Chitose está dentro da Garrafa de Ramune Japonesa

Tradução: Thomasmasg

Revisão: Mon, Goki


Volume 2

CAPÍTULO QUATRO Uma Lua Distante

Eu, Yuzuki Nanase, percebi desde cedo que era um tipo especial de garota.

Quando era pequena, a maioria dos meninos fazia tudo o que eu dizia, e as garotas se aglomeravam ao meu redor. Ficavam "Yuzuki" pra cá, "Yuzuki" pra lá.

No entanto, também percebi bem cedo que ser especial não significava que eu conseguiria levar a vida sem problemas. Logo, os meninos começaram a esperar algo em troca pelo interesse que tinham em mim, e as garotas começaram a me excluir, sussurrando pelas minhas costas.

Para tentar calar a vozinha dentro de mim que sussurrava o quanto eu odiava aquilo, tentei inventar novas versões de mim mesma. Comecei a pedir favores às outras garotas, em vez dos meninos, e a defendê-las e gritar com os meninos se eles fossem rudes. Fiz pequenas mudanças, tantas delas, pouco a pouco.

Não era tão difícil para mim. Eu era capaz de discernir o que deixaria as outras pessoas felizes e o que as deixaria com raiva. Tudo o que eu tinha a fazer era lhes dar a versão de mim mesma que mais as agradaria. Alguns podem me ver como uma puxa-saco bajuladora e me ridicularizar por isso, mas era melhor do que ser rejeitada por todos.

Vivi minha vida acreditando nisso.

Claro, não era só superficial. Eu me esforcei muito para ser uma pessoa boa e honesta, melhor que os outros. A maneira mais rápida de se tornar alguém sobre quem ninguém tem uma palavra ruim a dizer é evitar dizer uma palavra ruim sobre qualquer pessoa você mesmo.

De vez em quando, me perguntavam: "Por que você se esforça tanto?"

As pessoas que me faziam essa pergunta esperavam que a resposta fosse algum incidente traumático do meu passado. Elas presumiam que eu havia alcançado crescimento pessoal superando algum tipo de trauma ou complexo. Mas não era nada tão sério.

Por que precisamos de um grande motivo para tentar nos aperfeiçoar e melhorar?

Mas um passado tentando enfrentar os problemas bem à minha frente, e tentando encontrar uma maneira de lidar com eles do meu jeito, foi o que me trouxe até onde estou agora.

Eu não tinha inimigos de verdade. No ensino fundamental e no ensino médio, minha vida escolar foi tranquila.

Então, algo realmente ruim aconteceu comigo.

Foi o incidente com Yanashita, aquele que contei ao Saku.

Pela primeira vez senti um medo desesperador. Naturalmente, eu tinha medo de violência, de dor. Mas o que me assustou mais do que isso foi que nenhuma das armas que eu carregava até aquele momento foram úteis naquela situação. E eu não tinha outras reservas de força dentro de mim.

O orgulho de Yuzuki Nanase não permite que um cara estúpido e grosseiro a derrote com violência! Ela não permitirá que a mesma coisa aconteça com outras garotas! Ela não permitirá que ele a quebre, nem pelo bem daquele que ela ama!... Não havia nada disso em mim. Eu não tinha nada.

Não gosto de pensar nisso, mas se Yanashita não tivesse se contentado com aquela foto que ele tirou, acho que talvez eu tivesse realmente desistido de resistir. Talvez, se eu apenas concordasse em namorá-lo, as coisas melhorassem. Esse tipo de pensamento pode ter passado pela minha mente.

A memória não era assustadora apenas por causa da violência que sofri. Era assustadora por causa do que descobri sobre mim.

Pareço ter tudo o que uma garota poderia querer, mas, na realidade, não tenho nada dentro de mim.

E eu não tinha ideia de como me tornar alguém que tivesse.

Na época, não hesitei em descartar a coisa toda, todos os sentimentos que não conseguia processar, como apenas um incidente traumático e aleatório, como ser mordida por um cachorro.

