Volume 2
CAPÍTULO DOIS Dias Auspiciosos e Dias Comuns
Havia apenas vinte e quatro horas desde que Yuzuki e eu começamos essa farsa de romance falso, mas a escola já estava cheia de rumores sobre nós.
O site de fofocas habitual estava cheio de comentários maldosos variados.
Claro que eu recebi muito ódio, mas isso não era nada fora do normal para esse "galinha babaca". Mas os posts sobre Yuzuki eram realmente algo.
Piranha.
Ela faz com qualquer um.
Ouvi dizer que ela está traindo ele com um universitário.
Coisas bem picantes, não acha?
Sem dúvida, Yuzuki tinha se colocado na linha de fogo. Mas a enxurrada de veneno foi meio extrema e me deixou com um frio na barriga. Claramente, as pessoas decidiram colocar Yuzuki na categoria "alvo fácil para humilhação brutal", junto comigo. Agora nos tornamos uma unidade especial, ambos igualmente merecedores de ódio online.
Mas mesmo sendo um fórum anônimo, quem poderia dizer coisas tão horríveis sobre outras pessoas? Eles não tinham vergonha? Claro, alguns estavam genuinamente irritados. Mas outros só estavam seguindo a manada e usando isso como desculpa para jogar lama. Claro, estávamos esperando por isso, mas mesmo assim fiquei um pouco chocado.
Bom, seguindo em frente...
Esse tipo de exposição cumpriu nosso objetivo original perfeitamente. O interesse das pessoas foi realmente despertado. Então não havia necessidade de fazer mais teatro hoje. Em vez disso, decidimos que as garotas e os garotos se separariam no almoço e cada um faria sua própria coisa.
Kazuki, Kaito e eu corremos para comprar algo para o almoço assim que a aula terminou. Depois de pegarmos alguns sanduíches básicos, corremos para o ginásio. Sentados na borda do palco, devoramos nossos lanches e começamos a fazer arremessos livres competitivos com a bola de basquete que Kaito trouxe.
Tivemos muitas chances de almoçar em grupo desde o início do segundo ano, mas fazia tempo que não saíamos só nós três saindo juntos. Nós até convidamos Kenta, mas ele disse: "Vocês querem que eu jogue basquete com vocês logo depois de comer? Estão tentando me matar?" e recusou. Yuuko e as outras garotas o arrastaram com elas depois disso, bom para ele.
[TMAS: Kenta é bom com mulheres pelo jeito]
Hmm, será que ele planejou isso?
Whoosh.
Fiz um arremesso muito bom, se eu disser sozinho, e acertei a cesta.
Peguei a bola e passei para Kaito, que estava na linha de três pontos. Como ele era o astro do time de basquete, nós dois não teríamos chance sem uma vantagem. Kazuki e eu arremessávamos da linha de lance livre, deixando Kaito arremessar da linha de três pontos. Algo que combinamos há muito tempo.
Thunk, thunk, thunk.
Kaito pegou a bola de mim e driblou habilmente com os pés. Ele não tinha a destreza de Haru com a bola, mas tinha força.
"Então, qual é a dela, Saku?"
Kaito dobrou os joelhos e se concentrou no momento certo enquanto falava.
"Qual é a dela com o quê?"
"Qual é a sua e da Yuzuki, claro. Hu!"
Kaito saltou no ar, seus quase dois metros de altura em forma perfeita e reta, como o tronco de uma grande árvore. A bola voou de suas mãos e quase pareceu ser sugada para dentro da cesta. Seu arremesso mal fez barulho.
Kaito passou a bola para Kazuki e veio até mim.
"O que você quer dizer com 'qual é a minha e da Yuzuki'?"
"Você está planejando em namorar de verdade? É isso que eu estou... Perguntando!" Kaito chutou minha bunda enquanto falava.
Ei, cabeça-dura! Isso doeu.
"O que isso quer... Dizer?" Eu chutei de volta com toda a força que pude.
"Nossa, Saku!" Kaito gritou, segurando a coxa enquanto continuava. "Quer dizer, vocês dois formam um bom casal. Você formaria um bom casal com a Yuuko também, mas isso não vem ao caso. O que estou dizendo é que você é um bom parceiro para a Yuzuki."
Kazuki interveio da linha de lance livre, onde segurava a bola.
"Como a Haru disse ontem, você e a Yuzuki são meio parecidos. Como se ambos tivessem construído essas muralhas impenetráveis, mais transparentes, ao redor de si mesmos."
Kazuki arremessou, usando a tabela para quicar a bola e acertar a cesta.
Kazuki se aproximou depois de pegar a bola. Ele a girava na ponta do dedo. Kaito ergueu o dedo também e pegou a bola ainda girando de Kazuki. Com a mão livre, ele a fez girar ainda mais rápido.
"Certo. Mesmo quando vejo a Yuzuki conversando com as amigas durante os jogos de basquete, é meio como... ela sempre tem a mesma expressão. É sempre a mesma, seja quando ganham ou perdem o jogo. Ela só parece realmente relaxar quando está com a Haru."
Sem dúvida, Kaito passou mais tempo com Yuzuki, já que também era do time de basquete. Mas eu nunca tinha percebido que ele era tão... observador.
De qualquer forma, eu mesmo sempre tive a mesma impressão sobre Yuzuki.
Kaito era um homem de muitas camadas. Ele brincava com os amigos, mas na verdade era um tipo bem sério. Quando eu trouxe Kenta de volta para a escola, ele simplesmente o aceitou sem intenções egoístas e subsequentes como as que Kazuki e eu secretamente tínhamos.
"Mas ultimamente, quando ela está com você, Saku, ela parece muito mais à vontade."
Pensei em nossa conversa durante a caminhada para casa na noite passada. Quando começamos a discutir o jogo do fim de semana, Yuzuki estava com sua expressão habitual de poker. Ou assim eu pensava. Mas talvez estivesse um pouco mais relaxada que o normal?
Peguei a bola de Kaito e comecei a correr para a cesta. Kaito saiu no encalço, acelerando atrás de mim. Fiz uma bandeja e fui para a cesta. Kaito me bloqueou, e eu peguei a bola desviada. Então comecei a driblar, ajustando minha posição.
"Você conseguiria lidar se nós dois realmente começássemos a namorar de verdade?"
"Lidar com o quê?"
"Estou perguntando se você não tem uma paixonite secreta pela Yuzuki, e... Hyuh!"
Fingi ir para um lado, então avancei. Kaito girou e se aproximou, bloqueando meu caminho para a cesta.
"Ah, claro. Yuzuki é só uma amiga. Só estou dizendo: se há uma maneira de ajudá-la, então quero que você faça isso... Hyah!"
Kaito investiu contra mim, tentando roubar a bola.
Dei um passo rápido para trás, evitando-o. "O que você é, o pai dela? Vou lembrar que você disse isso. Não venha me bater se eu e ela acabarmos ficando de verdade... Hyugh!"
"Se eu algum dia for te bater, será para punir você por fazê-la chorar... Hyah!"
"Vou lembrar disso. Ainda assim, enquanto eu estiver com minhas faculdades mentais, um cabeça-dura como você nunca me acertaria... Hup!"
Passei a bola para trás sem nem mesmo me virar.
Kazuki esperava na linha de três pontos e a pegou.
"Ei! Não é justo!" Kaito correu para bloquear, mas já era tarde.
Outro arremesso bonito, quicando perfeitamente na tabela. Kazuki e eu batemos um five.
"Viu, eu te disse. Cabeça-dura."
Virei para sorrir para Kaito, que parecia contrariado. Kazuki colocou a mão no meu ombro.
"Você também é meio cabeça-dura, sabia, Saku?"
"O que isso quer dizer?"
"Não é como se você fosse ouvir meu conselho, mas realmente acho que você deveria considerar fazer uma escolha firme e deixar as outras opções de lado. É uma boa habilidade para a vida."
Eu ignorei a mão de Kazuki — e seu conselho.
Eu sabia o que ele estava insinuando.
Mas para mim, nesta fase da minha vida... ainda estava muito além.
Como uma cápsula do tempo que você prometeu desenterrar um dia, mas depois esqueceu, eu tinha a sensação de que esse dia nunca chegaria.
Depois da escola, todos os membros do Time Chitose foram para a Biblioteca da Província de Fukui.
Era um pouco longe da escola, então Yuzuki e eu garantimos que viéssemos de bicicleta hoje. Este era o local de estudo preferido não apenas dos alunos da Fuji, mas de todos os estudantes do ensino médio em Fukui. Amado tanto por grupos de estudo pré-prova como o nosso quanto por alunos do terceiro ano estudando para vestibulares.
A biblioteca está localizada um pouco fora da "rua principal" de Fukui, a Rodovia Nacional 8, um gigante estiloso em um terreno cercado por nada além de campos de arroz. Das grandes janelas de vidro do prédio principal, você pode ver grama e árvores meticulosamente cultivadas e aparadas ao redor. É um espaço relaxante e revigorante para ler ou estudar, na opinião de qualquer um.
[Mon: agora eu queria estar lá, deve ser muito bom para espairecer, tirar um cochilo…]
O interior da biblioteca está totalmente equipado com mesas individuais, mesas grandes para várias pessoas e até cadeiras confortáveis para leitura. Há um lugar para todos. Os membros do meu grupo escolheram mesas individuais espaçadas, para se concentrar nos estudos. Porém Yuzuki e eu pegamos uma mesa aberta.
Claro, fizemos isso para garantir que todos na biblioteca soubessem que estávamos namorando.
Consideramos sentar lado a lado, mas parecia estranho para um observador externo e nos dava menos espaço para espalhar livros e folhas de estudo. No final, decidimos sentar em lados opostos da mesa. Isso pareceria mais natural do que ficar grudados.
Olhei para as mesas individuais. Yuuko estava encarando as costas de Yuzuki e, enquanto eu observava, ela puxou a pálpebra inferior e mostrou a língua em um gesto de desprezo. Ela tinha dito que se juntaria a nós na mesa quando estávamos escolhendo lugares, mas Yua a convenceu do contrário, e no final ela concordou em ceder e sentou-se relutantemente na mesa individual mais próxima.
Ela me olhou nesse momento, piscando de forma provocadora e me mandando um beijo. Fingi devolver o beijo.
[TMAS: Yuuko tá claramente interessada nele, não tem como negar]
Depois disso, olhei ao redor da biblioteca, observando o ambiente.
Notei que cerca de 30% dos alunos eram da nossa Fuji. Outros 30% pareciam vir da Takashima, e os 40% restantes eram estudantes de várias outras escolas. Nada fora do normal.
Espiei Yuzuki, que já tinha pegado seus lápis e canetas e começado a estudar. Ela normalmente mantinha o cabelo preso atrás de uma orelha de cada vez, mas agora ambos os lados estavam bem presos. Seus traços definidos e bonitos estavam totalmente expostos por uma vez. Ela parecia estar focada em fazer um simulado, sua caneta mecânica riscando ritmicamente o papel.
Fiquei distraído por mais alguns segundos, concentrando-me nos sons da biblioteca.
Rabisca, rabisca.
Farfalha, farfalha
Plock, plock
Sch, sch.
Vira, vira
Tuck, tuck.
Apaga, apaga,
Bater de porta.
N/T: Todos ruidos muito específicos do inglês que tentei adaptar, farfalhar é barulho de papel, os outros foram um pouco no improviso.
Todos ali estavam tomando cuidado para manter o barulho no mínimo. Eu sempre amei bibliotecas.
O cheiro de livros antigos, o virar rítmico das páginas, o som abafado dos funcionários empurrando carrinhos pesados. Tudo isso combinado fazia parecer que o tempo passava um pouco mais devagar que o normal.
Quando você sai de uma biblioteca, parece que recuperou um pouco do tempo que teria perdido. Mas a maioria das pessoas segue com seu dia sem perceber.
A vida é salpicada com pequenos fenômenos estranhos assim. E eu gosto disso.
"...Saku? Sa-ku."
Enquanto eu estava perdido em meus pensamentos, incapaz de começar a estudar de verdade, ouvi uma voz baixa chamando meu nome.
Levantei a cabeça e vi Yua ao meu lado. Ela estava usando óculos com armação azul-escura.
"Desculpe. Eu estava viajando." Mantive minha voz baixa, verificando se não havia ninguém por perto.
"Ah, tudo bem. Desculpe interromper seus pensamentos. Você tem folhas soltas? Se sim, posso pegar algumas?"
"Sim, eu tenho." Peguei algumas folhas e as entreguei à Yua. "Você está usando óculos hoje, hein?"
Yua desviou o olhar, como se de repente estivesse envergonhada. "...Sim. É mais confortável usá-los quando estou concentrada nos estudos. Acho que fico estranha com eles, não é?"
"Não, não fica. Nunca achei seus óculos estranhos. Eles parecem muito naturais em você, na verdade. Me lembram do ano passado. Meio que me traz de volta."
"Por favor, não tente se lembrar do ano passado com muito esforço..."
Yuzuki, que parecia estar ouvindo, juntou-se à nossa conversa.
"Você costumava usar óculos? Então você era a garota dos óculos da sua turma?"
Yua riu sem graça. "Não sei se era a garota dos óculos, só nunca pensei muito sobre isso. Óculos ou lentes, digo. Nunca me importei muito com essas coisas."
"Hmm, isso é um pouco surpreendente. Você mantém as coisas meio simples, Ucchi, mas ainda tinha a impressão de que você é alguém que se importa bastante com a aparência."
"Hmm, não tenho certeza sobre isso. Você e Yuuko são tão bonitas, e eu sou, bem, eu. Mas, bem, muita coisa aconteceu desde o primeiro ano..."
Yua parecia estar com dificuldade nisso. Decidi ajudá-la.
"Na verdade, eu pedi para ela considerar lentes. Disse que o clichê da 'beleza secreta que surpreende a todos quando finalmente tira os óculos' já foi usado demais. Agora é a 'beleza comum que muda e adiciona uma nova dimensão fofa quando coloca os óculos de volta' que as pessoas querem ver. E eu vejo Yua como a segunda."
Yuzuki levantou uma sobrancelha como se percebesse algo não dito. Ela aproveitou.
"Então é isso que você gosta, hein? Hmm, vou anotar mentalmente."
"Mas tem que ser inesperado, não calculado. Você ficaria tipo: 'Então seu coração deu uma acelerada ou algo do tipo?' e a coisa toda desmoronaria. Seria transparente demais."
"Sério, eu acho que você deveria evitar elogiar outra garota bem na frente da sua namorada, sabe?"
"Yuzuki, seu charme é como um padrão geométrico cuidadosamente calculado para ser agradável aos olhos. Mas Yua é mais como uma castanha-do-pará recém-descascada, um pouco crua e não refinada. De qualquer forma, vocês não deveriam competir entre si."
[Mon: WHAT?! Tendi foi nada =• =]
"...Hum, posso voltar para o meu lugar agora?"
E com essa última palavra de Yua, cortamos toda a conversa fiada, e todos se concentraram em estudar seriamente.
“…Yuzuki.”
Depois que Yua voltou para sua mesa, estudamos por cerca de uma hora. Agora, eu me inclinei para frente e sussurrei o nome de Yuzuki. Assim que consegui sua atenção, discretamente entreguei a ela uma folha solta com uma nota que eu havia escrito:
Alguns caras do Yan estão aqui.
Yuzuki leu a nota. Seus ombros instantaneamente ficaram tensos, e ela soltou um suspiro profundo. Ela levou um segundo para se recompor e retornar sua expressão ao habitual semblante impassível. Então, ela rabiscou algo no papel e o devolveu a mim:
Onde?
Seu celular parecia estar guardado dentro da bolsa, por isso optei pelo método clássico: papel e caneta. Eu esperava que ela lesse e respondesse pelo LINE, mas não deu certo.
Normalmente, Yuzuki seria perspicaz o suficiente para intuir algo assim, mas claramente ela estava um pouco abalada no momento.
Ficar passando bilhetes assim poderia chamar atenção, então usei os olhos para indicar a Yuzuki onde os caras estavam. Ela pareceu entender. Lentamente, ela se virou para olhar por cima do ombro. Então, olhou de volta para mim como se dissesse:
"Eles?"
Eu sorri para Yuzuki, esperando que parecesse que estávamos apenas conversando normalmente, e dei um leve aceno. Depois, ainda de frente para ela, olhei por cima de seu ombro para ver o que estava acontecendo.
Eles estavam atrás de Yuzuki, mas não dentro da biblioteca. Estavam no jardim, visíveis através das janelas. Eram três, e, só de olhar, não pareciam do tipo que frequentaria uma biblioteca para estudar. Eles encaravam dentro sem nenhum constrangimento.
E não estavam fazendo isso de longe. Estavam colados no vidro, com sorrisos maliciosos. Os alunos sentados nas mesas individuais perto da janela pareciam desconfortáveis.
Enquanto observava, ficou claro que estavam procurando alguém. Andavam para cima e para baixo no caminho fora das janelas, até que um deles olhou para o nosso lado. Ele parou, pegou o celular e mostrou a tela para os outros dois. Eles concordaram, e o primeiro apontou através do vidro, direto para a nossa mesa.
Seus sorrisos de tubarão se alargaram de repente.
Então... que merda que tá acontecendo?
"Yuzuki, você pode me explicar esse problema?" Peguei o livro de matemática enquanto falava.
"Ah, claro."
Yuzuki se levantou e veio para trás de mim. Colocou a mão no meu ombro e olhou para o livro sobre a mesa.
Visto de longe, parecíamos exatamente um jovem casal apaixonado, estudando juntos.
Inclinei-me para sussurrar no ouvido direito de Yuzuki, por trás da cortina de cabelo sedoso que caía sobre ele:
"Não faça contato visual. Aja o mais natural possível."
Yuzuki estremeceu. Então, me deu uma leve batida nas costas, como se dissesse: "Hmph! Seu bobo!"
"Você viu eles?" murmurei novamente para Yuzuki, ainda interpretando o papel do estudante apaixonado ouvindo pacientemente a explicação da namorada. Os caras da Yan não conseguiriam ouvir o que estávamos dizendo, então não havia necessidade de sussurrar além do normal em uma biblioteca.
"Vi um pouco. Não tenho certeza, mas acho que não conheço nenhum deles."
"Mantenha o rosto abaixado. Parece que é hora da sessão de fotos."
Um dos três estava segurando o celular em nossa direção. Naquela distância, e através do vidro, ele não conseguiria uma foto clara. Mas, se queriam material para seus arquivos sujos, que se danem.
"De qualquer forma, é óbvio que estão atrás de um de nós dois."
Depois que eu disse isso, Yuzuki se inclinou para sussurrar no meu ouvido, assim como eu tinha feito. O calor de sua respiração na minha orelha enviou um choque elétrico pela minha coluna.
"Talvez estejam aqui para se vingar por você ter roubado a namorada de alguém no passado?"
Fiquei aliviado por Yuzuki parecer ter recuperado um pouco de sua ironia habitual.
Eu não achava que fosse o caso, pelos sorrisos idiotas dos caras do Yan. Mas, novamente, Yuzuki provavelmente sabia disso também.
"Você ficará bem sozinha por um tempo? Poderia sentar com Yua e as outras, mas isso a deixaria mais perto do vidro e deixaria aqueles idiotas felizes."
"Acho que fico bem sozinha... Mas o que você planeja fazer?"
"Vou dar uma volta. Pegar um ar."
"O quê? Espera..."
Levantei da mesa e saí, ignorando Yuzuki, que tentou me impedir batendo no meu ombro.
Comprei uma lata de café na máquina de venda perto da entrada e saí.
