem.
"Nanase, que tal virar minha namorada de verdade?"
[TMAS: O louco, cara tá ajudando outro cara a namorar com ela, fala que não tá apaixonado e faz isso / Goki: Chitose não perdoa kkkk]
As mensagens pararam de ir e voltar naquela hora.
Tive que esperar mais cinco minutos até a resposta chegar.
"Não dá agora, Chitose."
"Ufa", pensei.
Fiquei feliz que ela ainda era a Yuzuki Nanase, me dando uma resposta bem típica da Yuzuki Nanase.
"Que pena. Achei que essa podia ser uma boa chance de te pegar num momento de fraqueza e me declarar."
"Isso só funciona com garotas normais. Lembre-se, eu sou a Yuzuki Nanase."
"E eu sou o seu cafajeste local. Vou preparar uma abordagem mais elegante da próxima vez. Por favor, esqueça essa cantada vergonhosa."
Yuzuki finalmente me mandou uma figurinha no LINE, mostrando um gato preto afiando as garras e dizendo: "Meeeow!"
"Venha para a escola amanhã, Nanase."
"Eu vou à escola amanhã, Chitose."
"Boa noite, Yuzuki."
"Boa noite, Saku."
E, assim, voltamos a ser namorados temporários.
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No dia seguinte, quando fui buscar Yuzuki em sua casa, ela parecia ter voltado ao normal — pelo menos por fora.
Chegamos à escola, e ela continuava agindo normalmente enquanto os membros do "Time Chitose" tentavam adivinhar como seria a prova daquele dia.
Eu esperava que o dia transcorresse sem problemas, mas certa pessoa não ia deixar escapar uma oportunidade de ouro.
Faltavam cerca de dez minutos para o início da primeira prova.
Nazuna estava voltando para sua carteira depois de rir de algo com Atomu e seu grupo de sempre, quando esbarrou na mesa de Yuzuki.
"Ah, foi mal."
A gaveta da carteira de Yuzuki escorregou aberta, e uma pilha de papéis caiu no chão.
Nossa escola tem uma regra de que as gavetas devem ficar vazias durante as provas. A maioria dos alunos já tinha levado seus pertences para os armários no dia anterior. Yuzuki tinha faltado, mas Yuuko e Yua gentilmente cuidaram das coisas dela e avisaram.
Por isso, tanto Yuzuki quanto eu ficamos chocados com o que acabara de acontecer diante dos nossos olhos. Tão chocados que, no primeiro instante, não reagimos.
"O que é isso? Fotos do seu encontro com o Chitose? Nossa, quantas você imprimiu? Aff."
Quando as palavras de Nazuna afundaram, já era tarde demais.
Yuuko, que estava por perto, se abaixou e pegou uma das fotos. Ela congelou.
Havia cerca de dez fotos, todas mostrando a mesma coisa: Yuzuki, de yukata, andando pelo santuário comigo, nossos mindinhos entrelaçados.
Yuzuki deu um suspiro ofegante e se ajoelhou, desesperada para recolher o resto das fotos.
A cena de Yuzuki, incomumente agitada a ponto de esquecer que havia pessoas observando, só deixou mais óbvio que havia algo que ela queria esconder. Eu percebi que não poderia fazer ou dizer nada para ajudar naquela situação.
Nazuna olhou para Yuzuki, bufando de riso.
"Você é patética. São só fotos de encontro bestas. Por que tanto pânico?"
Yuzuki ergueu o olhar para Nazuna, agachada sob a mesa, e a encarou com raiva. Depois, seus olhos encontraram os de Yuuko, e ela desviou o olhar, culpada.
Nazuna percebeu e, com um sorriso malicioso, soltou:
"Opa, era para ser segredo da Hiiragi? Que sorrateira."
Eu queria fazer algo. Mas me intrometer agora só pioraria as coisas. Depois do que Nazuna disse, qualquer coisa que eu falasse soaria como se eu estivesse protegendo Yuzuki.
Como Yuzuki e eu supostamente estávamos namorando de verdade, não deveria importar se Nazuna ou os outros alunos vissem "provas" disso. O problema era se os membros do Time Chitose — especialmente Yuuko, que sabia que era tudo falso — vissem.
Naquele momento, acho que Yuzuki e eu nos deixamos levar um pouco.
Não era exatamente uma traição. Nem agimos de má fé. Mas, se nos perguntassem se teríamos agido daquela forma no festival se Yuuko e as outras estivessem lá, a resposta seria um absoluto não.
Era como se um garoto ou garota tivesse escrito um romance secreto e sincero, só para descobrir que a pessoa que mais importava estava lendo escondido. Era esse tipo de sentimento.
Eu me senti culpado e envergonhado, mesmo sem motivo real. Mas não conseguia evitar.
Ninguém falou nada por um tempo. Parecia que todos estavam sem saber o que dizer.
Até que Nazuna quebrou o silêncio.
"Que chata! Sabia que você não combinava com o Chitose."
Fiquei feliz por a primeira prova ser de matemática.
Se fosse literatura moderna, tenho certeza de que estaria distraído demais com minha própria história.
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O primeiro dia de provas acabou, e fomos liberados antes do meio-dia. Decidimos todos ir comer no Ramen Hachiban.
As mesas só cabiam seis pessoas, então tivemos que nos dividir em dois grupos.
Na minha mesa, estavam Yuzuki, Yuuko, Kenta e eu.
Na outra mesa, Kazuki, Kaito, Yua e Haru.
Será que era impressão minha, ou esse arranjo foi feito para o máximo desconforto possível?
Enquanto a outra mesa conversava animadamente e comparava respostas das provas, a nossa estava mais silenciosa que um velório. Eu tinha checado antes de sair da escola e descobri que não era só a carteira de Yuzuki — todos os membros do Time Chitose, incluindo eu, tinham uma cópia da mesma foto escondida em suas gavetas. A verdade acabaria vindo à tona mais cedo ou mais tarde.
[TMAS: Pior que isso faz a Nazuna ser muito suspeita | Moon: *música de suspense tocando…* Será essa a verdade por trás de tudo?]
Yuuko sorvia seu lámen de missô com vegetais em silêncio, mas com um ar passivo-agressivo. Yuzuki tomava o caldo do seu lámen de shio com uma expressão tensa. Kenta devorava desesperadamente seu lámen tonkotsu com chashu. Sim, você é só um cordeiro levado ao abate, um sacrifício colocado nessa mesa para completar o número. Sinto por você, cara.
[TMAS: Pior que eu adoro Lámen tonkotsu com chashu, muito gostoso | Moon: Eu gosto com molho shoyu e bastante queijo! Se bem que nesse caso fica mais pra miojo que lámen…]
Quanto a mim, pedi meu lámen picante de sempre, mas só uma porção hoje. Por algum motivo, não estava com fome.
"E-então, como acharam a prova hoje? Eu tô com algumas dúvidas naquela questão de matemática…" Kenta falou, como se não aguentasse mais a tensão.
Bom garoto. Esse é meu aluno exemplar.
Agora, que comece o entendimento mútuo.
Mas nem Yuuko nem Yuzuki responderam, então decidi não dizer nada também.
Kenta me lançou um olhar que dizia: "Maldito seja, Rei, como podes me abandonar assim?", mas eu comecei a assobiar baixinho e desviei o olhar.
"R-Rei… Você podia ter me convidado se ia a um festival. Nunca vi garotas de yukata ou um festival de verdade na vida real. Achei que isso só existia em cenas de ficção."
Oh, nada mal.
Levando o assunto de volta ao ponto principal com sutileza. Você realmente evoluiu, Kenta.
…Mas eu continuei calado.
Kenta me olhou de novo, dessa vez com uma expressão que dizia: "Achei que você tinha me dito que conversar é como jogar bola, Rei", mas eu ignorei e me concentrei em pegar pedacinhos de carne moída do meu lámen com os hashis.
Finalmente, Yuuko, que parecia ter terminado seu lámen, ergueu a tigela com as duas mãos e bebeu o caldo. Com um slurp sonoro, esvaziou a tigela e a colocou de volta na mesa com um tum pesado. Depois, pegou seu copo d'água e o esvaziou de uma vez.
Kenta se apressou em encher o copo dela de novo com o jarro da mesa.
"Bom, tenho algo a dizer!" Yuuko berrou, claramente pronta para a batalha.
Yuzuki e eu nos endireitamos nas cadeiras.
"...Vocês estavam de mãos dadas! Não estavam? Assim, com os mindinhos juntos de um jeito fofinho!"
N/T: Mindinhos juntos pode significar romance, lealdade e promessa pelo que pesquisei, tem a famosa promessa do mindinho em outras culturas.
"......Sim."
A voz de Yuuko soava estranhamente ameaçadora.
Clack!!!
O copo, recém-esvaziado, bateu na mesa de novo, e Kenta correu para enchê-lo outra vez.
"Não era para ser um romance falso?"
"......Sim, Yuuko."
"Então o que foi aquilo de yukata, encontro e mãos dadas, hein? Né, Kenta?!"
"S-sim! Né! O que foi isso?"
Parece que Kenta tinha se aliado ao lado oposto.
Droga, essa é a vingança dele por antes.
"Hã, o-ouça, Yuuko..."
Eu estava prestes a tentar argumentar, mas o copo bateu na mesa de novo, me interrompendo.
"Fica quieto, Saku! Quer dizer, era óbvio que a Yuzuki que te deu a mão primeiro!"
Yuzuki ficou em silêncio constrangido, e Yuuko continuou.
"Quer dizer, não é que eu esteja dizendo para não segurarem mãos ou algo assim. É direito de vocês. Podem fazer isso quando quiserem, ok? Mas o que eu quero dizer é... Qual é exatamente a intenção de vocês aqui, hmm?"
"Nossa intenção...?" A voz de Yuzuki saiu em um sussurro fraco.
"Estou perguntando se o Saku é o único para você, Yuzuki. Se qualquer um servir, se você só quer uma mão quente para segurar, então para com isso. Eu sei que não tenho direito de dizer isso, mas sério... para." A voz de Yuuko estava incomumente cortante e clara.
"Não é... não é que qualquer um sirva..."
"Se fosse o Kenta-cchi no encontro com você, teria segurado a mão dele?"
"Não, não teria." Yuzuki respondeu sem hesitar por um nanossegundo.
Ei, moças, peço gentilmente que evitem ferir o pobre Kenta no fogo cruzado.
[Moon: Por que ele é sempre o alvo?… Tadinho]
"E se fosse o Kazuki ou o Kaito?"
"Acho que... não."
"Tinha que ser o Saku, né?"
"...Me Desculpa, eu não sei."
Yuuko inspirou profundamente e depois expirou com força. "Tá bom, entendi agora. Então você e eu somos rivais, a partir de hoje!"
Yuzuki olhou para Yuuko com confusão no rosto.
Eu provavelmente parecia igual.
"Não, eu nunca disse nada disso."
"É o que todas dizem, no começo." Yuuko assentiu firmemente, então continuou como uma detetive sagaz. "Mas você sabe que não pode prender aquele bobão adorável do seu lado ficando toda indecisa! No seu nível atual, Yuzuki, você ainda não é boa o suficiente para ser a garota especial do Saku. Eu também não sou. A diferença é que eu sei que ainda não estou no nível! Por isso estou um passo à sua frente!"
Yuzuki piscou e ficou rígida quando Yuuko apontou um dedo acusador entre seus olhos. Então, ela soltou uma risadinha, que virou uma gargalhada.
"Você é tão estranha, Yuuko! O jeito que você vê as coisas é insano!"
"Nada disso! O que você vê é pura honestidade."
"Pessoas normais não pulam para 'pura honestidade' com o menor estímulo, sabia."
"Que garota irritante você é."
Então Yuuko fixou seu olhar de águia em mim.
"E você, seu bobão adorável!"
"Oi?"
"É 'sim, senhora'!"
"Sim, senhora!!!"
Yuuko se inclinou sobre a mesa e cutucou minha testa com o dedo indicador.
"Agora! Escuta! Eu! Sua bondade e ingenuidade são seu crédito e sua ruína, Saku! Mas se você segurar a mão de toda garota que se interessar por você, vai acabar criando uma corrente humana que dá a volta no mundo!"
"É, se eu segurasse a mão de todas, não formaria muita corrente... Só tenho duas..."
A unha bem feita dela cutucou minha testa de novo.
"Se você tem tanto tempo livre que pode sair por aí de yukata — que, aliás, ainda não vi você usando —, então por que não resolve logo o problema da Yuzuki de uma vez? Assim você fica livre, e não vai ter nada te impedindo de ver os fogos de artifício comigo neste verão, de yukata. Nada mesmo!"
Eu balancei a cabeça, a unha dela ainda meio cravada na minha pele.
A rendição parecia a melhor política nesse momento.
Graças a Yuuko, nosso relacionamento tinha voltado a ter uma definição clara. Se as coisas não tivessem sido expostas assim, o não dito entre nós só teria crescido cada vez mais.