Então conheci alguém que brilhava mais do que eu. Alguém que era como um sol cintilante nascendo sobre um oceano azul-brilhante.

Eu estava no oitavo ano do ensino fundamental, e eram as semifinais estaduais de basquete. Não posso mentir e dizer que nosso oponente tinha uma equipe forte. Nós éramos superiores em tudo: passes, número de arremessos, formação. Honestamente, os menosprezei como uma equipe que havia chegado até ali apenas com paixão. Na verdade, planejei preservar minha energia para a final de verdade, sem me dar ao trabalho de realmente dar o meu melhor.

Então jogamos contra essa equipe destemida que não tinha nada a não ser coragem. E fomos estraçalhadas.

[TMAS: estão na semifinal e acham que o jogo vai ser fácil? | Moon: Menospreze a tartaruga e observe-a cruzar a linha de chegada antes da lebre…]

Uma garota chamada Haru Aomi foi, sem dúvida, a craque do jogo. Ela cortou a quadra em velocidades incríveis, bloqueou múltiplos arremessos e, mesmo quando cooperamos para bloqueá-la da cesta, ela apenas rugiu e se reagrupou para outra tentativa. Ela era apenas uma coisinha pequena e destemida, sem muita força, mas usou isso a seu favor e fez disso parte de sua técnica.

Cada vez que ela investia contra a cesta, a repelíamos e a mandávamos voar. Mas ela dava um sorriso e corria para outra tentativa. A paixão e o entusiasmo de sua equipe aumentaram para combinar com os dela.

A maioria dos arremessos da Haru foi bloqueada, e ela, na verdade, se esforçou para me marcar, a melhor jogadora do nosso time. Elas não deveriam ter tido chance de ganhar, então por que, por que seus olhos estão tão fixos no objetivo?

"Sai... da... minha frente!"

Faltavam apenas dez segundos. Apenas um ponto nos separava. Eu não pude impedi-la de saltar no ar e fazer um arremesso final e selvagem em direção à cesta.

"Para qual escola você planeja ir?"

"Fuji."

Foi quando eu também decidi meu caminho futuro.

A próxima pessoa a despertar meu interesse foi um garoto tão enigmático quanto uma lua nova em uma noite escura.

Esse garoto, amigo tanto de Haru quanto de Kaito, foi a primeira pessoa que eu conheci que era exatamente como eu.

Ótima aparência. Abençoado com habilidade. E a capacidade de controlar suavemente sua vida e imagem.

Sempre rindo e se divertindo, cercado por amigos. Mas às vezes, ele parecia incrivelmente entediado com tudo. Eu sabia que ele carregava uma escuridão dentro dele, assim como eu.

... Quando você é capaz de fazer absolutamente qualquer coisa, você não consegue fazer nada de fato.

Era um tipo pequeno e superficial de escuridão, do tipo que poderia ser desprezado com uma risada se você contasse a alguém.

Eu tinha certeza de que acabaríamos em um relacionamento de cumplicidade. No mínimo, no mundo que eu conhecia, ele era o único que poderia realmente me entender – e eu a ele.

Eu queria me aproximar dele o mais rápido possível. Mas não queria parecer muito ansiosa. Ele poderia pensar que eu era apenas uma garota comum. Está tudo bem, eu disse a mim mesma. Duas pessoas tão parecidas, frequentando a mesma escola, com amigos em comum. Apenas deixe estar, e a oportunidade surgirá.

Então o segundo ano começou, e fomos colocados na mesma classe. Eu esperei, por cerca de dois meses.

Eu o via em minha mente como uma lua cheia, flutuando suavemente acima das nuvens, como fumaça, no alto do céu, vigiando todos nós.

Ele não era nada do que eu pensava. No final das contas ele não é nem um pouco parecido comigo.

Que maneira desajeitada e deselegante de viver.

Ele deveria viver a vida suavemente, como eu, evitando todos os obstáculos. Mas ele apenas fingia ser descolado. Na realidade, ele andava tropeçando, esbarrando em situações, saindo delas de alguma forma, então se metendo de cabeça na próxima confusão, tudo com uma honestidade e sinceridade tão perfeitas.