O ar cheirava a grama fresca.
Era um dia perfeito de maio lá fora.
Caminhei ao redor da biblioteca até que os três caras do Yan apareceram à vista.
Parei a cerca de dez metros deles e abri minha lata de café.
Yuuko e Yua, sentadas perto da janela, olharam para mim com expressões preocupadas. Lancei a elas um olhar de "Está tudo bem" e tomei meu café enquanto observava a grama bem cuidada.
Um jardim tão bonito, mas não havia ninguém lá além de mim e dos três brutamontes.
Plom, Plom, Plom.
Chop, chop, chop.
Como previsto, comecei a ouvir o som de sapatos de couro se aproximando pelo deck de madeira ao lado da biblioteca. Um deles parecia ter esmagado os calcanhares dos sapatos e os usava como chinelos. O som de seus passos era desequilibrado.
Os sons pararam perto e foram substituídos por uma voz.
"Ei, cara."
Quem sabia se estavam mesmo falando comigo? Fingi não ter notado.
"Não me ignore. Eu disse ei!"
Alguém agarrou meu ombro, então não tive escolha a não ser me virar.
O cara à minha frente parecia um galo humano gigante. Como um galo de desenho animado. As laterais da cabeça eram raspadas, e ele tinha um tufo de cabelo vermelho no meio, como uma crista. Vestia um agasalho branco em vez do uniforme escolar. Também era corcunda, com má postura, mas empurrava o rosto em minha direção.
De longe, ele parecia engraçado, mas de perto, sua aparência tinha um impacto maior.
Não importava qual fosse seu nome real, decidi batizá-lo de Cocoricó Imbecil.
[TMAS: Este cara sabe dar uns apelidos lendários. | Goki: Não deu pra tankar Cocoricó imbecil kkkkk. | Mon: AKKAKAKA GE-NI-AL! Só me lembro daquele desenho antigo, quem sabe sabe…]
E ele era definitivamente mais um delinquente do que um pequeno arruaceiro. Os outros também eram claramente delinquentes, mas nada neles se destacava.
"Desculpe, você não é do tipo com quem eu costumo andar. Não sabia que estava falando comigo."
Meu jeito de falar e atitude eram de um aluno da Fuji, e isso pareceu fazer Cocoricó Imbecil hesitar. Ele estreitou os olhos por um segundo, então encolheu os ombros levemente e soltou meu ombro.
"Você é o cara que estava sentado com Yuzuki Nanase, né?"
Hmm, então eles estão atrás de Yuzuki mesmo. Era óbvio, mas mesmo assim...
Bem, se fosse eu que quisessem, não teriam se incomodado em tirar fotos.
"Sim. Sou o namorado dela." Foi tudo o que disse por enquanto.
Se eles tivessem vindo à biblioteca para ler livros e, por acaso, visto uma garota bonita e se interessado por ela, certamente recuariam ao saber que ela tinha namorado.
Mas o fato de saberem o nome completo de Yuzuki eliminava essa possibilidade.
"Então você é Saku Chitose, certo?"
A resposta de Cocoricó Imbecil foi inesperada. Ele não deveria saber nenhum de nossos nomes. Mas aparentemente, sabia ambos.
O que estava acontecendo? Por que esse cara sabia nossos nomes completos?
E o que ele quis dizer com "Então..."? Essa escolha de palavras sugeria planejamento.
"Sou eu, Saku Chitose da Fuji. O que você quer?"
Em resposta, Cocoricó Imbecil colocou o braço em volta do meu ombro, como se fôssemos amigos.
Minhas narinas foram invadidas pelo cheiro de um perfume famoso, do tipo que um iniciante escolheria.
"O que eu quero? Que tal uma apresentação? Para Yuzuki Nanase."
Seu hálito cheirava a cigarro, como o de Kura.
"Eu acabei de dizer que ela é minha namorada, não foi?"
Em resposta, o cara apertou seu braço em volta do meu ombro, quase me enforcando. Sua barba por fazer arranhou minha pele, e nem mesmo o excelente clima melhorava a situação.
"Eu ouvi, cara, eu ouvi. Mas você é um notório comedor, não é?"
"Hmm. Não posso negar."
"Então... Yuzuki Nanase. Ela é do tipo que deixa um cara entrar logo de cara, né?"
Huh. Realmente fascinante, o que esse sujeito está dizendo agora.
Ser rotulado como um garanhão tem suas vantagens, e uma das maiores é que as pessoas tendem a manter distância. Mas, por outro lado, às vezes o rótulo atrai insetos carniceiros que se aglomeram em busca de migalhas.
Vamos investigar isso, então.
Mudei o tom da minha voz e comecei a agir de forma amigável. "Ah, é só isso? Não me assuste, cara. Quase me mijei. Quer dizer, aqui estou eu, cercado por um bando de caras do Yan. Mas onde você ouviu essa ótima fofoca?"
Minha mudança de atitude era para convencê-los de que eu era um estudante exemplar um pouco assustado. Funcionou?
Cocoricó Imbecil também mudou sua atitude, ficando arrogante e pomposo.
"Foi mal, foi mal. Você é da Fuji, não está acostumado com o nosso jeito. Quem me contou? Meu chefe. Ele tem os olhos em Yuzuki Nanase. Nos mandou sondá-la. Só precisamos do LINE dela, é só isso, cara."
Metade certo, metade errado, então.
Consegui que se abrissem, mas não obtive informações úteis.
"Hmm. Seu chefe, ele é do tipo assustador?"
"Assustador pra caramba, cara. Soca sem hesitar. E ele tem uma queda por garotas gostosas e fáceis como a sua. Você vai largar ela logo mesmo, né? Então é só nos entregar ela, que tal?"
[Mon: Adolescentes de 16 anos… É tudo o que eu tenho a comentar…]
Isso não era o que eu chamaria de perseguição.
Que tipo de stalker manda um capanga como esse fazer seu trabalho sujo?
"Uau, parece durão, cara. Então você está seguindo as ordens do seu chefe e perseguindo Yuzuki essas últimas semanas?"
"...O que você disse?"
A voz de Cocoricó Imbecil ficou baixa e ameaçadora.
Uma simples admissão dele teria resolvido o problema, mas confesso que não conheço muito as regras não escritas dos delinquentes.
Cocoricó Imbecil apertou ainda mais meu pescoço.
"Não tô seguindo ordem nenhuma. É dever, cara, dever. Só me passa o maldito LINE logo. Continue sendo o namorado dela se quiser; nosso chefe não liga pra isso. Fetiche de corno, sabe? Vamos, cara, vamos apertar as mãos."
[TMAS: O chefe tem fetish de corno? Parece mentira]
Ele soltou meu pescoço e agarrou minha mão, apertando como se quisesse mostrar sua força. Sem dúvida, meu comentário sobre ele seguir ordens feriu seu orgulho delinquente. Isso não estava indo como eu esperava. Manipular esse idiota estava sendo mais difícil do que pensei.
Soltei um suspiro e murmurei baixinho:
"Aperto de mão no estilo americano, hein? Tudo bem."
Então, esmaguei a mão de Cocoricó Imbecil na minha.
"Ai! Porra, cara!"
Ignorei seus gritos de dor e encarei-o. "O que foi? Não sabe a etiqueta do aperto de mão? Tem que olhar nos olhos e apertar firme... Depois balança."
Puxei seu braço, fazendo-o perder o equilíbrio. "Guah!" Ele grunhiu, surpreso, e caiu de joelhos.
"...Merda, isso dói. Quer morrer, cara?!"
"Desculpe, você é mais fraco do que eu pensava. Pareceu que você estava insultando minha namorada amada, então acabei usando muita força, entende?"
Idiota. Não subestime a força de quem balançou um taco de baseball todos os dias desde o ensino fundamental.
Foi quando os outros dois delinquentes avançaram.
Até então, tudo estava indo conforme o planejado.
Não sabia de onde tinham ouvido esses rumores infundados, mas se estivessem apenas mirando Yuzuki para passar o tempo e exagerado, então me empurrar um pouco deveria ser suficiente para satisfazê-los. Se a raiva do chefe deles se voltasse para mim, eles estariam livres.
Se eu atrapalhasse, poderiam ficar obcecados comigo, o que não seria bom, mas a melhor política era enfrentá-los de forma clara e direta. Minha única preocupação era que membros do Time Chitose, ou o time de basquete das garotas, ou outros alunos da Fuji pudessem ser arrastados para isso. Isso complicaria as coisas.
Se começasse uma briga agora, os delinquentes focariam em mim, em vez de ir atrás dos outros. Afinal, eu era o namorado de Yuzuki, então eles tinham duas escolhas: brigar com Saku Chitose, que estava claramente os provocando, ou me ignorar e abordar Yuzuki diretamente. O caminho que escolhessem seria um desses dois; eu tinha certeza.
Agora, vamos ver o que esses caras decidem.
Logo quando um dos delinquentes me agarrou pela camisa, ouvi uma voz familiar.
"Ei! O que vocês pensam que estão fazendo?!"
Virei o rosto e vi Kaito e Kazuki correndo em nossa direção.
...Na verdade, Kazuki estava andando casualmente. Seu cobra.
O tamanho e porte de Kaito pareceram afetar os delinquentes, e agora as chances estavam equilibradas, três contra três. A mão que segurava minha camisa se soltou.
Cocoricó Imbecil já estava de pé e nos lançava olhares venenosos. Mas então ele suspirou, como se todo o ânimo tivesse saído dele.
"Ah, isso é perda de tempo. Já era. Mas vou contar tudo pro meu chefe sobre você."
Ufa. Se ele dissesse algo clichê como "Melhor ficar esperto!", eu não teria conseguido controlar o riso.
Cocoricó Imbecil e sua turma estavam virando para sair quando falei com suas costas:
"Não sei o que ouviram, mas Yuzuki Nanase não é esse tipo de garota. Nós estamos namorando sério, então eu realmente preferiria que vocês ficassem longe dela."
Tenho certeza de que me ouviram, mas os três não disseram nada e continuaram indo embora.
Quando sumiram de vista, Kaito falou: "Que porra foi essa, Saku? Isso não é o seu jeito."
"Seu tolo. Estava tudo indo conforme meu plano. De qualquer forma, você só veio aqui porque sentiu o cheiro de uma briga, né?"
"Óbvio. Por que eu não interviria quando meu amigo parece prestes a ser esmagado?"
"Eu não estava prestes a ser esmagado! E você, Kazuki! Você deveria ser o freio dos impulsos do Kaito."
Kazuki finalmente chegou perto e estava sorrindo.
"Foi mal. Quando esse cara viu você sendo enforcado, ele partiu para o resgate. Não tive chance de impedi-lo. Na verdade, Kenta estava hesitando se vinha conosco, mas eu disse para ele ficar quieto e deixar a gente lidar com isso."
"Ah, que bom ouvir isso. Sério, vocês não precisavam se incomodar."
Imaginei Kenta suando para decidir se me ajudava, e senti parte da tensão ir embora.
Kaito continuou, com a testa franzida como se ainda não entendesse.
"Saku, esses caras eram da Yan, né? Eles eram os responsáveis por tudo? O stalker que Yuzuki mencionou, digo."
"Hmm, eles são os candidatos mais prováveis no momento, eu acho."
Kazuki falou em seguida: "Conheço um cara do meu fundamental dois que foi para o Yan. Esses caras não entendem a lógica, então você precisa tomar cuidado. Eles fazem coisas loucas por diversão, como jogar mesas do segundo andar da escola e forçar os mais novos a raspar a cabeça com máquina de cortar cabelo. Eles estão fora de controle."
"Eita. Agora que não preciso mais manter o cabelo curto para o clube de baseball, não quero máquina de cortar cabelo perto da minha cabeça."
Kaito sorriu. "Deixa isso pra lá. Mesmo numa situação dessas, você ainda é o Saku Chitose, né? Não consegue reagir como um humano normal e mostrar um pingo de medo? Você estava cercado por três delinquentes da Yan, sabia?"
"Tá brincando? Eu estava com tanto medo que quase me mijei."
Era verdade, falando sério. E essa era uma reação normal numa situação daquelas.
Eu tinha muita confiança na minha habilidade atlética, mas sempre tentava abordar conflitos com a cabeça fria. Porém, quando a violência entra em cena, é natural ficar agitado. Para ser honesto, se Kaito e Kazuki não tivessem aparecido naquela hora, se os três delinquentes tivessem me atacado de uma vez... Eu teria perdido, sem dúvida.
"Mas eu tinha que considerar minha reputação masculina. E se a Yuzuki me visse tremendo como uma folha aqui fora? Eu tinha que fazer uma escolha. E parecia que só havia uma resposta certa."
"“Você é um poser.”"
"Me deem um desconto."
Kaito colocou o braço no meu ombro. Foi brusco, assim como Cocoricó Imbecil havia feito. Mas, com Kaito, não havia más intenções.
"De qualquer forma, chame a gente quando precisar. Eu também estou com medo, pra ser honesto, mas não posso ficar parado e não fazer nada. Prefiro me meter em confusão do que isso."
Kazuki me deu um soco leve e brincalhão no estômago. "O que ele disse. Se você mandar um SOS, a gente vem correndo."
"Eu não esqueci como você estava andando casualmente até aqui há pouco, sabia."
Todos trocamos sorrisos largos.
Ninguém estava mais com vontade de estudar naquele dia, então decidimos encerrar e ir para casa.
Só por precaução, combinamos que Yuzuki, Kazuki, Kaito e eu sairíamos primeiro, e os outros esperariam um pouco antes de irem separadamente.
Os caras do Yan ainda podiam estar por aí. Sem dúvida, eles poderiam descobrir essas coisas com um pouco de investigação, mas tínhamos que fazer o possível para que não percebessem que Yuuko e os outros faziam parte do nosso grupo.
Depois de caminhar um pouco e verificar que Cocoricó Imbecil e sua turma não estavam por perto, Kazuki e Kaito se separaram de nós e foram embora.
Eu queria segurar as informações do que aconteceu de Yuzuki no início, mas ela pareceu ter entendido. Esconder os detalhes dela provavelmente não era um bom plano, especialmente quando eu precisava que ela ficasse mais alerta do que nunca.
Compramos bebidas em uma máquina de venda e voltamos pela beira do rio, enquanto eu explicava os detalhes para ela.
"Então foi isso que aconteceu. Pode ser o fim, mas, por um tempo, fique perto de mim. Você poderia usar Kaito e Kazuki como guarda-costas também, mas eles têm treinos do clube."
O céu gradualmente escurecido refletia na superfície suavemente ondulada da água.
Tirei meu blazer e enrolei as mangas da camisa, atirando pedrinhas no rio com um arremesso lateral. Fiz uma delas quicar duas vezes, mas afundou com um plop patético.
Um peixe surgiu em algum lugar com outro plop audível, como se tivesse se assustado com a pedra.
"Eu era ótimo em pular pedras. Consegui fazer uma pular cinco vezes uma vez, no ensino fundamental."
Sentei no chão ao lado de Yuzuki, que agarrou minha manga.
"...Desculpe. Sinto muito, Saku." Sua voz estava trêmula.
Fingi não notar, continuando de forma descontraída.
"Qual é. Ainda está remoendo o que Yua disse ontem? Sempre foi meu sonho dizer algo como 'Tirem as mãos da minha garota', sabe? É o tipo de situação que todo garoto sonha."
Yuzuki balançou a cabeça, como se não estivesse ouvindo.
A mão que segurava minha manga desceu lentamente até minha mão, que ela então apertou com força.
"Me desculpe. Sinto muito por fazer você ter que passar por isso, Saku."
Isso não parece a Yuzuki.
Não é que eu não pudesse adivinhar por que ela estava agindo assim. Querendo parar seus tremores o máximo possível, apertei sua mão delicada de volta.
"Eu quis fazer isso."
Como se agarrando a uma esperança, ou como em uma oração, Yuzuki envolveu minha mão com as duas dela e a pressionou contra sua testa.
"Mas, Saku. Você quase foi socado."
"Ah, por favor. Como se eu deixasse uns delinquentes imbecis me acertarem. Chega, fique quieta por um minuto. Volte quando estiver pronta para ser Yuzuki Nanase de novo."
Cobri minha mão direita e o rosto de Yuzuki com meu blazer ao mesmo tempo.
Não podia deixá-la perder sua essência por algo assim.
Não importava o cenário. Ela não podia se perder por uma questão de intenções mesquinhas.
Por isso, agora, eu havia me tornado algo como uma pequena estátua de Jizo que você encontra em uma trilha de montanha desolada.
Você não tem certeza se realmente tem alguma bênção para dar, mas ainda assim deve rezar e descarregar seus fardos nela.
Afinal, depois de rezar, você terá que continuar naquela trilha com seus próprios pés.
Ficamos assim por cerca de dez minutos.
Então Yuzuki saiu de debaixo do meu blazer, sorrindo como uma criança acordando no primeiro dia de férias de verão.
Ela soltou minha mão e se espreguiçou. "Quero comer katsudon."
"...Como é?"
"Katsudon. Do Europe-Ken, o melhor restaurante de katsudon de Fukui!"
"Você se transformou na Haru debaixo do blazer ou algo assim?"
"Ah, qual é. Qualquer morador de Fukui que se preze iria querer comer katsudon numa hora dessas, não é?"
Yuzuki me deu um sorriso adorável que parecia apenas levemente forçado. Parecia que ela ficaria bem, pelo menos por hoje.
"Tudo bem, então. Eu também estou com fome depois de toda essa emoção. Não estou acostumado. Vou comer com você. Você quer dizer o lugar perto do East Park, né? Você paga, claro."
"Você acabou de compartilhar o calor de uma linda jovem. Certamente isso é compensação suficiente?"
"Pelo contrário, na verdade, katsudon pode não ser compensação suficiente... Você provavelmente deveria colocar um camarão empanado também e talvez um apalpão nos peitos, de cortesia..."
"Seu porco!" Yuzuki se levantou. "Mas sabe, você é incrível, Saku. Você enfrentou aqueles caras, e eles eram assustadores de verdade."
"Eles eram, então tente lembrar disso, Yuzuki. Se você chutar um cara bem nas bolas, só precisa de cerca de quarenta por cento da sua força normal para imobilizá-lo completamente. Mas tem risco inerente. Não erre o alvo."
"Sério? Funciona até em você?"
"Tá tudo bem, não precisa testar. Ei, para com isso. Não estou brincando."
"Entendo, entendo..." Yuzuki se abaixou e pegou meu blazer, tirando a poeira. "Vou tentar lembrar. Ok, hora da sua recompensa!" Ela segurou o blazer para eu vestir.
"Depois que eu arrisquei meu pescoço por você, é só isso que ganho..."
Enfiei os braços no blazer enquanto Yuzuki o segurava, então ela colocou as mãos em meus ombros e se apoiou em mim. Senti sua maciez contra minhas costas.
E senti seu hálito quente no meu ouvido.
"Você foi muito legal. Obrigada."
Foi tudo o que ela disse antes de se afastar.
...Hmm. Acho que todo aquele esforço valeu a pena.
"Vamos indo!"
Ela foi na frente, suas costas retas e dignas parecendo de alguma forma bonitas.
Se todos pudessem viver assim. Talvez houvesse menos crianças solitárias no mundo nesse caso.
É difícil para qualquer um viver com força neste mundo. Então, ver Yuzuki tentando seu melhor assim — me pareceu bonito.
"Hahhh."
Era hora do almoço no dia após meu encontro com os caras do Yan. Suspirei teatralmente e desabei na minha cadeira no refeitório.