Os clientes das outras mesas estavam nos encarando com uma expressão de "Já terminaram?".
É, vamos encerrar por aqui.
A irritação de todos parecia estar cada vez mais direcionada a Yuzuki, e o clima estava ficando bem gelado.
As coisas tinham seguido seu curso, e por mais desconfortável que fosse, já era tarde para reagir.
Se ao menos eu pudesse dar um último home run, algo para sacudir as coisas.
Mas minhas ideias brilhantes tinham acabado. Tudo que pude fazer foi sorver o resto do meu lámen.
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Depois de pagarmos a conta, parei no banheiro antes de sair. Quando voltei, encontrei Yuuko esperando perto da pia.
Enquanto eu lavava as mãos, Yuuko me encarava no espelho o tempo todo. Terminei, nervoso por ela ainda estar brava. Finalmente, ela falou.
"Saku, quer meu lenço?"
"Tá bom. Tem aquele negócio de ar quente. Tô de boa."
"Hum."
O que há com ela? Enquanto eu secava as mãos, ela estendeu as dela para mim.
"Ei. Eu bebi todo o caldo do lámen. Acho que meus dedos incharam um pouco com o sódio. Olha, olha."
"Você não é um balão d'água. Claro que não inchou."
"Ei! Olha melhor. Vamos!"
Eu não entendia o que ela queria. Sem escolha, olhei para as mãos de Yuuko, que ela ainda insistia em me mostrar.
"Estão normais. As mesmas mãos bonitas de sempre."
"Hum! Não é isso que estou perguntando!"
Eu fiz o que ela pediu. Por que ela está fazendo bico?
Sério, o que há com ela?
"Todo mundo está esperando lá fora. Vamos indo."
Yuuko puxou as mãos de volta e, com um "Tá bom" submisso, virou e começou a andar à minha frente.
"Ai!"
Parece que ela não viu o degrau. Tropeçou e caiu para frente.
"Cuidado!" Eu agarrei a mão de Yuuko.
Ela recuperou o equilíbrio e virou para me olhar. Por algum motivo, estava sorrindo largamente.
"O que tem de engraçado? Você é tão desastrada, Yuuko. Preste atenção da próxima vez."
Era como se minhas palavras não a alcançassem. Yuuko ergueu a mão, que ainda estava na minha, e a colocou na frente do rosto.
"Só para constar, você que iniciou esse aperto de mão, não foi, Saku?"
Ah, entendi.
Finalmente percebi por que ela estava sorrindo. Sem pensar, soltei uma risada.
"Acho que foi, né."
"Hee-hee!"
Yuuko pareceu satisfeita. Acenou várias vezes antes de soltar minha mão e virar para a saída. Eu chamei por ela.
"Yuuko."
"Siiim?"
"Você lavou as mãos depois do banheiro, né?"
"Bobão! Claro que lavei!"
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Yuzuki estava oficialmente se recuperando de ter faltado por estar doente, então decidimos seguir caminhos separados na saída do lámen. Voltamos para casa.
Eu dei uma olhada discreta no rosto silencioso ao meu lado.
A briga com Yuuko parecia ter reanimado um pouco o ânimo de Yuzuki, mas agora os efeitos disso estavam rapidamente desaparecendo. O rosto de Yuzuki mantinha a expressão perfeita e composta de sempre, mas era óbvio que ela estava exausta e desanimada.
Ela não parava de suspirar, embora nem parecesse perceber.
Era compreensível. Eu ainda não sabia os detalhes sobre qual era exatamente a conexão dela com Yanashita da Yan , mas claramente era algo que pesava emocionalmente nela. E, somado a isso, o que aconteceu hoje de manhã…
Quando penso na pressão que as garotas do ensino médio enfrentam, não é tão estranho imaginar que elas poderiam chorar por coisas do passado distante.
Mas Yuzuki era do tipo que mantinha os pés firmes no chão e os olhos secos.
"Você está…?"
Eu quase disse "Você está bem?", mas me segurei.
Esse tipo de palavra soa vazio em situações assim. Eu já tinha percebido isso na noite do festival também.
Se eu perguntasse se ela estava bem agora, Yuzuki seria obrigada a forçar um sorriso e dizer que sim, só aumentando o fardo mental que ela carregava.
Eu realmente queria poder ajudá-la de alguma forma.
Se achasse que faria diferença, eu iria até a Yan e socaria aqueles caras na cara. Até iria à Kura ou à polícia, se achar que uma conversa resolveria.
Mas Yuzuki estava travando sua própria batalha. Que direito eu tinha de me intrometer cheio do meu senso de justiça. Afinal, não estava acontecendo comigo. Eu era só um espectador. Seria ridículo eu ser o único a perder a paciência e cruzar a linha.
Yuzuki me pediu para fingir ser seu namorado e servir como guarda-costas.
Ela não pediu para eu resolver a situação por ela, nem para me envolver em suas lutas internas e oferecer apoio emocional.
Tentar cruzar essa linha… seria mais para me satisfazer do que qualquer outra coisa.
Eu me peguei cerrando os punhos.
…Ainda não.
Do jeito que as coisas estão agora, não há mais nada que eu possa fazer por ela.
"Ei, Saku…"
Eu percebi que Yuzuki tinha acabado de chamar meu nome.
"Estou seguindo em frente do jeito que deveria, você acha?"
Eu não tinha certeza se ela realmente queria uma resposta séria para isso.
"Bem, você não é o Michael Jackson. É difícil não seguir em frente quando é para lá que você está virada. Já tentou moonwalk? Não é fácil."
Ela riu, só um pouco. "Essa piada foi horrível."
[Moon: Ou seria, ho-hehe-vel? . . . Sinto muito]
Eu esperava que, amanhã, Yuzuki conseguisse rir mais do que isso.
Eu realmente, realmente esperava.
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O segundo dia de provas amanheceu com o céu nublado típico da região de Hokuriku. Yuzuki e eu fomos para a escola sob o clima sombrio, onde uma manhã muito pior do que qualquer coisa que poderíamos antecipar nos esperava.
Assim que entramos na sala, todos os alunos começaram a olhar alternadamente entre seus celulares e nós. Imaginei que houvesse mais fofocas no site de rumores da escola sobre mim, mas na verdade parecia que Yuzuki era o alvo do olhar curioso de todos.
Eu estava com um mau pressentimento.
Yua nos viu e veio correndo. "Saku…" Ela me entregou o celular.
Eu olhei a tela e rapidamente o guardei no bolso do blazer.
"Me mostra." Yuzuki percebeu que algo estava errado e estendeu a mão.
"Não é nada. Só mas hate online me chamando de galinha babaca como sempre. Se você vir, vai dizer 'vamos ver outras pessoas', e acho que não aguentaria."
Mas eu sabia que Yuzuki não cairia nessa tão fácil.
Yuzuki pegou seu próprio celular, e foi então que…
"Nanase, sabe, você…" Nazuna se aproximou, segurando seu celular com a tela virada para frente. "Esse tipo de cara é o seu tipo? Sério?"
Havia uma imagem na tela. Apenas uma.
Mostrava Yuzuki, aparentemente ainda no ensino fundamental. Ela estava com um garoto.
O garoto tinha o braço apertado em volta de sua cintura, puxando Yuzuki contra ele.
Era Yanashita, sem dúvida, mais jovem e com um ar mais inocente do que quando o encontramos naquela noite.
"Ooh, namorando bad boys. Coisa tão clichê de adolescente. Hilário!"
Sem dúvida, dava para entender essa impressão à primeira vista.
Mas a Yuzuki na foto contava a verdade. Ela estava virada para longe de Yanashita, cabeça baixa, e parecia estar mordendo o lábio. Seus olhos brilhavam com lágrimas. Ela segurava o próprio pulso com a outra mão, como se estivesse se agarrando com força.
Pessoas que conheciam Yuzuki bem, como Yua e eu, podiam ver que algo estava errado.
Mas Nazuna claramente não tinha pensado muito nisso. Ela assumiu que era uma foto de Yuzuki com um ex-namorado. Estava tratando como uma piada.
Mas a reação de Yuzuki foi extrema.
Ela se agarrou ao meu braço e começou a tremer. Parecia que ia desmaiar.
Nazuna continuou o ataque. "Ainda tentando agradar o Chitose? Desesperada para convencê-lo de que ele é o único hoje em dia?"
Yuzuki piscou, se estremeceu e rapidamente soltou meu braço. "...Quando?" Sua voz saiu estrangulada. "Quando foi que eu tentei agradar o Saku?"
Nazuna revirou os olhos. "Você está sempre tentando. Coloca essa máscara para todo mundo te amar, mas fica mudando, sempre tentando conquistar todos. Me dá nojo."
"...E daí?" Yuzuki estava ficando irritada. Todo o calor estava desaparecendo de sua voz.
Agora ela encarava Nazuna com uma expressão gelada.
"Então foi por isso que você decidiu ser capacho dos alunos da Yan , Ayase? É por isso que você tem feito tudo isso?"
"O quê?"
Merda, eu pensei.
Mas Yuzuki continuou antes que eu pudesse impedi-la.
"Quando meu desodorante foi roubado, eu notei você na sala surpreendentemente tarde, comparado com seu horário normal. Quando meus tênis de basquete sumiram, você estava no jogo, por algum motivo. E ontem, você 'esbarrou' na minha mesa e derrubou aquelas fotos…"
Yuzuki sorriu friamente. "Muitas coincidências convenientes estão se acumulando, não? E você por acaso tem uma amiga na Yan , não tem, Ayase?"
Eu me surpreendi ao perceber que Yuzuki aparentemente sabia sobre Nazuna ficando até tarde no dia do roubo do desodorante — e que ela tinha uma amiga na Yan também.
Eram duas informações que eu tinha escondido de Yuzuki.
Com base nas evidências circunstanciais, era possível que a pessoa cooperando com a Yan fosse Nazuna.
Mas era tudo especulação.
Porque, se Nazuna realmente estivesse por trás disso, ela seria a pessoa mais burra do mundo.
Parar para conversar comigo logo depois de roubar o desodorante de Yuzuki? Seria uma jogada idiota. Ficar para assistir o jogo? Muito suspeito. E o caso das fotos ontem. Todos do Time Chitose receberam uma cópia em suas carteiras. Nazuna só precisava esperar um de nós encontrar.
Se Yuzuki estivesse em sã consciência, teria percebido isso sozinha.
E, de qualquer forma… isso não batia com a impressão que eu tive de Nazuna quando conversamos sob o céu do entardecer.
"Como é?" Nazuna revidou. "Do que que você está falando? Não sei qual é o seu problema, mas está me acusando de fazer coisas para te sacanear?"
"Não estou acusando ninguém. Só estou juntando as evidências."
"Por que eu faria algo assim?"
"Minha aposta é que você tem motivos de sobra."
"...Não brinca comigo, vadia!"
Nazuna jogou o celular no chão, onde ele bateu com um estrondo. Quicou e virou, mostrando a tela rachada.
"Eu sei que não sou exatamente a garota certinha da escola. E eu realmente não gosto de você, Nanase. Dito isso…"
Nazuna encarou Yuzuki, que estava impassível.
Eu podia ver lágrimas de raiva brilhando em seus olhos.
"...Dito isso, se eu tivesse um problema com você, eu falaria na sua cara! Fazer coisas pelas costas… Eu nunca faria algo tão covarde! O quê, acha que tenho medo de você?!"
Yuzuki piscou, deixando a fúria de Nazuna atingi-la. Então limpou a garganta. "...O quê? Mas eu tinha certeza que você…"
"Yuzuki!!!"
Meu grito cortou a voz gelada de Yuzuki.
Eu não podia deixá-la continuar.
Ela estava agindo de um jeito estranho. Não era assim que a verdadeira Yuzuki Nanase agia.
"Você está completamente errada, Yuzuki." Coloquei minha mão em seu ombro, com um pouco mais de força que o necessário.
Yuzuki finalmente percebeu o que estava fazendo e cerrou os lábios.
"Hã…" Atomu então se manifestou, pegando o celular quebrado no chão. "Eu sei que Nazuna é bem folgada e pode ser meio escrota, mas você está totalmente errada sobre o jogo."
"Ei, fica na sua," Nazuna rosnou.
Atomu ignorou ela e virou para Yuzuki. "Nazuna jogou basquete no fundamental, sabe? Ela era fã do seu estilo de jogo, Nanase. Quando soube que nosso time jogaria contra aquele time 'famoso', ela disse: 'Tenho que ir ver.'"
Diante das circunstâncias, uma revelação como essa era suficiente para inclinar a balança a favor de Nazuna. Poucos sabiam o que levou ao conflito, mas era o bastante para fazer Yuzuki se arrepender de suas palavras.
Nazuna pegou seu celular de volta de Atomu e voltou para sua mesa.
Foi então que Kura entrou, como se tivesse cronometrado.
Droga, Atomu. Se tivesse mencionado isso antes, eu poderia ter tirado vocês dois da lista de suspeitos. Eu estava me sentindo amargo, mas, honestamente, não era culpa dele.