"... Nós somos parecidos, você e eu", Saku tinha dito.

... Não somos nada parecidos, eu pensei. Eu não sou desajeitada como você.

Geralmente, se você quer acalmar o coração ferido de uma garota, você a puxa para os seus braços e sussurra docemente: "Está tudo bem, eu vou te proteger". É o padrão! Se você agisse assim, eu talvez até tivesse deixado você chegar quase a um beijo...

Mas não. Quem já ouviu falar de um príncipe que joga uma garota no sofá para forçá-la a confrontar seu passado traumático?!

E ainda assim, e ainda assim...

Comecei a pensar que também queria viver daquela maneira. Lindamente, quero dizer.

Percebi que, dentro de mim, havia uma parte que anseava por algo que fosse inabalável.

Então, estou embarcando em uma jornada meio louca. A primeira na história de Yuzuki Nanase.

Se eu voltar da minha jornada com algo que nunca tive antes...

Bem, é melhor você se preparar, Saku Chitose.

... Porque deixe-me informá-lo que não sou o tipo de garota ingênua que vai ficar esperando por você para vir reivindicá-la.

Era sexta-feira, o último dia das provas, que agora haviam terminado.

Saku, Haru e os outros aparentemente iam sair para comer, mas eu deixei a escola sozinha. Sentia vontade de rir só de pensar nos olhares de preocupação em seus rostos. Honestamente, eles eram um bando tão amoroso.

Eu tinha uma ideia do que estava por vir.

Afinal, Yanashita não era tão paciente.

Depois do incidente no festival e do incidente no portão da escola, Yanashita deveria estar impaciente.

Ele não veio ontem. Então isso significava que hoje certamente seria o dia.

Caminhei cerca de dez minutos longe da escola, pela rota habitual, ao lado do parque de sempre. Se Yanashita aparecesse no parque, não seria surpresa para mim.

"Ei, Yuzuki."

Sua fala arrastada e preguiçosa ainda me fazia ficar tensa, como sempre, mas respirei fundo e virei para encará-lo com raiva.

"Vamos conversar, Yanashita?" Eu entrei no parque por minha própria vontade.

Casualmente, escaneei o perímetro. Não parecia haver ninguém por perto, mas havia um arbusto baixo e árvores por toda parte. Não é como se estivéssemos totalmente escondidos do exterior. Não eram muitos, mas ocasionalmente pessoas passavam de bicicleta ou a pé. Se eu gritasse, alguém provavelmente notaria. Havia duas outras saídas pequenas além da entrada por onde eu havia acabado de entrar. Uma delas era a maneira mais rápida de escapar para a estrada principal.

Está tudo bem. Contanto que eu não desligue meu cérebro, posso lidar com isso de alguma forma.

Fiquei perto da saída que levava à estrada principal, para poder escapar mais facilmente, se necessário. Então me virei para enfrentá-lo.

"Então, o que você quer comigo?"

O rosto de Yanashita se contorceu em um sorriso horrível. Sempre odiei sorrisos irritantes. Apenas pessoas que não conseguem controlar suas emoções deixam seus rostos ficarem assim. Nada como alguém que eu poderia mencionar, alguém em total controle, atraindo pessoas para si como um filósofo ou líder religioso.

Ele começou a falar, mexendo em seu rabo de cavalo. "Quero fazer o que não consegui fazer no ensino fundamental."

Seus olhos estavam afiados, estreitos como uma lâmina. Ele passou o olhar pelo meu corpo, dos meus pés à minha cabeça.

"Você não era grande coisa naquela época, mas quem imaginaria que você floresceria tanto? Eu sabia que deveria ter tocado em você quando tive a chance."

Sim, minha bunda e seios estavam maiores do que naquela época, e até eu estava ciente de que meu corpo havia se tornado mais feminino. Mas o que deu a esse cara o direito de falar como se eu estivesse disposta a me entregar a ele?

"Então você quer namorar comigo? Ou só quer sexo?"