"O-o que foi, Rei? Por que o suspiro?" Kenta estava sentado ao meu lado, chupando um macarrão.
"Quer dizer..." Olhei para o rosto de Kenta. "Hahhh..."
"Tá, entendi. Você está pensando, 'Por que eu tenho que almoçar a sós com esse cara?', né? Droga, Rei."
Kenta se encaixou bem no Time Chitose e assumiu o papel de provocador entre os meninos.
Acenei com os olhos melancólicos, e Kenta encolheu os ombros.
"Ah, tudo bem. Se você insiste em me olhar assim. Todos os nossos amigos estão almoçando com seus colegas de clube, já que não podem se encontrar depois da aula durante o período de provas. Os únicos sem nada melhor para fazer somos eu e você."
"Pelo menos chame a gente de lobos solitários; faça soar legal! Você está nos pintando como perdedores tristes e sem amigos!"
"Bem, nós somos tristes e sem amigos. Aceita. Pare de lutar contra."
"Pode parar de soar tão... espiritualmente iluminado? É meio legal. Não gosto nada."
Tudo estava fora do normal desde ontem.
Terminei minha tigela de ramen até o último gole de sopa, então me ocorreu uma ideia.
"Kenta, você viu o que aconteceu ontem?"
"Claro. Mesmo seguro atrás da janela, quase tive um ataque cardíaco de medo. Tinha caras assustadores assim no meu ensino fundamental. Por sorte, eu era basicamente invisível, então nem notaram minha existência."
"Você acha que caras assim perseguiriam alguém?"
Eu realmente tinha falado cara a cara com os malucos da Yan ontem, e estava cético. Mas ainda não tinha contado a Kenta os detalhes da conversa, e queria sua opinião imparcial como espectador.
"Hmm, stalkers têm essa fama de usar força contra suas vítimas, mas e se o fetiche deles for mais tipo… descobrir coisas sobre ela ou algo assim?"
Fetiche? Não esperava essa palavra. Fiquei quieto e acenei, sinalizando para ele continuar.
"Só estou dizendo que é uma possibilidade. Uma pessoa com fetiche de perseguição gosta de ficar à espreita. Isso só torna mais emocionante. Ou talvez estejam buscando a emoção de observar o alvo, vendo o medo se apoderar dela quando percebe que está sendo seguida."
"É incrível como sua mente funciona, Kenta. Eu nunca teria pensado em algo tão assustador e nojento."
Kenta soltou um pequeno "heh" e ajustou os óculos.
"Eu veementemente nego que sou um conhecedor de todas as formas concebíveis de light novels, anime e visual novels."
"Espero que você não tenha se exposto a nenhum conteúdo adulto, Kenta."
"Ahem! Ahem!"
Ainda assim, essa era uma forma interessante de pensar.
Pessoas como eu focam em priorizar o resultado final.
Se o objetivo final do stalker fosse namorar Yuzuki, ou pelo menos ter algum tipo de relação física com ela, então havia muitas outras formas mais eficazes de fazer isso. Uma pessoa sã tentaria uma delas primeiro, certo?
Pegue os caras do Yan. Eu realmente não queria imaginar, mas se estivessem decididos a ameaçar e intimidar Yuzuki para namorar um deles como último recurso, então certamente não haveria necessidade dessa abordagem indireta.
Mas se o ato de perseguir em si fosse o fetiche, então seria outra história.
Kenta tomou um gole de água, se acalmou e continuou.
"Coletar informações sobre sua vítima — isso é básico. Em termos simples, pode envolver procurar fraquezas para explorar. Descobrir algo que ela está escondendo de todos e usar isso a seu favor. É uma opção menos problemática do que usar força física."
"Kenta... você está começando a me assustar, cara. Todo esse tempo, você só fingiu ser meu amigo, é isso? Em segredo, você esteve procurando provas para me expor como um babaca garanhão?"
"Não é como se alguém precisasse de mais provas disso."
Brincadeiras à parte, esse era um assunto bem sério.
Talvez eu tenha deixado a palavra stalker me enganar, tanto sobre o objetivo final do sujeito quanto sobre os passos que estava tomando. Talvez ficarmos de olho na Yuzuki onde quer que ela fosse não fosse suficiente para mantê-la segura, no fim das contas.
Enquanto refletia, uma bandeja pousou na mesa ao meu lado direito.
Era uma mesa para oito, e só Kenta e eu estávamos sentados lado a lado. Então não seria incomum outro aluno usar o espaço livre. Dito isso, havia seis outros assentos livres que a pessoa poderia ter escolhido — por que tinha que se sentar justo ao meu lado?
Estava prestes a retomar meu raciocínio quando o cara ao meu lado começou a falar.
"Você é Chitose, né?"
Aparentemente, ele queria algo comigo, por isso estava sentado tão perto.
Virei e vi um jovem de aparência arrumada sentado ali. Seu rosto não era desagradável. Sua camisa não tinha uma única ruga, e ele usava o uniforme escolar conforme as regras. Até seu cabelo era liso e brilhante, e ele tinha um sorriso brilhante e cativante.
Se tivesse que categorizá-lo, o colocaria na mesma classe que Kazuki.
"Ah, desculpe abordá-lo assim do nada."
"Tudo bem… Nós nos conhecemos?"
Ele parecia ser um dos populares, e achava que o tinha visto por aí. Mas também tinha certeza de que nunca tínhamos conversado.
"Não. Eu sei muito sobre você, Chitose, mas infelizmente nunca tivemos a chance de conversar até agora. Ah, posso te chamar de Saku?" O cara me deu um sorriso caloroso.
"Claro, se quiser. E você é...?"
"Tomoya Naruse, da turma sete. Pode me chamar de Tomoya, Saku."
Ele parecia o tipo de cara que as garotas gostam muito. Ah, o tipo que eu não suporto.
"Tomoya. Tudo bem, então."
Kenta acenou com a cabeça em cumprimento e soltou um "E aí?" em voz baixa. Kenta já estava acostumado com os colegas da turma cinco, mas ainda era novo demais para agir de forma descontraída ao conhecer pessoas novas, aparentemente. Tomoya olhou para Kenta por um momento, depois de volta para mim.
"Ouvi os rumores sobre isso. Você tirou um otaku recluso do quarto e o convenceu a voltar para a escola, né? Isso é inspirador, cara. Sério."
Kenta pareceu disposto a deixar passar, então decidi ir direto ao ponto.
"...Então, qual é? Espero que não esteja aqui para confessar seus sentimentos por mim."
"Ah, bem, sobre isso. Não é exatamente que eu esteja aqui para confessar meus sentimentos... Hm, desculpe, Kenta, você se importaria de mudar de mesa por um instante?"
Era claramente algo que ele não queria que mais ninguém ouvisse.
"C-claro", disse Kenta, levantando-se obedientemente.
"Tomoya—desculpe, mas Kenta e eu estávamos almoçando juntos. Ele é cuidadoso com as palavras, então garanto que não vai repetir nada que você disser. Se ainda não quiser que ele ouça, então escolha outro momento para conversar. Tudo bem?"
Tomoya pareceu um pouco surpreso por um segundo, mas logo concordou. "Ah, claro", disse. "Sim, foi bem rude da minha parte. Sinto muito, Kenta."
"Tá... tá tudo bem! Posso voltar para a sala sozinho."
"Senta aí", ordenei.
"...Então, o que você quer?"
A expressão de Tomoya ficou séria de repente, e o tom de sua voz baixou.
"Certo, então... Sei que é rude chegar assim e perguntar isso, mas... você e Yuzuki Nanase estão mesmo namorando?"
Ah, pensei.
Claro que caras assim começariam a aparecer.
Um cara com a aparência e popularidade presumida de Tomoya era o tipo que naturalmente se interessaria por uma garota como Yuzuki. Ele sabia que eu passei ele para trás, mas queria ouvir de mim pessoalmente, só para saber se ainda tinha uma chance.
Me senti um pouco culpado, mas tinha que colocar o contrato que Yuzuki e eu fizemos acima de tudo.
"Sim, estamos mesmo namorando. Eu estava pensando que já era hora de deixar meus dias de garanhão babaca para trás, de qualquer jeito."
Os ombros de Tomoya caíram, completamente desanimados, mas ele continuou.
"Sei que é rude perguntar isso, e não me importo se você me der um soco por ter a ideia errada, mas não é tudo uma grande farsa, é?"
"O quê, você acha que Yuzuki e eu não combinamos?"
O jovem balançou a cabeça veementemente. "Não é isso. Na verdade, vocês combinam muito. Demais. Mas, pelo que sei da Nanase, ela é, como posso dizer... não do tipo que arrumaria um namorado tão casualmente..."
Hmm, bem, ele não estava errado nessa observação.
"Deixe-me só confirmar se estamos na mesma página... Você tem sentimentos pela Yuzuki, né?"
"...Desde o dia da cerimônia de entrada na escola." Tomoya fez uma pausa, olhando para a mesa, antes de apertar os lábios e me encarar nos olhos.
"Me apaixonei à primeira vista, no momento em que a vi. E fiquei louco por ela desde então. Acho que ela também me notou, pelo menos um pouco. E meus sentimentos… são reais. Então pensei que, se houvesse até a menor chance, eu queria saber... Desculpe, sei que isso é bem assustador da minha parte."
Lancei um olhar para Kenta, que me encarou com uma expressão que parecia dizer: "Bom, e agora?"
Hmm, o que fazer?
Fiz um contrato com Yuzuki. Sabia que tinha que honrar seus termos. E contar a verdade para Tomoya não daria a ele nenhuma chance maior de namorar Yuzuki. Dito isso, porém, diante desse jovem apaixonado, comecei a sentir que não podia simplesmente jogar seus preciosos sentimentos no lixo, em nome do pragmatismo.
Hesitei por alguns momentos, mas, no final, meu lado bondoso e ingênuo venceu.
"Tomoya, você é do tipo que consegue guardar um segredo? Está preparado para receber algumas informações de boa fé, prometendo não deixar escapar ou usá-las para fins nefastos? Deixe-me avisar, não estou brincando com isso. Eu sou do tipo que devolve o dobro, sabe?"
Tomoya respondeu ofegante. "Eu nunca contaria um segredo. Sei que soa falso depois que acabei de confessar meus sentimentos pela Yuzuki, Saku, mas eles são completamente sinceros. Eu nunca os desonraria assim."
Soltei o ar. "Tudo bem. Então jura segredo. A questão é que há algo acontecendo, e, para lidar com isso, Yuzuki e eu estamos fingindo namorar por enquanto. Mas não me peça para explicar o que é. Não posso revelar até que certos desdobramentos aconteçam. Está bom para você?"
O rosto de Tomoya se iluminou. "Claro! Então é isso... É só isso..." Ele cerrou o punho silenciosamente sob a mesa várias vezes. "Na verdade, queria te perguntar mais uma coisa, se não for pedir muito."
"Você tem um rosto muito honesto para alguém tão cuidadoso e deliberado. O que é, o irmão perdido do Kenta ou algo assim?"
Lancei um olhar de "Hmm?" para Kenta, que virou o rosto e começou a assobiar desafinado.
Tomoya riu. "Não posso dizer que estou emocionado em ser classificado junto com o Kenta. De qualquer forma, Saku. Se você vai fingir namorar a Nanase de agora em diante, posso fazer um pedido?"
"Você tem muita coragem, Cara de Pau! Saiba que, quando se trata de quem eu estou do lado, Yuzuki Nanase sempre virá muito antes de você. Nunca nem falei com você antes de hoje. Acha que vou te dar informações, como qual é o tipo de cara que ela gosta? Cai fora. Isso é jogar sujo."
Bem, não é como se eu soubesse essas coisas mesmo.
"Imaginei que você diria isso, Saku. Nesse caso, você poderia pelo menos me contar sobre o que você e a Nanase conversam todo dia — e coisas gerais assim? Então posso pensar nas informações que descobrir sozinho. Não há nada de errado em conversar sobre isso entre amigos, né?"
Hmm, tudo bem. Isso pode ser aceitável.
Eu poderia simplesmente me recusar a mencionar qualquer coisa que não quisesse contar.
Ei, espera aí. Esse cara estava me manipulando, não estava? Ah, que seja.
"Mais uma coisa", disse Tomoya.
"Você ainda não terminou? É como um canal de compras que fica jogando acessórios 'totalmente grátis!'"
"Ah, não seja assim. Você é super popular com as garotas, né, Saku? Então pensei que, deixando a Nanase de lado, talvez você pudesse me dar algumas dicas e conselhos. Tipo 'seja meu guru do amor'."
Pera aí! Não me inscrevi para assumir o papel de "professor sábio" pela segunda vez.
Lancei um olhar afiado para Kenta, mas ele continuou assobiando desafinado e até começou a limpar a garrafa térmica da sopa de frango com o lenço. Que diabos você está fazendo, cara?
Olhei para Tomoya, que me observava com olhos brilhantes. Relutantemente, concordei.
"Olha. Sim, sou popular com as garotas. Tenho mais atenção feminina do que o Kenta aqui poderia esperar em cem vidas. No entanto, não conheço técnicas de romance. Só vivo minha vida, e as garotas me amam por isso."
"Então me ensine a viver. Assim, as garotas vão me amar também. Esse é o seu segredo para chamar a atenção de todas, né?"
Tomoya continuou sorrindo, um sorriso grande e inocente.
"É só uma teoria, mas você não está usando esse negócio de 'guru do amor' como forma de eliminar seu maior rival, está? Não está esperando que isso me impeça de levar as coisas com a Yuzuki a sério... está?"
"O quê? Não, não."
"Não seja ingênuo, tolo. Ninguém sabe como e por que as pessoas se apaixonam. Não me importo se estou te dando conselhos sobre garotas; ainda vou continuar namorando Yuzuki o tempo todo, e se nos apaixonarmos, vamos namorar de verdade. Como eu disse, Yuzuki significa mais para mim do que um cara que nunca tinha visto antes de hoje."
"Que pena. Mas tudo bem, então. Mensagem recebida, em alto e bom tom."
Eu estava realmente tendo uma crise de consciência aqui, então para Tomoya simplesmente descartar tudo assim... me irritou por um motivo diferente do que Kenta, que basicamente me deixou para morrer.
"...Tudo bem, tudo bem, acho que você venceu. Mas olha, é uma época cheia agora. Tudo que posso fazer é dar o conselho mais básico dos básicos, certo?"
Tomoya sorriu e estendeu a mão para mim.
Agarrei-a e apertei com firmeza.
Depois de trocarmos nossos IDs no LINE, Tomoya foi embora, e Kenta e eu devolvemos as bandejas antes de decidir voltar para a sala. Ainda havia cerca de meia hora de almoço, mas como já havíamos comido, não havia motivo para ficar no refeitório.
Enquanto caminhávamos pelo corredor que ligava os prédios da escola, Kenta finalmente falou.
"Isso foi sábio, Rei? Você tem seu contrato com a Nanase, afinal, e muitas outras coisas para lidar agora, além disso..."
"Preocupado comigo? Isso é crescimento pessoal aí, Kenta", brinquei, e Kenta me olhou com seriedade.
"Além disso... comparado com a minha situação, você foi bem direto com ele, não foi? O que aconteceu com todo aquele seu papo de pesar os prós e contras, dizer um não firme, esperar o cara ficar totalmente perplexo e então finalmente dizer que sempre planejou ajudá-lo desde o início?"
"Não me diga que você está com ciúmes desse aleatório? Tive que usar todo esse truque com você porque você era tão resistente a qualquer tipo de ajuda no começo. Além disso, tenho um motivo oculto."
É verdade, eu havia adicionado outra carga pesada ao fardo que já estava lidando, mas essa também envolvia Yuzuki. Então não era como se estivesse embarcando em uma missão secundária completamente diferente.
Além disso, não sabia o quanto Tomoya esperava de mim, mas isso não era como ensinar Kenta sobre os caminhos dos populares. Não há "técnicas" quando se trata de conquistar uma garota. Se o motivo dele fosse "Não precisa ser uma garota específica, só faça com que muitas garotas me achem um gato!"... em outras palavras, se o objetivo fosse lançar uma rede ampla e aumentar seu perfil, então, sim, eu poderia dar algumas dicas. Mas o garoto já era bonito e tinha uma personalidade decente. Certamente ele já estava seguro nesse aspecto.
Mas era Yuzuki Nanase que ele queria.
Como eu poderia dar dicas sobre conquistar uma garota que nem mesmo um cara como eu tinha conseguido? Bem, talvez Tomoya já soubesse disso. Seu objetivo maior parecia ser se aproximar de mim, o cara mais próximo da Yuzuki. Então, ele iria se infiltrar lentamente no círculo íntimo dela. Ainda assim, como dizem? Amigo do meu amigo é meu amigo. Além disso, era uma tarefa que estava dentro das minhas capacidades. O mínimo que eu poderia fazer era ensinar a ele o que não fazer para ganhar o favor da Yuzuki.
Olhei para o lado e vi Kenta digitando no LINE. Aparentemente, ele não planejava continuar essa conversa. Provavelmente estava conversando com outro membro do Time Chitose. Antes, Kenta passava todo o tempo em sites como o 5chan e o fórum de fofocas da escola, então isso era um crescimento real. Sorri para mim mesmo, pensando em como era engraçado que não fosse mais engraçado andar pela escola com esse cara ao meu lado.
"Ah, Rei? Se importa de me acompanhar em algum lugar rapidinho antes de voltarmos para a sala?"
"Tudo bem, mas o que foi?"
"Ah, só esqueci uma coisa no laboratório de biologia."
"Claro, mas precisamos de algo do laboratório para a aula hoje?"
"Só vem; não faça perguntas." Por algum motivo, Kenta começou a me empurrar pelas costas. "Aqui, Rei, eu abro a porta para você."
"O quê? Por que você está sendo tão... servil?"
Kenta abriu a porta do laboratório e me empurrou para dentro.
Cambaleei alguns passos para dentro da sala, e então a porta foi fechada atrás de mim.
"Que diabos, Kenta? O que você está aprontando?!"
Ergui a cabeça, franzindo a testa, e foi quando vi...
Dois demônios me esperando.
Um deles era Yuuko, de mãos nos quadris e com um sorriso largo. O outro era Yua, com uma expressão de amor e compreensão. Por algum motivo, ela segurava um esquadro gigante usado em matemática.
Sabia imediatamente que havia caído em uma cilada, mas, quando me virei, vi Kenta olhando pela janela de vidro da porta. Ele estava com as mãos unidas como em uma oração—ou como se estivesse expressando condolências.
"Seu babaca! Você me jogou na cova dos leões!!!" Kenta virou as costas e saiu correndo o mais rápido que pôde.
Nervosamente, hesitante, encolhendo-me, me virei novamente.
"Saaaku."
"Sa-ku."
Os dois demônios sorriram para mim.
"“Só senta aqui um instante!”"
Droga. Estou frito. Minha vida, um cemitério de arrependimentos.
"Então, Saku, você não acha que tem algumas explicações a dar?" Yuuko avançou em minha direção, sorrindo.
Ao mesmo tempo, Yua veio por trás de mim e trancou a porta.
"O-o que é isso, hmm?"
Meus olhos se moveram evasivamente enquanto me sentava na cadeira próxima.
"Opa!"
"Ai?!!!"
Senti algo cutucando minhas costas. Virei e vi Yua ali, brandindo o esquadro como uma arma.
"Quem disse que você podia sentar nessa cadeira, hmm?"
"...Hã?"
"Senta no chão de seiza!!!" (Tradução: Sente-se no chão na posição seiza.)
"Sim, Mestra!"
