Volume 2
CAPÍTULO UM Uma Linha de Partida Passageira
CAPÍTULO UM
Uma Linha de Partida Passageira
Dezesseis anos. Lá estava eu, no limiar de outro maio, o décimo sétimo da minha vida e um tanto especial.
N/T: No original em inglês tá estranho assim mesmo, uma hora fala dezesseis outra dezessete, e isso ainda na tradução oficial
Era o segundo sábado do mês. Quando olhei para cima, o azul do céu era um pouco mais intenso do que em abril, mas não tanto quanto os céus de verão que guardava na memória. Era uma cor perfeitamente satisfatória, ainda que um pouco sem brilho, sorrindo lá de cima com uma calma tranquilidade.
As nuvens, parecendo algodão-doce agarrado pela mãozinha de uma criança, flutuavam alegremente. Algumas se separavam do grupo, seguindo seu próprio caminho, perfeitamente satisfeitas em serem solitárias. Outras se aglomeravam por um tempo, depois seguiam rumos diferentes. Assim como as pessoas.
“Ei, aquela parece um dragão. E aquela parece uma baleia. Aquela ali, não parece uma sereia?”
Ouvi vozes de crianças do ensino fundamental brincando por perto.
Um vento fresco, com cheiro de verde, passou, agitando os corações de meninos e meninas enquanto seguia seu caminho. Um cachorro passeando acelerou o passo, talvez impulsionado pela brisa.
Se você estivesse planejando um encontro com uma garota, este seria o dia perfeito. Dando certo ou não, você poderia voltar para casa com uma expressão despreocupada neste clima. Nem sequer importava muito a montanha-russa de emoções que você teve desde que saiu de casa.
Subi na minha bicicleta de montanha e comecei a pedalar em um ritmo lento. Era fim de semana, então todos ainda estavam em casa, aproveitando uma manhã longa e preguiçosa. Ou então já tinham aproveitado para escapar do interior no fim de semana e encontrado algo divertido para fazer em outro lugar. Seja qual fosse o motivo, a rua principal estava quase deserta nesta manhã, pouco depois das dez. Ouvi o som estranhamente agradável de alguém batendo um futon na varanda em algum lugar próximo. A pequena cidade estava (como sempre) envolta em um casulo de felicidade.
Dei um bocejo enorme e tentei me motivar.
Se você tem que lidar com algo complicado, é melhor fazê-lo em um dia como hoje.
Pedalei por cerca de dez minutos e cheguei em frente à Estação Fukui. Como a estação central da capital da província, era tecnicamente a mais movimentada da região, mas o bairro ao redor estava morto como sempre.
Pessoas de grandes cidades podem achar estranho que quase não houvesse pedestres em um fim de semana. Mas, como muitos lugares do interior, Fukui é uma sociedade centrada no carro.
As lojas de rede populares e os shoppings grandes geralmente têm estacionamento gratuito e abundante e estão conectados à rodovia nacional ou localizados ao longo do contorno. Poucos se dão ao trabalho de usar os estacionamentos pagos em frente à estação de trem.
Mesmo se você vier para a área perto da estação, tudo o que verá é uma rua de portões fechados, portões e mais portões. O governo provincial e os desenvolvedores locais tentaram revitalizar a região, mas as lojas e estabelecimentos montados aqui na última década dificilmente têm algum apelo para um adolescente comum. A maioria vai para as grandes redes de fast-food nos subúrbios. Se você não precisa pegar o trem para a escola, nem sequer viria até a estação.
Então, como você pode ver, este lugar mal aparecia no meu radar. Eu passava por aqui às vezes, claro. Mas quase nunca tinha este lugar como destino, como hoje.
Encontrei um lugar adequado para parar e descer da bicicleta, então a empurrei em direção à rua comercial coberta. Havia pequenas lojas ao longo do passeio — seu típico distrito comercial antiquado. Uma vez, este lugar ganhou certa notoriedade como um ponto legal no Instagram depois que um artista pintou um mural de asas de anjo na parede de um prédio antigo que seria demolido. Mas o lugar inteiro emanava uma aura de decadência financeira e urbana, e não havia como pintar por cima disso.
Depois de caminhar um pouco, avistei uma loja com uma fachada que destoava do resto da rua esquecida.
A parede e a placa eram pintadas de um azul ultramarino profundo, contrastando com uma porta de madeira clara. À direita da porta, toda a parede frontal da loja era envidraçada do chão ao teto. Dentro, havia uma prateleira com nichos abertos exibindo diferentes elementos decorativos chamativos. Uma bicicleta de montanha Bianchi azul-celeste estava estacionada do lado de fora.
Eu não tinha exatamente pesquisado o endereço no mapa, mas só pela fachada sabia que este devia ser o café que eu procurava. Eu me perguntava por que minha companheira para este encontro queria me encontrar perto da estação, e agora tudo fazia sentido. Um lugar secreto que ninguém mais conhecia. Discreto, mas não de um jeito óbvio demais.
Estacionei minha bicicleta ao lado da Bianchi e abri a porta sem nem mesmo checar o nome do café.
Não havia dúvida na minha mente de que este era o lugar onde Yuzuki Nanase tinha me pedido para encontrá-la.
Entrei no café, observando as paredes de concreto aparente combinadas com painéis de madeira quente. A combinação criava uma atmosfera agradável, e o café se estendia até o fundo. Por um momento, esqueci completamente que ainda estava no distrito da Estação Fukui.
Antes que a funcionária do café pudesse me cumprimentar, avistei a garota sentada na mesa do fundo, quase como se fosse atraído por ela. Ela ergueu os olhos, me notou, e levantou uma mão levemente no ar, chamando-me para me aproximar.
“Estou encontrando uma amiga” disse à funcionária, então me dirigi para me sentar em frente a Nanase. Aparentemente, não havia outros clientes.
Ela sorriu para mim, o rosto apoiado nas mãos, com mais charme naquele único sorriso do que em todos os pontos do Instagram do mundo. Seu cabelo médio se movia como fios de seda fina. Sua pele era translúcida, tão clara que parecia quase irreal. Nenhum filtro de pele conseguiria replicá-la. E seus olhos brilhavam, doces.
Em vez de focar em construir novas atrações fora da Estação Fukui para atrair clientes, eles poderiam conseguir o mesmo efeito muito mais rápido contratando Nanase e colocando-a em diferentes restaurantes como atração visual.
“E aí?” Nanase me cumprimentou em um tom relaxado.
Antes de me sentar, rapidamente observei sua roupa. Ela usava uma camiseta azul listrada folgada com um shorts de jeans claros que balançavam soltos em torno de suas coxas. Um visual surpreendentemente masculino.
“E aí.”
Repeti o cumprimento dela, e Nanase riu como se achasse aquilo muito engraçado. Então cruzou as pernas. Os shorts folgados subiram, expondo uma extensão de... Era coxa ou já era território de nádega? De qualquer forma, tinha uma beleza curvilínea.
[TMAS: Cara sempre tá olhando com interesse para as mulheres. | Mon: Minha pergunta é onde essa roupa é masculina, porque eu totalmente usaria!]
Empurrei minha cadeira casualmente para mais perto da mesa e desviei o olhar.
“Você não podia ter usado algo mais chique? Você está em um encontro com um cara bonitão, sabe.”
Meu tom era brincalhão, mas, na verdade, achei que o visual casual combinava muito com Nanase. Como dizem, um prato realmente delicioso só precisa de um pouco de sal. A falta de adornos destacava sua beleza natural, e ela emanava uma aura de beleza e sensualidade que era toda sua.
Todos os elogios que uma garota bonita poderia receber descreviam muito bem ela.
“Hmm, eu jurava que Saku Chitose não gostava do tipo de garota que se empolga demais se arrumando para um cara bonitão.”
Ela afastou a cadeira um pouco e cruzou as pernas de maneira deliberada.
“Além disso, essa roupa não te excita mais? À primeira vista, é uma escolha masculina, mas ainda assim valoriza o corpo nos lugares certos. E quando eu cruzo as pernas assim, você consegue ver um pouco da coxa, viu?”
Nossa, ela me lia como um livro aberto.
“Ah não, você entendeu tudo errado. Eu não estava olhando para suas coxas. Estava pensando por que as pessoas sempre tentam descobrir coisas que não querem saber e olhar para coisas que não querem ver — mas, quando se trata do que realmente importa, elas desviam o olhar.”
“O que você quer dizer com isso?”
“Você pode fazer de novo para eu observar dessa vez?”
Nanase inclinou a cabeça para o lado e riu. “Não. Na vida, você só tem uma chance na maioria das coisas, sabe.”
“Minha professora do ensino fundamental disse: ‘Cometa erros. Desde que você não desista, seus sonhos se realizarão.’”
“Parece uma ótima professora. Se você a encontrar de novo, é melhor não contar que seu maior sonho na vida é espionar as coxas das garotas.”
[TMAS: Mas esse é o maior sonho dos jovens, safadeza. | Mon: Eu sou jovem e meu maior sonho é aparecer 5M na minha conta bancária do nada… :c]
Nesse momento, o garçom chegou com dois copos d'água. Dei um gole antes de continuar.
“Nanase, posso te fazer uma pergunta?”
“Desde que seja algo que eu possa responder em público.”
“Por que você veio tão cedo?”
Combinamos de nos encontrar ao meio-dia. Mas ainda não eram nem onze e meia.
“Provavelmente pelo mesmo motivo que você veio cedo. Eu não gosto de deixar as pessoas esperando. Me sinto como se estivesse em dívida com elas. Sabia que você seria do tipo que chega adiantado, então decidi vir ainda mais cedo. Afinal, fui eu quem pediu para você vir.”
“Hmph. Tão calculista. Uma pessoa que pensa demais não é popular com os garotos, sabia?”
“É verdade, ouvi dizer que, para a maioria das pessoas, sim. No entanto, eu sou Yuzuki Nanase.”
“E eu sou Saku Chitose. Vamos ser amigos.”
Nós dois pedimos os ovos Benedict, o prato mais famoso do café. O meu era com bacon, e o dela, com salmão defumado e abacate.
Depois de uma pequena espera, nossos almoços chegaram. Ovos Benedict, cobertos com molho amarelo e acompanhados de uma salada com o que pareciam flores comestíveis. Tudo servido em um prato com acabamento fosco.
Estava prestes a cortar a borda como se fosse um bife ou um hambúrguer, mas Nanase me interrompeu. “Espera”, ela disse, erguendo uma mão. Então, usou seu próprio garfo e faca para cortar o muffin e seus acompanhamentos ao meio, com precisão.
A gema do ovo pochê escorreu para o prato, criando um efeito bastante estético.
Segui o exemplo de Nanase, cortei um pedaço do eggs Benedict e levei à boca.
Nanase se inclinou para frente. “E aí, como está?”
“Hmm. Parece um Egg McMuffin de alta qualidade.”
“Hmph. Você não consegue dar uma avaliação mais sofisticada?”
Normalmente, não gosto desse tipo de comida pretensiosa que as garotas adoram, mas o bacon era bem grosso, e o ovo com o molho eram ricos e saborosos. Até um cara como eu tinha que admitir que aquilo estava delicioso.
“Este é um bom lugar, não é?” Peguei meu café gelado enquanto falava.
“Né? É difícil encontrar alguém que conhecemos no distrito da estação no fim de semana. E, recentemente, alguns lugares bem decentes têm aberto por aqui. Este lugar é meio que meu cantinho secreto.”
“Quase parece que você quer evitar ser vista por alguém.”
“Quem quer plateia quando está tentando chamar um garoto para sair, hein?”
...E aqui chegamos ao assunto principal.
Voltei ao mês passado. Nanase tinha dito: "...Talvez você considere... ser meu namorado? Ou algo assim." Seu tom era brincalhão, como se estivesse só brincando, claro, mas eu tinha a sensação de que havia algo mais. No momento em que ela me pediu para encontrá-la no fim de semana, pensei: Ah, lá vamos nós. Sim, eu definitivamente esperava algo assim.
Era óbvio que ela não estava aqui para declarar amor eterno por mim.
Mas o que ela queria? Eu não conseguia lê-la de jeito nenhum.
No primeiro ano, Nanase e eu éramos amigos próximos o suficiente. Parávamos para conversar quando nos víamos. Mas ela não era alguém com quem eu saía fora da escola, como Yuuko ou Yua e aquela turma. Agora estávamos na mesma classe e nos aproximamos, mas não muito.
Ela achava que eu era único, claro. Mas isso não significava que ela me via como alguém "especial".
Nanase enxugou os lábios com um guardanapo de papel e fez uma expressão tímida. Então, olhou para mim por baixo dos cílios.
“Então, escuta, Chitose... Você está afim de alguém agora?”
“Tudo o que sei é que não tenho obrigação de responder essa pergunta neste exato momento.”
Encolhi os ombros, falando de maneira descontraída, e Nanase riu.
“Só por essa resposta, já é óbvio que você gosta muito de mim, Chitose. E não só como amiga, mas como mulher.”
“Escuta aqui, Nanase. Eu queria que você tivesse me avisado antes que conseguia ler mentes. Não sabia que esta era uma história de garota sobrenatural. Mudar o enredo agora só faz parecer que estão tentando agradar um público maior para aumentar a audiência.”
“Bobo. Eu sei o que está acontecendo mesmo sem ler mentes. Afinal, pessoas como você e eu são ótimas em traçar limites, não somos?”
Ela continuou, como se estivesse apenas fazendo uma conversa casual.