Yuzuki tinha atacado sem base, com viés. Nazuna estava dividida entre admiração e aversão por Yuzuki. Atomu tentou poupar o orgulho de Nazuna e omitiu detalhes. E eu, que não pode evitar nada disso.
Eu sabia que Yuzuki se culparia mais que qualquer um.
Ela deixou cair a mochila no chão e saiu correndo da sala.
"...Ei! Kura!"
Kura pareceu entender a situação imediatamente.
Coçando o cabelo bagunçado, ele acenou.
"Tá, Nanase pode refazer a prova outro dia. Quanto a você, pode ter vinte minutos extras no final. Vá lá."
Droga. Por que só eu tenho que jogar no modo difícil?
Não tinha tempo para responder. Saí correndo atrás de Yuzuki.
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Finalmente a encontrei no patamar que dava acesso ao telhado. Mesas e cadeiras extras, que não eram usadas nas salas de aula, estavam empilhadas de qualquer jeito no espaço. Era como se Yuzuki estivesse usando elas como barricadas. Ela estava sentada do outro lado, com os joelhos encostados no queixo.
"Ei, você não sabia? Esse lugar normalmente está trancado. Se quer subir no telhado, tem que pedir autorização por escrito ao Kura. A menos que você seja o 'Fiscal do Telhado' Saku Chitose."
Yuzuki murmurou algo, com as bochechas pressionadas contra os joelhos. "Me desculpa..."
Eu peguei a chave do telhado no meu bolso e destranquei a porta sem cerimônia. Infelizmente, lá fora só dava para ver um céu nublado e sombrio, cheio de nuvens escuras.
"Não é pra mim que você deveria estar pedindo desculpas, não é?"
"Eu sei, eu sei... Mas, Saku, a prova..."
"Japonês é onde eu vou melhor. Só preciso de meia hora, no máximo." Sentei ao lado de Yuzuki. "Você precisa se desculpar direito com a Nazuna."
"...Mm."
"Não adianta vir aqui. Está chovendo, sabe."
"...Mm."
"Vamos ficar aqui um pouco, e depois você acha que consegue voltar e fazer a prova?"
"...Mm."
"Posso tocar nos seus peitos?"
"...Mm."
"Poxa."
Eu estava feliz que estava chovendo hoje.
Com a porta aberta, tudo que se ouvia era o som da chuva.
"Vamos passar o tempo. Podemos contar histórias sem sentido do nosso passado." Comecei a falar, sem saber bem onde queria chegar. "Tem um incidente que sempre fica na minha memória. Eu estava no jardim de infância."
A chuva continuava caindo.
Ouvindo o barulho, deixei minha mente vagar para um dia muitos anos atrás.
"A professora inventou um jogo para nós. Ela dizia: 'Quem aqui tem dois pés?', e todos nós ficávamos em pé. Depois ela dizia: 'Quem aqui ama futebol?', e só quem gostava de futebol se sentava. Não tinha vencedores ou perdedores de verdade. Quando penso nisso agora, é tipo... porque estávamos todos tão animados para jogar algo tão bobo e simples? Sempre me faz rir."
O mundo era muito mais simples naquela época.
"Aí, uma vez, a professora disse: 'Quem aqui tem cabelo?', e depois: 'Quem aqui é menina?', e o garoto ao meu lado, um amigo meu, ficou todo confuso e esqueceu de se sentar, então ficou em pé junto com todas as meninas. O que você acha que eu fiz?"
Nenhuma resposta da minha pequena vizinha.
"Eu sabia que tinha que fazê-lo perceber antes que ele ficasse totalmente envergonhado. Então eu falei: 'Não, não!', agarrei ele pela cintura e puxei ele para baixo. Só que..."
Relembrando a cena, eu dei uma risada.
"Só que eu puxei errado, e as calças dele desceram. Todo mundo viu suas cuequinhas fofas do Ultraman. Até a garota por quem ele era apaixonado. Ele ficou vermelho como um pimentão, começou a chorar, me bateu pra caramba e não falou comigo pelo resto do dia."
[TMAS: Sacanagem, sofrido isso]
Na época, mesmo sendo só uma criança, eu senti como se tivesse cometido um crime que nunca poderia ser perdoado.
"Mas no dia seguinte, todo mundo tinha esquecido, até ele. Nós só formamos um círculo e começamos a brincar de 'Pato, Pato, Ganso'."
Yuzuki levantou a cabeça um pouco e murmurou: "...Que tipo de história é essa?"
"Só passando o tempo. Eu te falei. O significado... Isso é com quem ouve. Você tem que tirar seu próprio significado dela."
Yuzuki ficou em silêncio de novo. Ela provavelmente estava pensando no quanto eu era bobo.
"Ei, e agora, como fazemos essa chuva parar?" Continuei. "Se isso fosse um filme musical, seria a hora perfeita para um número musical. Mas nada muito óbvio."
"...Tá bom, vamos tentar isso então."
Eu comecei uma versão desafinada, mas entusiasmada, de "Teru Teru Bozu", seguida por "Ame Furi", duas canções infantis clássicas sobre chuva. Quando eu estava prestes a cantar mais uma rodada, Yuzuki levantou a bandeira branca. "Tá bom, tá bom, eu volto para a sala agora."
Quinze minutos. Foi por pouco, mas eu consegui.
Eu observei Yuzuki descer as escadas, quase como se nada tivesse acontecido. Eu a vi virar a esquina, então cerrei meus dentes, fechei a mão em um punho e bati com força em uma das mesas.
Ela ainda estava fingindo.
Ainda interpretando a garota descolada, para poder continuar se passando por "Yuzuki Nanase".
Eu não podia deixá-la ver minha raiva, minha tristeza.
Eu me recompus, e só então desci as escadas atrás dela.
A propósito, a letra da cantiga "Teru Teru Bozu" termina assim...
"Mas se estiver nublado e eu te vir chorando / Então eu vou cortar sua cabeça."
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"Saku. Yuzuki. Os caras da Yan estão aqui."
Nós tínhamos acabado de terminar o segundo dia de provas quando Kaito trouxe essa notícia totalmente indesejada.
Ao meu lado, eu pude sentir Yuzuki tremendo.
Cara, que dia totalmente tedioso.
"Quantos são?"
"Dois no portão da frente e mais dois no portão de trás. Quatro no total."
Sem dúvida, Yanashita e o "Cocoricó Imbecil" formaram duas equipes, cada um com um dos capangas A ou B, aqueles outros dois idiotas que também estavam na biblioteca. Eu consegui assustar Yanashita naquela noite no festival, mas claramente ele não era o tipo de cara que ficaria intimidado por muito tempo.
Ainda assim, eu realmente não queria que isso virasse algo grande, se pudesse ser evitado. Enfrentar a gente na nossa própria escola já era passar dos limites.
"Como eles pareciam?"
"Eles não estavam incomodando os outros alunos. Parecem estar só por ali, por enquanto."
Se o plano deles era nos intimidar, bom, estava funcionando.
Os membros do Time Chitose estavam todos reunidos, com expressões ansiosas.
"O que a gente faz? Quer que eu chame o time de basquete para irmos embora em um grupo grande? É tudo que consigo pensar."
Esse era o plano do Kaito.
"Não... Vocês ainda estão fora disso. Não quero que se envolvam. Vamos ficar aqui na escola e estudar por agora. Talvez esses caras cansem de esperar e vão embora sozinhos."
Yua limpou a garganta hesitante.
"Saku... Yuzuki..."
"Eu sei, eu sei. Vou cumprir minha promessa. Não vou fazer nada perigoso sem consultar todo mundo antes."
Kazuki fez um punho e me deu um tapinha no ombro. "Então imagino que você tenha um plano B caso eles fiquem ainda mais persistentes?"
"Hmm, bom. De qualquer forma, vocês podem ir embora normalmente. Eu atualizo todo mundo pelo LINE depois."
Os membros do Time Chitose ainda pareciam preocupados quando saíram da sala juntos.
"Hora de uma sessão de estudo, eu acho."
Yuzuki devia ter muita coisa para discutir comigo. Estratégias e tal. Mas ela não disse uma palavra. Só começou a espalhar seus lápis e livros em silêncio.
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Não havia nada a ganhar entrando em pânico. Ficamos firmes por algumas horas depois disso.
Yuzuki e eu nos concentramos em estudar para as provas. Tão focados quanto se estivéssemos em aula. Não, ainda mais.
Mesmo se corrêssemos para casa, estaríamos fazendo a mesma coisa lá. Estávamos matando tempo, sim, mas de um jeito produtivo, então não nos incomodava.
O relógio acima do quadro marcava seis da tarde.
Era engraçado, mas o incômodo de saber que não podíamos sair nos deixou extremamente focados nos estudos. Talvez estivéssemos só fugindo da realidade, mas Yuzuki parecia estar sentindo o mesmo efeito. Eu ouvi sua caneta arranhando o papel por um tempão sem parar.
Eu continuei checando lá fora regularmente, mas os caras da Yan eram irritantemente persistentes. No começo, pareciam estar só perambulando perto dos portões, mas agora tinham se sentado no chão bem em frente aos portões principal e traseiro e pareciam estar conversando e se divertindo.
Irritantemente, a chuva forte da tarde parecia ter parado.
No final, percebi que, mesmo estando muito tarde, eles não davam sinais de ir embora. Eles não tinham nada melhor para fazer do que nós — ou seja, tudo que podiam fazer era ficar sentados conversando. Aparentemente, não se importavam de ficar sentados na terra batida do colégio Fuji a noite toda. Ou talvez estivessem só com tanta raiva de mim. Ou talvez obcecados com Yuzuki.
"Não temos escolha. Vamos para casa?"
"O quê...?"
Yuzuki parecia preocupada quando comecei a guardar meus materiais de estudo na mesa.
"Vou jogar uma das minhas cartas. Não sei o quanto vai funcionar, mas vamos lá."
Nós saímos pela entrada, e o Capanga A nos viu imediatamente. Ao lado dele estava Yanashita, que se levantou devagar. O Capanga A pegou o celular e fez uma ligação. Sem dúvida, o "Cocoricó Imbecil" e seu amigo estariam vindo a qualquer momento.
Yuzuki se escondeu atrás de mim, como se não quisesse olhar para os rostos deles. Ela estava segurando meu blazer.
"E aí," Yanashita nos chamou.
Eu parei bem antes do portão da escola e respondi.
"Parece que deixamos vocês esperando, hein. Desculpa por fazer vocês ficarem por aqui em um dia chuvoso assim. Espero que suas bundas não tenham ficado encharcadas."
"O tempo passou voando. Estávamos admirando as garotas do Fuji . Essas escolas preparatórias chiques têm muitas gostosas sofisticadas."
"Imagino que as próprias garotas estivessem se perguntando o que dois batatas rurais e sujas como vocês estavam fazendo vegetando no chão fora do Fuji , né?"
Yanashita deu um passo à frente em silêncio, então parou, aparentemente tentando se conter.
...Só mais três passos.
"Ainda assim, Yuzuki está em uma classe diferente do resto. Não acha?"
"Ah, sim. Mas se você quer algo para acompanhar suas batatas, já tem aquele frango frito ambulante ali."
Eu olhei para o "Cocoricó Imbecil", que estava correndo em nossa direção naquele exato momento.
...Mais dois passos.
"Saku Chitose. Não me diga que você realmente acha que está seguro aí? Acha que não vamos colocar a mão em você? Porque vamos. Diga a ele, Yuzuki."
Eu não conseguia ver o rosto de Yuzuki, já que ela ainda estava atrás de mim, mas sabia qual seria sua reação.
...Mais um passo.
"Não se preocupe. Se eu pensasse por um segundo que vocês estavam planejando usar lógica em vez de violência, meu queixo cairia de choque."
"Chega. Acabou pra você."
Yanashita passou sob o arco do portão e me agarrou pela gola da camisa.
Yuzuki se agarrou nas minhas costas.
Tuck, tuck, shs, shs.
Passos se aproximavam — o arrastar de sandálias de sola de couro que estávamos tão acostumados a ouvir.
"Ei. Vocês, crianças. Sem brigas."
A voz arrastada que ecoou era inconfundivelmente, incorrigivelmente, do Kura. Eu senti a tensão escorrer dos meus ombros.
Yanashita aproximou o rosto do meu, ainda segurando minha camisa.
"Você dedurou?"
"Não faça soar tão incivilizado. Eu só fiz um relatório sobre intrusos suspeitos na propriedade da escola."
Pois é, a carta que decidi jogar? Envolvia pedir ajuda dos professores. Não havia método mais simples para evitar uma briga nos portões da escola.
Kura me deu uma ordem: "Faça-os entrar no terreno da escola." Eu estava tentando provocar Yanashita a dar esse passo o tempo todo.
"Você acha que um professor é o suficiente para nos assustar?"
"Quem sabe? Pessoalmente, eu preferiria não me envolver com aquele velho."
Naquela hora, Kura já tinha caminhado até nós.