Rapidamente me ajoelhei no chão e sentei com as pernas dobradas sob mim na posição seiza. Yua pairou sobre mim, batendo o esquadro na palma da mão ritmicamente enquanto limpava a garganta.
"O que foi que eu te disse, Saku? Tem certeza de que não sabe do que se trata?"
"Er... você disse algo sobre eu não ligar se fosse alvo, e que isso era, uh, ruim."
"Mmm-hmm, e?"
"E... eu sinto muito, muito mesmo por ontem."
Inclinei a cabeça quase até o chão. E estava falando sério.
Yuuko se agachou na minha frente. "Saku, você parou para pensar em como nos sentimos vendo aquilo ontem? Todos estávamos convencidos de que você ia levar um soco daqueles caras da Yan. Ficamos seriamente, seriamente preocupados."
"Ah, sobre isso. Peço desculpas, de verdade."
Yuuko e Yua estavam totalmente certas.
Baseado em como os eventos se desenrolaram, tomei a decisão certa do meu ponto de vista, e ainda mantenho minha posição. No entanto, deixei de incluir certos fatores nos meus cálculos. Meu próprio bem-estar foi uma das coisas que ignorei. A outra foram meus amigos e suas emoções.
A voz de Yuuko suavizou um pouco, e seus cabelos sedosos caíram sobre seu ombro.
"Olha, Saku. Até uma cabeça oca como eu consegue entender que há coisas que não podem ser resolvidas com caras daquele tipo só no papo. E eu sei que, às vezes, responder à força com força é o melhor jeito de chegar a uma conclusão."
Yuuko fez uma pausa, então respirou fundo e gritou "MAS!!!" antes de continuar, sua voz ficando mais áspera e ameaçadora.
"Mas quando se trata de situações assim, é melhor que você esteja fazendo isso por motivos grandes! Tipo, 'eu tenho que proteger alguém' ou 'preciso voltar vivo, custe o que custar.' Você não pode ser tão despreocupado assim, simplesmente se metendo e agindo no impulso!"
Não ia ganhar essa discussão; isso estava claro.
Mas era evidente, pelas minhas ações, que fiz aquilo para proteger Yuzuki, não era? Só que não parecia ser disso que Yuuko estava falando.
Ou eu agi porque estava agitado por querer proteger Yuzuki, ou agi porque parecia ser a solução mais eficiente. As duas coisas pareciam conectadas, mas havia um abismo de diferença entre elas.
Os olhos de Yuuko eram tão claros quanto um lago intocado nas montanhas. Com eles, ela parecia enxergar direto através de mim, até a parte mais fraca e pequena do meu interior.
Yua sentou ao lado de Yuuko.
"Tivemos que fazer essa intervenção em privado, porque não queríamos que Yuzuki se sentisse mal se falássemos na frente dela. Mas me deixa repetir, ok? Todos nós queremos ajudar Yuzuki tanto quanto você. Mas não existe nenhuma razão para você se machucar por isso."
Yua esticou a mão em direção à minha garganta. Cuidadosamente, acariciou a marca vermelha deixada quando fui agarrado pela gola da camisa ontem. "Mas se acontecer de essa ser a única opção, por favor, venha falar com a gente primeiro. Nós odiariamos ver algo terrível acontecer com você quando não pudermos ajudar. Se pelo menos pudermos nos preparar, podemos lidar melhor com essa dor."
"...Tudo bem. Prometo."
Minha resposta fez Yua e Yuuko sorrirem brilhantemente, lindamente.
Aparentemente, elas iam me deixar escapar dessa.
"A propósito, garotas, eu tive uma visão clara sob as saias de vocês desde que me sentei, e... Gack! Desculpa, Yua! Por favor, na jugular não!"
"Seu desgraçado!" Yua disse, repreendendo-me, antes de erguer seu mindinho na minha direção. Ao seu lado, Yuuko fez o mesmo e entrelaçou o dedo com o de Yua.
"Saku, faça a promessa de mindinho. Se mentir para nós de novo, nos tornaremos suas inimigas mortais."
Silenciosamente, mas deliberadamente, enrolei meu mindinho ao redor dos delas.
Depois da aula, Yuzuki teve uma reunião simples sobre o jogo do fim de semana, aparentemente, então, enquanto esperava por ela, decidi matar algum tempo. Com um livro guardado no meu bolso de trás, fui para o telhado.
Girei a maçaneta e me surpreendi ao encontrá-la já destrancada.
Imaginei que fosse o Kura, mas, se fosse outro professor, seria um saco ter que inventar desculpas. Silenciosamente, abri a porta um pouco para espiar.
"Mm-mm-mm, mmm-mmm. "
Pela fresta de luz de apenas alguns centímetros, pude ouvir uma voz, alguém cantando em um tom rouco e efêmero que me fez visualizar os ecos de um mundo reduzido a escombros.
Nunca a tinha ouvido cantar antes.
Se eu abrisse a porta mais, acabaria interrompendo-a. Então fiquei parado por alguns momentos, inclinando o ouvido para a melodia. Era uma música antiga, "Guild", do Bump of Chicken. Eu escutei ela no ano passado tantas vezes que acabei me enjoando.
Quando ela terminou o verso, abri a porta completamente. O rangido da porta a fez parar de cantar, exatamente como eu previra.
"Bravo. Que tal um bis?"
A veterana Asuka Nishino estava em pé na estrutura do tanque de água do telhado, parecendo estranhamente surpresa ao me ver. Ela levou um segundo para recompor sua expressão, mas ainda não conseguiu esconder o rubor em suas bochechas. Ela olhou para baixo e, finalmente, encarou-me com um olhar furioso.
"O telhado é proibido para alunos não autorizados."
Sua voz tinha um tom cortante.
Pegar Asuka desprevenida era um prazer raro. Não pude evitar um sorriso.
Tirei a chave do telhado do bolso e a ergui na frente do meu rosto.
"Você não sabia? Eu sou o Oficial de Limpeza do Telhado reserva."
"...Maldito Kura. Ele com certeza escondeu isso de mim de propósito..."
Subi a escada, meus sapatos batendo em cada degrau.
Emburrada, Asuka sentou-se na beirada e abraçou os joelhos contra o peito.
Tirei meu livro do bolso para não amassá-lo e sentei-me ao lado dela.
"Aparentemente, Kura tem essa tradição de dar essa chave ao aluno mais inteligente e problemático da turma dele."
Eu ri, e Asuka virou-se de repente para me olhar, com o queixo caído.
"Espera aí! É a primeira vez que ouço isso! Quando foi a minha vez—"
Ela subitamente calou-se, como se preocupada em estar falando demais. Eu encolhi os ombros e mudei de assunto.
Era assim que aquele velho era. Sem dúvida, ele só dizia o que lhe vinha à cabeça na hora.
"Você tem uma ótima voz, Asuka."
"Sei que estava tentando ser cortês agora, mas você continua me irritando, sabia?"
Asuka bufou, enterrando as bochechas no pequeno espaço entre seus joelhos bonitos.
"Eu canto mal. Sempre cantei." Ela estava falando como uma criança emburrada.
"Eu só queria ouvir mais. Adoro essa música." Comecei a cantarolar a música no mesmo volume.
"Deus, você é péssimo", ela disse.
"Como assim?"
"Você até que canta bem. Ugh, odeio isso."
"Você também foi boa, Asuka."
"Hmph." Ela era tão imprevisível quanto uma chuva repentina.
"Essa música... na verdade, o álbum inteiro... você me emprestou, né? Lembra?"
Finalmente, ela se virou para me olhar de verdade.
A brisa agradável do telhado levantou seus cabelos curtos e os fez balançar.
Ela estreitou os olhos, que me lembravam os de um gato de rua despreocupado, e seus lábios pequenos formaram o contorno de uma lua crescente. O pequeno sinal sob seu olho esquerdo seria então a primeira estrela da noite.
"Claro que lembro, amigo. Lembro o quanto você gostou. Você estava sorrindo feito um gato vadio."
Nós dois estávamos pensando em analogias com gatos em nossas cabeças. Fiquei satisfeito com a conexão mental que claramente compartilhamos. Isso me divertiu, sim, mas também me fez sentir algo estranho por dentro. Além disso, tenho a impressão de que eu era mais como um cachorro de rua do que um gato de rua naquela época.
O CD que ela me deu naquele dia veio com anotações escritas por ela mesma em uma caligrafia que realmente não parecia ser de uma garota do ensino médio. Cara, aquele CD realmente me ajudou a superar.
Asuka afastou a franja dos olhos com o mindinho e continuou.
"Essa música me faz lembrar especificamente de você."
"...É mesmo?"
Senti que não deveria me aprofundar mais nisso, então mudei de assunto.
"Asuka, podemos fazer nosso esquema de sempre?"
"Hora da consulta com a orientadora de novo, quer dizer?"
"Poderia chamar de hora da confissão. Isso soaria um pouco mais legal."
Então, como sempre, comecei a contar a ela sobre os eventos recentes da minha vida.
Claro, contei tudo o que aconteceu, desde Yuzuki e eu fazermos um contrato de namoro falso até o conflito de ontem. Asuka sempre mantinha uma posição neutra, então eu não precisava me preocupar com o que deveria contar e o que deveria deixar de fora. Contei tudo.
Quando terminei, Asuka se abaixou e pegou o livro que eu havia colocado ao meu lado, folheando-o.
"The Box Man, de Kobo Abe?"
"Não é por causa do que está acontecendo. Só estava com vontade de ler aleatoriamente."
Asuka fechou o livro com um estalo e murmurou algo. "Sabe o que é tão incrível e ainda tão duvidoso em você, amigo?" Sua voz suave parecia ser carregada pelo vento. "Você simplesmente assume que pode lidar com tudo sozinho e, por isso, acaba fazendo tudo sozinho."
Deixei as palavras dela afundarem por um momento antes de falar.
"Na verdade, Yuuko e Yua me disseram a mesma coisa hoje. Mas elas estavam se referindo a como eu não me importo se me machuco, desde que possa impedir que alguém se machuque."
Mesmo enquanto dizia isso, percebi que soava totalmente patético e tive que sorrir ironicamente.
Asuka riu junto comigo. "A maneira como você faz isso, você age como se tivesse alguém em quem confiar, mas na verdade é só você. E ainda assim, mesmo se agir como se fosse só você, a verdade é que você sempre tem alguém."
Essa definitivamente era uma maneira duvidosa de ser, com certeza.
Eu estava prestes a falar, mas Asuka me antecipou, murmurando novamente.
"Assim como um sino de vento, tilintando na brisa, lá na varanda em um dia de verão."
Como eu deveria interpretar isso?
Solidão, companheirismo. Bondade, frieza. Força, fraqueza. Felicidade, tristeza. Há amplo espaço para interpretação — mas nenhum espaço para escolha.
Assim como eu não tive escolha.
A porta fechou com um clique abaixo de nós.
Aparentemente, a sessão de hoje com a orientadora seria interrompida.
"Sakuuu?"
Ouvi a voz de Yuzuki. Levantando-me, ergui a mão em cumprimento.
Ao meu lado, Asuka também se levantou, sua expressão composta.
"Desculpe, vocês estavam no meio de algo?"
"Não, estávamos quase terminando."
Descemos a escada, Asuka primeiro, seguida por mim.
"Yuzuki, deixe-me apresentar você. Esta é Asuka Nishino do terceiro ano. Asuka, esta é Yuzuki Nanase, de quem eu estava te contando."
Yuzuki congelou, seu rosto parecendo o de um pinguim que se vê na savana de repente, sem ideia de como chegou lá. Um momento depois, ela se recuperou e se virou para Asuka, acenando educadamente.
Então, com sua expressão habitual inescrutável, Asuka falou com Yuzuki.
"Olá, Nanase. Já ouvi do meu jovem amigo aqui, mas parece que você está em uma situação bastante difícil. Você provavelmente não quer simpatia de uma estranha que nunca conheceu antes, mas aqui vai um conselho meu: não feche os olhos para a verdade."
"O que você... quer dizer com isso?"
A confusão de Yuzuki fazia sentido. Eu também não tinha ideia do que ela queria dizer.
Asuka olhou para mim. "Pelo que acabei de ouvir, Nanase é outra você, amigo."
Yuzuki e eu trocamos olhares.
Era verdade. Yuzuki e eu éramos feitos do mesmo tecido. Mas eu tinha certeza de que havia mais no que Asuka havia acabado de dizer. Suas palavras pareciam carregadas de significado.
Aparentemente, isso era tudo o que Asuka planejava dizer antes de se virar e começar a sair.
"Uh, espere...", Yuzuki chamou por ela.
"Qual é o relacionamento entre você e Saku, Nishino?"
Era uma pergunta perfeitamente natural para uma garota normal fazer, mas também era perfeitamente fora do personagem de Yuzuki. Ela poderia simplesmente ter me perguntado depois se quisesse saber. Eu certamente não tinha intenção de enganá-la se ela perguntasse.
"Você queria minha resposta sobre isso?" A voz de Asuka era fria e madura enquanto respondia. Mas então ela entrou em um modo de pensamento profundo com um hmm que soava infantil. "Vamos ver. Qualquer relacionamento que você esteja imaginando, é algo um pouco mais abstrato do que isso — e um pouco menos tangível, tipo..."
Ela começou a sorrir então, como um gatinho dominando uma nova forma de travessura.
"Tipo uma garota e seu amigo mais novo, um cara que realmente deveria desenvolver um senso de perigo mais forte, talvez?"
"“Espere...!”"
Mas tendo dito o que queria dizer, Asuka desapareceu como a brisa.
"Mas afinal, qual é o acordo entre vocês dois?"
Ah, sim, eu sabia que acabaríamos fazendo isso.
Muitas vezes eu esquecia, já que ela sempre dizia coisas tão inteligentes e filosóficas, mas Asuka era meio que uma carta fora do baralho. Um espírito livre. Eu certamente não tinha esperança de mantê-la sob controle.
No caminho para casa, Yuzuki parecia estar com raiva.
Era como dar um passeio pela cidade e, de repente, um balde de água gelada é jogado em você do céu. Senti que Asuka me pegou de jeito, e não estava muito satisfeito com isso.
"Asuka te disse. Apenas uma garota mais velha e seu amigo mais novo."
"Ela fez parecer que era muito mais do que isso."
"Status do relacionamento: é complicado."
Yuzuki balançou sua bolsa esportiva e me bateu forte na bunda com ela. Isso aparentemente ajudou a melhorar um pouco seu humor, e ela continuou a murmurar baixinho. "Eu só fiquei um pouco surpresa, só isso."
"Sobre o quê?"
"Você ter alguém assim na sua vida."
Yuzuki me olhou nos olhos, como se procurasse confirmação de algo.
"O que você quer dizer quando diz 'alguém assim'?"
"Alguém especial para você. Alguém que também acha você especial. Esse tipo de relacionamento."
"Qual é. Eu sou mais como uma distração do tédio para Asuka, alguém para passar o tempo."
Eu não estava sendo modesto ou depreciativo também. Era realmente o que eu sentia.
"Você não seria tão amigável com ela no telhado, chamando-a de Asuka, se ela fosse apenas mais uma garota para você, porém. E além disso..." Yuzuki fez uma pausa e suspirou. "Você deve ter notado, né? Nishino me chamou pelo sobrenome, Nanase, mas ela tinha uma maneira particular de se referir a você. Em lugares onde alguém normalmente te chamaria de 'Chitose' ou apenas 'ele', ela se referiu a você especificamente como seu amigo toda vez. Não tem como você não ser especial para ela."
Honestamente, achei isso reconfortante.
Pensando bem, essa foi a primeira vez que conversei com Asuka com uma terceira pessoa presente. Eu sempre assumi que Asuka evitar meu nome era algo que ela fazia para manter a linha entre nós no lugar. Afinal, ela estava no ano acima. Mas talvez tivesse algum outro propósito diferente para Asuka. Quem sabe.
Eu tinha certeza de que não indicava nenhum sentimento romântico por mim. Pelo menos, por favor, não deixe significar isso.
Mudei de assunto e comecei a provocar Yuzuki.
"Ficando com ciúmes da aparição repentina de uma rival? Você entrou um pouco no modo namorada, hein?"
"Talvez eu tenha entrado."
Pensei que ela responderia com uma resposta espirituosa, como normalmente fazia, mas, em vez disso, sua voz tinha algo de delicado.
"Eu provavelmente estava apenas pensando na minha posição... É, era isso. Eu tinha a impressão de que era a única que conhecia o verdadeiro Saku Chitose, a única com quem ele podia conversar e que estava no mesmo comprimento de onda."
"Bem, isso ainda é verdade. Não há ninguém por aí que seja mais parecido comigo do que você, Yuzuki."
"Você não está entendendo. Estou te dizendo, do meu jeito, que sou apenas uma garota como qualquer outra. Não quero dizer no sentido de que me apaixonei por você ou algo bobo assim. É só que eu estava orgulhosa de ser especial o suficiente para estar ao lado de alguém tão especial quanto você. Só isso."
"Ouça, Nanase..."
Mas antes que eu pudesse terminar de falar, Yuzuki pressionou o dedo nos meus lábios.
"Isso mesmo, Chitose. Eu sou Nanase. Somos amigos antes de ser namorado e namorada. Eu provavelmente não vou acabar sendo sua pessoa especial, eu sei. Foi apenas um sentimento superficial que tive. Um pequeno golpe no ego da garota que pensou que era a única especial."
Eu... não sabia o que dizer a isso.
Eu queria esclarecer as coisas com uma piada leve, mas nem isso consegui fazer.
Porque, afinal, eu tinha percebido que uma parte de mim estava pensando da mesma maneira que Yuzuki.
Para Yuzuki, eu era alguém especial. Em algum momento, sem perceber, comecei a pensar em mim mesmo como o tipo de cara que poderia ficar ao lado de uma garota especial como Yuzuki, compartilhar tudo com ela e protegê-la.
Se eu soubesse que havia um cara mais atencioso do que eu para Yuzuki, bem... eu poderia entender. Eu poderia entender, mas uma parte de mim provavelmente ficaria infeliz com isso. Então essa infelicidade levaria a um tipo diferente de entendimento.
"Eu pensei que você era um lobo solitário, Saku. Assim como eu."
"Eu pensei que você era uma loba solitária, Yuzuki. Assim como eu."
"Nenhum de nós é tão inteligente ou lógico quanto acreditamos ser, hein?"
"Provavelmente não."
Yuzuki esticou a mão na minha frente.
"Você está tentando me bloquear ou algo assim?"
"Uh, se você não consegue reconhecer o gesto de 'vamos dar as mãos', então deve haver um bug sério no seu software social."
"Me dando trabalho de novo?"
"Eu pensei que poderia me tornar sua pessoa especial dessa forma."
"Para com isso, antes que vire um hábito."
"Oh, pah."
Então continuamos andando, mantendo a distância habitual entre garoto e garota.
Depois de cerca de vinte minutos de caminhada, chegamos à casa de Yuzuki.
Yuzuki me disse que era apenas uma casa normal, mas parecia que a casa em si devia ter sido construída na última década. Era pintada de branco e parecia chique, e havia um carro estacionado na garagem que era fabricado por uma marca alemã que qualquer um reconheceria de relance.
Destranquei minha bicicleta de montanha, que estava estacionada e abandonada em um canto da garagem, e chamei Yuzuki, que estava verificando a caixa de correio.
"Então, vou para casa agora."
"Certo. Obrigada por—" Yuzuki parou de folhear a pilha de correspondência de repente. "Espera! Saku!"