“Deixamos claro quando alguém se apaixonar por nós seria um fardo, certo? Tipo, se você não estivesse realmente interessado em mim, diria algo como ‘Eh, talvez eu esteja de olho em algumas pessoas’, não é? Mas você não iria querer que rumores se espalhassem de que você realmente gosta de alguém específico, então manteria as coisas vagas. Mas, de certa forma, isso me mostrou que eu não deveria criar expectativas.
Nanase me lançou um olhar rápido para confirmação. Fiquei em silêncio, mas dei um pequeno aceno.
“Ainda assim, é uma pena que você não tenha me dado uma resposta boba e provocadora como ‘Sem paixões por aqui’ ou ‘Talvez seja você que eu goste, Nanase’. Agora eu sei que você gosta de mim — mas não o suficiente para fazer uma investida, nem mesmo brincando, muito menos séria. Mas você deixou suas opções bem abertas para qualquer caminho no futuro.”
Então, ela me deu um olhar do tipo "E aí, gostou da verdade?".
Eu olhei de volta para seus olhos enquanto respondia. “ ...Não exponha minha alma antes mesmo de tirar minhas roupas.”
Eu estava sendo bobo de propósito.
Então, para disfarçar o constrangimento da tentativa, dei um gole grande no meu café gelado.
Mas ela estava certa sobre tudo. Me poupe. Essa garota era demais.
Nanase mudou de assunto suavemente, como se nunca tivesse esperado ou exigido uma resposta sensata. “Ei, Chitose. Você não acha que nós dois combinamos muito bem?”
“Hmm. Em minha experiência, essas palavras costumam ser o começo de uma armadilha. Saiba que não serei enganado.”
“E pensar que coloquei uma roupa novinha só para sair com você hoje…”
“ Colocou?! Então o que ainda estamos fazendo aqui? Vamos direto ao ponto! Qual é a proposta? Quer que eu assine um seguro? Quer que eu compre os amuletos da sorte que você está vendendo? O que você quiser!”
“Você é muito fácil de manipular; de um jeito bem inesperado até, alguém já te disse isso?”
O almoço de Nanase vinha com uma sobremesa, que acabara de chegar.
Por recomendação dela, eu havia adicionado um cordial de sabugueiro ao meu pedido, e ele foi colocado na mesa depois que Nanase recebeu sua sobremesa. Parecia ser algum tipo de bebida com xarope e água, infundida com ervas naturais. Não posso negar que um comentário maldito passou pela minha mente (Mais comida de garota fresca), mas, quando tomei um gole, estava incrivelmente delicioso. O aroma era, ouso dizer, encantador.
Depois que Nanase terminou sua sobremesa, o garçom recolheu nossos pratos, e ela limpou a garganta de maneira exagerada. Então, virou seus olhos de cachorrinho para mim.
“Escuta. Chitose. Acho que deixei meus sentimentos bem claros para você no outro dia. Então…”
“Primeiro, você pode dispensar as pausas irritantes e essa expressão de cachorrinho? Lembro do que você disse: ‘Talvez você considere ser meu namorado?’ Mas não lembro de você ter me contado seus sentimentos.”
“Mas eu... Quando uma garota pede para você ser seu namorado, que outros sentimentos poderiam ser? Não me faça explicar.” O rosto de Nanase ficou um pouco caído enquanto olhava para a mesa.
“Me deixa perguntar uma coisa. Por que você quer tanto um namorado? E por que esse namorado tem que ser eu?”
“Por quê...? Porque eu sou uma garota no ensino médio, no auge da minha juventude, é por isso. Todas as minhas amigas têm namorados. Elas falam sobre eles o tempo todo. Quando as ouço se empolgando com seus caras, me faz pensar... Eu quero isso. Parece tão divertido…”
[Mon: Se for só por isso, confiem em mim leitorada, não namorem… Só terminarão com o coração partido.]
Nanase juntou as mãos na frente do peito, como uma donzela inocente presa em um sonho.
“Você é o cara mais gato da nossa turma, é incrível nos esportes, está sempre cercado de pessoas... Todas as garotas da escola acham você incrível. Ok, você pode ser meio narcisista, mas basicamente é super legal com todo mundo, e…”
Nanase olhou para mim, corando.
“E agora que estamos na mesma classe, percebi que estava ficando animada com você também. Percebi que quero você como meu namorado.”
[TMAS: Basicamente quer namorar por namorar, sei não, não parece uma boa]
Eu olhei de volta para seus olhos e suspirei um pouco.
“Tudo bem, faz sentido. Você é Yuzuki Nanase. E eu sou o cara com a lista de qualidades de primeira linha que você acabou de recitar. É como se você estivesse praticando.”
Os ombros de Nanase tremeram de riso silencioso. “Só Saku Chitose se referiria a si mesmo como tendo ‘qualidades de primeira linha’...”
Se eu não estivesse tão desconfiado de que ela tinha algum motivo oculto, um sorriso daqueles poderia fazer um cara se apaixonar.
“Bom, eu não estou mentindo, estou?”
“Não, você não está mentindo, mas também não está dizendo a verdade.”
Nanase me deu um olhar de "Ah, é?".
“Você começou dizendo que é uma garota do ensino médio, listando os sentimentos totalmente normais que se espera de uma garota do ensino médio. Mas isso não é motivo suficiente para querer um namorado. Algumas pessoas acham a ideia de ter um namorado ótima, e é por isso que querem um. Outras pensam: ‘Sim, ter um namorado parece ótimo, mas vou esperar pelo cara certo’.”
Isso é como o tipo de desorientação que você encontra em romances.
“E talvez essa última parte seja motivo suficiente para você querer que eu seja seu namorado, mas não é um motivo para gostar de mim em particular. O cara que você quer como namorado porque suas ‘qualificações’ se encaixam nas suas preferências não é o cara que você quer como namorado porque gosta dele. Você está fazendo um bom trabalho escondendo, mas o que você está dizendo aqui não tem substância. Na minha experiência, pedir alguém em namoro deve começar com você dizendo como se sente em relação a essa pessoa.”
Nanase olhou de volta para mim, ouvindo com interesse.
“Você não quer que eu seja seu namorado porque gosta de mim; você quer que eu seja seu namorado porque quer um namorado. Não é, Nanase?”
Era um truque que eu mesmo usava frequentemente. Uma mentira descarada muitas vezes vinha com repercussões, então eu gostava de manter as coisas vagas e leves nos detalhes. Ofuscar as coisas sob uma cortina de fumaça e deixar bastante espaço para interpretação.
“Eu não posso querer namorar você só porque você é gato, como qualquer garota normal?”
“Não estou dizendo que você não pode. Eu sei que sou gato e, para ser honesto, eu namoraria comigo mesmo. E eu definitivamente gosto de garotas fofas e bonitas como você, Nanase. Qualquer um olhando para nós teria que admitir que seríamos um casal incrível. Quem sabe, talvez até nos apaixonamos um dia.”
Me preparei para recusá-la.
“Mas este dia não é hoje.”
Um amor escrito nas estrelas nunca começa assim; eu sei disso muito bem.
É melhor se você nem perceber que está acontecendo, até olhar para trás e tudo fazer sentido.
Por um momento, um sorriso passou pelo rosto de Nanase.
“Nossa, você é tão malvado. Desde que nos tornamos colegas de classe no mês passado, eu tenho te observado, sabia?”
“E eu tenho observado seus seios, Nanase. Mas a partir de hoje, acho que vou mudar minha atenção para suas coxas.”
“Eu quero ficar com você, Chitose. Na escola, voltando para casa, saindo nos fins de semana juntos.”
“Que pena. Se você quiser me convencer, eu sou muito mais flexível na cama, sabia?”
“O que eu tenho que dizer para você acreditar que meus sentimentos são sérios?”
“Talvez se você me der um beijo breve e inesperado, como um chuvisco de primavera. Ou…”
Sem esperar por sua resposta, soltei um suspiro enorme.
“Escuta, podemos parar com isso já? Toda essa provocação e disputa, a luta por dominação psicológica, esse jogo de tronos que estamos tendo. Eu admito, tá bom? Você e eu faríamos um casal incrível.” Continuei gesticulando de maneira um pouco exagerada. “Mas essa pequena peça entre nós falta imaginação. Não acha? Não há drama em apenas seguir o roteiro. A mágica acontece quando você sai do script.”
Nanase começou a falar de maneira suave e ensaiada — uma entrega perfeita de suas falas.
“Se você quer assistir a uma peça como nada que já foi feito antes, então acho que tenho que estragar a performance, né? Tenho que tirar a máscara, para não ser uma atriz perfeita demais.”
“Sim, e mesmo que você tivesse um rosto horrível por baixo, eu olharia direto para ele e te beijaria duas vezes.”
“Ok, então eu sou o Fantasma da Ópera, e você é Christine. Mas, nesse caso, isso significa que eu tenho que ficar de lado e assistir você encontrar a felicidade com outra pessoa, não é?” Nanase riu então — uma risada genuína e profunda. “Aff, que papel horrível.”
Finalmente, senti que cheguei na verdadeira Yuzuki Nanase.
Respirei fundo e mudei minha maneira de falar.
“De qualquer forma! O que estou dizendo aqui é — vamos parar com todas essas negociações, ok? Quer dizer, você não está cansada disso? Você deve estar! Eu com certeza estou! E todas essas falas constrangedoras estão me fazendo revirar aqui, sabia? Quando eu lembrar disso hoje à noite, vou ficar rolando na cama, mordendo o travesseiro e desejando a morte. Este é um jogo da galinha totalmente idiota. Quer dizer, só podemos rir, certo? Então vamos voltar a falar normalmente agora, combinado?”
“Você está certo! Eu mesma estava pensando que, se continuarmos sem frear, vamos acabar nos destruindo.”
Então, o tom de Nanase ficou mais leve.
“Mas sabe, você dizer coisas assim... É parte do motivo pelo qual eu gosto tanto de você, Chitose. Como você pode se desmascarar na frente de alguém que nem percebe que você está usando uma máscara? Quer dizer, seria um grande choque se eles vissem seu verdadeiro rosto e começassem a gritar ou algo assim.”
Agora, finalmente, estávamos juntos na linha de partida.
Esse jogo de fingimento e teste mútuo levou a um maior entendimento.
Agora poderíamos recomeçar, e eu tinha uma ótima pergunta para fazer a ela.
“Só me deixa confirmar uma coisa, porém. Você não é uma princesa natural como Yuuko, é? É tudo esforço. Você planeja tudo, desde a maneira como fica em pé até a maneira como fala, todo o seu personagem. Você chegou à sua posição atual trabalhando nisso, certo?”
Como Nanase tinha dito abertamente, e como eu tinha imaginado, ela e eu éramos parecidos. A maneira como vivíamos, nossas ideologias.
“Pode ser, mas não vá pensando que eu era uma garota tímida que sofria bullying, ok? E acho que depende de quem você pergunta, mas eu também não era uma garota má. Acho que não.”
Provavelmente não. De qualquer forma eu não conseguia imaginar nenhum desses cenários.
“Eu sempre tive essa aparência, e sempre consegui lidar com qualquer coisa quando se tratava de esportes e escola, desde pequena. Mas essas coisas deixam as pessoas com ciúmes, certo? E quer dizer, a maioria dos caras populares da minha turma acaba se apaixonando por mim em algum momento.”
“Eu entendo isso, mas esse último comentário é o tipo de coisa que vai fazer as pessoas te odiarem, sabia?”
“Eu sei. Nunca disse isso para ninguém antes de você.”
Então Nanase suspirou, um tipo de suspiro sexy.
“...Mas eu não posso evitar, posso? Não é como se eu fosse uma paqueradora. Os caras simplesmente começam a se apaixonar por mim. Então é por isso que adotei minha filosofia atual, para autopreservação. Para que as pessoas parem de me usar como objeto de comparação e apenas digam: ‘Sim, é assim que ela é’. Quer dizer, quantas pessoas estão por aí com ciúmes e raiva de celebridades? Não é zero, mas não são muitas; estou certa?”
Em outras palavras, Nanase havia passado pela mesma experiência que eu e chegou às mesmas conclusões. Ela não era apenas feita do mesmo tecido, isso era mais como olhar para mim mesmo no espelho.
“Aos poucos, estou começando a entender.”
Bem aqui na minha frente, eu estava diante de alguém mais parecido comigo do que qualquer outra pessoa.
“Você queria que eu fosse seu namorado, mas isso era porque você está com problemas com garotos, não é? Mas você não pode ser sincera sobre seu problema, que é: ‘Eu sou muito popular com os garotos, e isso está me estressando’, a menos que seja com alguém com quem você possa compartilhar essa verdade primeiro, não é? Você não quer que as pessoas pensem que você é convencida ou muito apaixonada por si mesma. Isso seria um erro bem ruim e só pioraria tudo, não seria?”
“Eu sabia que você me entenderia, Chitose. Quando vi o que você fez por Yamazaki, sabia que você não me recusaria se eu viesse pedir sua ajuda. E eu estava certa.”
O tom de Nanase ficou um pouco mais baixo e muito sincero.
“Se eu visse uma garota incrível como você passando por dificuldades e simplesmente ignorasse, isso afetaria negativamente todo o valor que construí como Saku Chitose. Eu poderia tentar esconder, mas você veria através de um motivo tão fútil imediatamente, então me deixa dizer diretamente.”
Se Nanase fosse eu, ou se eu fosse Nanase, então essa seria a conclusão certa, uma maneira direta de dizer.
Eu ainda não sabia os detalhes completos de seu problema, mas aqui estava uma garota que tinha os mesmos dons e sentimentos mais profundos que eu. Sem dúvida, era por isso que ela escolheu se confessar para mim.
...Então só restava uma coisa a dizer.
“Obrigado, Nanase.”