Ele ficou encantado em ouvir essa palavra dos meus lábios; seu sorriso ficou ainda mais largo, e ele nem tentou esconder. Nojento.

"É, tanto faz. Mas, na verdade, eu prefiro que você só me deixasse transar com você uma vez, para deixar marcado. Quer dizer, você tem abrido as pernas para todo tipo de cara desde que entrou no ensino médio. Se você me deixar ser um deles, então eu vou deixar você em paz depois disso."

Yanashita ainda estava falando.

"Não se preocupe, não vou contar pro Saku Chitose. Então, o que você acha? Tem um motel logo ali. Bom, você faz o mesmo tipo de coisa com ele o tempo todo, então não é grande coisa, certo?"

Senti o sangue correr para minha cabeça de repente.

Não se atreva... Não se atreva a mencionar o nome dele!

Não se atreva a falar como se tivesse alguma coisa em comum com ele!

Ele teve várias chances para fazer o que quisesse, mas nunca colocou um dedo em mim! Não se atreva a manchar o nome de um cara que nunca tentou tocar em nada além do meu coração!

Apertei minhas mãos em punhos e firmei minhas pernas.

"Eu não sei que tipo de bobagem você tem ouvido sobre mim..."

Eu inspirei profundamente.

"Mas eu sou virgem, seu idiota! E eu nunca deixaria um porco como você ser o meu primeiro!!!"

"...Hã?"

[Moon: Só faltou um soco de leve na fuça desse canalha e eu estaria pulando agora!]

Mas Yanashita não pareceu surpreso, não recuou. Ele apenas sorriu ainda mais. Provavelmente, minha determinação e força de vontade inabaláveis não foram marcantes para ele.

Ele não se importou em notar. Ele era incapaz de ver qualquer coisa além de suas próprias ilusões do mundo ao seu redor.

"Melhor ainda. Vou te ensinar do zero."

Ainda assim, me recusei a quebrar o contato visual. Me recusei a voltar àquele dia.

"Eu não sou um objeto. Eu sou Yuzuki Nanase. Não sei que tipo de garotas você tem namorado, mas eu não sou o tipo de garota que você pode controlar com força!"

"Você deve ter evoluído demais, de uma garotinha que chorou pra caralho por um tapa."

Os sapatos de Yanashita rasparam na gravilha quando ele deu um passo em minha direção.

Meu corpo começou a congelar, mas eu apenas continuei repetindo "Fique calma, fique calma" dentro da minha cabeça.

"Você pode tentar usar a força, mas não vai conseguir o que quer. Você pode forçar um beijo em mim, pode arrancar minhas roupas, mas eu nunca, nunca serei sua!!!"

"... Já chega disso."

Yanashita avançou, agarrou meu pulso, e então...

"Vamos tentar e ver, então."

TAPA.

Minha visão ficou embaçada por um segundo quando ele deu um tapa na minha bochecha direita.

Dois, três segundos depois, a dor chegou. Queimou.

"Vá em frente, chore então."

Eu olhei para ele. Meu braço estava tremendo, seus dedos ainda presos no meu pulso, mas minha mente estava estranhamente fria e calma.

Lembrei do que Saku fez naquela noite.

Ele era tão assustador quando estava com raiva... Mas ele estava com raiva por minha causa.

Comparado a isso, a raivinha desse cara, essa raivinha de uma pessoa que pensa apenas no próprio interesse... parecia tão patética.

Apertei o estômago. Franzi minhas sobrancelhas.

Tomei a decisão de que não iria chorar.

"Deixe-me repetir. Você pode forçar um beijo em mim, pode me estuprar, mas eu nunca serei sua. Não há espaço para você dentro do meu coração. Se você está bem em transar com uma garota que está pensando em outro cara o tempo todo, então por que não vai em frente e faz o que quiser comigo, hein?!!!"

TAPA.

Desta vez, ele me atingiu na outra bochecha.

Não, não consigo, estou com medo... Eu NÃO estou com medo!