Sua voz estava um pouco frenética. Desci da minha bicicleta.
"O que... o que é isso?"
Yuzuki me entregou um envelope branco liso. Não tinha carimbo postal ou endereço, e nem estava selado. A menos que houvesse algum engano, alguém teria que colocá-lo diretamente na caixa de correio da casa. Eu o segurei contra a luz do sol para tentar ver através dele. Havia uma silhueta quadrada visível.
"É uma carta... Não, fotografias. Vou olhar dentro."
Algo sobre o branco imaculado do envelope me arrepiou.
Era como se alguém tivesse comprado um envelope novinho em folha e colocado meticulosamente o conteúdo dentro dele. Eu o virei nas mãos, e vários pedaços quadrados de papel caíram. Pareciam ser fotografias mesmo.
Rapidamente examinei as fotos, mantendo-as fora do alcance da visão de Yuzuki. Rostos familiares saltaram para mim.
"Saku, me mostra."
Eu poderia tentar dizer que era melhor ela não ver, mas ela nunca ouviria.
Silenciosamente, entreguei a ela as três fotografias.
"Sou eu... e você, Saku."
Uma foto de nós dois estudando na biblioteca. Uma de nós caminhando para a escola à beira do rio. A última foto era o verdadeiro problema, porém.
Mostrava Yuzuki e eu comendo ovos Benedict no café perto da estação.
"Acho que você estava certa o tempo todo, Yuzuki."
"...É."
Naquele dia... naquela hora do dia... éramos os únicos clientes naquele café. Com base no enquadramento da foto, ela deve ter sido tirada de fora. Eu estava completamente focado na minha conversa com Yuzuki na época, e Yuzuki ainda não estava em alerta máximo naquela época também. Teria sido fácil para alguém tirar fotos sorrateiras de nós.
"Duas fotos tiradas ontem. A biblioteca estava cheia de alunos, então nunca conseguiríamos reduzir para um específico. Com base no tempo, os idiotas da Yan parecem bons para isso. Mas essa foto sozinha não é prova disso. O mesmo com a foto do caminho à beira do rio. Fomos muito relaxados com isso. Isso é muito pior do que eu pensava."
Eu estava acostumado com pessoas tirando fotos de mim com o celular e as enviando para o site de fofocas da escola com legendas como: Flagrado: Babaca garanhão dando em cima de Fulana da Turma Tal. Mas isso... isso foi um choque sério no sistema.
Perceber que alguém estava obcecado comigo enquanto eu permanecia felizmente inconsciente — foi ruim. Eu tinha certeza que Yuzuki sentia isso também. Sem dúvida, em sua curta vida até agora, ela mesma lidou com muita atenção e adoração indesejadas de caras que ela nunca havia notado.
Mas o propósito de fotografias como essa era nos forçar a nos vermos como nosso atormentador nos via.
Alguém, quem quer que fosse, olhou para nós naquele dia no café exatamente como essa foto mostrava.
A mentalidade por trás disso era... nojenta.
"Essas são algumas fotos muito boas de mim. Dá para sentir realmente o amor que o fotógrafo nutre pelo modelo aqui." Eu sorri, e a expressão rígida de Yuzuki suavizou um pouco.
"Isso chega um pouco perto demais, não acha? Quero dizer, você tem preocupações maiores agora, Saku, com certeza."
Era óbvio o que ela queria dizer.
"Ah, que desperdício de um cara bonito. Não é como se eu tivesse perdido um jogo de Hanetsuki e tivesse que desenhar minha cara com tinta como punição."
Em cada uma das fotos, alguém cortou um X no meu rosto, usando um cortador de papel ou faca de algum tipo. O resto de mim havia sido rabiscado com caneta vermelha. Eu realmente fui submetido a um abuso sério aqui. Na foto do rio, havia uma mensagem também. Dizia TERMINEM.AGORA. Talvez estivessem tentando disfarçar a caligrafia; estava escrita em letras maiúsculas irregulares.
Em vez de invocar medo, a mensagem me fez querer dar uma risada inapropriada.
"Hmm. Parece algum tipo de link duvidoso, embora eu não ache que já vi um domínio ponto-agora."
Yuzuki soltou uma risada. "Você é o mestre em fazer piadas estúpidas durante situações sérias, não é?"
"Você me lisonjeia. Estou prestes a corar."
De qualquer forma, esta era claramente a primeira vez que Yuzuki havia sido atacada tão abertamente e diretamente. Eu sabia que ela teria me contado se algo assim tivesse acontecido antes. Ela também não estaria tão chateada e chocada.
E nem precisávamos refletir sobre isso. A razão do ataque estava escrita claramente para nós.
Aparentemente, nosso sujeito desconhecido não gostou que Yuzuki e eu tivéssemos começado a namorar. As únicas pessoas que sabiam que era tudo uma grande farsa eram os membros do nosso grupo — e agora Tomoya. A maioria das pessoas nem pensaria em questionar a validade do nosso relacionamento.
Agora, isso era motivo de celebração ou de arrependimento?
Originalmente, um dos nossos objetivos era trazer o stalker à luz. Para o sujeito desconhecido ficar agressivo e fazer um ataque claro a nós... Bem, isso estava de acordo com o plano.
A esperança de Yuzuki era que, uma vez que seu stalker visse que ela tinha um namorado, ele recuaria e desistiria. Isso teria sido o fim. Mas claramente, ele era do tipo que ficava com raiva.
O tratamento deplorável com grafite dos três Chitoses nas fotos era coisa mesquinha, como algo que os idiotas da Yan poderiam fazer. E até a pessoa mais estúpida pensaria em disfarçar sua caligrafia.
"Yuzuki, você está bem?"
"Ah, obrigada, Cavaleiro Branco. Sabe, normalmente você verificaria a donzela primeiro, não é?"
Ah. Bom ponto.
"...Claro que não estou bem. Estou enjoada. Mas acho que teria sido muito pior para mim se eu descobrisse essas fotos sem você aqui. Quero dizer, ser odiada, isso é mais a sua cara, não é, Saku?" Yuzuki deu uma topada de ombro em mim brincando.
"Bom, você ainda é capaz de sarcasmo. Bom, vamos apenas ficar felizes que não foram fotos de você trocando de roupa ou algo assim."
"Se tais fotos existissem, o que você faria?"
"Não olhe para elas, Yuzuki! Eu só... confiscarei para descarte posterior!"
"Policial? Sim, é esse aqui o cara que vocês estão procurando."
Nós dois rimos.
"Piadas à parte, o que fazemos agora?", perguntei. "Alguma ideia?"
"Se eu te oferecer como sacrifício, talvez eu possa escapar."
"Interessante. Me conta mais?"
"Kenta estava me contando sobre garotos que gostam de usar vestidos. Posso te vestir e fazer o stalker se apaixonar por você. Uma noite entre os lençois com Chitose pode resolver."
[TMAS: ótima ideia, pegar um cara para proteger a mina, quem faria isso?]
"Uau, agora essa é uma direção que nem eu pensei que você iria."
Achei que ela estava tentando fingir que estava bem.
Eu precisava resolver essa situação antes que Yuzuki perdesse até sua capacidade de manter uma cara corajosa.
"Para ser real, porém, instalar uma câmera de segurança fora de casa provavelmente seria a maneira mais rápida de acabar com isso."
Yuzuki balançou a cabeça. "Me desculpe. Envolver você é uma coisa, Saku, mas eu realmente não quero ter que contar aos meus pais sobre isso."
"Faz sentido. Entendido." Acenei com compreensão.
[Mon: Amor eu entendo o porquê, MAS CONTAR AOS SEUS PAIS SERIA UMA ÓTIMA IDEIA… ]
Yuzuki parecia abatida, mas não pressionei mais. Um estudante do ensino médio que não quer confiar nos pais... É como um residente de Fukui que não quer ovo em seu katsudon. Em outras palavras, totalmente normal. Hmm, talvez eu precise criar uma analogia melhor.
De qualquer forma, teríamos que prosseguir apenas de maneira defensiva.
Eu queria revidar de alguma forma, mas se as peças que já havíamos reunido se espalhassem, teríamos dificuldade em montar o quebra-cabeça novamente do zero.
No final, nenhum de nós teve boas ideias, e o sol estava se pondo rapidamente. O carro alemão sólido ficou perfeitamente imóvel na garagem, quase como se estivesse nos observando.
Em casa, tomei banho, preparei e comi uma refeição simples e então percebi que alguém estava ligando para o meu telefone.
Verifiquei a identificação da chamada — Tomoya Naruse. Toquei no ícone ATENDER.
"O número que você discou não está em serviço..."
"Piada ultrapassada. Além disso, não é uma ligação, é o recurso de conversa do LINE."
"O que você quer?"
"Como assim? Achei que tínhamos discutido isso na hora do almoço, Guru do Amor."
"Você não está seriamente planejando me ligar todos os dias, está?"
"Qual é, Saku. Você está sempre com Nanase ou seus outros colegas. Que escolha temos?"
[Mon: Aliás, esse cara é muito suspeito, na minha opinião ⁄ Goki: Também achei ele estranho… Muito estranho]
Sua voz suave estava me irritando, mas ele tinha um ponto.
Pelo menos ele estava sendo atencioso com meu direito a um estilo de vida ininterrupto. Era difícil culpá-lo por isso.
Decidi contar a ele o que aconteceu hoje. Não toquei no encontro com Asuka no telhado, ou na conversa que tivemos depois, ou nas fotos, mas dei a Tomoya um resumo básico das coisas comuns.
"Huh, interessante. Então até Nanase é surpreendentemente típica."
"Claro que é. Você achou que ela se transformava depois da escola e saía lutando contra as forças do mal ou algo assim?"
"Não, só achei que ela estava acima de certas coisas. Tipo, ela é tão perfeita, e você nunca ouve rumores desagradáveis sobre ela, ao contrário de você, Saku. É como se ela não fosse realmente deste mundo..."
"Por que você inseriu essa pequena cutucada em mim aí? Ouça, se você quer conhecer Yuzuki, deve descartar todas essas noções que tem, porque você está muito errado."
"O que você quer dizer?" Tomoya parecia genuinamente surpreso.
"Deixe-me perguntar uma coisa primeiro. Por que você se apaixonou por Yuzuki? Se quer que eu te ajude com sua vida amorosa, você deveria pelo menos me dizer o porquê. Caso contrário, como posso te ajudar?"
"Você está certo. Para ser honesto, foi a aparência dela que me pegou no começo. Ela é tão bonita que eu simplesmente não conseguia tirá-la da minha mente. Depois disso, eu sempre fiquei de olho nela, e acho que foi assim que me apaixonei."
Ouvi um pequeno estalo, como se ele estivesse conectando fones de ouvido.
"Depois da aula um dia, eu comi terra. Foi como uma cena de mangá, eu caí de cara, e o conteúdo da minha bolsa estava espalhado por todo lugar. Todo mundo estava rindo de mim, apenas passando, sabe? Ainda pior, já estava escuro, e eu não conseguia juntar todas as minhas coisas."
"Mas Yuzuki parou. Ela colocou a luz da tela do celular no máximo para que vocês dois pudessem ver e então ajudou você a pegar tudo."
"O quê? Como você sabe disso?"
Era óbvio, com base no contexto.
"Isso não é a bondade que você pensou que era. É uma forma de bondade, claro, mas ela só fez isso porque não queria ser tão ruim quanto o resto das crianças que estavam passando por você e se recusando a ajudar."
"Eu realmente não entendo o que você está dizendo aqui."
"Eu não estou dizendo que houve zero bondade da parte dela. Claro, o que ela fez foi baseado em bondade. Mas se você realmente está pensando que foi benevolência pura e angelical da parte dela, bem. Você nunca vai ter uma chance de namorar Yuzuki."
Tomoya ficou em silêncio do outro lado da linha.
"Pare de ver esse ídolo de pedra perfeito que você esculpiu em sua própria mente e veja a garota real, Yuzuki, ela mesma. A garota que cutuca o nariz às vezes, que tem cera de ouvido, que fica com cheiro de suor depois do treino do clube, que projeta uma imagem muito calculada de si mesma para todos. Você precisa realmente entender esse conceito primeiro."
"Nanase é humana, então tudo isso é óbvio... mas não é exatamente legal de se pensar."
"Não, não é, mas é importante. Não vou negar que a maioria dos relacionamentos começa como uma espécie de miragem. Mas quando você se aproxima, a miragem desaparece. E essa impressão equivocada que você teve só vai machucar a pessoa com quem você se importa."
"Você não está escondendo nada, está?"
"Eu vi essa mesma história se desenrolar tantas vezes. Estou cansado disso."
Eu estava ficando animado. Pensando nos eventos do dia, acho que deixei minhas emoções me levarem. Essa não era realmente o tipo de conversa que eu queria ter com um cara que conheci naquele mesmo dia.
"Desculpe se estraguei seu humor. Tudo o que estou dizendo é que isso é a soma do que posso te contar sobre relacionamentos. Quer desistir agora?"
"Não. Na verdade, estou feliz que você se abriu assim comigo. Eu gostaria de continuar, se você estiver disposto."
"Isso vai soar brega, mas acho que para realmente impressionar uma pessoa, você tem que ir com honestidade brutal e paixão. Você tem que bater cabeça, cair e queimar, levantar e fazer tudo de novo. É disso que se trata a juventude."
Uau, isso realmente foi brega, pensei.
"Então, se você realmente quer namorar a Yuzuki de verdade, Tomoya, você precisa conversar com ela e estabelecer uma conexão. Pegue o LINE dela, converse um pouco com ela todos os dias, descubra mais sobre ela. Então, quando você conhecer um lado dela que está além da imagem perfeita que você tinha na cabeça, se ainda sentir que a ama, então você tem que confessar seus sentimentos."
"Isso parece surpreendentemente não sofisticado. Achei que você me daria algumas frases elegantes para usar com ela ou algo assim."
"Esse é outro delírio. Você não só tem ideias totalmente erradas sobre Yuzuki, mas também está alucinando versões de Saku Chitose que não existem também."
Sim, eu disse demais de novo. Toda essa coisa de relacionamento falso aparentemente me deixou agindo estranhamente sentimental sobre o assunto do romance.
[TMAS: Cara já tá mudando com a experiência]
Mas senti que era melhor dizer o que pensava.
Cabia ao Tomoya decidir quais ações tomar depois disso. Ele poderia lidar com a responsabilidade sozinho.
"Acho que estou começando a entender o que você quer dizer. Você está dizendo que eu ainda não conheço Nanase, certo?"
"Basicamente. Mas lembre-se disso: a sorte favorece os corajosos. O caminho mais seguro nem sempre leva ao tesouro."
"Então não há atalhos para o amor, em outras palavras. Obrigado, acho que esse foi o chute na bunda que eu precisava. Vou tentar aprender mais sobre ela."
"Bom, bom. Bem, hora de dormir."
"É. Até amanhã."
Depois que terminei a ligação, sentei na beirada da minha cama por um tempo.
Quinta-feira passou, seguida por sexta-feira, e então foi sábado.
No decorrer dos últimos dois dias, dois novos envelopes foram descobertos na caixa de correio da casa de Yuzuki, e de alguma forma tanto sua caixa de lápis quanto sua agenda desapareceram de sua bolsa. O segundo envelope foi basicamente a mesma coisa que o primeiro, mas a terceira rodada de fotos incluía fotos de Yuzuki como aluna do primeiro ano.
[TMAS: Meu Deus, cara está stalkeando ela desde o primeiro ano, logo depois do Tomoya falar que ama ela já por um tempo, difícil não criar uma pequena suspeita nele | Mon: Sim… Mas seria muito óbvio, sei lá, mas seria um plot aaaaaaaaa]
Eu não estava nada satisfeito com a forma como as coisas estavam indo.
Yuzuki agiu como sempre, mas o fato de ela parecer tão despreocupada me fez perceber que ela não estava sendo ela mesma. Normalmente, quando tudo estava bem com ela, ela ria alto com a menor piada ou sarcasmo, mas agora não. Estava claro que ela estava emocionalmente esgotada.
Tomoya ligava todas as noites, e eu tentava dar a ele os conselhos que podia. Assim como foi com Kenta, me arrependi de me dar tanto trabalho no começo. Mas antes que eu percebesse, comecei a antecipar suas ligações. "Hmm, ele deve ligar por volta dessa hora..." É assustador como podemos nos acostumar rapidamente com as coisas.
Na verdade, convidei-o para o jogo de treino das garotas de basquete hoje, mas ele disse: "Não quero que ela pense que sou um esquisito se eu aparecer de repente no jogo dela" e recusou. Eu entendi como ele se sentia, então não me preocupei em tentar convencê-lo.
O jogo aconteceria em nossa escola, no Ginásio 1. Quando entrei, o time da Fuji e o time da outra escola já estavam fazendo aquecimentos.
Mantendo um olho na cena, subi para a passarela do segundo andar. Originalmente, achei que não haveria muitas pessoas assistindo hoje, já que era apenas um jogo de treino, mas a outra escola acabou sendo famosa nacionalmente, então havia realmente uma pequena multidão.
Nem Yuzuki nem Haru se esforçaram para convidar os outros membros do Time Chitose. Não parece muito bom, mas é um fato que algo como um jogo de treino do clube não é grande coisa para os jogadores, mesmo que seu oponente seja uma escola famosa. É apenas outro evento regular. Se eles se esforçassem para convidar pessoas para assistir, as pessoas poderiam acabar se sentindo obrigadas a vir, mesmo durante a temporada de provas. Yuzuki e Haru nunca fariam algo tão egoísta.
E ainda assim eu fui convidado, não fui? O que há com isso, hein? Bem, circunstâncias especiais e tudo mais. Eu poderia deixar passar.
"Ei! Saku!"
Era Kaito, parado lá sendo excessivamente alto como sempre e me chamando com zero sutileza.
"E aí. Você veio assistir também, hein?"
"Este é um time feminino classificado nacionalmente, sabe. Eu poderia aprender uma coisa ou duas. E não é como se mais estudos fossem ajudar minhas notas neste momento."
"São pessoas como você que realmente deveriam estar estudando agora."
"Saku, você não sabe? Quando você faz tudo o que pode, tem que deixar o resto para o destino!"
"O quê, você já é um veterano acabado, cara?"
Olhei ao redor novamente. Então avistei alguns rostos que não esperaria ver aqui.
Assumindo que o palco é o lado superior do ginásio, estávamos na passarela do lado esquerdo. Na passarela oposta, do lado direito, eu podia ver Nazuna e Atomu.
Eles pareciam ter me notado também. Nazuna acenou para mim.
Acertei de volta, e Atomu estreitou os olhos com claro descontentamento.
Eles não pareciam o tipo que viria assistir esportes do ensino médio em um encontro. Talvez um amigo em comum deles estivesse jogando no jogo de hoje.
Olhei para a quadra novamente.
As jogadoras da Fuji, vestidas na cor do time, azul água-marinha, estavam praticando arremessos. Assim que pensei casualmente sobre os uniformes de basquete feminino e apreciei como eles projetavam uma imagem particularmente atraente de esportividade, percebi que a dupla familiar estava ausente do círculo.
Preocupado, olhei ao redor do ginásio. Senhora Misaki, Haru e Yuzuki estavam todos fora da quadra perto da parede, conversando com expressões sérias em seus rostos.
Com base em seu posicionamento, parecia que Yuzuki era o assunto da conversa.
Comecei a ter uma sensação ruim no peito. Corri em direção às escadas.
"O que foi, cara? Precisa ir ao banheiro? O jogo está prestes a começar, sabe." Eu podia ouvir a voz boba de Kaito atrás de mim.