Pela primeira vez desde que conheci Nanase, ela me deu um olhar de absoluta confusão. Normalmente, ela tinha tudo planejado, até o tom de sua risada. Vê-la assim, eu estava feliz por ter saído afinal.
“Você tem me enviado mensagens desde que decidiu falar comigo hoje... para se confessar. Não foi? ‘Eu não sou uma garota grudenta’, ‘Não entenda errado e se apaixone por mim’, e assim por diante. Não tanto em palavras, mas em implicações. Mensagens que só eu posso receber, já que estamos na mesma frequência.”
Finalmente, a realização surgiu.
Se nossos lugares fossem invertidos, eu provavelmente estaria fazendo a mesma coisa.
“Para olhar isso de um ângulo diferente, você me escolheu especificamente porque eu não sou o tipo de cara que vai entender errado e se apaixonar por você.”
Por que ela não foi até Kazuki? Ou, ainda mais óbvio, Kaito, que também estava em um time de basquete? Deixando de lado os problemas dele ser meio cabeça-dura com o QI emocional de uma bola de basquete. Em termos de aparência, ele era mais do que suficiente, e mesmo que ele não entendesse completamente, pelo menos não teria levado a explicação de Nanase como ostentação e auto-obsessão. Eles se conheciam há muito tempo, então ela certamente se sentiria muito mais confortável se confessando para ele do que para mim.
...Mas o Kaito, de coração honesto, provavelmente teria acabado se apaixonando por Nanase.
Nanase olhou para o meu rosto, inclinando-se para frente com os cotovelos na mesa, e riu.
“Ah, cara, você até viu através de mim, não foi? Mesmo quando eu não quero, não consigo evitar ficar um pouco apaixonada por você agora.”
“Como eu disse, chega dessa atuação de olhos brilhantes.”
Dei um golpe de karatê brincalhão no topo de sua cabeça, e ela se afastou como se estivesse realmente assustada. Mas então começou a rir novamente.
Depois de pagar a conta no café, caminhamos da estação até o leito seco do rio próximo, empurrando nossas bicicletas. Não tinha certeza de que tipo de problema ela iria mencionar, mas achei que seria melhor encontrar um lugar tranquilo onde garçons e outras pessoas não pudessem nos ouvir conversar.
Estávamos a apenas alguns minutos a pé da estação, mas o céu estava fresco e azul, e a cadeia de montanhas que envolvia confortavelmente a área era visível. À nossa frente e atrás de nós, estávamos sozinhos, os únicos pedestres à vista.
“Então por que você começou a querer um namorado de repente?” A implicação nessas palavras sendo: ‘Vamos começar de novo e tentar isso novamente’.
Ao meu lado, Nanase começou a falar, com o rosto sereno. “Tente não me julgar, ok? Recentemente, tenho a sensação de que alguém está me perseguindo.”
Era uma coisa bem pesada para dizer, mas ela não parecia estar brincando.
“Nossa, isso ficou pesado de repente. Você é uma esposa que conspirou secretamente para matar o marido? Mandou os irmãos, que esperavam uma parte dos lucros, para agirem como assassinos ensanguentados?”
Meu dramatismo pareceu aliviar o fardo de Nanase, pois seus ombros relaxaram e um pouco de seu brilho habitual voltou aos seus olhos. “Isso seria mais fácil de entender. Eu entregaria todas as riquezas para você, e fugiríamos para o norte. Então compraríamos uma casinha, cultivaríamos vegetais em nosso jardim e viveríamos felizes para sempre. Com dois filhos.”
“Por que temos que ir para o norte congelado e isolado? Se vamos fugir, vamos para o sul.”
“O quê? Mas então não teria o mesmo elemento de heroísmo trágico. De qualquer forma, minha família não é nem um pouco emocionante assim.” Nanase ficou em silêncio por um momento, antes de olhar diretamente para mim e continuar. “Mas não é isso. Acho que posso ter um stalker.”
Isso era claramente uma situação muito mais pesada do que eu havia imaginado inicialmente. Eu tinha feito a escolha certa indo para um lugar diferente. Sob o céu azul claro, algo assim seria mais fácil de falar.
“Você pode ter? Então você não tem certeza ainda?”
“Isso. Pode ser apenas um caso de eu pensar demais, e com base em como as coisas estão agora, isso é bem possível. Mas estou sendo cautelosa. É por isso que vim até você pedindo ajuda assim, Chitose.”
[TMAS: Se eu estivesse sendo stalkeado é alguém querendo roubar ctz, coisa de gente não tão atraente assim. | Mon: Aqui no RJ é só pra roubar mesmo, nem me preocupo com stalker!]
Há apenas uma palavra para um stalker, mas a maneira como eles operam é multifacetada. No sentido mais básico, geralmente é um namorado rejeitado que atormenta sua vítima com mensagens e ligações indesejadas, e alguns até enviam cartas anônimas.
“Você pode ser mais específica aqui?”
“Bem, não tenho nenhuma prova concreta, nada que te convenceria mesmo se eu entrasse em detalhes. É mais uma sensação. É como... Estou vivendo minha rotina, mas o tempo todo, estou percebendo esse tipo de… chiado.”
Nanase olhou para seus pés enquanto falava, o que não era como ela.
“Eu estou apenas vivendo minha vida, e então tenho um momento de ‘...Hã?’ Tipo, quando abro meu armário de sapatos ou minha bolsa — ou quando estou voltando para casa e me viro de repente. Às vezes, a maneira como meus sapatos estão alinhados parece errada, ou acho algo faltando na minha bolsa, ou faço contato visual com um estranho de uma maneira estranha. É apenas essa sensação de algo estar fora do lugar. Não consigo realmente explicar.”
Ouvi atentamente, com o rangido das rodas de nossas bicicletas servindo como música ambiente.
“Mas então, às vezes, eu simplesmente paro sem motivo, e a pessoa, seja quem for, apenas me dá um olhar estranho e passa... Desculpe, sei que isso é totalmente ilógico. Queria ter alguma prova.”
“Tudo bem. Você não precisa se preocupar em tentar me convencer” interrompi. — “Normalmente, você nunca desabafaria assim e mostraria seu lado oculto. Então isso é toda a prova que eu preciso para acreditar em você. De qualquer forma, não tem nada para você ganhar mentindo sobre isso.”
Nanase olhou para mim como se estivesse tateando pelas palavras certas.
“Algumas garotas tentam diminuir a distância entre elas e um cara se confessando, mas você é mais do tipo sedutora direta. Você obtém resultados mais rápidos assim também, né? Então eu já acredito em você. Agora que isso está fora do caminho, vamos continuar.”
Além disso, se Nanase tivesse provas conclusivas, ela não estaria falando comigo. Ela já teria ido até a escola ou a polícia. Não havia como essa opção não ter ocorrido a ela.
Em vez disso, ela pensou e decidiu que ainda não estava nesse estágio. E então estava tentando essa opção primeiro.
Decidi começar com minha pergunta imediata sobre isso.
“Então essa sensação estranha sua, há quanto tempo você está tendo isso?”
Nanase pareceu surpresa que eu tivesse acreditado nela tão prontamente, mas pareceu se ajustar rapidamente. Agora sua expressão parecia mais suave e serena.
“Não me lembro exatamente, mas começou durante as férias de inverno, e tem piorado no último mês. Eu não estava ciente disso no início, mas acho que comecei a notar e olhar por cima do ombro naquela época.”
“Entendo…”
Pensei nisso por um momento antes de continuar.
“Pode ser difícil para você julgar isso, já que envolve sua própria mente, mas acho que esse seu instinto ruim precisa ser levado a sério. O cérebro humano está sempre tomando notas e catalogando as coisas que vemos ao nosso redor, então quando algo está diferente, ele emite sinais de erro. Ele incomoda o cérebro e nos faz sentir ‘estranhos’. E esse é o sinal de que algo realmente está diferente em comparação com o que vemos como normal.”
“Algo diferente, em comparação com o que vemos como normal... Hmm.”
“Além disso, eu costumo acreditar muito em sextos sentidos e coisas assim. Tipo, quando eu jogava beisebol, logo antes do arremessador fazer seu lance, eu conseguia ver a trajetória que a bola ia percorrer se desenrolando na minha cabeça. Além disso, às vezes eu conheço alguém novo, e simplesmente sei que não vamos nos dar bem, e então mais tarde acabamos brigando. Pode ser apenas um palpite baseado em experiências passadas — ou talvez apenas meu cérebro calculando todos os tipos de dados ambientais que eu nem percebi. Também pode ser apenas coincidência, é claro.”
No entanto, eu pensei.
Quando nós, como pessoas, sentimos algo, deve haver uma razão para isso. A intuição é uma mensagem enviada a nós por nosso subconsciente, baseada em tudo o que já sabemos ser verdade.
“Considerando tudo, acho que você deve levar esse seu sexto sentido a sério.”
“ ...Entendo. De alguma forma, ouvir isso faz eu me sentir muito melhor, Chitose. Uma pequena parte de mim pensou que talvez eu estivesse apenas sendo neurótica.”
“Em comparação com a maioria das garotas, você está em um nível totalmente aceitável de neurótica. Mesmo que isso acabe não sendo nada.”
[TMAS: Se o Chitose disse que mulher é em sua maioria neuróticas, quem sou eu para discordar]
“Obrigada por me impedir de perder meus sentidos e me apaixonar por você, então. Bem na hora.” Nanase respondeu meu comentário irônico com um pouco de sarcasmo próprio.
“Sempre às ordens. Espero que você faça o mesmo. Então, você tem alguma ideia de quem poderia ser o stalker?”
“Não, nenhuma ideia. Mas pode ser qualquer um. Qualquer um.” Nanase encolheu os ombros dramaticamente, com as palmas das mãos para o céu.
“Hmm, pode ser.”
“Não acho que seja alguém com rancor de mim, alguém que eu magoei ou algo assim. Sou bem cuidadosa para não fazer nada desse tipo. Mas estava pensando que talvez seja alguém com uma paixão unilateral, alguém com quem eu nunca nem conversei, que está me seguindo. Se for isso, então não faço ideia de quem poderia ser.”
Peguei um toque de resignação em sua voz.
“Mas” Nanase continuou “bem, isso é algo totalmente sem base; tenho ainda menos prova disso ser verdade. Provavelmente é apenas uma grande interpretação errada da minha parte. Mas recentemente, continuo vendo um garoto do Colégio Yan em todos os lugares que vou.
“Colégio Yan, é...?”
Nas grandes cidades, os alunos inteligentes vão para escolas particulares — ou pelo menos essa é a imagem que todos têm. Mas em Fukui, as escolas públicas são muito mais populares. A escola que frequentamos, Fuji, é super bem avaliada na província. Depois, você tem escolas como Takashima. Ambas são escolas públicas.
Claro, escolas particulares também têm aulas de preparação para a faculdade, e também enviam muitos alunos para grandes universidades. O consenso geral é que ter uma escola particular como seu plano B é uma boa ideia.
Se você não tem a inteligência para entrar em uma escola de ensino médio de alto nível, e se não quer ir para uma escola agrícola ou profissionalizante, então você tem que apostar tudo em ser aceito em uma escola pública. Embora, na melhor das hipóteses, todos queiram ir para uma escola particular com um currículo de educação geral. Você encontra uma variedade de habilidades acadêmicas dentro dessas escolas particulares, mas, para ser franco, Yakon, abreviado para Yan, era uma das de nível mais baixo.
“Você sabe como o uniforme deles é meio incomum, né? Pode ser apenas que o uniforme deixou uma impressão em mim depois de vê-lo apenas algumas vezes, mas não sei…”
Bem, para ser honesto, Yan tem muitos delinquentes entre seus alunos. Eu, pessoalmente, acho o termo yankii um pouco ultrapassado agora, mas quando se trata de alunos do Yan High, acho que é bem apropriado.
N/T: Yankii é um tipo de delinquente japonês, aqueles de Tokyo revengers mesmo.
Nanase usou o adjetivo suave "incomum", mas a verdade era que esses garotos usavam seus uniformes de uma maneira totalmente não ortodoxa, tinham penteados chamativos e não tinham modos em público. Eles exalavam uma aura que instantaneamente fazia você saber que deveria ficar longe deles.
Basicamente, qualquer escola de ensino fundamental terá infratores de regras que todos veem como delinquentes. Mas quando você chega ao ensino médio, as pessoas começam a se recompor e a se endireitar. Sempre há aqueles que continuam nesse caminho de delinquência uma vez que entraram nele e então descobrem que não podem sair, mesmo assim.
Rotular pessoas é contra minha política pessoal, mas você encontra muitos desses tipos em escolas de ensino médio que aceitam alunos que mal passaram na linha de aceitação do currículo de educação geral. Não posso realmente negar isso.
Virei para olhar para trás, no caminho que havíamos percorrido. A trilha se estendia à distância, e não conseguia ver uma única outra pessoa à vista.
“Então, se esse for realmente o caso, essa é uma situação meio assustadora, né?”
Garotos que não se endireitam no ensino médio geralmente carecem de senso de moralidade e ética, e muitas vezes não hesitam em sair das fronteiras da sociedade. Eles não têm a mentalidade aberta que nós temos, nem pensam em moderar seu comportamento e conversa para combinar com a situação e o grupo, como nós fazemos. Garotos que pensam apenas em termos simplistas e agem por impulso — eles são nossos inimigos naturais.
Como você pode competir contra um oponente que não segue as mesmas regras que você?
Pegue o sumô, por exemplo. Ele tem regras simples: sem chutes, e uma vez que você sai do ringue, você perde. A partida nem pode começar até que todos os participantes aceitem esses regulamentos básicos. Se a única coisa que importasse fosse derrubar seu oponente, então você poderia simplesmente pegar um taco de beisebol de metal e acertá-lo na cabeça. Tarefa cumprida.