"Não importa o que você faça, um cara patético como você não pode me machucar de verdade. Vou anotar tudo o que você fizer, e então vou direto para a delegacia. Vou contar a todos sobre os atos patéticos cometidos por um perdedor patético."

"Tente, sua puta."

Ele me puxou para perto dele.

Está tudo bem.

Afinal, tenho um fogo ardendo dentro de mim.

É tudo por sua causa que eu comecei a desenvolver sentimentos... Sentimentos que podem ser definidos por uma única palavra.

Mas é uma pena. Eu queria uma luta justa, entre uma versão intocada de mim mesma e o seu eu teimoso.

Agora que chegou a isso, não importa o que esse cara diga para mim; não importa o que ele faça comigo, vou repetir um nome em minha mente como um encantamento.

Para que permaneça inabalável – para que não fique escuro e desapareça.

Saku, Saku, Saku, Saku, Saku...

"Saku!!!"

"... Chamou, Princesa?"

[TMAS: O cara sabe como entrar em cena. | Moon: Grande homem… Por favor, arrebente a cara dele agora Saku…]

Ouvi sua voz, e um alívio me inundou. Yanashita me empurrou brutalmente para longe dele, e enquanto eu tropeçava para trás, caindo de bunda, vi ele socar Saku no rosto quase exatamente no mesmo momento.

"Por favor! Por favor, pare!"

Saku havia sido derrubado pelo soco, e agora uma tempestade de violência caía sobre ele. Ele se encolheu, usando os braços para proteger desesperadamente a cabeça. Eu nunca o tinha visto tão vulnerável; a visão me causou uma dor imensa.

"Não paro! Foi ele que veio voando na minha direção, tentando parecer todo descolado."

Yanashita continuou a chutar Saku no ombro, nas costas, no estômago e nas pernas, sem parar nem por um instante.

"Você está se enganando se acha que um aluno exemplar de uma escola chique tem chance contra mim. Eu luto há anos!"

Saku estava sem fôlego, com os ombros arfando.

Isso era tudo culpa minha.

Saku deve ter percebido como eu realmente me sentia. E uma vez que percebeu, não conseguiu se impedir de correr para me salvar.

"Você tem o que é preciso para lidar com alguém assim", eu disse.

No final, eu só estava tentando usar o Saku como um escudo para me proteger da violência que eu mais temia, não estava?

"Se você calar a boca e concordar em vir comigo, Yuzuki, então eu deixo ele em paz." Yanashita sorriu.

"Eu... eu vou chamar a polícia."

Tentei soar durona, tirando meu telefone do bolso, mas ele continuou sorrindo.

"Claro, mas onde está a prova de que fui eu que fiz isso? Se tivesse alguém aqui para testemunhar a seu favor você já teria ligado, né? Não que eu tenha intenção de deixar você usar seu telefone, olha."

[Moon: Gravar com o celular já seria prova suficiente, nem que fosse um áudio…]

Esse cara não joga pelas regras. Que assustador. O senso comum não significava nada para ele.

A bravata que fiz o possível para reunir estava se desfazendo, pouco a pouco.

Era tudo minha culpa que o Saku estava... Saku estava...

"Vamos, diga que está disposta a namorar comigo. Ele já tá quase morrendo."

Meus lábios tremeram.

O fogo que antes ardia intensamente dentro de mim estava à beira de ser extinto por suas palavras vis.

... Quer dizer, que eu sempre estive sozinha.

Mesmo cercada por amigos, rindo o tempo todo—no final, eu estava sempre sozinha. Eu deveria ter lidado com meus problemas sozinha. Mesmo essa situação ridícula e miserável—eu deveria ter lidado sozinha.

Se eu o fizesse, doeria nem metade disso?

Ver alguém de quem gosto sendo machucado, tudo por minha causa.

Eu não quero dizer. Eu não quero dizer, Saku.

"Eu namoro com..."

"Não consigo te ouvir." Ele chutou Saku novamente.

Não. Ele não era o tipo que deveria ser tiranizado dessa maneira. Ele era honesto, vivia a vida direito e trazia felicidade a tantas pessoas.

"Eu namoro com você, Ya..."