"Pare de falar besteira e venha comigo."
Quando nos aproximamos, a Senhora Misaki se virou e nos deu o olhar do mal. "O que é, Chitose? E Asano também? Se vocês estão aqui para mostrar apoio, subam lá."
Ela tinha um corpo maduro com curvas nos lugares certos, e seus traços refinados e maneira gelada com as palavras faziam muitos caras da Fuji a classificarem bem entre as professoras. Mas agora não era a hora certa para focar em seu apelo.
Apesar dos times de basquete masculino e feminino serem separados por gênero, eles ainda treinavam todos os dias no mesmo ginásio. Kaito frequentemente observava a língua afiada da Senhora Misaki. Apesar de ser excessivamente alto, ele estava atualmente tentando se esconder atrás de mim.
"Desculpe, eu estava realmente assistindo de lá e fiquei preocupado. Aconteceu algo?"
Haru respondeu sem pausa. "Chitose, os tênis de basquete da Yuzuki sumiram. Normalmente deixamos nossos tênis na sala do clube, e ela os tinha para o último treino que tivemos antes do período de provas começar..."
Outro roubo. Essa foi a primeira coisa que pensei.
A Senhora Misaki continuou de onde Haru parou. "Haru é outra história, mas Yuzuki nunca seria tão descuidada com seus pertences. Dito isso, quando verifiquei a sala do clube esta manhã, ela ainda estava trancada."
"Isso pode soar estranho, mas todo mundo saiu da sala do clube ao mesmo tempo hoje?"
A Senhora Misaki franziu a testa em resposta a isso. "Bem, sim. Depois que os alunos da outra equipe chegaram, nossas garotas se reuniram no ginásio para cumprimentá-los oficialmente, e então fomos direto para nossa reunião de equipe."
Eu estava pensando que, se houvesse uma chance para alguém roubar algo, seria então.
Yuzuki interveio como se fosse combinado, sua voz estranhamente animada.
"Bem, não posso negar que estava realmente animada para este jogo, e não ter meus tênis meio que estragou o começo para mim. Mas sem problemas. Está tudo bem. Posso pegar alguns tênis emprestados de outra garota com o mesmo tamanho de pé. Ou, no pior dos casos, posso jogar de chinelos."
"Não está tudo bem, idiota."
Não tenho certeza se posso falar por Yuzuki, mas sei que quando eu tinha um grande jogo de beisebol, eu teria surtado se me dissessem para usar o taco ou as luvas de outra pessoa. Para os jogadores de esportes, o equipamento esportivo tem um enorme impacto no desempenho.
Entendi a situação imediatamente. "Kaito", disse por cima do ombro enquanto me dirigia para a saída do ginásio.
Yuzuki me chamou. "Saku?"
"Eu não quero que você use esse incidente como desculpa para não vencer. Só foca no jogo, Yuzuki."
Haru também me chamou. "Uh, querido, se você está realmente indo embora agora, certifique-se de não voltar de mãos vazias, está claro?"
"Considere isso resolvido."
Kaito e eu saímos do ginásio, então decidimos nos separar e correr por aí procurando rapidamente.
Achei que tínhamos 50% de chance de encontrar os tênis.
Se o culpado roubou os tênis de Yuzuki só porque queria um troféu, então estávamos sem sorte. Esses tênis já teriam sumido do campus. Mas se o culpado só quisesse incomodar Yuzuki por quaisquer meios disponíveis, então talvez ainda não fosse tarde demais. Tudo o que podíamos fazer era prosseguir com base na suposição mais favorável.
"Kaito, vá por todas as lixeiras nesta vizinhança. Então vá para o prédio principal e verifique todos os lugares que você puder pensar lá dentro."
"Entendido. E você, Saku?"
"Vou verificar todo o terreno do campus, além dos prédios da escola. Então vou verificar as ruas perto do campus."
Nós dois batemos os punhos, e então Kaito saiu correndo.
Comecei a farejar do lado de fora, começando do lado de fora da própria sala do clube.
Verifiquei entre as cercas e a estrada, depois contornei a cerca onde ela margeava os prédios. Verifiquei os espaços entre os prédios também. Então atrás do ginásio, depois o pequeno galpão de equipamentos. Verifiquei tudo o que parecia poder estar abrigando um par de tênis roubados. Mas não estava tendo sorte.
Esta era uma corrida contra o tempo.
Tirei meu blazer e o pendurei em um poste de cerca próximo, então enrolei minhas mangas e apertei os cadarços dos meus Stan Smiths.
Então respirei fundo e soltei o ar.
Você é esperto, eu admito, seu stalker sorrateiro. Você está me levando em uma caça ao ganso selvagem aqui. Mas brigar com Saku Chitose é uma decisão pela qual você se arrependerá até o dia da sua morte. Eu vou me certificar disso.
Comecei a correr contra a terra solta.
De dentro do ginásio, eu podia ouvir o som de um apito soprando. O jogo estava começando.
Droga! Isso não estava funcionando.
Verifiquei ambos os lados do canal de irrigação que corria horizontalmente para a escola, minha respiração agora vindo em suspiros ásperos. Verifiquei o campo de jogo, o perímetro da cafeteria, o galpão de bicicletas, o estacionamento perto da escola e o parque próximo. Corri por toda a área, mas não havia sinal dos tênis de basquete de Yuzuki. Mais de vinte minutos devem ter passado desde que comecei a procurar.
O jogo estaria no terceiro quarto agora.
Eu estava pingando de suor, completamente agitado.
Maldição. Se o culpado levou os tênis para casa, para se gabar de sua pequena trapaça, então eu faria minha missão persegui-los até os confins da terra e enfiar a ponta do meu Stan Smiths em suas cavidades nasais. Meu telefone vibrou naquele momento. Eu estava recebendo uma ligação de Kaito.
"Não está dando, Saku. Não consigo encontrar."
"Merda. Faça mais uma volta por agora, Kaito. Verifique o armário do zelador ou algo assim. Qualquer lugar onde alguém possa ter jogado um par de tênis de basquete. Vou voltar para a sala do clube mais uma vez."
"O que você vai fazer?"
"Você usa seus músculos, e eu uso meu cérebro, ok?"
"Ei! Eu me ressinto disso!"
Pulei de volta a cerca e voltei para fora da sala do clube das garotas de basquete.
Eu não encontraria os tênis apenas verificando lugares aleatórios.
Limpando os fluxos implacáveis de suor, tentei pensar com calma e lógica.
Eu não tinha como confirmar os eventos reais que aconteceram, mas sem dúvida o culpado roubou os tênis esta manhã, enquanto todos os membros do clube estavam no ginásio.
Havia muitas pessoas aqui para assistir ao jogo hoje. Os fãs do time visitante e crianças como Kaito e eu. A galeria estava cheia. Mas ainda era o período pré-provas, e os clubes da escola estavam basicamente em hiato. A escola estava praticamente vazia, ao contrário da maioria dos fins de semana, quando as atividades do clube aconteciam. Se alguém estivesse à espreita pela escola carregando um par de tênis de basquete volumosos... isso seria suspeito pra caramba. Se o objetivo era apenas incomodar Yuzuki, tudo o que tinham que fazer era manter os tênis longe dela até o jogo começar. Eles realmente não precisavam do lugar mais sofisticado do mundo para fazer isso.
Tinha que ser em algum lugar próximo, de fácil acesso, mas fora de vista...
Tentei me colocar no lugar do ladrão, tentei ver as coisas através de seus olhos.
Não havia um esconderijo óbvio nas proximidades. Pular a cerca e fugir teria sido a solução mais fácil. Mas isso corria o risco de ser visto por um morador local — ou pior, por um professor. Movendo-se pelo prédio, porém, o ladrão sempre poderia inventar uma boa desculpa para o que estava fazendo. A menos que esbarrasse em alguém do time de basquete feminino.
Mas onde estavam os membros do time de basquete feminino?
No prédio do Ginásio 1 adjacente, é claro. Mas qualquer uma delas poderia sair do ginásio a qualquer momento, por qualquer motivo. Pensando psicologicamente, o ladrão iria querer evitar ficar perto do ginásio.
Então isso foi adicionado à lista de lugares onde o ladrão não teria ido. Não posso dizer que entendo a mente criminosa, mas o tipo de tênis de basquete favorecido por Yuzuki e as outras garotas do time... eram bem caros.
Se o ladrão fosse pego com os tênis roubados, a escola poderia até notificar a polícia. Eles não seriam apenas liberados com um aviso por pregar uma peça. O ladrão precisaria pesar os benefícios de incomodar Yuzuki contra a possível desvantagem de se meter em sérios problemas.
Portanto, a melhor coisa a fazer seria deixar os tênis em algum lugar onde Yuzuki os encontraria facilmente após o jogo de hoje.
Se alguém encontrasse um par de tênis de basquete perdidos pela escola, sem dúvida os devolveria à sala do clube de basquete. Se os tênis fossem encontrados, o culpado estaria livre do roubo real.
Fui para o meu mapa mental do layout da escola. O que ficava em frente ao Ginásio 1?
...Lá. Tinha que ser lá. Se encaixava em todas as condições que eu havia acabado de trabalhar em minha mente. Um lugar que eu ainda não verifiquei.
"Yuzukiii!"
Um jovem irrompeu pelas portas do ginásio, gritando no topo de seus pulmões. O time visitante acabara de marcar uma cesta, e houve uma breve pausa no jogo, durante a qual todos se viraram para olhar para ele.
O cara claramente não era membro do time, mas estava pingando de suor e brandindo um par de tênis de basquete. Ele também parecia estar manchado de terra em alguns lugares e tinha folhas secas no cabelo.
"Tempo!" a Srta. Misaki pediu um tempo.
Yuzuki veio correndo.
Eu enfiei os Nikes azuis com o logo branco nas mãos de Yuzuki e rapidamente verifiquei o placar. Então, com uma dose pesada de ironia e um sorriso torto, falei:
"Uau, vocês estão realmente mal, hein?"
Encostei minhas costas na parede e deslizei para o chão.
Elas estavam no começo do último quarto.
A pontuação do time visitante era oitenta e oito, e a da Fuji era oitenta. As garotas claramente haviam lutado bravamente contra o time muito melhor, mas com o tempo restante, a vitória parecia remota.
Yuzuki se agachou na minha frente, abraçando seus tênis de basquete. Notei o suor brilhante em seus braços descobertos, mas não tinha tempo para apreciar isso agora.
"Pfft... Ha-ha-ha!!!"
Yuzuki esticou a mão e bagunçou meu cabelo encharcado de suor, rindo meio histérica.
"Saku, você tem folhas presas no cabelo! E seu cabelo está todo achatado e grudento de suor. E o que aconteceu com seus joelhos? Estão todos esfolados! Pah-haha!"
"Pensei em mudar meu personagem. Ir para a vibe de 'cara selvagem e sujo', sabe."
"Ei! Se você tem os tênis, então vamos logo." A voz da Senhora Misaki flutuou até nós.
Ainda engasgando de rir, Yuzuki trocou seus chinelos pelos tênis de basquete, apertando os cadarços. Colocando a bandana do pulso entre os lábios por um momento, ela puxou o cabelo para trás em um rabo de cavalo e o amarrou.
"Nana, Umi, estamos prontas? Vamos mostrar a esses idiotas do que somos feitas."
"“Claro!”"
Yuzuki e Haru gritaram de volta em vozes animadas, respondendo ao incentivo da Senhora Misaki. Nana e Umi — esses devem ser seus nomes de quadra. Ouvi que alguns times davam apelidos aos jogadores baseados em piadas internas e coisas assim, mas Nana para Nanase e Umi para Aomi pareciam bem diretos. Combinava com a vibe da Srta. Misaki.
Yuzuki encarou o placar por um segundo antes de se virar e sorrir para mim, parecendo estar de ótimo humor.
"Assista isso, Saku. Vou te mostrar algumas habilidades sérias. Espero."
Então Yuzuki correu de volta para a quadra.
Haru se virou para mim e deu um grande polegar para cima, então saiu correndo com um pulo no passo.
Percebi que Misaki estava me olhando com um olhar frio.
"Desculpe, devo assistir do segundo andar; você está certo."
Enquanto me levantava, ela ergueu uma mão para me parar. "Nana te deve uma. Sente aí e assista."
"Obrigado. A propósito, odeio pedir mais favores, mas você acha que o orçamento do clube de basquete feminino poderia cobrir consertos na cerca?"
[TMAS: Isso ficou muito engraçado]
Voltando ao assunto dos tênis de basquete de Yuzuki por um segundo. O último lugar que verifiquei foi o campo de tiro com arco perto do ginásio. O campo de tiro com arco é cercado por uma cerca alta para evitar distrações visuais que possam atrapalhar os arqueiros, e a cerca é tão grossa que mal dá para ver através dela, mesmo que você esteja bem ao lado.
Mesmo durante o período de provas, o clube de tiro com arco ainda teria treinos matinais, então na segunda-feira de manhã, qualquer tênis escondido lá seria definitivamente descoberto. Sim, o campo do clube de tiro com arco era um esconderijo que cumpria todos os meus critérios decididos.
O problema era: como entrar?
O ladrão poderia facilmente ter jogado os tênis por cima da cerca, mas o portão para acessar o campo em si estava trancado. A única maneira de verificar por dentro era me espremer através da cerca como um aríete humano.
Eu estava estressado e sem tempo, então parei de pensar muito nisso e simplesmente forcei meu caminho através da cerca como um aríete humano. E aqui estávamos.
"Você realmente espera que o clube de basquete pague?"
"Acho que não..."
"Hmm... Ainda assim..." A Srta. Misaki sorriu levemente. "Vamos apenas fingir ignorância, vamos?"
Isso era claramente alta compaixão vindo dela.
"Então qual é, Nana ou Umi?"
"Então você é outra me fazendo perguntas constrangedoras, hein?"
O jogo recomeçou.
Enquanto observava os dois times novamente, ficou ainda mais óbvio que os jogadores do time adversário tinham uma séria vantagem de altura.
Mesmo Yuzuki, a garota mais alta do nosso grupo, seria a mais baixa se, por algum motivo, se juntasse ao outro time. O resto do nosso time de basquete eram todas baixinhas, incluindo Haru.
Dito isso, a Fuji estava mostrando uma alta taxa de posse de bola.
E Yuzuki estava bem no centro disso tudo.
Do ponto de vista de um leigo como eu, ela tinha controle absoluto sobre a bola, o suficiente para dar arrepios, e ela desviava dos outros jogadores enquanto procurava astutamente por alguém que estivesse livre. Então, quando via a oportunidade, ela lançava um passe de arregalar os olhos. Era como se ela tivesse visão de 360 graus ou algo assim.
Haru estava lá para pegar cada passe, que parecia ter sido lançado com a intenção de deixar não apenas o time adversário, mas nosso próprio time para trás. Ela estava zunindo por toda a quadra.
Haru mostrou um pouco da velocidade e destreza que eu já havia vislumbrado, tecendo habilmente através da defesa e mirando levemente na cesta. Ela favorecia enterradas no meio da ação — e arremessos de média distância. Ela nunca se deixava aberta, nem por um nanossegundo.
Haru marcou outra cesta usando sua técnica de enterrada.
"Chitose! Gostou disso, hein?"
Boba. Foco no jogo.
Haru me mostrou um sinal de vitória com os dedos enquanto eu acenava indiferentemente.
Graças ao time dos sonhos de Yuzuki e Haru, o placar agora mostrava: VISITANTES: 94, FUJI : 88. Elas conseguiram reduzir consideravelmente a diferença, mas apenas três minutos restavam. Com base na diferença de habilidade envolvida, uma virada dramática parecia uma possibilidade remota.
"Chitose, esta é sua primeira vez assistindo Nana jogar?" A Srta. Misaki me perguntou de repente.
"Uh, não, já assisti a vários treinos para torcer pela Haru também. Mas tenho que admitir, o estilo de jogo calmo e calculado e hiper preciso que ela está mostrando hoje realmente deixa uma impressão."
"Você ainda não sabe nada sobre ela, então. Ela não é como a Umi, que tem o acelerador pressionado no chão o tempo todo. Nana sempre se mantém sob controle rigoroso. Ela está sempre pensando em como se comportar na quadra para apoiar Umi e o resto do time."
A Srta. Misaki parou de falar então, fez uma arma com o polegar e dois dedos e a pressionou contra a têmpora.
"Mas às vezes... ela enlouquece."
No momento em que a Srta. Misaki disse isso, Haru foi para a bola e a desviou quando um membro do time adversário estava passando.
"Nana!"
Skriik. Shuu.
Os Nikes brancos e azuis de Yuzuki rangeram contra o chão, e ela pegou a bola de além da linha de três pontos.
Fuuh.
Yuzuki lançou a bola com uma mão, como um cara, e ela caiu quase silenciosamente na cesta. Não tive tempo de desmaiar. O outro time começou um ataque furioso. Outro arremesso selvagem foi lançado da linha de três pontos, e Haru pegou a posse da bola mais uma vez.
Ela voou pela quadra como um raio, driblando a bola, mantendo-se baixa. Ela parou bruscamente, fingiu em volta de um oponente e fez isso mais várias vezes. Ninguém mais conseguia acompanhar.
Ela fez um passe fácil, então mergulhou sob a cesta do oponente e saltou mais alto no ar do que se esperaria que uma garota de sua altura pudesse.
Mas o pivô do outro time, que havia marcado Haru de perto o tempo todo, a bloqueou. Haru tentou um duplo movimento, mas o salto do jogador adversário durou mais que o de Haru.
"Umi!"
"Nana!"
Quase desequilibrada no ar, Haru contorceu o corpo e lançou um passe forte para além da linha de três pontos.
O foco de Yuzuki já estava concentrado na cesta.
Skriik. Shuu.
A bola estava em suas mãos, e Yuzuki saltou sem hesitação.
Fuuh.
A bola passou limpa pela rede.
O placar agora mostrava VISITANTES: 94, FUJI : 94. Era um empate.
A Srta. Misaki colocou a mão no meu ombro.
"O que você acha das nossas garotas? Nada mal, hein? Você também tem sangue de atleta correndo em suas veias, não é, Chitose?"
"O que você quer dizer, professora? Eu não sou nada além de um humilde ex-membro do clube de beisebol."
O time adversário parecia ter acelerado seu jogo.
A defesa da Fuji tentou desesperadamente segurá-los, mas eles eram fortes demais. Um deles fez uma enterrada.
Agora eles estavam dois pontos à frente. Com apenas trinta segundos restantes.
"Venham pegar!!!"
Haru rompeu a linha de frente, trocando passes fáceis com uma amiga, mostrando seu espírito de luta.
Mas a defesa do time adversário era forte, e Haru não conseguiu se libertar para arremessar.
Impedida de arremessar em frente ao gol, Haru girou.
"Vamos terminar isso, Nanaaa!"
A bola voou sobre a linha de três pontos como uma bala, mas Yuzuki foi mais rápida.
Ela pegou a bola.
Skriik. Shuu.
Yuzuki estava no ar.
Ela parecia uma pétala de cerejeira rodopiando capturada em uma corrente ascendente, mais do que uma garota humana.
O momento era bonito e fugaz.
Yuzuki estava absolutamente calma.
Dois membros do time adversário tentaram desesperadamente se posicionar no caminho da bola.
Vocês estão perdendo tempo. Este momento pertence apenas a Yuzuki.
Fuuh.
A bola voou das mãos de Yuzuki.
A buzina soou ruidosamente, sinalizando o fim do jogo.
Ninguém poderia bloquear aquilo, pensei.