"Sem pegar doenças, hein." Kura deu um golpe de mão entre Yanashita e eu.
"Ai!" Yanashita pulou para trás.
"Que diabos você está fazendo? Escuta, velho, você acha que um professor pode levantar a mão contra um aluno?!"
Kura estava revirando o bolso. Ei, ele está planejando fumar? Bem na frente do portão da escola?
"Ah, foi rápido demais. Você não viu? Olha, minha mão está no bolso; não está contra um aluno nem nada."
Quantos anos você tem, professor?!
[Moon: Meu goat]
Kura amassou o maço de Lucky Strike, que parecia estar vazio de qualquer forma. Então pegou o bolso do uniforme de Yanashita.
"Ah, um maço de Seven Stars? Isso é ostentação; você é só um estudante..."
Kura puxou um maço de Seven Stars do bolso e acendeu um com seu próprio isqueiro.
Yanashita e os outros pareciam chocados. Kura certamente não estava agindo muito como um educador enquanto soltava uma baforada de fumaça roxa, com uma expressão de êxtase no rosto.
Yanashita o observou antes de soltar um suspiro dramático.
"Você está atrapalhando, velho."
Yanashita parecia irritado, talvez porque nada estava saindo como ele planejou. Ele avançou em Kura e, claramente sem pensar muito, deu um chute nele.
Era como se ele não tivesse parado para pensar nas consequências de fazer algo assim em um lugar como aquele — e para um professor, ainda por cima. Ele não pensou.
"Aiii!"
Mas foi o chutador quem gritou de dor.
Kura tinha levantado o pé com a sandália de couro e chutado Yanashita rapidamente na canela. Nada mal, velho.
"Yan! Ah, isso me traz lembranças." Kura continuou falando, baforadas de fumaça saindo de sua boca. "Na minha época, alguns deles usavam aquelas calças largas de delinquente juvenil com o uniforme escolar. Claro, não estão mais na moda."
Yanashita franziu o rosto para Kura.
"Seu desgraçado! Professores hoje em dia só fingem que se importam em proteger os alunos!"
"Não estou fingindo nada. Só vim aqui para dizer para vocês levarem isso para outro lugar. Não me importo onde. Só algum lugar onde eu não possa ver vocês. Vão curtir sua juventude longe dos meus olhos. Não suporto olhar para vocês."
"Quer que eu vá dedurar você para o Conselho de Educação?!"
"Nossos alunos todos viram vocês rondando a escola. Além disso, sou professor de uma escola preparatória de elite. Posso te dar uns dois ou três socos, e o conselho ainda vai me proteger. Se vocês aparecerem na nossa escola de novo, posso facilmente inventar umas coisas ruins sobre vocês e pedir para meu amigo na polícia vir lidar com vocês."
[TMAS: Baita de um professor, tenho que dizer / Goki: É o goat não tem jeito / Moon: Gos.To.---Digo, um excelente profissional, não muito, mas uma pessoa admirável!]

Que adulto sujo e desonesto.
[Moon: Namoral, o moleque parece o Shikamaru de Naruto kkkkk, só que todo revoltadinho]
"Entendeu, Rabo de Cavalo? Isso é o que significa viver em sociedade. Acha legal ir contra as regras? Então não se surpreenda quando alguém quebrar as regras também e acabar com você."
Kura balançou o pulso, fazendo um gesto de desdém.
Yanashita me lançou um olhar furioso antes de virar as costas e sair irritado. Ou ele percebeu que seu grande plano foi um fracasso total, ou realmente tinha medo de ter que explicar as coisas para a polícia. Mas, por precaução, Kura nos levou a uma distância segura em seu Nissan Rasheen velho, antes de nos deixar.
Yuzuki estava segurando minha mão há um tempo e ainda não dava sinais de soltar. A chuva, que tinha parado mais cedo, começou a cair novamente em gotas grossas.
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Yuzuki Nanase estava sendo atingida pelas gotas de chuva.
Agora a chuva caía forte. Yuzuki ficou parada, olhando para cima, sem guarda-chuva ou qualquer proteção.
Estávamos em um parque perto de onde Kura nos deixou. Por sorte, não havia mais ninguém por ali. Ninguém suspeito nos observando.
Naquela paisagem escura e indistinta, apenas o brilho distante dos faróis dos carros e o som da chuva formando poças pareciam manter Yuzuki presa a este mundo. Seu uniforme encharcado colava nela como uma segunda pele, e grandes gotas escorriam de suas mangas e saia.
"Yuzuki, chega. Você vai ficar resfriada."
Yuzuki virou-se lentamente para mim. Seu rosto parecia pintado com aquarela. A chuva poderia lavar toda a tinta, deixando-a sem rosto.
"Ei, Saku... Eu fiz algo errado?" Seu rosto se contorceu.
"Não. Você só tem sido Yuzuki Nanase." Abri meu guarda-chuva plástico e bloqueei a chuva gelada. "Vamos. Eu te levo para casa."
Yuzuki desabou contra mim, balançando a cabeça repetidamente. "Por favor. Não consigo ficar sozinha hoje."
Eu queria dizer algo sobre sua família estar esperando por ela, mas acho que não era isso que ela queria dizer.
"Entendo como você se sente, mas não podemos ficar aqui a noite toda."
"Sua casa, Saku..." Yuzuki me olhou suplicante. "Você disse que, se ganhássemos o jogo de treino, faria uma coisa por mim, certo? Não vai voltar atrás na sua promessa, vai? Quero cobrar esse favor agora. Por favor, deixa eu cobrar."
"Como você sabia que eu moro sozinho?"
"Eu ouvi... da Yuuko, um tempo atrás."
"Seus pais vão ficar preocupados."
"Vou dizer que estou na casa da Haru, estudando. Acho que nem vão questionar."
"Mesmo assim..."
Yuzuki me abraçou, olhando para mim com desespero nos olhos.
"Por favor, Saku. Por favor, me leva para sua casa. Me ajuda!!!"
Eu ainda estava hesitante, mas não conseguia deixar Yuzuki sozinha naquele estado. E não tinha certeza se conseguiria convencê-la a deixar eu a levar para casa.
Além disso, ainda não conseguia soltar aquela mão trêmula.
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Acendi as luzes.
O brilho suave da lâmpada iluminou o espaço.
Era uma sala de estar comum, sem nada de especial.
Havia uma mesa de jantar com cadeiras para quatro, um sofá para três pessoas e uma mesa baixa. Os únicos pontos de interesse eram as prateleiras cheias de romances que ocupavam uma das paredes e um rádio Tivoli Audio em um canto. O quarto ao lado era extremamente simples: apenas uma cama de solteiro, um criado-mudo, uma escrivaninha e uma poltrona de couro antiga. Não havia TV nem computador.
Hesitei em sugerir que Yuzuki tomasse um banho e se trocasse logo de cara, então peguei uma toalha nova do armário e a coloquei sobre seus ombros, ajudando-a a se sentar no sofá. Liguei o rádio Tivoli, e um locutor de uma rádio local começou a rir e conversar de maneira descontraída.
Fui para a cozinha fazer café quente para nós dois. Quando voltei, Yuzuki não tinha se mexido, então sentei ao lado dela e comecei a secar seu cabelo de maneira prática.
"Toma, bebe isso. Vai te aquecer."
Era como se Yuzuki nem tivesse me ouvido. Ela apoiou a cabeça no meu ombro e se encostou em mim. Seu cabelo ainda úmido cheirava a chuva e ao resíduo de seu shampoo.
Fiquei em silêncio. A mão de Yuzuki deslizou pelo meu braço e tocou meu rosto. Eu ainda não me mexi. Frustrada, ela apertou a mão, me encarando a cerca de dez centímetros de distância.
Seus lábios estavam entreabertos e brilhavam levemente à luz. Seu hálito escapava entre eles, fazendo cócegas nos meus lábios.
Ela fechou os olhos, que estavam cheios de lágrimas, e se aproximou mais, reduzindo a distância entre nossos rostos para apenas cinco centímetros.
Seu corpo estava pressionado contra o meu, o contorno de sua roupa íntima visível através das roupas.
Você vai levar isso tão longe?, pensei.
Minha barragem estava prestes a estourar fazia tempo.
"...É assim que você quer, Yuzuki Nanase?"
Agarrei os ombros de Yuzuki e a empurrei com força contra o sofá.
"Ai!"
Yuzuki soltou um grito fora do comum, mas eu não liguei.
Ignorei como sua saia subiu e me posicionei sobre ela. Assustada, Yuzuki agitou as pernas, tentando me empurrar, mas eu a imobilizei com minhas coxas.
"Era isso que você queria, hein?"
Os olhos de Yuzuki, que antes estavam cheios de fogo, agora mostravam claramente medo.
Ah, como eu tinha olhado para aqueles olhos com tanta impaciência na última semana.
"Pare... para, Saku!"
"Já é tarde demais. Você veio aqui por vontade própria. Você pediu por isso. E quando fizemos nosso contrato, você disse que eu poderia fazer o que quisesse com você, quantas vezes quisesse. Não disse?"
Yuzuki tentou se sentar, desesperada para sair de baixo de mim, mas agarrei seus pulsos com uma mão e os prendi acima de sua cabeça.
A curva de seu peito ficou evidente.
Lágrimas grossas começaram a escorrer de seus olhos.
"Por favor, Saku. Eu não gosto disso. Estou com medo. Estou com medo."
"Entendo... Então aquele cara estava certo. Quando você fica assustada e chorosa, é realmente a maior provocação de todas."
Yuzuki apertou os olhos, virando o rosto para o lado.
Segurei seu queixo com a mão livre e forcei seu rosto de volta para mim.
"Isso não é divertido. Se você fecha os olhos, não consegue ver nada."
"...Desculpa. Me desculpa. Por favor... Eu não faço de novo..."
"Ei, ei. O que exatamente você espera de mim? Misericórdia? Eu sou o cara que está prestes a rasgar suas roupas. Você percebe isso, né?"
Dei um tapinha leve em sua bochecha macia.
Foi o suficiente para seu corpo esbelto congelar completamente.
Aliviei a pressão em suas coxas, transferindo meu peso para meus joelhos no sofá.
"Está com medo? Isso é muito mais gentil que uma das provocações da Haru. Suas jogadas na quadra de basquete pareciam muito mais agressivas. Estou surpreso de ver uma garota que lida com aquilo com frieza surtando como uma fracote por algo assim."
...Entenda, Yuzuki! Entenda mais rápido!
De outro tapinha leve em sua outra bochecha.
"Reage mais que isso; vamos. Um tapinha desconectou seu cérebro? O que, você faz qualquer coisa agora? O que eu tenho dito? É só isso que Yuzuki Nanase é? Não me faça rir; você é patética."
Um pouco de emoção voltou aos olhos de Yuzuki, como se ela estivesse lembrando quando Nazuna também a chamou de patética.
Os olhos de Yuzuki estavam estreitos enquanto ela me encarava. Seu rosto era tão bonito quanto naquela vez que acertou a cesta de três pontos.
"Você tem mesmo tanto medo daquele cara, hein?" Minha mão desceu para o botão superior de sua blusa e o desfez. "Tem medo de uma coisinha como força física?"
Agora desfiz o botão inferior.
"Não vou só te bater e pronto. Vou fazer você fazer o que eu quiser. Vou tirar fotos e vídeos, atingir todos seus pontos fracos, seu passado, sua família, seus amigos, sem deixar para onde correr."
Não tinha mais botões para desfazer, então, sem alternativa, comecei a afrouxar minha gravata. "O que te assusta mais?"
...Volte a si! Tome uma atitude, Yuzuki Nanase!
Então gritei com ela, com toda a força que pude.

*
"EU ESTOU TE PERGUNTANDO QUEM TE ASSUSTA MAIS?! ELE OU EU?!!"
"...VAI SE FODEEEEER!!!"
Com um baque surdo, levei um chute direto nas bolas.
"Uaaaah!"
[TMAS: Merecido]
Dobrei para frente e caí molemente em cima da Yuzuki.
"I-isso foi muito mais que quarenta por cento da força de chute..."
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Tap, tap, tap.
"Argh."
Pat, pat, pat.
"Ugh."
Eu estava encolhido no chão em posição fetal. Yuzuki batia levemente nas minhas costas com o punho, como se estivesse me confortando.
"Pfft... Heh... Ah-ha-ha-ha!"
"Não tem graça! Você queria me castrar ou o quê?!"
"É que... é que... O famoso Saku Chitose, reduzido a... Desculpa, a-ha-haha!"
Yuzuki ria como se o horror em seu rosto alguns momentos atrás nunca tivesse existido.
Quanto a mim, sabia que meu rosto estava contorcido de dor.
"Ei, ei. Dói mesmo tanto assim?" Yuzuki cutucou minha nádega várias vezes.
"Claro que dói! Ai, caramba, como dói! Eu estava me esforçando para não te machucar de verdade, e é isso que ganho?! Fiz algo em uma vida passada...? Ok, sério, por favor não para de bater."
"Tá bom, tá bom, foi mal. Pat, pat, pronto, pronto."