“ Agora eu entendo por que você veio até mim com isso, Nanase. Em outras palavras, você quer…”
“Espere! Eu sou a que está pedindo um favor aqui, então por favor me deixe pelo menos ser a única a dizer isso.”
Nanase parou sua bicicleta ao lado da trilha, então virou para olhar diretamente para mim.
Sua expressão estava rígida enquanto continuava. “Agora que tiramos todas as coisas de exposição do caminho, quero pedir que você desempenhe dois papéis para me ajudar. O primeiro é ser meu namorado, de uma maneira que seria totalmente óbvia até para qualquer espectador casual.”
Nanase ergueu um dedo.
“Em outras palavras, se eu realmente tiver um stalker, quero que ele pense: Ah, se ela está com Chitose, então garotas como ela só escolhem os caras mais gatos dos gatos. E então quero que ele desista e vá embora por conta própria. Agora, você tem o rosto mais bonito por aí, então nesse ponto, você mais do que atende aos requisitos.”
“Como a pessoa que está pedindo um favor aqui, você pode querer discutir minha beleza interior também.”
Nanase ignorou minha provocação leve e continuou. “O segundo papel que quero que você desempenhe é este: Se a pessoa que está me perseguindo realmente for um garoto do Yan com um parafuso solto, quero que você me proteja. Você tem o que é preciso para lidar com alguém assim. Você pode tentar argumentar com ele, ou — e isso é difícil para mim dizer — você poderia até usar a força.”
“Pode te surpreender, mas eu nunca, nem uma vez, briguei com alguém, não desde o dia em que nasci. Eu sou um amante, não um lutador, sabia?”
“Sim, mas ‘não vai lutar’ não é a mesma coisa que ‘não pode lutar’, não é?
“Por definição, acho que não.”
Então Nanase baixou a cabeça diante de mim de uma maneira muito suave e não autoconsciente.
“Você é o único em quem posso confiar, Chitose. Por favor, me ajude. Por favor, namore comigo.”
Ah, cara.
Eu não sou bom em resistir a esse tipo de coisa.
Mesmo que essa fofa confissão dela tenha vindo com motivos ocultos. Sim, mesmo assim.
“Você está entendendo algo errado aqui, Nanase. Com toda a coisa do Kenta, eu só ajudei o pobre coitado porque ele era patético e achei que aumentaria meu status. Essa é a única razão pela qual eu fiz isso.”
No entanto, se ela estava pronta para aceitar isso ou não, era uma questão diferente.
A morte é melhor do que uma vida sem beleza, afinal.
Eu realmente deveria estender a ela uma mão amiga. Se eu quisesse continuar vivendo pelo meu próprio código estético pessoal, isto é. E apenas ver Nanase, com a cabeça baixa para mim, praticamente implorando...
Ainda assim, eu sou um homem complexo, com uma maneira complexa de viver.
Não importa a situação, preciso manter tudo mapeado.
“No momento atual, ser visto publicamente como seu namorado me proporcionaria apenas retornos negativos no meu investimento. Eu quero ser como uma nuvem leve e fofa, flutuando no alto, o tipo de homem que nenhuma mulher poderia amarrar.”
“...Você pode fazer o que quiser comigo.” Yuzuki Nanase me olhou diretamente nos olhos e disse isso como se realmente quisesse dizer. “O que você quiser. Quantas vezes você quiser, quantas vezes você quiser — eu farei qualquer coisa que você pedir.”
Um sorriso pesaroso se espalhou pelo meu rosto. “Acho que você está sendo um pouco barata consigo mesma aqui.”
“Não, não estou. Eu não poderia fazer o Saku Chitose me fazer um favor tão grande, sem oferecer algo de valor igual em troca. Agora, a capacidade de fazer Yuzuki Nanase fazer o que você quiser que ela faça é o que será necessário para compensar os retornos diminuídos no seu investimento neste relacionamento.”
Ela continuou falando de uma maneira muito transparente, nada característica de Nanase.
“Dessa forma, podemos ambos capitalizar nosso valor individual, e nenhum de nós estará em uma posição fraca em relação ao outro. Eu pensei em tudo, racionalmente e de um ponto de vista transacional. Você pode aceitar isso?”
Meu Deus. Essa garota era apenas uma versão feminina de mim ou o quê?
“Sim. Sim, isso é mais do que o necessário. Tudo bem. Eu gosto desse acordo. Mas você não sabe o que é que eu vou fazer você fazer, sabe?”
“Eu te disse, lembra? Estou totalmente preparada para compensar um homem por tomar seu tempo e recursos.”
“...Tudo bem. Mas vamos apenas confirmar os detalhes.” Estacionei minha bicicleta ao lado da trilha também, então encarei Nanase diretamente.
“Você, Chitose, vai fingir ser meu namorado. Esse arranjo durará até ficar claro que o stalker era uma invenção da minha imaginação, ou, se ele for real, até que a situação do stalker seja resolvida.”
Isso poderia terminar em um curto período de tempo ou se arrastar por meses. Não tínhamos como saber até tirarmos a tampa e espiarmos dentro.
“Eu quero que pareça totalmente convincente. Todos precisam pensar que estamos realmente namorando. Mas, você pode contar a verdade para as pessoas próximas a você e em quem confia. Mas mantenha isso no círculo interno. Pela duração, vou querer que você me leve para a escola e de volta, e também que saia comigo nos fins de semana.”
“Tá bom. Tudo isso parece bom para mim até agora.”
“Você vai ser como minha própria lata humana de repelente de insetos.”
“Uh, há tantas maneiras diferentes que você poderia ter escolhido para dizer isso, sabia?”
[Mon: Eu achei genial! Akakak]
Nanase deixou minha provocação passar. Em vez disso, olhou para mim, e naquele momento, seus olhos pareciam cheios de um mundo de charme e beleza. Um vento forte soprou, fazendo seu cabelo escuro voar ao redor do rosto. Uma mecha dele tocou sua bochecha, e ela a colocou suavemente atrás da orelha, sorrindo tão docemente para mim.
“Então, o que você diz, Saku?”
“Eu digo que vamos fazer isso, Yuzuki.”
“Então nosso contrato está completo.”
Senti uma vontade de pegar a mão que Nanase ofereceu e segurá-la com força. Em vez disso, dei um high five, nossas palmas batendo uma na outra. A primeira opção parecia meio grudenta e sem graça.
“Só para ficar claro... Você disse quantas vezes eu quiser? E vai cumprir qualquer pedido que eu fizer?”
“Claro. Eu não mentiria para o meu namorado.”
“Perfeito. Eu tenho me sentido reprimido por semanas. Não consigo mais me segurar; só de olhar para você me dá vontade de extravasar tudo. Venha e me ajude a aliviar essa tensão, quer? Pode ser muito vigoroso para você, logo depois de um grande almoço, mas é assim que as coisas são às vezes.”
Você não pode competir contra um oponente que não segue as mesmas regras que você. Mas se ambos estão jogando com o mesmo livro de regras, então todas as apostas estão canceladas.
Não sei que tipo de coisa selvagem você está imaginando agora. Estou apenas tentando te dizer que tipo de cara eu sou.
"Mm… Ahhh… Uhhh…"
Os gemidos eróticos de Yuzuki no meu ouvido me impulsionaram a ir ainda mais rápido.
"Ei… espera. Só um segundo… Por favor, deixa eu descansar…"
"Não seja ridícula. Quer desistir depois de só algumas partidas? Eu sou um garoto do ensino médio viril e cheio de energia, sabia. Além disso, você concordou em fazer isso comigo hoje, não foi? Vamos. Coloque suas costas nisso. Fique por cima e assuma o controle por uma vez."
Yuzuki pulou para cima e para baixo, mantendo um ritmo constante. Seus movimentos eram suaves e fluidos, mas sua respiração estava ficando cada vez mais rápida e ofegante.
"Mas… não estamos fazendo isso sem parar… Sinto que vou desmaiar. Eu vou… Mmn…"
Então, lá estávamos nós, jogando basquete no Parque Leste.
Eu ainda estava irritado por ter perdido para Haru no mês passado, então pedi para Yuzuki jogar algumas partidas comigo.
"Argh, eu realmente não aguento mais! Vou descansar." Então Yuzuki se jogou na grama.
[Mon: Eu pensei, você pensou, NÓS PENSAMOS… Mas cá entre nós, Saku Chitose não é babaca assim… eu acho]
Sua camiseta encharcada de suor colava nos contornos do corpo e até nas linhas da sua calcinha. Hmm, legal.
"O que você está fazendo, se jogando no chão assim? É indecente. Além disso, isso faz parte do trabalho."
"Eu não sou como Haru. Eu me destaco em técnica, não em resistência. Enfim, qual é o seu problema? Você devia ser só um membro do clube dos que vão pra casa, Saku, mas você nem está sem fôlego depois de tudo isso? Perder para Haru te abalou tanto assim?"
N/T: Clube dos que vão pra casa é um termo usado para quem não tem clube.
"Hmm. Mesmo que tenha sido um jogo bobo, eu me recuso a aceitar ser o perdedor por muito tempo. Os céus devem estar desalinhados se existe alguém melhor do que eu por aí."
"Essa sua natureza infantil é o que faz de você Saku Chitose, sem dúvida."
Da minha mochila Gregory, peguei as garrafas de Pocari Sweat que havíamos comprado antes e encostei uma na testa de Yuzuki. Seus olhos se fecharam em êxtase.
Então me deitei no chão também e encostei uma garrafa de Pocari na minha própria testa, fechando os olhos.
"Bom fim de semana, né?" Eu disse, e fui recebido com um lânguido "Cum cêrteza" (tradução: Com certeza) em dialeto retrô de Fukui.
A brisa de maio passou zunindo, agitando a grama, e foi ótima no meu corpo encharcado de suor. Crianças e seus pais brincavam não muito longe, seus gritos felizes ecoando no vento.
"Sabe, Saku…" Yuzuki murmurou, talvez mais para si mesma do que para mim. "Você nunca disse nada tipo: 'Coitada de você, tendo que lidar com isso sozinha', ou 'Tudo bem, você pode contar comigo agora', ou algo assim, né?"
"Por que eu diria? Não estou aqui para ter pena de você. Temos um contrato, não temos? Eu avaliei nosso acordo, decidi que tinha mérito e escolhi aceitá-lo. Você cumpre sua parte, Yuzuki, e eu cumprirei a minha."
"Então você não vai me confortar?"
"Pessoas como você e eu absolutamente odeiam gente que fala esse tipo de coisa. 'Ah, vá em frente e mostre seu lado vulnerável; tudo bem.' Ser perfeito demais tende a criar um monte de inimigos. Pessoas que estão sempre procurando um ponto fraco para cutucar. Elas sempre correm para fingir que estão ajudando." Eu também estava murmurando, mais para mim mesmo do que para ela. "Além disso, se eu realmente tivesse algo me incomodando, não é como se outra pessoa pudesse me ajudar de qualquer maneira. Temos que resolver nossos próprios problemas sozinhos."
"Essa é nossa força, eu acho. E nosso fardo também."
"Pode ser. Mas não vamos mudar nossa metodologia agora, vamos?" Eu me virei e olhei para Yuzuki ao meu lado. "Então não foque em depender dos outros. Não coloque sua fraqueza nas mãos de outras pessoas. Resolva os problemas do jeito que você quer resolvê-los, e se sentir que o meu poder pode te ajudar, use-o quando quiser."
"...E se eu decidir que preciso, mas não tiver você do meu lado?"
"É só chamar meu nome. Bem alto. Como se estivesse chamando um super-herói. Eu vou aparecer no momento perfeito e nocautear todos os inimigos com uns movimentos maneiros."
Yuzuki se virou e me olhou.
Uma mecha do cabelo dela tocou meu lábio.
"Você não vai perder, né?"
"Eh, quem sabe. Talvez eu perca. Ou talvez eu ganhe no final. Mas eu te disse, né? Eu me recuso a aceitar ser o perdedor por muito tempo."
"A propósito, Saku… Tem algo chamando sua atenção?"
"Duas montanhas, na verdade."
"Eu sabia que você estava olhando."
"Ahem. Ahem."
Não é minha culpa se o decote da camiseta dela estava aberto.
"Clomp, clomp, clomp."
"Scuff, scuff, scuff."
Os olhares vindos de todos os lados estavam me deixando arrepiado. Quer fossem calorosos ou cheios de ódio, uma coisa era certa — eu não estava gostando nada disso.
Era segunda-feira, o começo de uma nova semana, e eu tinha ido buscar Yuzuki em sua casa. Agora estávamos caminhando juntos para a escola. Aparentemente, ela normalmente ia de bicicleta com sua Bianchi, mas eu sugeri que ela tentasse ir a pé sempre que possível.
Ser excessivamente cauteloso com toda essa questão do possível stalker não ia nos levar a lugar nenhum. Se quiséssemos lidar com o problema, primeiro tínhamos que ter certeza de que ele realmente existia. Precisávamos descobrir se Yuzuki realmente estava sendo seguida.
Toda essa questão de perseguir alguém em Fukui deve ser completamente diferente do que seria em, digamos, Tóquio.
Em uma cidade grande, onde você pode facilmente se perder no burburinho da multidão, perseguir alguém seria fácil, mesmo para um amador. Mas não podíamos subestimar o clima de interior de Fukui e a falta de pessoas. Tentar seguir alguém de bicicleta sem ser pego seria quase impossível aqui. Sem dúvida, o próprio stalker também sabia disso.