Com um leve som de farfalhar, a bola arqueou pelo ar com uma curva como a de uma lua cheia bonita, seguindo uma trajetória que quase poderia ter sido mapeada pelas estrelas.
Nenhum ser humano deveria ter sido capaz de tocar uma parábola tão perfeita.
A bola passou pelo aro, deixando a rede tremulando como o fechar das cortinas que marcam o fim de uma peça.
Por dois ou três segundos, houve apenas silêncio. Então o ginásio explodiu em gritos de celebração e desânimo misturados.
A vencedora pareceu despertar de seu estado de antecipação congelada e se permitiu relaxar, cerrando o punho por um segundo em triunfo mudo.
Então, lentamente, ela se virou e apontou diretamente para mim com ambos os dedos indicadores, sorrindo amplamente e piscando.
"Eu simplesmente não consigo acreditar em você, Saku!"
"Ah, olha, sinto muito mesmo."
Desviei o olhar de Kaito, que estava chegando perto do meu rosto.
A Fuji tinha vencido o jogo por um único ponto. Agora, os dois times estavam se acalmando. Quando toda a emoção acabou, finalmente me lembrei que Kaito existia. Liguei rapidamente para ele, mas era tarde demais para escapar de sua ira.
[Mon: O cara procurando até agora, coitado… akakakak]
"Eu corri pela escola sem parar até você me ligar...!"
"Sim. Você é um cara direto, Kaito. Vou te pagar uma tigela do Hachiban em breve, então me deixa em paz. Ah, e certifique-se de arrumar todas as lixeiras que você revirou. E volte para fechar as portas de todos os armários que você revistou."
"Ah, me dá um tempo!"
Estávamos sentados em um banco fora do ginásio, bebendo as garrafas de Pocari que a Senhora Misaki tinha distribuído e brincando um com o outro, quando Atomu começou a passar.
"Espera aí, Kaito."
Levantei e corri atrás de Atomu, que estava indo para os portões da escola.
"E aí? Um encontro de fim de semana no ensino médio, hein. Que moderno."
"O quê? Ugh, é você, Chitose. Nem fale comigo, cara", Atomu resmungou sombriamente.
"Ah, qual é, não seja assim. Não sabia que você era fã de basquete."
"Eu não sou. É a Nazuna. Ela costumava estar no clube de basquete. Ela era muito boa, aparentemente. Ela disse que queria ver como nosso time se sairia contra aquela outra escola."
Huh. Ela estava cheia de surpresas. Realmente não a imaginei como o tipo esportiva.
"Então onde está Nazuna?"
"Ela não gostou de como nosso time venceu assim. Ela já saiu logo depois do jogo. Ela disse que não queria ter que ver a reação da Nanase."
"Hmm, sim, posso ver como isso seria problemático."
"É. Ver alguém se saindo tão bem é difícil de engolir."
Atomu quase parecia estar pensando em voz alta. Então rapidamente desviou o olhar, como se envergonhado. Decidi mudar de assunto.
"Deixe-me te perguntar mais uma coisa, cara. Você tem algum amigo na Yan?"
"Huh? Não, não tenho."
"E a Nazuna, então?"
"Que diabos, cara. Tá bom. Sim, ela mencionou uma vez ter uma amiga que estuda lá."
"Entendo. Obrigado. Tive um pequeno problema com alguns caras do Yan outro dia. Então eles estão na minha mente desde então."
"Você largou o beisebol só para arrumar brigas? Você realmente me surpreende."
Deus me livre.
"Desculpe tomar seu tempo, cara. Te vejo na escola na próxima semana."
Atomu fungou antes de sair pelos portões da escola.
Ainda faltando muitas peças, pensei.
[TMAS: Agora essa outra parece um pouco suspeita também, complicado]
Kaito e eu arrumamos a escola juntos, mas Kaito saiu mais cedo, dizendo que queria malhar. Correr pela escola procurando tênis de basquete era algum tipo de aquecimento para ele? O cara era poderoso; eu tinha que admitir.
Exausto e totalmente acabado, fui me deitar em um banco próximo e estava quase cochilando quando senti algo sendo colocado contra meu pescoço.
"Isso está gelado."
Assustado com o toque congelante, pulei. Haru estava lá segurando um tipo de picolé chamado Chupet que vem em um tubo de plástico que você pode quebrar ao meio e compartilhar. Ela estava chupando uma metade enquanto segurava a outra para mim.
"Bom trabalho hoje, Chitose."
Então Haru enfiou a outra metade do Chupet na minha boca.
O sabor frutado do favorito da infância fluiu sobre minha língua.
Quando eu era criança, costumava comprar isso na loja de doces para dividir com um amigo.
"Bom trabalho você também. Onde você conseguiu isso?"
"Os pais estavam distribuindo."
"Onde está Yuzuki?"
"Ela vai demorar um pouco mais, acho. Ela ficou um pouco animada no final. Ela provavelmente está tomando um tempo para esfriar a cabeça."
A expressão de Haru me pareceu engraçada, e não consegui segurar uma risada.
Sentei-me corretamente no banco. Haru sentou-se ao meu lado sem hesitar. Ela chutou os sapatos, tirou as meias e sentou-se descalça com os joelhos encostados no queixo.
Seus shorts de basquete subiram, expondo uma extensão de coxa ainda corada.
Para me distrair daquela visão, comecei a falar.
"Você e Yuzuki foram incríveis. Faz um tempo que não assisto a um jogo, mas vocês duas estavam em uma dimensão totalmente diferente."
Haru riu, ainda chupando seu Chupet.
"Yuzuki é sempre boa, claro, mas hoje ela estava no nível divino. Sob essas circunstâncias, contra aquele time... ela consegue três arremessos seguidos? E aquele último foi praticamente da linha central. Normalmente, você nunca conseguiria fazer aquele arremesso daquela posição nos últimos segundos de um jogo."
"Bem, ela tinha muito em jogo. Ela deve realmente querer aquele encontro comigo amanhã."
"Não, bobo, você está totalmente errado." Haru jogou o braço no meu ombro e aproximou o rosto do meu. "É porque um certo alguém agiu muito fora do personagem, de uma maneira dramática. O que fez um outro alguém também querer agir fora do personagem."
Haru jogou as pernas sobre minhas coxas como se dissesse: "É tudo por sua causa e suas ações". Ela tirou o elástico do cabelo, deixando seu rabo de cavalo curto balançar livre. Usando a toalha esportiva que tinha em volta do pescoço, fez um travesseiro para si mesma no banco e se recostou.
"Senhorita Haru, o que é isso tudo?"
"Está tudo bem; apenas aproveite a oportunidade."
"Mas por quê?"
"Porque estou extra exausta de acompanhar Yuzuki, que você deixou toda agitada."
Mesmo assim, isso não era motivo para esperar uma massagem de um colega masculino.
Hmm, o que fazer?
Enquanto hesitava, Haru se sentou e deu uma topada de ombro em mim.
"O que foi? Ficando todo agitado com a sexy Haru?"
"Tudo bem. Você pediu por isso." Peguei seu pezinho na mão e comecei a amassá-lo com toda minha força.
"Ai! Ai, ai, ai! Não tão forte!"
"Não seja tímida! Estou apenas apreciando aqui!"
"Ai! Isso doooí!!!"
Depois de brigarmos um pouco...
"Ahhh! Achei que ia morrer. Mesmo assim..." Haru pulou no chão, mesmo descalça, e saltou algumas vezes. "Acho que me sinto um pouco mais leve nos pés."
"Claro que sim. Achou que eu faria uma massagem pela metade ou algo assim?"
Haru acenou com satisfação, então se jogou de volta no banco e esticou as pernas luxuosamente.
"Chitose, se fossem meus tênis de basquete que tivessem sumido, você teria procurado da mesma maneira?"
"Por que me pergunta isso do nada?"
"Nenhuma razão, realmente. Só tive vontade de perguntar."
"Hmm, vamos ver. Se fosse você, eu poderia ter ficado tipo: 'Uma coisinha dessas não deveria te atrasar! Estou indo assistir o jogo!'... Ou algo assim."
"Entendo..." Haru soou inesperadamente desanimada. Olhei para ela.
Ela estava olhando para baixo, seus cabelos pendurados e escondendo seu rosto da vista.
"Mas...", continuei, como se estivesse dando uma desculpa. "Se Yuzuki pedisse uma massagem, eu provavelmente não faria. Isso é só para você, Haru."
Haru levantou a cabeça e me olhou.
"Por quê?"
"Ela é muito gata. Eu não saberia onde colocar as mãos."
"...O quê? Ei, espera, o que isso significa?!"
[TMAS: Literalmente disse que não é tão bonita quanto a amiga, isso deve doer]
Um segundo depois, Haru voltou a ser ela mesma, e nós dois conversamos enquanto eu continuava esperando por Yuzuki.
O clube de basquete se dispersou logo após arrumar tudo depois do jogo, então Yuzuki, Haru e eu decidimos ir ao Lámen Hachiban. Eu pedi o de sempre, lámen picante com cebolinha extra e um acompanhamento de arroz frito. Yuzuki pediu lámen de vegetais com sal, e Haru pediu o combo A, lámen tonkotsu de vegetais, tamanho grande, com gyozas e um acompanhamento de arroz.
"Ei, Saku, o que você acha do caso dos tênis de basquete desaparecidos?"
Depois que terminamos de pedir, Yuzuki foi direto ao ponto. "É só um palpite, mas não acredito que o culpado fosse realmente alguém da Yan."
Eu dei meus pensamentos, os que eu vinha ruminando a tarde toda.
"Por argumento, digamos que eles conseguiram emprestar um uniforme da Fuji para fins de infiltração. O crime ainda seria difícil de ser executado tão bem. Quero dizer, o campo de tiro com arco não é o tipo de lugar que um estranho à escola pensaria imediatamente. Mas eles não apenas miraram nas vulnerabilidades exatas do clube de basquete, como também mostraram conhecimento interno das características particulares do campus da Fuji."
Yuzuki sem dúvida chegou à mesma conclusão. Ela acenou, parecendo pensativa. Haru entrou na conversa naquele momento.
"Então o que você está dizendo é que o stalker pode ser alguém da nossa escola?"
"Não exatamente. Eu tive um palpite quando tive aquela briga com eles no outro dia, mas agora eu realmente acho que os caras do Yan estão envolvidos nisso de alguma forma. Talvez eles tivessem um cúmplice — ou devo dizer, talvez eles tenham forçado alguém a realizar o roubo dos tênis."
Yuzuki pensou nisso por um segundo. "Então isso significa que o ladrão real pode ser qualquer um na Fuji , além de nós, quero dizer. É o mesmo que descobrir zero informação."
Exatamente.
Por isso eu não tinha abordado esse assunto antes.
Se seguíssemos o ângulo do cúmplice, quem quer que fosse poderia alegar ter sido escolhido aleatoriamente e ameaçado, o que nos levaria a nenhuma conclusão. Se pudéssemos pegá-los em flagrante, poderia ser diferente. Mas algo como mirar na sala do clube de basquete feminino era uma ponte arriscada que ninguém ousaria cruzar duas vezes.
Poderíamos vigiar uma única área, como a casa de Yuzuki, e mantê-la sob vigilância, mas não tínhamos ideia de que hora do dia o stalker gostava de ser ativo. Poderíamos vigiar a casa a noite toda, enquanto o stalker dormia e então fazia um ataque à meia-noite. Não poderíamos fazer nada sobre isso.
"Ayase e Uemura estavam lá hoje, não estavam?"
Haru falou casualmente, como se isso não tivesse nenhuma importância real.
Aparentemente, Nazuna e Atomu assistiram ao jogo da passarela do começo ao fim.
"Hã?" Yuzuki pareceu achar isso interessante.
Certamente o ladrão dos tênis não seria arrogante o suficiente para ficar por perto e assistir ao jogo, para desfrutar os frutos de seu trabalho?
"Não me lembro, mas eles eram amigos de alguém do nosso grupo?"
"Não, não que eu saiba. E você, Chitose? Falou com algum deles?"
"Você acha que eu tive tempo na minha agenda hoje para isso?" Eu estava tentando despistá-las um pouco.
Eu não tinha falado com Nazuna, verdade, mas tinha falado com Atomu.
Ainda assim, eu não era do tipo que repetia casualmente coisas que as pessoas me contavam.
Naquele momento, nosso lámen chegou, e a conversa naturalmente virou para a comida.
"Chitose, me dá um pouco do seu lámen e arroz frito." Haru esticou a mão em direção à minha bandeja.
"Claro, mas você tem seu próprio arroz. Quanto você planeja comer?"
"Faz tempo que não temos um jogo tão intenso! Estou sem gasolina e preciso reabastecer! Aqui, você pode ficar com um pouco do meu lámen tonkotsu. Pegue um dumpling também."
[Mon: Tonkotsu: É um lámen de “Ossos de porco” (o sabor); Dumpling: Bolinho de massa cozidos ou fritos (pode ou não ser recheado)]
Haru deslizou sua tigela de lámen para mim com os hashis e a colher de sopa chinesa ainda dentro. Eu dei a ela minha tigela de lámen picante, completa com meus hashis e a colher com fendas para pegar os ingredientes em pedaços.
Eu chupei o lámen tonkotsu, pensando comigo mesmo como a opção de lámen vegetariano de vez em quando não era nada mal.
Haru sendo Haru, ela chupou uma enorme boca de lámen picante, e então... começou a engasgar.
"Gack! Ack! Chitose! Você colocou vinagre demais nisso! E muito óleo de pimenta!"
"Mas é isso que o torna tão bom."
"Hmm... É doloroso, mas agora consigo ver o apelo..."
"Quanto você está planejando comer?"
Yuzuki estava nos observando, uma sobrancelha levantada, como se não estivesse impressionada.
"O que foi? Ah, você também queria um pouco, Yuzuki?"
Haru começou a empurrar o prato de lámen picante para Yuzuki, mas Yuzuki o empurrou de volta. "Obrigada, mas não."
"Ah, pensei que talvez você estivesse chateada porque eu estava usando os hashis e a colher do Chitose agora há pouco."
"Eu não estou no ensino fundamental, sabe."
"Na verdade, eu acabei de ganhar uma massagem nos pés do Chitose mais cedo!"
"...Explique. Em detalhes."
Eu assisti as duas brigando, me sentindo meio aconchegado.
Essas duas eram claramente parceiras, e não apenas na quadra.
Deixando a personalidade de Haru de lado por um segundo, Yuzuki pelo menos era alguém como eu, alguém que gostava de manter limites rígidos.
Eu vou até aqui com essa pessoa. Um pouco mais longe com essa outra pessoa. Quanto de mim mostrar? Qual lado da minha personalidade liberar? Eu seguia minha vida pensando muito em coisas assim. Nós dois fazíamos. E nós dois precisávamos de um parceiro que aceitasse isso.
Eu observei Yuzuki, que estava visivelmente relaxada perto de Haru. Isso me fez sentir confortável também e meio feliz por dentro.
"Então para onde vocês dois vão no encontro de vocês?"
Haru de repente arruinou meu momento de contemplação pacífica. Eu tinha mencionado nosso encontro para Haru antes, então não fiquei tão surpreso que ela trouxesse isso agora, mas aparentemente Yuzuki não tinha.
Senti um olhar afiado fixado em mim.
Haru agiu como se Yuzuki saindo em um encontro comigo amanhã fosse algo normal, então eu apenas assumi que Yuzuki já tinha conversado com ela sobre isso. Minha culpa, de verdade.
"Não é um encontro. É parte da performance, para vender a impressão de que estamos namorando; só isso." Yuzuki estava se esforçando para explicar as coisas para Haru.
Era interessante que ela estivesse tão agitada. Decidi provocá-la.
"Como assim? Ouvi dizer que você queria sair em um encontro comigo."
“Ei! Não jogue o lenço úmido em mim!”
[Mon: Mesma coisa que “Não coloque palavras na minha boca e/ou Esse B.O. não é meu não”, depende de como você vai entender :)]
"Sabe, Yuzuki..." Haru estava sorrindo. "Você é muito mais uma garota comum do que percebe."
"O que isso significa?"
"Exatamente o que eu disse, o que mais?"
Yuzuki coçou a cabeça como se estivesse pensando profundamente. Então acenou firmemente e falou novamente. "Haru, você tem certeza que é assim que você quer? Só para você saber, eu não vou me segurar, mesmo que seja você. Não vou te dar um passe se você não conseguir acompanhar também."
"Não tenho muita certeza do que você quer dizer, mas manda ver. Eu não vou me permitir ser derrotada por uma garota que precisa emprestar a força de um cara para se animar."
"E eu não vou me permitir ser derrotada por uma garota que não teria chance de emprestar a força de um cara nem se sua vida dependesse disso."
Oh céus, as luvas realmente estavam sendo tiradas aqui.
Levantei-me o mais silenciosamente possível e fui para o banheiro.
Clack, clunk, clank.
"Seus ataques também são tão sem inspiração, Haru! Hyah!"
Clack, clunk.
"Bem, você sempre tenta ser muito precisa sobre tudo, Yuzuki, o que significa que você pensa muito devagar! Hyuh!"
Clink. Clank. Clatter. Clack.
"U-huu!"
"Gahhh!!!"
Shuu. Clunk. Clack, clack, clack.
"Ah sim!!! Eu venci!"
"Haru. Mais uma rodada."
...Como chegamos aqui?
Eu originalmente planejava jogar apenas com Haru e acertar as contas da última vez, mas antes que eu percebesse, todos acabamos jogando hockey de mesa no fliperama. Então, quando voltei do banheiro, me deparei com... isso.
Eles nem estavam me deixando jogar. Aparentemente, eu só estava aqui como espectador.
Com a vitória mais recente incluída, Haru estava na liderança com três vitórias contra duas derrotas. Desde que começaram a jogar, ela se recusou a deixar Yuzuki assumir a liderança.
Ela era abençoada com reflexos naturais rápidos, é claro, mas Haru passava a impressão de estar focada em nada além do gol. Fundamentalmente, ela não tinha conceito de defesa e tratava bloquear o arremesso do oponente como apenas uma oportunidade de roubar o disco e fazer seu próprio arremesso.
Yuzuki era o oposto. Ela bloqueava cada arremesso que chegava perto de seu território e avaliava o melhor momento possível para seus próprios arremessos, usando as paredes laterais da mesa de hockey de ar como amortecedores estratégicos para ricochetear arremessos cuidadosamente triangulados.
Haru acertava cerca de dez arremessos a cada trinta tentativas de gol.
Yuzuki acertava oito arremessos a cada dez tentativas de gol.
...Esse era o tipo de jogo que era. Oi, eu sou Saku Chitose, aqui hoje sem nada melhor para fazer do que fornecer um comentário esportivo na minha própria cabeça.
"Chitose."
"Saku."
"“Vá pegar mais fichas.”"
"Sim, Mestras!"
Voltei com um punhado de moedas de cem ienes e coloquei uma na máquina.
Yuzuki estava na liderança quando eu saí, mas agora era Haru.
Enquanto o disco batia para frente e para trás, ela falou.
"Ei, Nana-Yuzuki? Quer fazer uma aposta nisso?"
Yuzuki estava focada no disco, cabeça baixa, e eu não conseguia ver seu rosto.
"Claro, que tipo de aposta?"
Nós, atletas, adoramos fazer apostas esportivas.
Sorri para mim mesmo, então Haru olhou para cima e sorriu também. "Se Nana vencer este jogo, eu lhe darei um extra. Ela será a vencedora geral, uma sensação de virada."
"O que você ganha com isso, Umi?"