Mas ela parecia incapaz de parar de rir. Cobriu a boca com a mão, mas dava para ouvi-la fungando atrás dela. Eu também estava me tremendo, mas não de diversão.
"Aiiiiii..."
"Se você insistir, posso massagear a parte machucada de verdade, sabe?"
"Por que você é a única que já voltou a fazer piadas, hein, sua esmagadora de...?!"
Quando finalmente comecei a me sentir um pouco melhor, sentei no sofá de novo. Minhas bolas ainda latejavam.
"Acho que já entendi, mas se quiser falar, pode ir em frente."
Yuzuki acenou com a cabeça. "Eu tenho medo, sabe, de violência..."
Era uma confissão que confirmava o que eu já suspeitava.
Pensando bem, ela tinha dado várias pistas desde aquele dia no café.
Aquela vez que eu tentei dar um golpe de brincadeira nela, quando Yuuko apontou um dedo acusador... Na verdade, sempre que alguém se aproximava de Yuzuki de repente, ela congelava de um jeito desproporcional. Ela também reagiu durante minha briga com o "Cocoricó imbecil" na biblioteca — e de novo no festival. E agora, quando estávamos brigando no sofá. Yuzuki reagia com um terror exagerado.
Dito isso, era difícil dizer se Yuzuki tinha medo de violência que poderia se tornar sexual ou se tinha medo de violência, ponto final.
Minhas suspeitas foram basicamente confirmadas quando vi aquela foto dela com Yanashita.
Uma Yuzuki do ensino fundamental, desviando o rosto inchado da câmera, tentando esconder os hematomas no pulso direito, marcas de ter sido agarrada.
O som relaxante de músicas antigas tocando no rádio vazava do Tivoli Audio.
Gotas de chuva batiam na janela.
"Você vai ouvir minha história?... Saku."
"Se você deixar, Yuzuki."
Calmamente, ela começou a confessar o que havia acontecido com ela.
...Eu estava no segundo ano do fundamental.
Por causa da minha aparência, passei por mais situações desagradáveis do que a maioria. Eu era jovem na época, mas era inteligente e tinha me tornado bem esperta também.
Tentava ser amigável com todos, meninos e meninas, mas mantinha limites rígidos que não deixava ninguém cruzar. Fazia meu melhor para interpretar o papel da "garota tão legal que você não consegue ter inveja".
Eu realmente achava que tinha dominado. Mas um dia, ouvi que Yanashita, que estava no ano acima, tinha se interessado por mim. Ele era famoso na escola por ser um bad boy. Várias amigas minhas tinham uma queda enorme por ele porque ele era do tipo que brigava às vezes e tinha conexões com caras mais velhos e assustadores do ensino médio. E, quer dizer, ele nem é tão feio, sabe? Você pode não perceber de primeira, mas ele vem de uma família decente, e antes de virar um delinquente juvenil sério, ele era bem parecido com o Saku. Um cara popular. Só tinha um lado sombrio, e muitas garotas gostavam disso.
Mas na época, eu não estava muito interessada em garotos. Estava ocupada demais comigo mesma.
Então, quando ouvi os rumores, não parecia ter nada a ver comigo.
Até que um dia, Yanashita pediu para me ver. Era clichê, mas ele queria me encontrar atrás do prédio da escola, uma área bem isolada. Ele estava lá com alguns de seus capangas.
Eu estava com medo, honestamente, mas achei que poderia lidar sozinha. Quer dizer sempre lidei assim. Disse a mim mesma que convenceria ele a me deixar em paz, e então não teria mais problemas.
Mas ele não me chamou lá para confessar que tinha uma queda por mim ou algo tão fofo. Em vez disso, disse: "Você. Vai ser minha mulher." Como se estivesse dando uma ordem.
Eu ri e ignorei o que ele estava dizendo... Ou pelo menos tentei.
Mas então, de repente, Yanashita murmurou "Chega disso" e me agarrou pelo braço direito, me empurrando contra a parede. Nunca vou esquecer a visão do rosto dele, tão perto do meu. Às vezes vejo isso em meus sonhos.
Ele era forte demais, e eu não conseguia empurrá-lo para longe. Tentei me soltar, pensando "Não, não, por favor", mas não consegui. Tentei empurrar o rosto dele com a mão esquerda, que ainda estava livre, e foi quando ele me deu um tapa.
O choque fez tudo ficar preto por um segundo. Então a dor veio. Era como queimar. Eu não sabia o que estava acontecendo. Lágrimas começaram a cair, e eu não conseguia pará-las.
Eu estava com tanta raiva e tanto medo ao mesmo tempo, e simplesmente não aguentava.
Eu tento fazer tudo certo; tento agir com frieza o tempo todo, mas ainda sou uma garota, e a força física que um cara comum tem — não é algo que eu possa esperar vencer. Eu percebi isso na hora.
Percebi como um único tapa no rosto poderia ser o suficiente para apagar todo pensamento racional da minha mente.
"...Então é isso. Esse é o passado que eu estava escondendo de você, Saku. Eu chorei tanto — como um bebê — e no final, ele disse: 'Deixa eu tirar uma foto para me gabar para meu amigo em outra escola.' Ele me fez tirar aquela foto com ele. Foi o fim. Achei que ele já devia ter me esquecido completamente..."
Yuzuki terminou sua história, parecendo que algum espírito maligno tinha acabado de soltá-la.
Dessa vez, não consegui me segurar. Puxei ela para meus braços e a abracei.
"...Saku?"
"Obrigado, Yuzuki."
"Por que você está me agradecendo?" Yuzuki riu, e eu sabia que, se não me controlasse, poderia até começar a chorar.
Que sorriso verdadeiramente... verdadeiramente lindo ela tinha.
"Obrigado por nunca desistir de ser Yuzuki Nanase, mesmo depois de algo assim acontecer com você. Obrigado por continuar seguindo em frente. Não sei exatamente porquê, mas, por algum motivo, estou tão feliz que você continuou."
Alguns riram pelo nariz, achando que algo assim não era grande coisa.
Outros poderiam simpatizar, dizendo o quanto sentiam que Yuzuki teve que passar por algo assim.
Esqueça tudo isso.
Todo mundo passa por coisas dolorosas na vida, e algumas ficam com você para sempre. Todos temos nossa parcela de má sorte. Coisas que nos fazem questionar a vida. Achar que você é o único que passa por dificuldades... Isso é uma ilusão.
Mas essa garota, Yuzuki Nanase, não tentou embrulhar o que aconteceu com ela em um pacote chamado trauma e usar isso como motivo para fugir ou se esconder. Daria para entender se ela se tornasse uma pessoa invisível, misturando-se aos cantos da sala, ou se desenvolvesse um terror sério de todos os homens. Mas ela não fez isso.
O fato de ela ainda estar aqui hoje, como Yuzuki Nanase — para mim, isso era algo precioso.
Não sei se meus sentimentos chegaram até ela, mas Yuzuki ficou quieta e permaneceu em meus braços por mais um tempinho.
"A propósito," Yuzuki disse quando finalmente a soltei, "que diabos foi aquela cena antes? Eu estava com medo de verdade, sabe? Um passo errado, e você poderia me traumatizar de novo. Não seria engraçado, sabia?"
"Sim, se o conselheiro da escola ouvisse, com certeza desmaiaria de choque. Direto para o psicólogo para uma avaliação psiquiátrica."
Até eu sabia que minha abordagem tinha sido pesada demais.
Mas achei que precisava fazer algo impactante, algo para explodir as memórias terríveis que até uma garota do calibre da Yuzuki ainda não conseguia esquecer. De qualquer forma, eu tinha fé que uma garota tão forte conseguiria se libertar do próprio passado com um pequeno empurrão.
Yuzuki sorriu para mim, rindo baixinho.
"Dizem que é mais assustador quando pessoas que nunca ficam bravas começam a gritar. É totalmente verdade. Eu estava preocupada que, quando você acabasse de brincar comigo, me entregaria para algum lugar duvidoso. Mas..."
Yuzuki parecia realmente divertida. Continuou rindo, o corpo todo tremendo.
"Mas aí você ficou todo 'Wow!' Você sempre age tão descolado, mas aquilo... aquilo foi ouro puro!"
"Ei, para com isso. Você está tentando me dar uma experiência traumática que nunca vou esquecer também?" Eu me recompus e continuei em um tom mais sério. "Não quero que você entenda errado. Isso não foi sobre eu tentar te ensinar a chutar um cara nas bolas e parar um ataque. É difícil de fazer, e às vezes só serve para provocar o cara e deixar a situação ainda mais perigosa para você."
"Tá bom. Então você está me dizendo para não desligar meu cérebro, certo?"
Hã, então ela entendeu isso.
"No festival, você me mostrou um exemplo do que fazer. Posso não conseguir vencer um cara usando minha força, mas posso encontrar outra estratégia, contanto que mantenha meu cérebro conectado. Era isso que você queria dizer, né?"
"Violência pode ser assustadora, claro, mas dor é só dor. Algo como um tapa no rosto não dói nem perto do que cair no concreto e ralar os dois joelhos, ou trombar com outro jogador de basquete quando ambos estão totalmente animados no jogo. O que estou dizendo é: Não deixe uma coisinha fazer você congelar completamente."
Yuzuki riu, mostrando os dentes brancos por uma vez.
"Acho que vou ficar bem. Atualizei meus bancos de memória mental. A imagem mental do rosto mais assustador que já vi, e do rosto mais bobo que já vi, ambos foram atualizados. As versões antigas foram totalmente apagadas."
"Você não poderia sobrescrever metade disso de novo para mim?" Eu suspirei audivelmente. "...Me desculpe, sério. Sei que te assustei. Só queria ter encontrado um jeito diferente de fazer isso. Algo mais rápido e eficaz."
"Eu sei, Saku. Eu entendo." Yuzuki esticou a mão e tocou meu rosto gentilmente. "Você veio correndo quando eu pedi ajuda, né? Obrigada. Meu herói."
Esse era o problema da Yuzuki.
Se Yuzuki não desse um passo para frente sozinha, então toda essa situação acabaria sendo sem sentido. Não havia garantia de que eu estaria ao lado dela da próxima vez que o infortúnio aparecesse em sua vida.
Mas Yuzuki tomou a decisão sozinha de depender da minha ajuda, e agora estava olhando para frente.
Então, de agora em diante, esse era o nosso problema.
Você realmente agiu conforme seus caprichos egoístas, não foi, seu stalker desgraçado?
Mas eu tinha um plano para devolver isso cem vezes pior. Eu estava justamente pensando nisso quando Yuzuki olhou para mim com um sorriso malicioso.
"Ei, quer continuar de onde paramos...?"
"Você acha que eu vou conseguir ficar excitado agora?! Eu disse 'Wow!', lembra?!"
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Yuzuki estava se sentindo muito melhor, então achei que ela provavelmente voltaria para casa. Aparentemente, porém, ela estava determinada a passar a noite de verdade.
Decidi não discutir. Em vez disso, preparei um banho e lhe dei uma toalha nova. Disse que ela podia escolher qualquer roupa do armário. Não tinha muito o que fazer sobre a calcinha, mas acabou que ela geralmente levava uma extra na bolsa de esportes para trocar depois do treino, caso suase muito. A paranóia depois do roubo do desodorante a fez começar a guardar as roupas na mochila. Então sem problemas.
Mas eu realmente não precisava saber disso. Agora teria que pensar nisso toda vez que visse a mochila dela.
Clack. Shuu.
O apartamento originalmente tinha dois quartos e uma cozinha americana, mas foi reformado para ter um quarto e uma sala combinada com cozinha. Ao abrir a porta, já se estava na sala. O banheiro e o vestiário eram separados apenas por uma cortina. Era simples e prático para quem mora sozinho, mas em uma situação como essa, estava sendo estranho. Que jovem viril não imaginaria a garota linda trocando de roupa atrás daquela cortina? Se existisse um cara assim, teria que ser um semideus.
Aumentei o volume do Tivoli para não ouvi-la trocando de roupa. Mas o rádio não foi suficiente para abafar o som do chuveiro. Um pouco atrasado, comecei a pensar em quão macia e quente Yuzuki tinha parecido quando a prendi no sofá.
Eita. Eu estava em risco de me tornar um pervertido comum. Certamente não poderia mais zoar nosso amigo stalker.
Comecei a fazer o jantar para afogar meus pensamentos.
Não estava esperando uma visita, então não tinha muita coisa na geladeira. E estava sem arroz. Mas tinha um pacote de macarrão Echizen sobá, uma bandeja de carne de porco fatiada, metade de um daikon, um alho-poró e uma cebola. Uma combinação difícil para fazer uma refeição.
Ainda assim, podia servir o sobá com cebola fatiada.
Primeiro, cortei a cebola bem fina e coloquei em uma peneira. Esfreguei um pouco de sal e deixei descansar, depois mergulhei em uma tigela com água.
Enquanto isso, ralei o daikon.