Então eu queria criar um ambiente em que o stalker pudesse agir mais facilmente. Nós iríamos a pé para a escola, seguindo caminhos movimentados sempre que possível, para facilitar ao máximo a oportunidade de ser seguido. Como uma operação disfarçada ou algo assim.
E então lá estávamos nós, caminhando juntos como se fôssemos super próximos, seguindo pela calçada elevada à beira do rio. Nosso plano era garantir que fôssemos o centro das atenções enquanto tentávamos parecer descontraídos e descolados.
Yuzuki andava perto de mim, perto o suficiente para nossos ombros se esbarrarem. De vez em quando, ela ria alto, ou me dava um tapinha brincalhão, ou parava para olhar nos meus olhos, ou puxava minha manga, e assim por diante. Tudo calculado para passar a impressão de que ela era uma garota animada, indo para a escola com seu namorado obviamente gato.
Eu correspondia mantendo um sorriso meio sem graça e, sempre que alguém passava de bicicleta por trás de nós, eu envolvia a cintura de Yuzuki com o braço e a puxava para perto.
Todos estavam olhando para nós e fofocando. Os juniores, os veteranos e as pessoas da nossa série. "Eles ficam ótimos juntos!", sussurravam. "Então ele escolheu ela, e não a Hiiragi?", exclamavam. Mas também dava para ouvir comentários maldosos: "Nanase está se achando demais, não está?" e "Parece que ela caiu no papo desse galinha babaca."
Nada que eu já não estivesse esperando, é claro. Mas só de pensar em todo o trabalho que eu teria para controlar os danos depois disso já me dava vontade de gemer.
Eh, eu poderia simplesmente deixar pra lá. Deixar todo mundo pensar que eu sempre planejava terminar com ela depois de conseguir o que queria. Isso seria muito mais fácil para mim.
"Saku…?"
Uma voz vinda de trás de nós cortou meus pensamentos.
Me virei e vi Yua Uchida parada ali, com a cabeça inclinada para o lado em confusão e uma expressão meio boba no rosto. Seu rabo de cavalo lateral caía sobre as curvas do seu blazer, e seus olhos doces e inocentes estavam fixos em mim. Ela estava adorável de novo hoje. O contraste entre seu corpo desenvolvido e seus olhos infantis era tão encantador quanto sempre.
"Bom dia, Ucchi!" Yuzuki falou antes que eu pudesse reagir.
"...Er, Yuzuki? O que vocês dois estão fazendo juntos?"
Havia algo novo na voz de Yua. Era difícil identificar o que era no começo, mas definitivamente havia um tom melado e ingênuo que era diferente do seu tom gentil de sempre.
Olhei mais atentamente. Normalmente, o sorriso que eu via de manhã era brilhante como um dente-de-leão. Mas hoje, seu sorriso era frágil, mais como uma anêmona.
A propósito, anêmonas são venenosas e simbolizam amor não correspondido.
Para ser honesto, essa nova versão da Yua estava me assustando um pouco. Eu tinha certeza de que ela estava escutando nossa conversa até pouco antes de me chamar. Senti vontade de dar um passo para trás, mas Yuzuki entrelaçou o braço no meu e segurou firme.
...Nós tínhamos um acordo, lembra?
Era o que seus olhos estavam dizendo. Claro, sempre poderíamos explicar as coisas depois, mas mesmo assim, fazer um escândalo agora seria muito constrangedor.
"Uh, escuta, Yua. A questão é... Nós decidimos começar, sabe, a namorar, e..."
"...Desculpa?"
Eu ainda estava falando quando Yua me interrompeu abruptamente.
...Socorro, por favor. Eu lancei um olhar suplicante para Yuzuki.
"É-é isso mesmo. Não conseguia tirar ele da cabeça há um tempo, mas quando fomos colocados na mesma turma, eu simplesmente me apaixonei. Quando soube que ele ainda estava solteiro, decidi ir em frente e pedi ele em namoro no fim de semana. E ele disse sim, então aqui estamos."
"Desculpe, na verdade eu não estava perguntando para você, Yuzuki. Estava perguntando para o Saku."
[TMAS: Complicado ter todas as mulheres te querendo, mas queria ter esse problema]
Oof! Ela estava completamente ignorando toda aquela palhaçada de dialeto caipira de Fukui que ela e Yuzuki sempre faziam!
...Oh-oh, estou encrencado!
Yuzuki olhou para mim como se dissesse: "É com você, Saku."
Não olhe para mim assim. Somos estudantes do ensino médio. Já passamos da idade de jogar batata-quente.
Sem para onde correr, eu relutantemente limpei a garganta. "Escuta, Yua. Eu não fiz nada para te trair aqui."
"Uh, desculpa? Me trair como? Nós tínhamos esse tipo de relacionamento?"
"Não! Não, não tínhamos! Nossa, que bobo da minha parte, devo ter me confundido!!!"
Morto em ação. Descanse em paz, soldado.
[Mon: Digite F para homenagear o soldado 🪖]
Yuzuki se virou para Yua novamente, sem dúvida planejando dizer o que pudesse para suavizar a situação.
"Escuta, Ucchi. Nós não planejamos isso, sabe? Queríamos contar para todo mundo primeiro, antes de tomar qualquer atitude, mas simplesmente não conseguimos lutar contra nossos sentimentos. Deixa eu explicar. Você concorda em ouvir?"
"Põe pá fora!" (Tradução: "Fala logo!", em dialeto de Fukui.) Eu só podia torcer para que Yua quisesse dizer: "Conte tudo, Yuzuki", e não: "Vou te esfolar agora, Yuzuki." Coisa assustadora pra caramba.
Outro morto em ação. Deixe-a descansar em paz também.
Que encrenca terrível.
Eu olhei para Yuzuki. Ela parecia ter chegado à mesma conclusão que eu. Nós dois compartilhamos um momento silencioso de reconhecimento e um aceno quase imperceptível.
"Yua..."
"Ucchi..."
Eu peguei o braço direito de Yua, e Yuzuki pegou o esquerdo. Nós dois seguramos firme.
""Vamos só chegar na escola!!!""
"O quê? Espera! Uaaa!"
Se vendo de repente arrastada por dois atletas, tudo que Yua, membro do clube de música, pôde fazer foi gritar. E sim, ela estava furiosa com nós dois por isso.
Antes de entrar na sala, levamos Yua para um canto isolado e explicamos tudo para ela.
"Ah, imaginei que fosse algo assim", ela disse, com uma expressão de exaustão no rosto.
Eu tinha explicado apenas o básico da situação, sem entrar em detalhes sobre os sentimentos privados de Yuzuki, mas Yua parecia ter entendido tudo de qualquer maneira.
"Primeiro, eu gostaria de demonstrar preocupação com sua situação, Yuzuki, mas..." Yua caminhou pelo corredor à nossa frente. "Esse mesmo tipo de cenário só vai se repetir daqui para frente, sabem? Principalmente com Yuuko e com Kaito."
"É..."
Yuzuki e eu imaginamos a cena e nos olhamos.
Yuuko Hiiragi era outra membro do "Time Chitose", nossa colega da Turma 5 do segundo ano. Ela e Yuzuki vinham disputando o título de garota mais desejada do ano desde o início do ensino médio.
Dito isso, Yuuko era como uma brisa leve da primavera, apenas sendo ela mesma. Não era culpa dela se os garotos se apaixonavam por ela a torto e a direito. Yuzuki era mais como uma atriz deslumbrante que usava várias máscaras, enquanto Yuuko era como uma princesa distraída que irradiava uma aura de ídolo aos olhos de todos. Muitos agiam como se eu e ela fôssemos o "casal final", e Yuuko certamente não parecia avessa a isso. Sem dúvida, ela não teria nenhuma moderação ao descobrir que eu estava namorando Yuzuki.
Só para constar, Kaito Asano estava no clube de basquete, assim como Yuzuki — um cara alto, musculoso e meio cabeça-dura. Mas não adiantava comparar. Quer dizer, tanto faz.
Yua se afastou um pouco de nós e então se virou para nos encarar.
"E, tendo dito isso, eu vou indo na frente. Não quero me envolver nisso."
Em pânico, eu gritei: "Espera, por favor, Yua! Se nos virem entrando juntos na sala de repente, vai virar um caos!"
"Hmm. Já é um pouco tarde para se preocupar com isso. Afinal, vocês dois estão namorando, não estão?"
Yua inclinou a cabeça para o lado e nos deu um sorriso seco e sarcástico antes de se virar e sair correndo.
Se eu pudesse ter visto sua corridinha de frente, teria vislumbrado aqueles lindos seios C, perfeitamente moldados como sinos de templo budista. Eu poderia ter rezado para eles e escapado da realidade, mesmo que por um momento.
Yuzuki se inclinou, aproximando o rosto do meu.
"Ei, Saku... É impressão minha, ou a Ucchi meio que está assustadoramente séria?"
"De fato, está. A última pessoa que eu quero irritar é Yua Uchida."
Pensando bem, a situação estava basicamente fora do meu controle. Precisávamos espalhar a notícia do nosso namoro o máximo possível. Tínhamos que estar preparados para um monte de consequências problemáticas. Era parte do jogo.
"Enfim, tudo o que podemos fazer é seguir em frente."
Yuzuki acenou com uma expressão indecifrável, e nós voltamos a caminhar.
Explicar as coisas para Yua consumiu um tempo precioso, e agora eram cerca de 8h10. Ainda muito cedo para Kura aparecer — ele costumava chegar por volta das 8h35. Mas todos já deveriam estar na sala nessa hora, incluindo os alunos dos clubes com treinos matinais.
Ou seja, tínhamos vinte e cinco minutos para detonar a bomba do nosso relacionamento e começar a lidar com as consequências.
Urgh. Eu me senti como o Kenta, hesitando do lado de fora da sala no dia em que voltou para a escola. Como é que eu acabei nessa situação mesmo?
Yuzuki puxou minha manga. "Tenho certeza que você já sabe disso, mas só para deixar claro, na frente dos nossos colegas..."
"Eu sei, eu sei, vou fazer meu papel. E você, tome cuidado. Yuuko parece distraída, mas é mais perspicaz do que as pessoas imaginam."
Estávamos em frente à porta da sala agora. Yuzuki e eu demos um rápido toque de punho para dar sorte e então entramos.
"Bom dia."
"Bom dia!"
Como eu esperava, Yuuko foi a primeira a reagir.
"Saku, bom dia! ...Hmm — e Yuzuki também? É incomum ver vocês dois juntos! Se esbarraram no caminho?"
Eu esperava entrar discretamente no meu círculo de amigos, mas o belo chamado de soprano de Yuuko ecoou alto pelas paredes da sala, atraindo a atenção de todos para nós. Muito obrigado! Valeu por nada!
Yua, sentada ao lado de Yuuko, olhou para nós com um sorriso e uma expressão de inocência total.
O canto da minha boca começou a tremer. Ao meu lado, Yuzuki ligou seu "modo atriz" e cortou qualquer chance de fuga rápida.
"Não, não nos esbarramos. Viemos para a escola juntos. Né, Saku?"
Então Yuzuki se virou para mim, corando.
Antes que eu pudesse responder, Yuuko colocou o dedo indicador no queixo e inclinou a cabeça. "Hum? Saku?"
Atrás de mim, onde ninguém podia ver, Yuzuki cutucou minhas costas várias vezes. ...Tá bom, tá bom, eu disse que faço.
"Ah, é. Eu busquei a Yuzuki na casa dela, e viemos juntos."
"Hmm? Yuzuki?"
A cabeça de Yuuko inclinou ainda mais. Pequenos pontos de interrogação surgiram em seu rosto.
Yuzuki a encarou e continuou com uma voz tímida.
"Então, bom... Ok. Eu te conto, Yuuko. O negócio é o seguinte: nós começamos a namorar."
...
""""""O QUEEEE?!!""""""
Após um breve silêncio, a classe inteira — que claramente estava escutando — soltou um grito coletivo de surpresa que abafou até Yuuko. As paredes quase tremeram.
"Que diabos?! Essa é a primeira vez que ouço falar disso!!!" Yuuko pulou da cadeira e veio marchando em nossa direção. "Espera aí, Saku! O que significa isso?! Ninguém me avisou! Eu não fui informada!!!"
Yuuko encheu as bochechas e olhou para mim. Tive que lutar contra um impulso repentino de abraçá-la, dizer "Tudo bem" e afagar sua cabeça. Ela estava tão fofa naquele momento.
...Se eu por um segundo esquecesse minha situação atual, é claro.
Yuzuki baixou os olhos em um gesto de remorso. "Olha, Yuuko. Não é como se estivéssemos tentando esconder, sabe? Eu até queria ter vindo conversar com você antes. Só que... só que eu não consegui segurar. Eu precisei contar meus sentimentos para ele! Eu não queria que todo mundo descobrisse assim, mas..."
Yuzuki estava interpretando perfeitamente. Aquela clássica cena de "Eu me apaixonei pelo cara que minha amiga gosta, mas tudo aconteceu tão rápido... Tipo um amor de verão..."
Mas Yuuko a ignorou completamente, cortando-a de vez. "Quieta! Quieta! Não estou te ouvindo! Quer dizer, você tá falando sério?! Saku não é o tipo de cara que se deixa levar e escolhe uma garota no impulso! Você deve ter usado algum truque baixo para fisgá-lo, Yuzuki! Se aproveitando da boa índole dele e manipulando tudo a seu favor! Igual ao Kenta-chi!"
Kenta Yamazaki, o tal Kenta-chi, se debateu na cadeira como se tivesse levado um tiro no fogo cruzado. Sua boca abriu e fechou como a de um peixe, como se pensasse: Por favor, não me envolvam nesse cenário assustador.