"Se eu vencer este jogo..." Haru brandiu seu taco. "Eu vou no encontro de amanhã em vez de você."
O disco entrou.
"O quê...?"
[TMAS: Talarica no namoro fake]
CLUNK. Clatter, clatter, clatter.
Yuzuki foi lenta para reagir, e Haru conseguiu um arremesso sorrateiro direto no gol de Yuzuki.
Eu tive a sensação de que tinha acabado de ouvir algo muito picante e difícil de ignorar...
Yuzuki pegou o disco calmamente antes de falar.
"Então isso é uma declaração de guerra, já que estamos citando nomes de quadra, hein?"
O ar estava pesado com tensão, como durante aquele jogo de treino mais cedo.
"Certo. Este não é mais um jogo amistoso, concordamos?"
O disco voou pela mesa, evitou o alcance de Haru e bateu no gol.
Haru pegou o disco, sorrindo maliciosamente.
"Hmm? Sentindo-se um pouco animada agora, está? Você deve realmente, realmente querer aquele encontro com Chitose."
"Que seja. Eu só não sinto vontade de perder para alguém como você, Haru."
"Se você realmente não quer perder, então me mostre sua cara de jogo, Nana."
"Eu não sou você, Umi. Não preciso gemer e me esforçar para vencer."
"Faça do seu jeito, então."
Enrolando o braço firmemente, Haru bateu no disco de costas.
"Você continua jogando assim, e vai perder pior do que naquela vez que eu poderia mencionar. Não comece a chorar se chegar a isso, ok?"
"Que vez você está mencionando, exatamente?"
CLAK. CLUK. WUSH. CLUK.
...De repente estamos em um mangá esportivo?
"Você sempre se segura só um pouco, Nana! Você acha que está tão além de todo mundo!"
"Estou além da linha de três pontos, você quer dizer?"
"Sim, sim, tudo bem, você foi boa hoje."
"Apenas atirando loucamente para o gol toda chance que você tem não garante vitória, sabe... Ugh!"
"Você nunca fez um arremesso direto para o gol em sua vida... Hng!"
Então uma disputa acirrada se seguiu.
Isso não parecia mais um jogo de fliperama.
"Haaah! Nanaaa!!!"
"Pare…De brincar...Umiii!!!"
As duas se degeneraram em uma troca furiosa de grunhidos e rugidos sem palavras, enquanto o destino do encontro de amanhã pendia na balança…
Clak, clak, sch, sch.
Clip, clop, cluk. Clak, sch, sch.
O pano de fundo do santuário estava preenchido com o som agradável de sandálias geta de sola de madeira batendo e arrastando.
Barracas coloridas alinhavam o caminho em fileiras ordenadas, cada uma liberando vapores de cheiros tentadores e únicos.
Vermelho, azul, laranja, verde, com padrões redondos, triangulares, quadrados. Enquanto as garotas passavam, para cá e para lá, seus quimonos desabrochavam como flores coloridas. Havia cores vibrantes por toda parte, desde as reluzentes maçãs do amor vermelhas até os brinquedos de ioiô balançando em caixas d'água.
Os adultos observavam atentos enquanto as crianças corriam por aí usando máscaras de brinquedo e brandindo espadas de plástico. Eles seguravam cervejas, e seus rostos pareciam mais serenos e gentis do que o normal.
Lanternas de papel iluminavam a cena, pairando quase etérea mente sobre a multidão. Banhado por sua luz, o santuário lembrava uma minúscula vila de conto de fadas. As lanternas estavam estampadas com os nomes de negócios locais.
Era domingo, o dia após o jogo-treino, por volta das sete e meia da noite. Eu estava esperando por Yuzuki sob o grande torii vermelho que marcava a entrada do pequeno santuário próximo à Fuji.
Eu tinha prometido a ela um encontro e pensava em levá-la ao cinema ou fazer compras no Lpa. Mas então descobri que haveria um festival neste santuário.
Clonk, clop, arrastar.
O som de getas parou diante de mim.
Levantei a cabeça, e o tempo pareceu parar por um segundo — pelo menos para mim.
Ela vestia um yukata branco com um delicado padrão de flores de malva-rosa em azul-claro e ultramarino. Seu obi era de um azul-meia-noite contrastante, e seus cabelos negros até os ombros estavam presos com um grampo ornamental. A nuca dela estava totalmente exposta, de maneira quase sensual.
Não sei se ela usava batom, mas, ao sorrir, seus lábios pareciam um pouco mais vermelhos que o normal.
Discreta e com seu estilo elegante habitual, hoje Yuzuki também era muito mais bela que qualquer outra pessoa que passava.
Eu suspeitava que ela viria vestindo um yukata, mas isso estava muito mais espetacular do que eu imaginara.
“Desculpe! Fiz você esperar um pouco hoje, né?”
Olhei para Yuzuki, que estava levemente corada e ainda sorrindo. Por algum motivo, senti uma emoção estranha brotando em mim.
“…Saku?”
Joguei minhas emoções deslocadas na lixeira mental e respondi com um tom casual:
“Hmm? E isso aqui? Você está tão bonita que dá vontade de… você sabe.”
“Não consegue me dar um elogio mais sincero?”
“Em momentos assim, fico me perguntando se você está usando mesmo algo por baixo disso…”
“Olha aqui…”
Yuzuki suspirou, como se irritada por um instante, mas logo iluminou o rosto com um olhar provocante e segurou a gola do yukata.
“Se está tão curioso, quer dar uma olhada?”
“Eu me rendo, eu me rendo. Você me pegou. Antes que a flertada fique séria, vamos nos comportar e comer uma maçã do amor ou algo assim.”
Comecei a andar, mas Yuzuki me segurou. “Espera.” Ela deu dois ou três passos para trás, arrastando os getas, e observou minha aparência. “Me dá uma sensação estranha.”
“Hmm, eu queria equilibrar as coisas com um elemento surpresa. Sei, sei, estou bonita. Mas em ocasiões assim, o homem deve deixar a garota brilhar, não é?”
Provavelmente, Yuzuki estava se referindo ao fato de que eu também estava usando um yukata — um simples, em azul-indigo, quase sem estampa. Mas pensei: por que não? e o tirei do armário antes de sair.
“É meio incomum um cara ter um yukata à mão.”
“Ano passado, fui forçado por… alguém.”
“Hmm? E que tipo de relação estranha você tem com essa ‘alguém’?”
“Já disse: não vou contar.”
“Mas, Saku, você precisa usar mais a língua…”
“Ei, as piadas de duplo sentido são minha função.”
Dessa vez, comecei a andar de verdade, e Yuzuki enganchou o mindinho no meu.
É um dia auspicioso, afinal. Certamente os deuses fecharão os olhos para isso — só desta vez.
Chamados pelo som das flautas do festival, passamos sob o torii juntos.
Compramos uma maçã do amor vermelha e demos mordidas alternadas enquanto passeávamos.
Sempre amei festivais, desde criança.
Segurar um punhado de moedas, debater o que comprar, demorar demais e descobrir que metade das barracas já tinha vendido tudo. Os festivais em Fukui eram frequentados basicamente por amigos da vizinhança, mas sempre havia a empolgação de esbarrar em garotas da sala.
Quem diria que um dia eu cresceria e viria ao festival com uma garota linda ao meu lado.
Na primavera do ano passado, eu estava absorto no clube de beisebol; no verão, mesmo com Yuuko e os outros me convidando, não estava a fim. Percebi que este era meu primeiro festival desde o ensino médio. Enquanto mastigava a maçã, agora crocante sob a calda, pensei: festivais não são nada mal.
“Ei, Saku. Vamos pescar kingyo!” O rosto de Yuzuki brilhava de animação.
[Mon: Kingyo - Peixe Dourado]
Eu estava um pouco preocupado com ela após o ocorrido no dia anterior, mas o festival parecia uma distração bem-vinda.
“Claro, mas se pegar um peixe, tem que cuidar dele, ok?”
“Ok! Eu tinha peixes de festival quando era pequena.”
Pagamos 300 ienes cada ao senhor da barraca, e ele nos deu as redinhas de papel frágil.
Yuzuki arregaçou as mangas do yukata e mergulhou a rede com cuidado, mirando um peixe específico.
Por um segundo, ela o prendeu no centro, mas o papel se rompeu, e o peixe escapou.
“Droga!”
“Amadora.”
Ela bufou, indignada. “Você faz, então, Saku. Quero aquele vermelhão — ah, e o pretinho também.”
“Wakin e demekin nadam em velocidades diferentes; não dá para pegar dois de uma vez. Que tal dois vermelhos ou um ryukin com nadadeiras longas?”
Seus olhos brilharam ao concordar.
“Tem um truque. Observe: o lado com o papel é, na verdade, o verso. Se você mergulhá-lo virado para cima, o papel quebra mais fácil.”
Mostrei minha própria rede como exemplo.
“Mantenha o copo pronto, rente à água. Mergulhe a rede em um ângulo e seja rápido. Se só a metade entrar, o papel rasga mais fácil.”
Enquanto falava, fui atrás de um demekin preto.
“Use a borda da rede e, se possível, vire o peixe pela cabeça. Agora!”
Peguei um ryukin vermelho ao mesmo tempo.
Mostrei o copo com os dois peixes para Yuzuki. Ela se inclinou, admirando-os.
“Incrível! Totalmente incrível!”
“Hehe. Pode te surpreender, mas quando criança, eu era tão bom nisso que fui banido.”
“Nunca imaginaria! Você parece o tipo que ficaria de lado, observando os amigos com uma cara de ‘estou acima disso’.”
“Ei, acredite ou não, sou um cara de festival. Já carreguei mikoshi e tudo.”
“Usou happi coat? Adoraria ver!”
[Mon: Mikoshi - Santuário Portátil; Happi coat - casaco japonês tradicional de mangas compridas]
Para não abusar, devolvi a rede e pedi que embrulhassem os peixes. O velho, claramente encantado por Yuzuki, deu um saquinho de ração de graça — com um sorriso bobo. Tá bom, tá bom, eu entendo, vovô.
Descansamos nas escadas de pedra, comendo marumaru yaki (uma panqueca salgada no estilo okonomiyaki), yakisoba e Baby Castella (bolinhas de bolo). Peguei também duas Ramune—que, infelizmente, eram de plástico, não de vidro.
Yuzuki segurava o saquinho com os peixes contra a luz, sorrindo.
Vendo sua felicidade, agradeci mentalmente ao meu eu criança por ter praticado tanto.
“Ei, Saku, como devo chamá-los?”
“Peixe Vermelho e Peixe Preto.”
“Isso é muito literal.”
“Peixes de festival são frágeis; às vezes morrem rápido. Melhor não dar nomes significativos—para não sofrer na despedida.”
“Então vou chamá-los de Saku e Chitose.”
[TMAS: Se faz isso com o namorado imagina com o inimigo]
“Quer um marumaru yaki na cara?”
Ela cutucou o saquinho. “Vou cuidar bem deles para não morrerem.”
Seu perfil, iluminado pelas lanternas, parecia inocente. Senti outra onda de melancolia—como quando a vi sob o torii mais cedo.
Não sei por que me sinto assim.
Mas o que se desdobrava em meu peito era, sem dúvida, tristeza.
Tudo era tão efêmero.
Não podia engarrafar o cheiro do festival, o burburinho da multidão, nem preservar este momento para sempre. E este exato instante nunca se repetiria.
Essa ideia me deixou incontrolavelmente triste.
Mas ainda era cedo para nomear esse sentimento.
“Quer yakisoba?”
Abri os hashi de madeira, como um ponto final simbólico.
Enquanto comia, Yuzuki esticou a mão, como quem pede: “Me dá.”
“Hmm.”
Passei outro par de hashi e o yakisoba.
…Ela devolveu os palitos.
Ofereci um par diferente.
Ela balançou a cabeça.
…Aparentemente, também não servia.
Por fim, ofereci os meus próprios hashi—os que eu estava usando.
Finalmente, Yuzuki aceitou e começou a comer.
“O que foi isso, queria deixar Haru com ciúmes?” — era o que eu queria dizer, mas Yuzuki desviou o olhar, envergonhada, então deixei pra lá.
Depois da comida, abrimos as Ramune com um “3, 2, 1!”. As bolinhas de plástico caíram, mas Yuzuki soltou a tampa cedo demais, e o refrigerante espumou. Ela gritou, mas eu engoli a espuma.
Rimos muito — até as bolinhas dentro das garrafas pareciam rir, tilintando.
Retiramos as bolinhas e as usamos como lentes, como crianças.
O mundo visto através delas estava de cabeça para baixo, colorido e flutuante.
Meninos correndo, garotinhas de yukata, casais de mãos dadas—todos inconscientes de que estavam invertidos.
“Ei, Saku. Você fica bem bonito visto através de uma bolinha.”
Disse Yuzuki.
“E você fica linda vista através de uma bolinha.”
O clima do festival nos envolveu.
Amanhã, este santuário voltaria a ser comum. E o calor entre nós se dissiparia, conforme nossos limites se reafirmassem.
Então, por alguns minutos a mais, permitir que ficássemos presos neste momento.
Após terminarmos as Baby Castella, decidimos dar outra volta.
Yuzuki se dirigiu a uma área além das lanternas.
Pensei que fosse ao banheiro, mas ela parou diante de duas árvores envoltas por uma corda sagrada (shimenawa) e me chamou.
“O que foi?”
Ao me aproximar, ela apontou silenciosamente para uma placa:
ÁRVORE GINKGO MARIDO E MULHER.
Era um par de árvores com troncos unidos, onde casais oravam por felicidade conjugal.
Yuzuki, após confirmar que eu lera, colocou a mão em um dos troncos.
“Vamos. Por que não?”
Eu sabia o que ela queria.
Coloquei minha mão no outro tronco.
Espiei Yuzuki, de olhos fechados. Quando eu os fechei, não sabia pelo que orar.
Ao abri-los, nossos olhares se encontraram. Ela sorriu, um pouco triste.
“Isso parece mais uma ‘árvore da traição’ do que da felicidade conjugal.”
“Concordo.”
Neste momento, só o humor salvava.
Yuzuki não podia ir além. Nem queria. Nenhum de nós tinha coragem de dar o primeiro golpe—apenas balançavamos as espadas perto do outro.
Foi quando…
“Ei. Saku Chitose.”
…Ah, por favor.
Do nada, o Cocoricó Imbecil (como eu chamava o idiota) apareceu entre nós.
“Eeh!”
Yuzuki tropeçou, caiu no chão de pedrinhas.
Já estava furioso, mas respirei fundo e a ajudei a levantar.
Foi quando alguém me chutou nas costas.
Caí sobre Yuzuki, derrubando-a.
Risadas irritantes ecoaram atrás de nós.
Você tá brincando, né?
Ao me levantar, olhei para Yuzuki.
Seu rosto estava pálido, aterrorizado—uma expressão que eu nunca vi nela antes. Suas mãos tremiam, agarrando meu yukata, e seus lábios estavam brancos.
“Uau, gostosa, Yuzuki Nanase”, disse o cocoricó, e eu rapidamente puxei a barra do yukata dela para cobrir suas pernas.
Firmei os pés, arrastando Yuzuki para cima.
Me virei, protegendo-a. Havia outro cara atrás do Cocoricó—um sujeito alto demais, magro de um jeito doentio.
Onde estão os outros dois da biblioteca?
Se uma briga começasse, estaria em desvantagem: yukata e geta não ajudavam.
Minhas armas seriam yakisoba quente ou okonomiyaki—jogar algo escaldante neles para ganhar tempo e fugir com Yuzuki.
“Faz tempo, Yuzuki.”
O cara magro saiu das sombras.
Cabelo estilo samurai (raspado nas laterais, com um rabo-de-cavalo alto). Olhos estreitos e maliciosos. Era o “chefe” que o Galo mencionara.
E pelo modo como falou com Yuzuki, era claro que se conheciam.
Ela agarrou minha manga, trêmula, as unhas cravando-se na minha pele.
“…Yana…”—sua voz estava prestes a quebrar. “…Yanashita…”
[TMAS: Errei feio pelo jeito, não é aquele cara | Mon: Sabia, era muito óbvio! | Goki: Todos nós erramos na teoria]
Respirei fundo.
Tudo bem. O sangue não está mais subindo à cabeça. Mantenha a calma.
Cobri a mão dela com a minha. “O que vocês querem com a minha namorada?”
Yanashita sorriu. “Então você é Saku Chitose. Some. Eu vim ver a Yuzuki.”
“Pois é, mas como pode ver, Yuzuki não quer me soltar. É difícil ser o favorito das garotas, sabe?”
Shush. Ele chutou pedrinhas em nossa direção.
Yuzuki se encolheu, agarrando-me com mais força—a ponto de doer.
“Ela é minha.”
“Primeira vez que ouço isso. É o papel do ex-namorado rejeitado?”
Atrás de mim, Yuzuki balançou a cabeça vigorosamente.
“Qual é, Yuzuki? Você disse que não queria namorar ninguém, mas assim que entra no ensino médio, abre as pernas para esse lixo exibido?” O rosto de Yanashita se distorceu. “Já que faz com qualquer um, por que não comigo? Quer uma repetição do que aconteceu?”
“…O que aconteceu?” perguntei.
Yuzuki emitiu um som sufocado, como um “não pergunte”.
Yanashita riu. “Você nem sabe, né? Quando essa daqui fica assustada e chorosa, é o maior tesão.”
Geh-heh-heh. Uma risada nojenta. Yuzuki se agarrou a mim ainda mais.
…Ah, ok. Chega.
Deixei o sangue subir à cabeça.
Um soco no nariz resolveria.
Mesmo sabendo que violência não era meu estilo.
Fechei o punho—e então lembrei de dois mindinhos entrelaçados ao meu, em uma promessa.
Certo. Não posso. Não assim. Não agora.
Abri e fechei a mão, aliviando a tensão.
Desta vez, vai dar tudo certo.
Enchi os pulmões e—
“SOCORRO!!! ESSES CARAS SÃO PERVERTIDOS!!! ELES DISSERAM QUE ESTÃO COM TESÃO EM JOVENS BONITOS DE QUALQUER GÊNERO!!! SOCORRO, ALGUÉM ME AJUDE!!!”
Gritei o mais alto possível.
Parecia que todo mundo no santuário olhou para nós. Sussurros começaram.
O Galo ficou confuso por alguns segundos—até entender. “Você vai morrer.”
“SÃO TARADOS!!! O FETICHE DELES É LAMBER O ABDÔMEN DE ATLETAS DO ENSINO MÉDIO!!! ADORAM ENTERRAR O ROSTO ENTRE OS PEITORAIS E MASSAGEAR AS COXAS TONIFICADAS!!! E QUEREM GOZAR AGARRANDO O GLÚTEO PERFEITO DO RAPAZ!!! SOCORRO, ME SALVEM DESSE DESTINO DEPRAVADO!!!”
“Cala a boca ou eu—”
“ADEUS, MINHA INOCÊNCIA INFANTIL!!!”
[Mon: AKAKAKAKAKKAAKKA GÊNIO!!! | Goki: Perdi as estribeiras aqui KKKKKKKKK]
As pessoas ao redor franziram o rosto, enojadas.
Yanashita e o Galo pareceram querer morrer no mesmo instante. Viraram as costas e fugiram sem dizer mais nada.
Hee-hee. Às vezes, os melhores golpes não são dados com os punhos.
E às vezes você sacrifica algo que valoriza para proteger outra coisa preciosa.
Yuzuki me abraçou, enterrando o rosto em meu peito.
Nenhuma risada?
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