Com uma boa porção de daikon ralado, levantei a peneira e escorri a água, depois arrumei a cebola em um prato. Cobri com filme plástico e coloquei no freezer por alguns minutos. Isso deixaria ela crocante.
Swoosh.
Ouvi a porta do banho abrindo.
Que rápido. Ela já terminou?
"Saaa-ku! Quer entrar também?"
"Não seja tão genérica! Fica aí mergulhada até os ombros e conta até cem."
"Chaaato!"
Kasploosh. Ouvi ela mergulhar de volta na banheira.
Provavelmente, tinha deixado a porta entreaberta para continuarmos conversando.
"Yuzuki, você come comida picante?"
"Hmm? Sim, adoro."
"Tá bom."
"Ei."
"O quê?"
"Você está imaginando?"
"Quer que eu vá esfregar sua pele toda com aquela bucha, hmm?"
"Um, dois," ela começou a contar, parecendo estar se divertindo. Estava relaxando, sem se preocupar muito com minha presença.
Lavei o alho-poró e cortei a raiz, depois fatiei em rodelas. Diluí um pouco de caldo em água, provei, e então espremi um tubo de molho de pimenta Tobanjan, misturando com meus hashis.
Antes que esquecesse, peguei a cebola do freezer e coloquei na geladeira.
Coloquei uma frigideira de ferro velha no fogão e aqueci em fogo médio. Quando começou a fumegar, coloquei um pouco de óleo e espalhei até cobrir o fundo. Então guardei o óleo e baixei o fogo.
A frigideira tinha sido um presente, e eu conhecia o básico de cozinhar. Não me importava com esse tipo de coisa. Os vários passos e tudo.
Adicionei uma boa quantidade de óleo de gergelim, depois coloquei o alho-poró fatiado. Quando estava bem cozido, tirei e coloquei a carne de porco.
Depois que a carne dorou, adicionei o caldo com o molho de pimenta.
A carne chiou. Um aroma delicioso começou a encher a cozinha.
Clatter. Swoosh.
Dessa vez, Yuzuki realmente tinha saído do banho.
"Ei, o que cheira tão bem?"
"Você deve estar com fome. Quanto tempo precisa para secar o cabelo?"
"Hmm, uns quinze minutos se me apressar."
Isso me daria tempo suficiente.
Enchi uma panela com água e coloquei para ferver.
"Saku, aquele shampoo seu cheira muito bem."
"Né? A Yua recomendou. É da MUJI. Meio caro, mas dizem que é ótimo para o cabelo."
"Hmm..."
O molho parecia pronto, então adicionei o alho-poró de volta.
Vuuuu.
Ouvi o som do secador de cabelo.
"Ei, essa coisa é bem potente. Legal."
Ouvi Yuzuki exclamar.
Respondi, gritando por cima do barulho do secador. "Foi um presente da Yuuko! Ela disse que ia comprar um novo mesmo."
"Aham..."
Lavei a tábua de cortar, e então a panela de água começou a borbulhar.
Peguei um punhado de macarrão sobá e joguei dentro. Coloquei um timer no meu telefone, um minuto a menos que o tempo normal de cozimento. O alho-poró parecia pronto, então desliguei o fogo do molho.
Esperei cerca de cinco minutos.
O som do secador parou.
A cortina se abriu, e Yuzuki apareceu.
"..."
Fiquei mudo por um momento.
Ela estava fazendo o clichê completo. Aquele da garota que vai na casa do namorado e sai vestindo a camisa dele.
A camisa branca ficou um pouco larga nela, e a barra descia, com suas pernas nuas chamando a atenção, mesmo que você tentasse não olhar. Suas coxas e panturrilhas eram inegavelmente sexy, mas havia algo nos dedos dos pés descalços contra o chão que era, bem, uau. Era uma parte dela que eu normalmente não via, e a visão rara me deixou completamente distraído.
[Moon: Os homens realmente acham isso muito atraente? Agora tô com essa questão]
...Desculpa, Haru. Mas eu estava certo. Esses são pés que eu não poderia tocar casualmente, ao contrário dos seus.
Rapidamente olhei para cima, vendo o cabelo ainda úmido de Yuzuki, suas bochechas coradas e os óculos de armação fina que ela estava usando.
Yuzuki, que normalmente parecia perfeita da cabeça aos pés, parecia estranhamente desencaixada com aqueles óculos. Era como ver por trás de sua fachada perfeita. Tive vontade de provocá-la, mas engoli com tudo que tinha.
Yuzuki riu, parecendo perceber meu choque. "O que acha? O coração pulou?"
"...Mais do que eu esperaria."
"Mais do que quando viu a Ucchi de óculos?"
"Era esse seu objetivo?"
Honestamente, o fato de ela ter me pego de surpresa foi responsável por pelo menos metade do dano.
Yuzuki sorriu satisfeita. "Tá bom, você venceu. Agora vai colocar uma roupa decente. Sei que trouxe uma camiseta e um short aí com você."
"Não quer que eu te sirva uma bebida antes?"
"Você viajou no tempo dos anos 80? Só vai logo se trocar; o jantar está quase pronto."
"Tá bom."
O macarrão soba estava flutuando, então tirei da água e lavei na torneira fria.
Liguei o fogo na frigideira novamente e aqueci o molho mais uma vez. Preparei duas tigelinhas e as enchi com mais molho. Depois cobri com o daikon ralado, junto com o caldo.
Então coloquei a carne de porco, o alho-poró e o caldo em duas tigelas grandes. Servi o sobá em um prato, enfeitando com as fatias de cebola que tirei da geladeira — e bastante flocos de bonito.
Tínhamos sobá, molho frio com daikon ralado, sopa quente com porco para mergulhar o macarrão e cebola fria. Arrumei a mesa para dois e coloquei os pratos. Estava servindo chá de cevada gelado em dois copos baratos quando Yuzuki saiu do vestiário de novo.
"Nossa, Saku, você também cozinha? Imaginei que você fosse do tipo que só come comida pronta."
"Desculpa, não tinha muita coisa, mas fiz o melhor possível. Temos cebola fatiada, molho de daikon e uma sopa de porco estilo chinês picante também. Você pode mergulhar o macarrão do jeito que preferir, já que preparei duas tigelas de molho para cada."
A propósito, macarrão com molho de daikon é tipo a comida da alma de Fukui. A maioria das pessoas despeja o molho sobre o macarrão, mas como também preparei a sopa de porco hoje, servi o molho em uma tigela separada.
"Saku, sabe, você é muito..." Por algum motivo, Yuzuki parecia irritada. "Eu finalmente tinha ganho dez pontos sobre você, e agora você simplesmente empatou de novo!"
"Você está exagerando."
"Um garoto do ensino médio que consegue fazer tudo isso? Isso é totalmente injusto!" Yuzuki sentou na minha frente, fazendo bico.
"Vamos comer!"
Yuzuki provou a cebola fatiada e experimentou o macarrão. Primeiro mergulhou no molho de daikon, depois no de porco.
"...Isso não ajuda a situação, sabia."
"O quê? Está bom? Ou ruim?"
"Está tudo delicioso, óbvio! Você está brincando? Cadê a graça nisso? Você pulou toda a parte da 'garota vai na casa do cara e cozinha para mostrar suas habilidades domésticas'?!"
"Nunca me avisaram sobre algo assim."
"Eu baixei a guarda. Nunca pensei em associar você e culinária. Mas está muito gostoso." Yuzuki alegremente chupava o macarrão.
"Você está exagerando de qualquer jeito. Não sei fazer nada muito complicado. Só o básico de solteiro."
"Mmm, esse porco chinês está ótimo!"
"Ei, estou falando sério."
Comecei a comer minha porção. Macarrão Echizen sobá é grosso e meio escuro. Macarrão de roça, sabe. Mas gosto mais do que sobá branco de alta qualidade. Combina perfeitamente com o leve ardor do daikon ralado.
"Ei, Saku, posso te perguntar uma coisa?"
"Claro. Não tenho nada a esconder."
"Você sabe o que eu quero perguntar... né?"
"Claro."
Não sei como é na cidade grande, mas em Fukui é estranho um estudante do ensino médio morar sozinho. Circunstâncias atenuantes têm que estar envolvidas. Seria estranho ela não se perguntar sobre isso.
"É uma história bem sem graça. Meus pais se divorciaram quando eu estava no fundamental."
Os hashis de Yuzuki pararam no ar.
Ela olhou para mim com empatia nos olhos.
"Não faça isso ficar estranho. Já te disse, não é como se eu estivesse escondendo. Meus pais... Até como filho, eu me perguntava por que eles tinham se casado em primeiro lugar. Opostos completos, sabe. Meu pai é o Senhor Segue as Regras. E minha mãe é um espírito livre total."
Yuzuki riu. "...Desculpa, desculpa. É tão fofo como você chama eles de pai e mãe. Achei que você usaria 'mamãe e papai', ou talvez 'meu velho e minha velha', algo assim."
"Para com isso."
Na verdade, há alguém que me causou muito mais problemas que esses dois, mas vamos deixar isso para depois.
"Eles sempre brigavam, desde que eu era pequeno. Meu pai sempre tentava argumentar com lógica. Minha mãe argumentava com emoção. Óbvio. Enfim, um dia, o fim finalmente chegou."
"Você não quis morar com um ou outro, Saku?"
"Não conseguia decidir. Então quando eu disse: 'Por que não tento morar sozinho?' Meu pai disse: 'Se você conseguir se manter limpo e seguro, então faça o que quiser. Vamos te mandar uma mesada.' E minha mãe disse: 'Que ótimo! Mas sem levar garotas para lá!' ...Ops, acho que fiz isso agora."
[TMAS: IIIIh, vai ter que voltar a morar com os pais]
“Meus pais trabalham e são bem focados na carreira. Então decidi deixá-los bancar minha vida solo. Eles trouxeram a maioria dos móveis e coisas da nossa casa antiga para mim.”
"Você fala tão casualmente sobre isso."
"Não faço um drama do meu passado. Não foi uma memória tão dolorosa assim... Diferente de algumas pessoas que eu poderia mencionar."
Yuzuki pareceu não saber se ria ou levava a sério.
"Mas é incrível. Morar sozinho, começando no fundamental, seus pais divorciados. A maioria das crianças não aguentaria algo assim."
Ela estava sentindo por mim o que eu tinha sentido por ela esse tempo todo.
"É como no seu caso, Yuzuki. É fácil deixar experiências ruins te segurarem, mas você tem que assumir responsabilidade pela própria vida. Eu, por exemplo, me recuso a deixar os problemas dos outros me tirarem do meu caminho."
"Se só pudéssemos ter tido essa conversa antes. Será que eu teria conseguido minha própria revelação muito mais cedo?"
"Você não conseguiria. Por isso que você aguentou e chegou até aqui com suas próprias pernas."
"Talvez um dia eu possa retribuir o favor, Saku?"
"Acho que já tive favores seus o suficiente por agora, Yuzuki."
"Não me zoa, idiota."
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Depois que terminamos de comer e arrumamos tudo, estudamos em silêncio na mesa da sala por cerca de três horas.
Eu terminei primeiro e fui tomar um banho, decidindo não fazer um show elaborado como Yuzuki havia feito mais cedo. Só tomei um banho rápido, me sequei e penteei o cabelo para trás, vesti meu short habitual e saí do banheiro sem camisa.
Yuzuki ficou mais chocada do que eu esperava. "Os garotos do time de basquete se trocam assim na sua frente às vezes, não é?" eu disse. Mas Yuzuki respondeu: "Isso é totalmente diferente!" e jogou a toalha em mim.
"Ah, espera. Deixa eu tirar uma foto rápida antes que seu cabelo seque."
"Agora estou com vergonha. Não posso pegar uma camisa primeiro?"
"Non, non."
"Então vamos incluir você e seus óculos na foto também."
"Não. Relaxa, isso é só para eu ver de vez em quando."
Era onze e meia da noite agora.
Tínhamos a prova de amanhã para considerar, então provavelmente deveríamos dormir logo.
"Yuzuki, você pode usar a cama. Eu durmo no sofá da sala."
"Nem pensar!"
"Então, eu posso dormir na cama?"
"Nossa, que rápido..."
"Então? O que você quer?"
No final, depois de muito debate, chegamos a um acordo e decidimos arrastar o sofá da sala para o quarto e encostá-lo na cama.
Yuzuki ficou com a cama, e eu, com o sofá.
Seria estranho se ficasse muito quieto, então deixei o rádio Tivoli tocando na sala, com a função de desligamento automático ativada. Sintonizei em uma estação aleatória. Como o tempo hoje estava nublado, estavam tocando músicas como "Singin’ in the Rain" e "Rainy Days and Mondays".
Verifiquei que Yuzuki estava na cama antes de apagar as luzes.
Yuzuki se virou por alguns segundos, então falou. "Posso dizer algo bem de garota?"
"O quê?"
"Consigo sentir seu cheiro, Saku."
"Desculpa, estou fedendo?"
"Hee-hee. É meio calmante."
O quarto ficou em silêncio por alguns momentos.