[TMAS: Sobrou pro Kenta, e a Yuuko é esperta mesmo]
Vendo ele ali, ninguém diria que começou como um hikikomori impopular. Quando entramos, ele estava conversando naturalmente com Kaito, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Por um instante, eu não sabia em que dimensão estava.
Ei, não desvie o olhar e recue. Quem você pensa que é? Droga.
Enquanto eu refletia sobre a transformação do Kenta, Yuzuki tentou novamente. "Se deixar levar? No impulso? ...Não diga isso." Mas então ela pareceu ignorar e sorriu, voltando seus olhos brilhantes para mim. "Não foi assim... foi?"
Os olhares penetrantes de todos na sala se voltaram para mim.
Se eu desse uma resposta superficial aqui, o termo "galinha babaca" dispararia para o topo das pesquisas no site de fofocas da escola, sem dúvida.
Me preparando, encarei a sala, fortaleci meu ânimo e falei em um tom mais contido.
"Eu não me deixei levar..."
Yuuko processou isso por um segundo, então colocou as mãos nos quadris e encarou Yuzuki.
"Viu?! O pobre do Saku não sabe o que fazer! Ele é bom demais, por isso não conseguiu te recusar. Você não deveria se aproveitar da bondade dele, sabia, Yuzuki!"
"Escuta, Yuuko. É realmente tão estranho eu e o Saku ficarmos juntos?"
"Sim! É! Estranho pra caramba! No mínimo... Yuzuki e Saku? É inacreditável!"
O surto de Yuuko pareceu atingir em cheio. O lábio de Yuzuki se curvou levemente de um lado, só um pouquinho. Mas o suficiente para eu perceber.
Isso era incomum.
Parecia que Yuzuki estava um pouco irritada. Normalmente, uma garota em sua posição social nunca seria atacada tão abertamente em público.
Eu até entendia como ela se sentia. Yuuko era imprevisível, meio selvagem. Para pessoas calculistas como Yuzuki e eu, ela era demais.
Eu não sabia exatamente o que Yuzuki estava pensando, mas de repente ela se encostou em mim, aconchegando-se no meu braço esquerdo.
Ué, moça? Tem um contato de seios aqui, hein.
"O que é inacreditável é o jeito que você está agindo agora, Yuuko."
Yuzuki piscou inocente, enquanto o rosto de Yuuko se contorcia de emoção.
"Aff, qual é! Tá bom, então! Desafio aceito!"
Yuuko de repente agarrou meu braço direito e se encostou em mim.
Eu me vi espremido entre um par de seios C em formato de xícara à esquerda e um par de seios D em formato de globo à direita. Eu não era o cara mais sortudo do mundo ou o quê?!
Então fui atingido por uma rajada de olhares assassinos de todos os garotos da sala.
É. Isso não é bom.
Tentei ignorar as garotas competindo por atenção ao meu redor e olhei para meus amigos em busca de ajuda.
Fiz contato visual com Kazuki Mizushino. Ele já era a estrela do time de futebol no segundo ano e sempre tinha um sorriso descolado. Mas, na verdade, ele podia ser meio maquinador. Super bonito também. Ele era bem parecido com Yuzuki e eu, então talvez pudesse ser útil aqui.
Kazuki tinha seu sorriso efervescente de sempre, aquele que me lembrava de beber refrigerante gelado no verão. Ele levantou uma mão e fez um gesto de corte no pescoço.
...Tá bom, você vai pagar por isso depois. Eu sou do tipo que guarda rancor por coisas assim.
"Ah, não tinha outro jeito de sair dessa. Eu precisava da ajuda de um completo cabeça-oca."
[Mon: Opinião impopular: A Yuzuki é muito mais bonita que a Yuuko…]
Me preparei antes de me virar para Kaito, que respondeu colocando um pé em cima da cadeira e me encarando com cara de bravo, como se fosse um capanga secundário de um mangá sobre delinquentes. Ele mostrou a língua e fez um gesto extremamente vulgar com a mão, como se dissesse: "Vai pro inferno!"
...Bom, desculpa aí.
Ah, bem, eu já esperava por isso.
Mesmo assim, ainda tinha um amigo restante. Um cara com quem eu tinha um entendimento mútuo profundo, um cara que eu realmente admirava... Né, Kenta?
Mas Kenta estava com a cabeça enfiada em um livro de japonês.
Ué, Kenta? A primeira aula é de matemática. Além disso, você está segurando o livro de cabeça para baixo. Um clássico da comédia, mas agora não era a hora!
Droga! Acho que realmente só resta você, Yua. Eu... Ai! Desculpa, desculpa, desculpa!
"Bom dia! ...Ei, o que todo mundo tá fazendo?"
Preso entre um par de peitos... digo, belezinhas, eu continuei congelado quando a porta da sala se abriu e a voz da minha salvadora entrou flutuando.
Haru Aomi entrou, com uma toalha esportiva azul-marinho fresca enrolada no pescoço. Ela levantou uma sobrancelha com surpresa moderada ao ver a cena.
Haru era pequena, mas era uma peça-chave no time feminino de basquete, junto com Yuzuki, e tinha músculos definidos nos braços e pernas. Ela ainda brilhava levemente do treino matinal. Uma gota de suor escorreu pelo seu pescoço. Ela irradiava uma aura de sensualidade que parecia contrastar com sua personalidade excêntrica.
Haru tirou a toalha do pescoço e rapidamente a jogou sobre a cabeça de Yuzuki.
"Você também, Yuzuki? Não sei o que está acontecendo, mas é cedo demais para tanto drama."
Como se a aparição repentina da amiga a tivesse tirado de um transe, Yuzuki rapidamente se afastou de mim e limpou a garganta.
"Hmm, Haru... Então, o negócio é o seguinte — nós decidimos começar a namorar..."
"Ótimo, ótimo, só me dá um minuto. Deixa eu comer meu onigiri primeiro, rapidinho."
Haru se jogou na cadeira e tirou um onigiri gigante da bolsa esportiva antes de começar a comê-lo.
Como se todos tivéssemos sido despertados de um feitiço, nosso grupo se separou com sorrisos vagos.
Eu me inclinei para sussurrar para Yuzuki enquanto ela ia para sua própria mesa.
"Então até a grande Yuzuki fica sem graça às vezes."
"Isso é rico, vindo de um galinha inútil que só ajuda quando está a fim."
Como quiser, Mestra Yuzuki.
"...Então é basicamente isso que está acontecendo."
Durante o intervalo do almoço, peguei a chave do terraço com nosso professor conselheiro, Kuranosuke Iwanami, vulgo Kura. Então todos os membros do "Time Chitose" — Yuuko, Yua, Yuzuki, Haru, Kazuki, Kaito, Kenta e eu — nos reunimos lá para uma reunião.
Como regra geral, os alunos não têm permissão para ir ao terraço, mas como fui nomeado "faxineiro do terraço" por Kura (um cargo totalmente inventado), eu podia acessá-lo quando quisesse.
O motivo da reunião, é claro, era explicar a situação completa entre Yuzuki e eu.
Eu tinha certeza que nem Kazuki, Kaito nem Kenta eram nosso misterioso stalker, e de qualquer forma, eu não conseguiria vigiar Yuzuki sozinho. Precisava do maior número possível de olhos atentos nisso.
Yuzuki também queria a ajuda da turma, é claro — só que pulamos a parte da conversa íntima que tivemos no café no fim de semana. De qualquer forma, Yuzuki era a vítima aqui, então não havia motivo para esconder o que ela estava enfrentando do nosso grupo de amigos de confiança.
Quando todos terminaram de ouvir Yuzuki e eu contando nossa história, Kaito finalmente foi o primeiro a falar.
"Mas sério mesmo que ela está sendo perseguida por um cara aleatório?" ele perguntou, parecendo um pouco surpreso. "Yuzuki sempre conversa com caras de outros times de basquete, mas um stalker? Acho que é exagero. E se for um cara apaixonado, por que precisaria ser sorrateiro assim? Por que não chega nela abertamente?"
Kenta sorriu ironicamente do seu lugar no chão ao lado de Kaito.
"Nem todos os caras podem chegar nas garotas abertamente como você, Asano. Eu... eu até entendo como esse cara pode estar se sentindo."
Todos viraram a cabeça para olhar para Kenta com expressões do tipo "Espera... Você?"
Kenta se debateu e imediatamente acenou com as mãos, como se dissesse "Não, não, vocês entenderam tudo errado!" "Quer dizer, eu sou um otaku de anime e light novels, mas também existem otakus de idols e dubladores, né? Alguns desses caras podem ser bem extremos, pelo que ouvi. Tipo aqueles que surtam quando sua idol ou atriz favorita arruma um namorado. Eles agem como se tivessem sido traídos pessoalmente."
Kazuki sorriu ironicamente, com uma lata de café na mão. "Eu não iria tão longe, mas também consigo ver um stalker sendo uma possibilidade. No ensino fundamental, garotas costumavam esperar do lado de fora da minha casa e me forçar a aceitar presentes e coisas do tipo."
Eu tive experiências parecidas. Mesmo para um cara como eu, podia ser bem assustador. Se uma garota como Yuzuki estivesse realmente sendo perseguida por toda parte, ou mesmo se ela só tivesse a impressão de que estava sendo perseguida... isso poderia pesar muito emocionalmente nela.
"Não estou dizendo que é o caso, mas..." Kenta continuou. "...Mas eu realmente acho que você deveria tomar cuidado, Nanase. Você estará segura se estiver com o 'rei', mas sabe, os homens tendem a descontar seu ciúme na mulher — ou é o que dizem. Se as coisas derem errado com esse plano de namoro falso, o stalker pode realmente surtar."
Essa foi uma análise perspicaz de Kenta. Teríamos que ter cuidado.
Se fingir ser o namorado redirecionasse a fúria do stalker para mim, seria ótimo. As coisas poderiam ser resolvidas mais rápido assim. Mas, baseado na longa história de caras loucos no mundo, o palpite de Kenta poderia realmente estar certo.
Eu encolhi os ombros e tossi, não querendo que os outros vissem que uma pequena semente de medo havia brotado na minha mente.
"Bem, vamos descobrir. Se vamos provocar esse cara ou não realmente depende de com quem estamos lidando."
Então, atipicamente, Yua interveio.
"Eu realmente não gosto disso. Saku, você não parece se importar se for alvo. Mais Kenta pode estar certo. O que significa que sua segurança não está nem um pouco garantida..."
Yuzuki franziu o rosto.
Em outras palavras, eu me colocar em risco para proteger Yuzuki também significava que eu estava potencialmente colocando minha cabeça no bloco de corte. Mas eu estava preparado para isso quando aceitei nosso contrato. Os termos e riscos associados não mudaram em nada.
E eu sabia que Yuzuki também entendia o que esses termos e riscos significavam.
Yua pareceu de repente perceber o que estava dizendo — e para quem estava falando. Ela rapidamente tentou suavizar, acrescentando: "Nóis num quis dizê nada cum isso, não!" (Tradução: "Eu não quis dizer nada com isso.")
"Todos nós também ficaremos de olho. Tenho certeza que vocês dois ficarão bem. E, Yuzuki, você deve garantir nunca ir a lugar algum sozinha. Vamo botá esse cabra pra corrê!" (Tradução: "Vamos pegar aquele desgraçado!")
O entusiasmo de Yua era contagiante, e a expressão de Yuzuki se iluminou em resposta.
"Certerim, sô! Esse Saku é mais enrolado que cobra em moita, Preciso de uma mãozinha sua, Ucchi, se não eu me perco!" (Tradução: "Com certeza! Não posso confiar num cara como o Saku, então vou precisar da sua ajuda, Ucchi!")
"Que isso, cumpadi! Ajudo até o couro comer!" (Tradução: "Fico feliz em ajudar!")
A piada com o sotaque retrô de Fukui aliviou bem a tensão, mas eu estava sendo sutilmente insultado aqui?
"De qualquer forma!" Yuuko, que estava incomumente quieta durante essa conversa, de repente interveio em voz alta. "Precisamos fazer isso pela Yuzuki também! Vamos descobrir quem é esse babaca, se é que ele existe, e dar uma boa lição de boas maneiras!"
Honestamente, fiquei um pouco surpreso com isso.
Baseado na reação dela de manhã, era óbvio que Yuuko estava muito chateada comigo e Yuzuki basicamente namorando.
Eu olhei para Yuzuki. Ela também parecia sem palavras.
Yuuko continuou.
"Quer dizer, esse tipo de coisa é aterrorizante! Eu vou ficar com medo de andar sozinha! Quer dizer, quão terrível é isso, se realmente houver um stalker? Saku, garanta que você vai proteger nossa Yuzuki, ok?"
Yuuko olhou nos meus olhos, com as mãos unidas na frente do peito.
Ah, sim. Essa é a nossa Yuuko.
"Farei o que puder. No mínimo, enquanto estiver fingindo ser o namorado, farei tudo para proteger Yuzuki, como minha preciosa namorada."
Yuzuki rapidamente seguiu o exemplo. "Yuuko... Sinto muito mesmo. Prometo que vou compensar você, ok?"
Todos ignoraram meus sentimentos. Em vez disso, Yuuko respirou fundo, irritada com o que Yuzuki acabara de dizer, antes de soltar o ar com raiva.
"Ok, agora estou realmente brava! Vamos discutir isso mais uma vez!"
...Espera, o quê?
"Só para deixar claro, não é como se eu tivesse aceitado você e o Saku fingindo namorar! Se você só precisasse de alguém para fingir ser seu namorado, poderia ter pedido para o Kaito fazer isso! Vocês dois estão no clube de basquete, e não é como se ele tivesse outras perspectivas românticas ou algo melhor para fazer com o tempo! E ele também tem músculos, o que certamente seria útil!"
Kaito, você vai aceitar isso calado? Eu olhei para ele.
"Caramba, ela foi direto no ponto fraco..." ele suspirou, e Kenta estendeu a mão para dar um tapinha consolador em suas costas.
As palavras de Yuuko pareceram ter acionado o modo sarcástico de Yuzuki.
"Ah, entendi. Então na sua opinião, Saku e Kaito são totalmente intercambiáveis, é isso? Bem, me desculpe. Eu sou da opinião que só o Saku serve para mim. Por que você não se contenta com o Kaito, Yuuko?"
"Não coloque palavras na minha boca! Eu só quero o Saku também! Não quero ficar presa com o Kaito!"
[TMAS: Tadinho do Kaito, essas mulheres humilham os outros caras pra colocar o Saku num pedestal]
As coisas estavam piorando rapidamente. Isso ia acabar sendo uma repetição daquela manhã. Eu tive que intervir.
"Chega, vocês duas. Kaito está murchando como alga marinha aqui. O que ele fez para qualquer uma de vocês, hmm?"
""""Você fica fora disso, Saku!!!""""
"Sim Senhoras!!"
Desculpe, Kaito. Não posso te ajudar com essa. Descanse em paz, irmão.
[Mon: F]
Enquanto eu prestava minhas últimas homenagens a Kaito em minha mente, Haru finalmente parou de comer seu bentô. "Hmm, que delícia!" ela cantou. "...Enfim, escolher o Chitose é simplesmente a coisa mais Yuzuki possível, se você me perguntar."
Então ela deu a todos um sorriso carregado.
"Afinal, vocês dois parecem ser farinha do mesmo saco."
Yuzuki pareceu estar prestes a responder, mas então mordeu a língua.
Não é à toa que essas duas eram uma famosa dupla de basquete, conhecida em toda a província. Elas também sabiam como jogar uma com a outra.
Haru continuou, com uma sobrancelha levantada enquanto olhava para Yuzuki de maneira estranha.
"Chitose, você vai passar muito tempo com a Yuzuki nas próximas semanas, né? Nesse caso, venha assistir ao treino de fim de semana. Vou te presentear com uma pequena mostra dos super lances da Haru na quadra."
"Claro, não me importo. E talvez você e eu possamos fazer um treino privado depois?"
"Querido, estamos realmente embarcando no adultério tão cedo no seu casamento?"
"Não seja boba. Eu só quero uma revanche daquela vez que você me venceu quando jogamos um contra um."
"Quem é a boba aqui? Tá bem. Se eu vencer, você terá que... Ah, já sei! Você terá que fingir ser meu namorado também!"
"Eu te imploro, por favor não jogue mais gasolina nessa fogueira!"
Haru gargalhou, e todos os outros sorriram também.
"...Você pode acender agora."
Eu disse aos outros que ficaria para trancar e os mandei ir na frente. Então murmurei a frase acima. Ouvi um clique e um estalo, e então, do topo do reservatório de água, vi uma nuvem de fumaça cinza lentamente começar a subir no ar.
"Espionar as conversas privadas dos seus alunos. É um mau hábito, Professor."
"Me poupe. Eu simplesmente estava aqui aproveitando uma soneca agradável à tarde, quando vocês todos invadiram e começaram a fazer uma festinha. Tsc. Esse é o meu tempo privado, onde eu realmente tenho uma pausa de vocês, seus adolescentes obcecados por sexo, sabia?"
Com um esforço, Kura se levantou depois de soltar essa reclamação típica de homem de meia-idade. Então sentou na borda do reservatório de água. Ele deve ter chutado suas sandálias de dedo velhas em algum lugar, pois seus pés pendurados estavam descalços. E sujos.
Eu subi a escada também e sentei ao lado de Kura.
"Então o que você acha, Kura?"
"Acho que devo ter feito uma boa ação incrível em minha vida passada, e agora minha recompensa é ser cercado o dia todo por lindas garotas do ensino médio com seios C e D."
"Você continua dizendo coisas assim, e seu castigo será reencarnar como o Kura na próxima vida."
Kura murmurou "Maldito garoto..." para si mesmo, antes de soltar uma baforada de fumaça roxa. "Tome cuidado, Chitose. Você está procurando por problemas."
Então a voz de Kura ficou séria, o que era incomum para ele.
"Perseguição é um crime", ele disse.
"Então você está dizendo que devemos ir à polícia?"
"Talvez seja cedo demais para isso. Eles podem não levar vocês a sério neste estágio. Só porque algo é ilegal, nem sempre significa que envolver a lei é a melhor maneira de lidar com isso. Infelizmente."
Tanto Yuzuki quanto eu sabíamos disso também. Era por isso que estávamos seguindo nossa política do Plano B.
Kura continuou. "Dito isso, se vocês agirem por conta própria e acabarem causando problemas, isso pode refletir mal na minha posição e em mim, sabem."
"Como assim?"
"Quero dizer, não estraguem tudo. Há um procedimento adequado para tudo. Para que os heróis derrotem os vilões, todos precisam estar jogando com o mesmo conjunto de regras."
Eu sabia o que ele estava tentando dizer.
Sem um oponente claramente definido, seria muito fácil descartar toda a questão do stalking como uma reação exagerada de uma adolescente excessivamente sensível. Em outras palavras, se quiséssemos que a lei cuidasse das coisas, teríamos que esperar até que um crime real e inegável já tivesse sido cometido.
"Então temos que sentir o clima e improvisar. Isso não vai ser fácil..."
"Só não errem. Certifiquem-se de entender a situação direito. E se isso for além de uma briga boba entre adolescentes, venham me avisar imediatamente, e eu lidarei com isso... Ou pelo menos gostaria de dizer isso, mas não posso prometer. Sério, venham me contar. Eu vou ouvir, pelo menos. Um professor não pode ajudar muito em um caso como esse, além de dar conselhos."
É, ele disse isso, mas se o stalker sobre o qual eu estivesse contando a Kura realmente fosse um stalker, Kura interviria e agiria, sem dúvida. Talvez ele quisesse que lidássemos com isso sozinhos até certo ponto, com ele mantendo um olho atento na situação. Não tenho certeza se era a maneira correta de um professor lidar com algo assim, mas pelo menos ficaríamos gratos por ter Kura nos apoiando.
Envolver professores — e Deus me livre, a polícia — causaria o tipo de problema que poderia realmente arruinar a vida escolar de um cara. Eu queria evitar isso, a menos que tivéssemos um bom motivo, é claro. Mas eu não estava preocupado apenas comigo. Algo assim poderia ter repercussões nas atividades do clube de Yuzuki e até em sua aceitação na faculdade no futuro.
Eu me levantei, limpando o assento da minha calça escolar.
"Bem, farei o que puder. Mas não posso correr para a segurança dos seus braços como último recurso, Kura. Tenho minha reputação para considerar."
"Agora, Chitose, certamente você já ouviu meu apelido? Aquele que me chamam quando frequento o bar de strip-tease na cidade vizinha chamado 'Não Me Faça Tirar o Paletó'...?"
"Não conheço e não quero conhecer."
"Aquele que tem suas garotas de programa trocadas uma por uma por uma... Eles o chamam de 'O Último Recurso'...!"
"Ah, entendi. Você deve estar na lista negra secreta de clientes."
Naquele dia após a escola, pouco antes das sete da noite.
Eu estava sentado e relaxando perto da entrada.
Metade do céu enevoado estava da cor da noite, e a outra metade estava alaranjada onde pairava sobre o prédio da escola. Alunos que já haviam terminado os treinos do clube sorriam e pulavam levemente em direção ao portão. Do campo esportivo, eu podia ouvir os sons do clube de beisebol e futebol desacelerando com voltas de corrida, suas vozes descontraídas carregadas no ar.
Fazia tempo que eu não ficava tão tarde na escola.
Um ano atrás, por volta dessa hora, eu estaria lá fora no campo esportivo com os atletas sujos de lama, minha voz fazendo parte do coro pós-treino.
De repente, senti o cheiro de terra batida, e isso mexeu comigo.
Era o cheiro familiar do ar noturno pós-treino.
O período logo após a escola parece ter uma atmosfera distinta por si só. E há uma clara diferença entre como a escola parece depois que as aulas terminam e como ela parece depois que os treinos do clube terminam também.
Durante o primeiro, há essa atmosfera animada de "Vamos sair!" ou "Vamos para o treino!", mas durante o segundo, tudo parece mais contido. Quase sentimental.
Nesta época do ano, quando o sol se põe em camadas no céu, é o momento perfeito para compartilhar momentos sinceros com seus amigos da escola. Hora de falar sobre sonhos para o futuro, hora de mencionar o nome daquela garota em quem você está de olho.
Eu estava perdido nesses tipos de pensamentos filosóficos quando alguém apareceu na minha frente, uma silhueta esbelta se agachando.
"Chi-to-se."
Levei um momento para apreciar a altura da saia, que mal escondia qualquer coisa, antes de olhar para cima. Fiquei surpreso quando vi quem era.
"Nazuna Ayase. É incomum te encontrar sozinha."
Nazuna Ayase era outra colega da Turma 5 do segundo ano, mas ela pertencia a outro grupo distinto e destacado em nossa classe.
Nazuna e o principal cara de seu grupo, Atomu Uemura, estavam perturbando Kenta ainda no mês passado.
Mesmo que eu ainda guardasse um leve rancor por eles perturbarem Kenta, isso não significava que eu sentia qualquer animosidade real contra eles. Nem via a necessidade de forçar uma amizade. Basicamente, eu mantinha uma política de não intervenção.
Quer dizer, essa era a primeira vez que eu realmente conversava com qualquer um deles um a um.
Nazuna enrolou o cabelo cuidadosamente ondulado no dedo e sorriu. "Só Nazuna está bom, Chitose. Todo mundo tinha outras coisas para fazer hoje, sabe. Eu não tinha nada para fazer, então estava apenas passando o tempo no celular, e antes que eu percebesse, estava tão tarde."
"Nossa, Nazuna. Você realmente sabe como passar o tempo. Isso é tipo uma habilidade especial que você tem aí."
"Sério?"
Sua expressão suavizou para algo particularmente inocente.
Se você a comparasse com Yuuko ou Yuzuki, sua maquiagem era um pouco mais carregada e chamativa. Mas seu rosto era bonito, e a maquiagem em si era bem-feita e apropriada para a idade. Eu ainda tinha uma imagem negativa dela pela forma como agiu com Kenta e Yua, mas conversando assim com ela, me fez pensar que talvez ela não fosse uma pessoa tão ruim afinal.
Às vezes as pessoas podem ser babacas; só isso.
Ainda assim, julgar uma pessoa com base na primeira impressão, seja boa ou ruim... Há algo a ser dito sobre isso. É como eu estava discutindo com Yuzuki. Um sexto sentido. Pode parecer o oposto, mas na verdade, os dois andam de mãos dadas.
Quer dizer, o lado de si mesmo que você mostra para uma pessoa pode ser totalmente diferente do lado que você mostra para outra. E não há garantia de que o que aparece na superfície seja real.
"Chitose, você está por acaso esperando pela Nanase?" Nazuna olhou para mim.
"Bem, algo assim."
Ah, imaginei. Mas isso era bom. Era por isso que criamos aquela cena grande na sala de aula, com o drama e as vozes altas. Para garantir que todos soubessem sobre nós.
Tudo de acordo com o plano. Ainda assim, me deixou inquieto.
"O quê, sério? Escuta, Chitose... Você está realmente namorando a Nanase?"
"Acho que o que você ouviu esta manhã deve estar correto. Nós não fazemos um casal fofo?"
Eu disse isso brincando, mas Nazuna fez uma careta de desgosto.
"Uh, nem um pouco. Quer dizer, Nanase é uma verdadeira puta. Você nunca sabe o que ela pode estar tramando! É, me desculpe, mas eu não vejo isso."
[TMAS: Eita, olha o ódio aqui]
Nazuna encolheu os ombros, como se a conversa não a preocupasse muito, mesmo enquanto dizia coisas tão maldosas sobre Yuzuki.
"Uh, você deveria mesmo estar dizendo isso para mim? Eu sou o namorado dela, sabia. Se você sair por aí falando esse tipo de coisa, as pessoas vão começar a se perguntar quem é a puta aqui."
"Pelo menos não estou falando pelas costas dela, né? Eu diria exatamente a mesma coisa na cara dela."
Ah. Então, de certa forma, essa era a ideia de jogo limpo de Nazuna.
"Bem, você deve ter algumas palavras escolhidas para mim também, então, nesse caso? Quer dizer, eu sou o galinha babaca local, afinal."
Nazuna soltou uma gargalhada. "Nah, você é legal, Chitose. Você é gato e um cara, então posso te dar passe livre para a maioria das coisas. Nanase é uma garota que recebe mais atenção que eu, então é por isso que eu a odeio."
"Você é surpreendentemente honesta."
E eu realmente pensei isso também. Não pude evitar rir também.
"Ei, Chitose. Me passa seu ID do LINE."
"De novo, essa é a maneira como você deveria falar com o namorado de alguém?"
Eu sorri ironicamente, mas mesmo assim escanei o código QR que Nazuna estava mostrando na tela do celular.
Foi quando os alunos que estavam saindo do treino do clube começaram a sair da escola, sendo canalizados pela entrada.
Nazuna os viu chegando e rapidamente se levantou.