A chuva aparentemente tinha parado. Não batia mais na janela.
Eu me virei preguiçosamente e percebi que Yuzuki estava virada para mim.
"Ei, Saku. Você gosta de alguém?"
"É a segunda vez que você me pergunta isso."
Parecia uma vida atrás quando nos encontramos naquele café com os ovos Benedict incríveis. Mas tinha sido só pouco mais de uma semana. Naquele espaço de tempo, acho que cheguei ao ponto em que estava obrigado a responder sua pergunta.
"Quanto a mim..."
Aparentemente, a dona da voz queria falar mais do que ouvir.
"Acho que nunca gostei de verdade de um cara. Já teve caras que eu pensei: Ah, ele é legal. Mas quando percebia que esses caras não gostavam de mim, só do 'pacote Yuzuki Nanase', perdia totalmente o interesse."
Eu entendia o que ela estava dizendo, a um nível doloroso.
"Todo mundo está procurando por seu próprio baú do tesouro, preso em seu próprio sonho. Você não vai encontrar algo assim não importa onde procure. Eles não sabem disso?"
"Mas, Yuzuki, você fica animada quando outra garota recebe elogios. E quando vê um cara sem camisa, você ri e fica corada como qualquer uma."
"Sim. Eu também peido."
"Eu..."
De repente, eu senti vontade de falar.
"Acho que uma vez teve uma garota de quem eu realmente gostei."
"Ah?"
Pensei em quando era pequeno.
Falar sobre minhas próprias memórias amargas era um pouco doloroso, mas bem, elas eram parte de mim, afinal.
"Eu estava no ensino fundamental, e era verão. Fiquei na casa da minha avó materna. A casa dela ainda era na prefeitura, mas era cercada por campos de arroz. Muito mais interior do que aqui. Para mim, aquela casa nos campos de arroz era como um resumo de todas as minhas memórias de verão."
Yuzuki ficou em silêncio, me ouvindo falar.
"Tinha uma garota que aparecia no bairro todo ano. Ela tinha um rosto de boneca e cabelo até as costas. Eu sempre pensava como aquele cabelo devia ser um incômodo para cuidar. Acho que ela era mais nova que eu. Pensando bem, nem sei o nome dela."
Eu estava perdido na cena da minha memória de infância.
Os campos de arroz, cheios de brotos verdes. Se você espiasse entre eles, podia ver insetos-patinadores na água. De dia, eram as cigarras. À noite, os sapos. Faziam um barulho danado.
"Uma vez eu a segui e a encontrei com seu vestido branco brilhante todo sujo de lama do rio. Ela estava chorando muito. Só que..."
Tentei me lembrar do rosto da garota, mas só conseguia ver aquele vestido branco, como algo que uma heroína de mangá usaria.
"Lembro dela dizendo algo como: 'Você tem sorte de ser tão livre.' Eu estava acostumado a ouvir que era legal, ou bom em esportes, mas ela foi a única que disse algo assim. Fiquei feliz, honestamente."
Para usar a analogia de Yuzuki, acho que aquela garota foi a primeira que se importou em desembrulhar o "pacote Saku Chitose" e mostrar interesse no que havia dentro.
"Mas então, um verão, parei de vê-la por aí. Segundo os rumores, ela tinha uma queda por outro cara. Alguém muito legal, bom em esportes, muito inteligente. Então essa foi minha primeira paixão. E meu primeiro coração partido."
"Entendo..."
A voz de Yuzuki estava morna.
"Só uma miragem inquebrável, hein."
Aparentemente, minha razão para escolher aquela história de infância tinha ficado clara.
Não houve um incidente decisivo. O divórcio dos meus pais não destruiu minha fé em relacionamentos ou algo assim. Também não estava perseguindo aquele "primeiro amor" elusivo como se fosse uma miragem intangível.
Mas ao longo dos anos de decepções e traições, em algum momento, comecei a pensar: Ah, é. Era isso.
Pegue todas aquelas garotas que declaravam amor eterno por mim, seus olhos brilhando de animação. No dia seguinte, elas teriam engolido algum boato que outro cara contou e me olhariam com ódio. Claro, aquele cara acabaria sendo um suposto amigo meu. Então os dois começariam a namorar, virando o próximo casal popular. Esse tipo de romance era barato e chato, e estava ao meu redor fazia tempo.
"Saku, você acha que vai gostar de alguém de novo?"
"..."
"Eu tenho medo disso, para ser honesta. E se o cara começar a gostar de outra pessoa? E se eu acabar odiando ele? Depois de tudo isso? É por isso que tenho inveja da Yuuko."
"Eu também tenho inveja dela. A luz dela é tão brilhante que cega."
A mão de Yuzuki se esticou e tocou meus dedos gentilmente antes de recuar.
"Boa noite, Saku."
"Boa noite, Yuzuki."
Estávamos cansados, provavelmente. Quando ouvi a respiração de Yuzuki cair no ritmo do sono, tentei sincronizar a minha com a dela. Logo, senti que também estava caindo no sono.
Se algo como um amor inquebrável, impenetrável e perfeito existe neste mundo, então certamente só seria possível encontrá-lo dentro de uma memória que já estava em perigo de desaparecer.
Como olhar para uma noite como esta, um dia no futuro distante, quando eu já tivesse crescido e me tornado adulto há muito tempo.
...
Quando acordei, Yuzuki tinha ido embora.
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Na manhã seguinte à nossa noite juntos, me vi indo sozinho para a escola pela primeira vez em um bom tempo. Parecia que a noite passada tinha sido um sonho. Quase todos os vestígios de Yuzuki tinham sido arrumados e levados do meu apartamento.
Mas os pratos também estavam arrumados no escorredor, e havia duas toalhas usadas no cesto de roupa suja.
Não tinha certeza do porquê de Yuzuki ter saído cedo sem dizer nada, mas sem dúvida ela tinha seus motivos. Mesmo assim fiquei um pouco decepcionado por perder a chance de ver como ela estava de manhã.
Enquanto caminhava pela margem do rio, avistei uma figura familiar à frente.
Acelerei o passo e bati nas costas dela.
"Bom dia, Yua."
"Hã? Saku?" Yua se virou, parecendo um pouco surpresa.
"Bom dia. Cadê a Yuzuki?"
"Parece que fui abandonado."
"Aconteceu algo ontem? Depois de... você sabe?"
"Hmm, sim, muita coisa. Mas nada ruim, eu acho."
Yua pareceu aliviada enquanto andava ao meu lado, sorrindo.
"Hmm? Saku? O que é isso?" Yua esticou a mão e tocou a parte de trás do meu pescoço.
"O que você está fazendo? É muito cedo para isso. Não me provoca."
"Hmm, então foi isso que aconteceu..." Yua pegou o celular e tirou uma foto.
Então me mostrou silenciosamente a foto na tela. Eu podia ver uma escrita vermelha brilhante na minha pele, tão vermelha quanto... batom.
"Rosto fofo dormindo! Valeu!"
"...Então isso é um grafite de um duende?"
Yua balançou a cabeça, parecendo enojada.
Droga, Yuzuki. Aqui estava eu, pensando que ela tinha saído do meu apartamento como uma boa garota, mas não. Ela fez questão de me deixar uma lembrança.
"Você faz esse tipo de coisa com todo mundo, Saku?"
"Para com isso. Só me entreguei a uma pessoa."
"Hmm, duvido." Yua riu baixinho, como um dente-de-leão.
"Ei, Yua?"
"Hmm?"
"Pode limpar isso para mim com seus lenços removedores de maquiagem?"
"Hmm, poderia, mas a questão é: será que vou...?"
[A garota tá querendo sacanear muito com o cara]
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Quando entramos na sala de aula, o clima parecia estranhamente tenso.
Sem dúvida, a causa era Yuzuki e Nazuna, que se encaravam na frente do quadro-negro. Yuzuki parecia perfeitamente composta, mas Nazuna não conseguia esconder sua irritação. Nossa, elas estão brigando de novo?
"Então o que você quer conversar? Preciso estudar para a prova, sabia."
"Er, nunca imaginei que você fosse do tipo que estuda até o último minuto, Ayase."
"Não finja que sabe algo sobre mim, Nanase."
"Você está certa, não sei nada sobre você."
Uma linha de preocupação apareceu entre as sobrancelhas de Nazuna.
O que Yuzuki estava fazendo? Tentando começar uma briga de novo?
"Olha, sobre ontem. Desculpa por aquilo." Yuzuki falou de maneira casual, como se não fosse grande coisa.
"...O quê?"
"Como eu disse. Desculpa por ontem."
"...Você está me assustando. Tanto faz. Não quero ser sua amiga mesmo."
"Ah, eu também não."
"Sua vadia..."
Se eu não interviesse, essa situação parecia prestes a explodir.
Elas estavam na frente da classe, e a atenção de todos estava nelas. Isso realmente não era muito no estilo da Yuzuki Nanase. Mas a diferença entre sua atitude agora e ontem... eu aprovava.
"Também, obrigada por assistir o jogo."
As bochechas de Nazuna ficaram visivelmente vermelhas. "Qual é a sua jogada aqui, sério...?"
"Só percebi que preciso aprender a admitir quando estou errada, ou nunca vou conseguir enfrentar as coisas."
"É, não entendi."
"Você não precisa. É mais para meu próprio bem, na verdade."
Então Yuzuki percebeu Yua e eu observando e sorriu.
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"O quê?! Você e o Saku vão parar de ficar juntos?!" Yuuko gritou.
Para celebrar o fim do terceiro dia de provas e relaxar um pouco antes do último dia, todos os membros do Time Chitose decidimos comer no Europe-Ken, aquele perto do East Park. Kazuki, Kaito, Haru e eu pedimos um katsudon extra-grande, enquanto Yuuko e Kenta pediram o katsudon normal, e Yuzuki e Yua pediram o Paris-don. A propósito, o Paris-don é uma tigela de arroz com um bolinho de carne moída em vez do costeleta de porco tradicional. Claro, servido com o mesmo molho de katsudon.
"Mas por quê? Aqueles caras da Yan apareceram na nossa escola ontem. Ainda está perigoso."
O ceticismo de Yuuko fazia todo o sentido.
Depois que todos os pedidos chegaram à mesa, começamos a comer e conversar. Então Yuzuki, do nada, disse que estava pensando em acabar com a farsa do namoro falso.
Agora Kaito se opôs, depois de Yuuko. "Eu também sou contra. Ficar rondando outra escola assim? Esses caras são completamente loucos."
Haru também concordou. "Eu gostaria de respeitar sua opinião, mas parece que você está sendo corajosa de um jeito burro, sabe? Quero dizer, pelo menos considere o timing."
"Olha..."
Yuzuki começou a falar — por si mesma, não por mim.
"Estive pensando que talvez eu tenha piorado essa situação sozinha. As coisas começaram a ficar ruins logo depois que pedi para o Saku fingir ser meu namorado. Acho que deveria ter rejeitado o cara antes de tudo isso começar. Talvez tivesse acabado ali."
Kaito ainda parecia cético.
"Você acha que o bom senso vai funcionar contra esse cara? Um cara que realmente tentou chutar um professor? Qualé."
Claro, já tínhamos contado o que aconteceu ontem depois da aula.
Mas Kaito não precisava nos lembrar. Nós estávamos lá, afinal.
Yuzuki apenas sorriu suavemente. "Entendo o que você está dizendo. Mas, do jeito que está, não importa como a gente prossiga, a situação só vai piorar. Saku... o resto de vocês... não podem ser meus guarda-costas o tempo todo. Alguém tem que agir e resolver isso."
Yuzuki falava com força e convicção.
"E a única pessoa que pode fazer isso sou eu, certo?"
Kaito e Haru, que conheciam Yuzuki melhor, ficaram em silêncio. Aparentemente, sabiam que qualquer insistência seria inútil. Os outros pareciam entender vagamente que a situação só estava piorando — e que uma ação decisiva realmente precisava ser tomada.
O que Yuzuki estava dizendo fazia sentido. Se a situação pudesse ser resolvida com Yuzuki rejeitando o cara, então esse seria o melhor resultado possível. Se ela quisesse seguir esse caminho, nenhum de nós estava em posição de impedi-la.
"Hã..." Kenta falou hesitante. "Pelo menos... seria ok se o resto de nós fosse com você? Sabe, quando for conversar?"
Isso foi um grande ato de coragem da parte dele. Era óbvio.
Yuzuki sorriu para Kenta. "Obrigada, Yamazaki. Agradeço a intenção, mas acho que pode ter o efeito oposto. Se ele vir o Saku de novo, pode realmente socá-lo dessa vez."
Eu balancei a cabeça solenemente.
Ontem à noite, o cara parecia furioso o suficiente para cuspir pregos.
"De qualquer forma, não é como se eu fosse aparecer na Yan e pedir uma reunião. Planejo só seguir a vida normalmente por agora, e da próxima vez que ele mexer comigo, vou ser direta."