"Vou indo, então. Por mais que tenha sido um prazer esbarrar em você no meu caminho para casa, eu odiaria acabar brigando com a Nanase."
Então ela foi embora, acenando com a mão em um gesto de "tchau-tchau".
Hmm. Eu estava esperando que ela começasse a discutir comigo, mas ela foi legal e saiu sem animosidade.
Baseado na maneira como ela tinha acabado de falar, eu me perguntava por que ela não havia abordado Yuzuki no caminho para casa e a xingado pessoalmente. Bem, fazia sentido. Por que procurar o alvo de sua raiva para um desabafo verbal quando ela podia apenas falar mal dela para o namorado? Na verdade, Nazuna tinha escolhido a opção mais brutal.
Foi quando percebi que as sete da noite haviam chegado antes que eu percebesse. Eu me levantei e me espreguicei. Fiquei rígido de ficar sentado por tanto tempo.
Então, cerca de dez minutos depois, Yuzuki e Haru saíram pela entrada.
Haru me viu primeiro e correu na minha direção.
"E aí, Chitose! Você estava me esperando?"
"Eu claramente estava esperando, mas não me lembro de estar esperando por você, Haru."
"Ah, qual é, querido. Você sabe que está encantado em ver o sorriso animado da Haru depois de um longo dia!"
Ela então me deu uma topada, seu ombro magro batendo no meu peito. Eu senti um cheiro agradável de desodorante perfumado.
"Se você realmente quer que eu pense isso, então você deveria ser bem legal comigo, para compensar todo o tempo que passei esperando. Alguns elogios doces ajudariam muito."
Então Haru cobriu as bochechas com as mãos e mostrou a língua em uma exibição aberta de flerte.
"Ei, Saku-cho! Hawu sentiu sua falta!"
"...Huah-ha-ha!" Eu explodi em risos.
"Ei! Chitose! Que tipo de reação é essa?!"
"Maluca! Não vem com essa do nada sem aviso! Um cara precisa de tempo para se preparar, sabia!"
"Que grandessíssimo babaca você é, Saku-cho! A pobrezinha da Haru está tão triste agora!"
Eu soltei uma risada novamente. "P-por favor, chega! Eu me rendo! Eu me rendo! Minhas costas e estômago estão travando!"
"Oh, o Saku-cho está sentindo cócegas na barriguinha? Hee-hee?"
Enquanto Haru e eu estávamos brincando e rindo juntos, Yuzuki se aproximou com uma expressão exasperada.
"O que você acha que está fazendo com meu namorado, hmm?" Yuzuki colocou a mão em cima da cabeça de Haru.
"Ei! É a Yuzuki-cho!"
"Chega, eu disse." Yuzuki então bagunçou o cabelo de Haru. "Obrigada por esperar, Saku. Demorei mais para me arrumar do que esperava."
Sorrindo, Haru aproveitou essa. "Sério! Yuzuki estava toda, 'Cadê meu spray desodorante?! Cadê meus lenços umedecidos?! Haru, me empresta os seus!' ...Fala sobre pânico. Tão irritante."
"H-Haru!!!"
"Então eu disse a ela, 'Qual é, é só o Chitose!' Mas ela ficou tipo, 'Se não fosse o Chitose, eu não me importaria!' Heh, que florzinha delicada!"
Em pânico, Yuzuki segurou Haru pelo rabo de cavalo curto.
"Fique. No. Seu. Lugar. Haru."
Haru balançou a cabeça para lá e para cá, respondendo com: "Não compreendo... Bip, bip, bloop!" em uma voz de robô começando a falhar.
"Enfim, todas as piadas à parte, por favor cuide da nossa princesa aqui, Chitose. Certifique-se de levá-la para casa em segurança, ok?"
Haru, finalmente liberta do aperto de Yuzuki, aproveitou para dar um tapinha brincalhão na minha bunda.
"Sem preocupações, Haru! Deixe com Chitose, o Cavaleiro Branco!"
"Cavaleiro Branco? Está mais para lobo em pele de cordeiro! Melhor tomar cuidado, Yuzuki! Ele pode te devorar!"
"Ei, essa foi boa."
Assim que Haru se foi, como o ciclone destrutivo que era, Yuzuki e eu finalmente pudemos começar a caminhar para casa.
Não pude evitar notar, enquanto Yuzuki caminhava ao meu lado, que ela tinha o mesmo cheiro que Haru. Isso me fez sorrir.
"Uh, espero que esse sorriso não seja por causa do meu aperto? Porque se for, eu ficaria bem irritada, sabia?"
Yuzuki me olhava com uma expressão contrariada.
"Ah, desculpe. Só fiquei surpreso que você realmente mostrou uma brecha na sua armadura. Então não pude evitar sorrir. Mesmo que não pareça algo que você faria — pular a etapa de desodorante depois do treino, digo."
"Eu normalmente nunca pulo o desodorante. E hoje coloquei minhas coisas na bolsa antes de sair de casa, como sempre faço. Lembro de ter colocado tanto o spray quanto os lenços umedecidos lá."
Yuzuki não estava mais brincando; eu percebia. Sem dúvida, ela omitiu os detalhes antes para não preocupar Haru desnecessariamente.
"Ok, isso não parece bom. Então isso é algo fora do comum, estou chutando?"
Yuzuki acenou com a cabeça. "Mas no time feminino de basquete, podemos ficar um pouco relaxadas. Às vezes alguém pega emprestado o spray desodorante de outra garota e esquece de devolver antes de ir para casa, sabe? Acontece."
"Onde vocês deixam as bolsas durante o treino? No vestiário do time feminino de basquete?"
"Sim. Como você sabe, é do lado de fora do Ginásio 2. A porta geralmente não está trancada, e fica ao lado do vestiário do time masculino, então não é exatamente um lugar isolado. Ao mesmo tempo, ninguém de fora do time estranharia alguém entrando no vestiário das garotas."
Yuzuki analisava a situação de maneira objetiva.
Os vestiários localizados por ali são separados do exterior por um muro não tão alto. Se alguém conseguisse um uniforme da Fuji ou roupas esportivas, mesmo sendo de outra escola, poderia se infiltrar facilmente. As garotas usavam o Ginásio 1, ao lado, para os treinos, mas mesmo com a porta aberta, não dava para ver o vestiário de lá.
Então poderia ser só uma coincidência. Por outro lado, nas circunstâncias atuais, com um possível stalker envolvido, não seria estranho que os alarmes soassem.
Honestamente, achei que fosse exagero.
Ainda assim. Se Yuzuki estava preocupada com isso, então meu trabalho era levar a sério também.
"Pode ser alguém fazendo coisa errada, claro. Mas não temos certeza se você foi realmente o alvo de um crime durante o treino. Na verdade, eu fiquei de tocaia nos armários de sapatos depois da aula, mas não vi ninguém agindo de forma suspeita."
A testa de Yuzuki se relaxou um pouco.
"Uh, provavelmente porque você estava sentado lá à vista de todos! Hee-hee. E eu aqui, pensando que você estava me esperando terminar o treino..."
"Eu estava te esperando também. É realmente adorável que você tenha entrado em pânico por causa do desodorante faltando. Você queria ficar bonita antes de me encontrar, hmm?"
"Por favor, podemos deixar isso pra lá?"
Yuzuki cobriu as bochechas com as mãos e olhou para os pés, exagerando no drama de "coitadinha de mim".
"No entanto," continuei. "Digamos que foi um roubo calculado. Por que o stalker iria querer seus lenços umedecidos, Yuzuki?"
"Ei! Eu me ofendo com isso!"
"Não, boba! Normalmente um stalker esquisito iria atrás da sua toalha suada de treino ou do seu uniforme. Se eles realmente quisessem só pegar algo seu, talvez até levassem seu uniforme escolar como troféu, quem sabe."
"Oh... agh...!"
"Uh, calma. Não entre em pânico de verdade, ok?"
Estávamos brincando como sempre até agora, mas, para ser honesto, algo parecia errado.
Digamos, por exemplo, que o stalker fosse um tarado típico, que quisesse roubar os produtos perfumados de Yuzuki para cheirar como ela. Nesse caso, ele teria roubado só o spray desodorante. Ou, se fosse esperto, teria apenas verificado qual fragrância ela usava e comprado uma lata igual.
Roubar as coisas dela... era meio loucura. Os riscos não pareciam valer a pena.
Considerando a psicologia do garoto médio do ensino médio, se você realmente quisesse se arriscar para roubar itens pessoais da garota que gosta, você iria querer algo que tivesse vestígios dela, com certeza. Quer dizer, eu mesmo não via muito apelo nisso, mas se você estivesse inclinado, iria querer algo como uma toalha que ela realmente usou, ou o uniforme que ela vestiu o dia todo, ou até algo mais íntimo como um protetor labial usado.
Lenços umedecidos, porém... Eram só itens básicos de higiene, usados para limpar suor, sujeira e outras coisas do corpo.
Pensando assim, a coisa toda começou a me parecer muito estranha.
Os itens que sumiram eram do tipo que deixariam uma garota em pânico se ela os perdesse de repente. Mas, ao mesmo tempo, eram itens tão menores, apenas produtos de higiene consumíveis. O timing, porém... Logo antes de encontrar o namorado depois da aula...?
...Seria a ação de outra garota com rancor?
Parei e olhei para trás.
A trilha à beira do rio se estendia à distância atrás de nós, uma longa linha. O contorno indistinto de vários alunos da Fuji podia ser visto aqui e ali, iluminados pela luz de seus smartphones.
"Saku?" Yuzuki chamou meu nome, sua voz carregada de preocupação.
Adotei um tom brincalhão, como Haru havia feito antes.
"Ah, só estava pensando como está tão escuro aqui que eu poderia apertar sua bunda e sair impune."
"Antes de verificar o perímetro, talvez você deva considerar se eu deixaria você sair impune, hmm?"
"Surpreendentemente, você deixaria, eu acho. Você ficaria tipo, 'Da onde veio isso, esquisitão?'"
"Vou considerar, se você me deixar apertar sua bunda também, Saku."
"De alguma forma, caminhar para casa juntos e apertar bundas mutuamente não parecem combinar."
Meu olhar intenso de antes parecia ter preocupado Yuzuki.
Protegê-la desse stalker e minimizar o estresse disso tudo para ela era meu trabalho.
Yuzuki havia sido colocada em uma posição difícil. O mínimo que eu podia fazer era tentar animá-la e passar tempo com ela. Essa seria a melhor maneira de distraí-la.
Nem todo mundo que parece estar lutando realmente está, e nem todo mundo que parece bem está realmente bem.
"Ei, Saku. Você quer sair em um encontro em algum lugar esta semana?" Yuzuki perguntou direto.
"Para quê?"
"Para quê...? Uh... estamos namorando, não estamos? Casais normalmente não saem em encontros?"
Suas palavras pareciam sinceras, não como o ato que ela normalmente fazia.
"Hmm, talvez. Eu não me importo, mas você não tem coisas do clube, Yuzuki?"
"Não seja bobo. O período de provas começa amanhã."
"...Ah."
Eu tinha me esquecido.
A Fuji, como a maioria das escolas de ensino avançado, cancela todas as atividades de clube na semana anterior às provas de meio e final de semestre.
Deve ter sido por isso que todo mundo parecia tão animado ao sair depois do treino hoje.
"Ainda assim, você é do tipo que passa nas provas sem abrir um único livro, né, Saku?"
Eu acenei e grunhi.
Não estou dizendo que sou um nerd que está no topo da turma ou algo assim, mas me mantenho entre os dez melhores alunos da área de humanas. E desde que larguei o clube de beisebol especialmente, acabo preenchendo as noites vazias com mais estudos.
"Mas a Haru não disse algo sobre um jogo de treino no fim de semana?"
"Isso é diferente. É contra um time durão de uma escola de outra província. Eles não seguem nosso calendário. Já está marcado há meses, de qualquer forma. No mundo ideal, eu preferiria estar totalmente preparada, mas acho que não tem jeito desta vez."
Yuzuki ajustou a pesada bolsa esportiva no ombro. Parecia grande demais para seu corpo esguio. Olhei mais de perto, notando vários arranhões e marcas nela. Sim, essa é uma bolsa de clube escolar, com certeza.
"Acha que consegue vencer esse outro time?"
"Hmm, sendo sincera, pode ser difícil. Eles têm uma estrutura melhor que a nossa."
Sem dúvida, essa era a opinião objetiva e informada de Yuzuki, baseada em suas observações do outro time.
Esfreguei o queixo, então falei. "Sério? Então retiro o que disse."
Yuzuki se virou para mim, surpresa.
"Se eu vou lá para torcer por você, então é melhor você vencer esse jogo. Então, como recompensa, eu te levo em um encontro."
"Nunca soube que você era do tipo encorajador, Saku."
"Só quero ver você jogando com paixão de verdade, Yuzuki."
Seu olhar era desafiador. "Saiba que eu sou uma jogadora incrível."
"Para não copiar você aqui, mas se você realmente vencer, eu te concedo um pedido. O que você quiser."
"Desafio aceito!"
Yuzuki comemorou, erguendo o punho.
Eu a observei, sorrindo por dentro.
Então, como se tivesse me visto através de alguma forma, Yuzuki baixou a voz.
"Obrigada, Saku."
"Hmm? Por quê?"
"Hmm, por quê, mesmo?"
"Se você realmente quisesse me agradecer, poderia me permitir um belo aperto na sua coxa."
"...Idiota."
Eu dei um passo para trás e, garantindo que Yuzuki não percebesse, dei outra olhada rápida para trás.
A procissão uniforme de blazers, iluminados pela luz dos smartphones que seguravam, fluía suavemente como uma procissão de lanternas de papel.
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