Depois de ontem à noite, eu era o único que entendia o que deve ter custado para Yuzuki chegar a essa decisão e o quanto de perigo ela estava enfrentando voluntariamente.
Kazuki, que tinha ficado em silêncio o tempo todo, se virou para mim.
"Saku? Você está ok com isso?"
Engoli o pedaço de costeleta na minha boca e respondi casualmente. "Se é o que ela diz que quer, então está ok para mim. Minha posição, basicamente, é: Não persiga o que te escapa; não rejeite o que vem até você. Acho que Yuzuki deve fazer o que Yuzuki quer fazer."
"Saku!"
Kaito se levantou e veio em minha direção, mas Kazuki o segurou com um braço.
"Se for esse o caso, então Yuzuki deveria ir para casa agora. Ainda é início da tarde, mas ela provavelmente deve ficar nas ruas principais."
Yuzuki acenou com a cabeça, deixando sua parte da conta na mesa antes de se levantar.
"Saku, todo mundo, obrigada. Já estou farta disso, eu mesma. Estou com raiva. Vou resolver isso e então voltarei a ser Yuzuki Nanase de novo!"
Yuzuki acenou, e todos nós a vimos sair do restaurante. Kaito pareceu não conseguir se conter. Pegou sua mochila e se levantou.
"Vou atrás dela, Saku."
"Faça como quiser."
De qualquer forma, provavelmente nada aconteceria hoje.
Depois que Kaito saiu do restaurante fazendo barulho, meus amigos restantes olharam para mim esperando por alguma coisa.
O idiota nem deixou sua parte da conta, eu pensei.
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Saímos do Europe-Ken e, como já tinha terminado de me preparar para o dia seguinte, fui sozinho para o Saizeriya encontrar Tomoya.
"Foi mal, esperou muito?"
"Ah, não. Tá tudo bem. Estava estudando. Ei, a propósito, essa é a primeira vez que você me chama para sair, não é?"
No outro dia, quando Yuzuki faltou à escola, Tomoya descobriu e me pediu para nos encontrarmos aqui. Pensando bem, ele estava certo. Essa era a primeira vez que eu o convidava.
"Tenho algo para conversar com você."
"O quê? Você está me assustando, cara."
Tomoya parecia desconfiado. Me preparei para falar o mais sinceramente possível.
"Ontem à noite, Yuzuki ficou na minha casa. Não posso mais ser seu guru do amor."
Houve um clunk, e o copo de café gelado de Tomoya caiu de seus dedos congelados. A poça de líquido começou a se espalhar pela mesa do lado dele. Escorreu para a borda, café preto em todo o meu Stan Smith.
Mas não podia deixar que algo pequeno como café me distraísse do assunto. Continuei olhando nos olhos de Tomoya.
"Ah, droga..." Tomoya finalmente quebrou o silêncio.
Pegou um guardanapo de papel e se levantou, limpando primeiro sua própria calça. Depois começou a limpar o café derramado na mesa. Quando a mesa estava limpa, Tomoya desistiu de limpar e olhou para mim.
"Quando você diz que ficou..."
"Na verdade, eu moro sozinho. Ontem, muita coisa estava acontecendo com Yuzuki. Ela parecia estar passando por dificuldades, então deixei ela dormir lá."
Tomoya ficou em silêncio por um momento. Então suspirou profundamente.
"Bem, você disse que não se seguraria por minha causa. E pelo menos foi direto comigo. Foi justo. Hã, então... isso é estranho, mas seria justo dizer que vocês dois embarcaram em... esse tipo de relacionamento?"
"Eu não cruzei nenhuma linha. Hmm, mas nós dois esquentamos um pouco. Mostramos um lado diferente um do outro. Até tirei uma foto... e não posso dizer que foi inteiramente casta. Enfim, não acho que posso mais te dar conselhos francos e honestos. Desculpa."
"Então vocês vão começar a namorar de verdade agora?"
"Não..." Parei de mexer no meu celular e o deixei em cima da mesa. "Na verdade, o oposto. Eu fingindo ser seu namorado, vamos acabar com isso. Não vamos mais andar para a escola juntos. Sei que pode parecer estranho, depois do que acabei de dizer, mas se você ainda gosta da Yuzuki do mesmo jeito, pode ter uma chance de realmente namorá-la agora."
Tomoya levantou a cabeça.
"Eu não me apaixonei pela Yuzuki nem nada. Só não quero mais te dar conselhos amorosos; só isso."
"Desculpa, honestamente não to entendendo o que você está dizendo."
"É uma história complicada. E longa. Quer ouvir?"
Tomoya acenou com a cabeça mansamente.
Acreditando que era o último conselho que poderia dar ao cara, e também acreditando que era a coisa honesta a fazer, contei tudo sobre a situação de Yuzuki, desde o dia em que ela veio a mim no café pedindo ajuda até agora. Adicionei alguns detalhes falsos e omiti alguns verdadeiros, mas, de resto, contei como Yuzuki tinha sido machucada na vida até agora e a situação em que estava agora. Acredito que ele entendeu.
"Então, deixando nosso relacionamento atual de lado, você e eu estamos quites, considerando a quantidade de informação que ambos temos agora."
"Agora que ouvi essa história, não sei se tenho chance com ela." Então Tomoya riu, como se estivesse deixando tudo para trás.
"Se você parar aqui ou der o próximo passo, é com você, Tomoya. Estou disposto a conversar com você a qualquer hora, não como um professor e aluno, mas como amigos normais."
"Valeu, Saku. Você realmente me ensinou muito, mas sinto que não mostrei nenhum crescimento real."
"Bobo. É porque você nunca planejou crescer. Quanto tempo vai levar até você conseguir falar com ela, hein?"
"Assim que minhas chances aumentarem um pouco..."
"Aí sua vida toda, então."
Nós nos olhamos e rimos.
Não havia mais nada que precisasse ser dito, não é?
Levantei para ir ao banheiro. Demorei meu tempo e, quando terminei, peguei meu celular da mesa e o coloquei no bolso. Coloquei minha mochila Gregory nas costas, deixei minha parte da conta e saí do restaurante antes de Tomoya.
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Lá fora, a cortina da noite já tinha caído completamente.
Estávamos bem em frente à estação, e o céu parecia infinito. Uma lua nova ria lá em cima. O bonde passou devagar — clatter, clatter, clunk, clunk — levando as pessoas cansadas do dia para casa.
Na praça, os dinossauros mecânicos estavam iluminados. O Fukuititan de pescoço longo e simbólico, e em frente a ele, o Fukuisaurus e o Fukuiraptor. Sempre pensei que poderia me apegar mais a eles se desse apelidos, mas até agora só tinha conseguido pensar em Magrelo, Baixinho 1 e Baixinho 2. Fazia um tempo, então estava pensando em comprar um livro antes de ir para casa.
Fui para a livraria, que não era longe do Saizeriya. Havia várias filiais na prefeitura, mas essa era a principal. Mantinha o charme de uma livraria antiga, mas ainda tinha tudo que você poderia querer. Sempre gostei muito dessa livraria, desde criança.
Estava olhando as prateleiras quando vi uma figura inesperada na seção de livros didáticos.
"Asuka?"
Ela se virou, com uma expressão séria. Colocou o livro que estava segurando de volta na prateleira e se virou para mim novamente. Então voltou a ser a Asuka descontraída de sempre.
"Ah, aqui está o namorado leviano, vagabundeando e aprontando. O caso Nanase já foi resolvido?"
Eu balancei a cabeça.
Asuka riu, como se estivesse falando com o irmão mais novo.
"Vamos sair? Vamos caminhar um pouco, amigo."
Fomos para o prédio do governo da prefeitura, um pouco afastado da estação.
O prédio do governo de Fukui é construído sobre as altas fundações de pedra do antigo Castelo de Fukui, então é meio estranho para pessoas de outras prefeituras. Nós crescemos vendo, então não achamos nada demais. O fosso ainda está lá e tudo, e é meio legal caminhar pelo terreno em uma noite quieta como esta.
Havia patos flutuando no fosso, e a lua tremulava no reflexo do céu na superfície da água.
Uma bicicleta passou por nós, a campainha tocando uma vez.
Era uma noite tão calma e tranquila, mas senti vontade de chorar. Talvez porque não estivesse ansioso para o amanhã chegar.
Nos sentamos em um banco na parte de trás do prédio do governo.
Parecia um pouco clichê conversar filosoficamente em uma noite como esta. Por outro lado, talvez uma noite como esta fosse a melhor hora para isso.
"Asuka, você está ponderando o caminho certo?"
"Então você viu, né?"
Era um livro de capa vermelha que Asuka estava segurando. Não consegui ler o nome da universidade escrito nele, mas só alguém profundamente conflituoso ficaria agachado em uma livraria encarando um livro de preparação para vestibulares.
"Sabe..." Ela começou a falar, sua voz como um sino pequeno tocando. "Você já pensou em sair dessa cidadezinha?"
Uma dor surda pareceu apertar meu peito.
Asuka estava estudando para vestibulares. Uma pergunta como essa só podia significar uma coisa.
"Muitas vezes."
Minha resposta foi honesta. Eu diria que pelo menos metade das pessoas nascidas e criadas em Fukui pensam em sair um dia. A ideia nunca ocorre à outra metade.
Asuka era uma das pensadoras.
"Eu amo esta cidade... Eu a amo e a odeio."
Eu entendia o que ela queria dizer.
Ao mesmo tempo, senti que não podia compartilhar seus sentimentos tão facilmente agora.
Atípico, Asuka continuou falando sobre si mesma. "Não sei qual caminho devo seguir. Basicamente, devo ficar aqui ou ir para Tóquio?"
"Tóquio..."
Estranhamente, esse é o lugar que sempre vem à minha mente quando penso em sair de Fukui.
Sair do interior e se dar bem na grande cidade de Tóquio... Hoje em dia, não tem o mesmo apelo. É por isso que nem falo sobre. Ainda assim, é um pensamento que guardo comigo há muito tempo.
Fukui é um mundo tão pequeno. Você conhece todos os seus vizinhos. Você vai no Lpa, vê um carro no estacionamento e pensa: Ah, fulano está aqui.
Comparado a isso, a Tóquio que vemos na TV realmente parece "a cidade".
Descobrir que Asuka tinha a mesma fantasia barata que eu me deixou um pouco desiludido, mas também um pouco aliviado ao mesmo tempo. Estava ficando meio cansado de mim mesmo.
"Você já foi para Tóquio?"
"Em viagens em família, quando era pequeno. Tanto tempo atrás que já esqueci."
Isso foi quando eu era muito jovem para entender o significado da palavra divórcio.
"Eu nunca fui. Mesmo assim, estou decidindo entre Fukui ou Tóquio. Estranho, né?"
Fiquei em silêncio. Não tinha certeza se tinha as palavras certas para esse tipo de conversa.
"Eu adoraria ir para Tóquio."
"Então vamos. Para Tóquio. É assim que você age, não é, Asuka?"
Eu sabia que era uma frase clichê.
"Se eu dissesse que era o que queria, você viria comigo?"
A frase de Asuka também era clichê.
"Sabe, eu adoro assistir aquele programa de TV, Hajimete no Otsukai. Aquele em que mandam crianças pequenas fazerem tarefas sozinhas."
"Bem, se eu cair e começar a chorar, você vai me confortar cantando 'Shogenai de yo Baby'...?"
"Sim, já que canto melhor que você, né?"
Olhei para Asuka ao meu lado. Ela estava rindo.
"O caso Yuzuki...", murmurei baixinho, como se estivesse tentando voltar o relógio. "Acho que vai acabar tudo bem."
"Você vai me contar a história depois? Como sempre faz?"
"Pode chegar o dia em que não poderei mais te contar minhas histórias, por mais que queira. Talvez seja melhor se preparar agora."
Eu queria contar tudo para ela. Mas não era insensível o suficiente para despejar minhas preocupações no colo de alguém que estava debatendo seu futuro inteiro.
"Que coisas solitárias você diz às vezes."
"Acabei de ouvir uma coisa bem solitária de uma garota que conheço; é por isso."
Senti que não devia dizer.
Asuka sorriu suavemente.
"Talvez você e eu nos tornemos adultos antes que percebamos. Vamos enfiar nossos chapéus de palha e camisas xadrez e vestidos no armário e puxar nossos ternos bem passados."
"Eu nunca quero esquecer meu short e chinelos."
"É, eles combinariam muito mais com você."
Parecia que nossa conversa tinha acabado por esta noite.
"Asuka..."
Eu estava prestes a dizer algo, mas pensei melhor e disse outra coisa.
"Eu prefiro um vestido branco brilhante a um terno bem passado qualquer dia."
"Você não se apaixonaria por uma versão de mim que ficasse bem nisso, acho."
Decidimos encerrar por hoje, depois de mais um encontro em que parecíamos continuar nos desencontrando.
Quer você queira ou não, o tempo continua fluindo, e os relacionamentos continuam mudando.
Até que alguém dê um passo à frente, estou preso aqui no patamar das escadas. Apenas marchando sem sair do lugar.
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