"Não... Yuzuki..."

Não conseguia ver seu rosto, mas pude ouvir a voz de Saku.

"Isto é só... dor."

Eu ofeguei.

Tinha certeza de que suas próximas palavras seriam "Não deixe isso afetar sua mente".

Quer dizer, eu sabia. Ele era quem me tinha ensinado isso.

Minha mente começou a funcionar novamente.

Certo... só preciso pensar... pensar... pensar...

O que posso fazer? Tudo o que posso realmente fazer é... correr. Sim, fugir daqui.

Se possível, eu precisaria atrair Yanashita para longe e levá-lo até a rua principal, um lugar de onde ele não pudesse escapar, e então gritar por ajuda. Dessa forma, eu poderia salvar o Saku.

Assim como o Saku fez naquela noite do festival, levantei-me, firmando-me.

Sei que provavelmente não tenho o direito de dizer isso, mas vou te salvar, assim como você me salvou.

Não caiam, lágrimas. Movam-se agora, pernas. Olhem direto para a frente.

Corram, corram, corram.

... Apenas aguente, Saku. Eu juro que voltarei.

Eu inspirei.

"Eu sou a garota do Saku Chitose! Você acha que vou deixar um covarde como você me tocar? Você não conseguiria fazer uma garota dormir com você nem que sua vida dependesse disso!!!"

Então, justo quando eu estava prestes a correr para a saída do parque...

"Tudo bem, corta!"

Ouvi uma voz familiar. De repente, Kazuki Mizushino apareceu, segurando seu telefone.

´[Moon: Meu goat 2.0]

Eu congelei, surpresa. Kazuki estava acenando para cá. Virei-me para olhar para Saku.

"Ele está bem. Não atrapalhe. Apenas venha aqui. Rápido."

Em um estado de total confusão, corri até Mizushino. Bem, eu já estava planejando deixar Saku e buscar ajuda mesmo.

Fiquei atrás de Mizushino, então virei-me para olhar para Saku novamente.

"Ai. Droga, Kazuki, você não podia ter chegado mais rápido?"

Apoiando-se, com as mãos nos joelhos, Saku levantou-se lentamente.

Meus olhos encheram de lágrimas ao vê-lo.

Oh, obrigada, obrigada, obrigada.

"Me dá um tempo. Eu estava ocupado trabalhando os ângulos e o zoom para garantir que qualquer um que visse este clipe pudesse entender bem a situação, sabe."

"Você está brincando comigo...?" Yanashita sorria horrívelmente, olhando para cá. "Você acha que a presença de outro aluno exemplar chique muda alguma coisa aqui...?"

Mizushino respondeu-lhe, com voz leve. "Me dá um tempo; eu sou um não combatente aqui. É o cara assustador ali que você precisa temer."

"O que ele disse, Yan, meu caro. Cara, você realmente caprichou nos chutes. O que eu sou, um saco de pancadas das crianças do fundamental 1?"

Saku tirou o blazer, então arregaçou as mangas da camisa. Depois, passou a mão pelo cabelo suado, alisando-o para trás.

"Hã, então você consegue ficar de pé. Te dou um ponto por isso."

"Interpretando o personagem chefe? Muito engraçado, Rabo-de-Cavalo. Vou te chamar de Piroca do Peixe-Diabo."

Ele estava fazendo suas piadas engraçadas de sempre novamente. Isso era tranquilizador. Então a gravidade da situação me atingiu mais uma vez.

"Mizushino. Rápido, chame a polícia."

"Está tudo bem. Se chamarmos a polícia agora, os esforços do Saku serão em vão."

Saku ainda estava falando. "Desde que eu proteja meu rosto e cabeça, os outros golpes não são piores do que tomar um dead-ball forte de um arremessador." Ele virou-se para cá, sorrindo. "Desculpe ter demorado tanto para vir te resgatar. Mas você estava certa. Apenas deixe com seu namorado confiável, Saku Chitose."

Seu idiota! Essa não é a hora de bancar o descolado!

"Você vai morrer." Yanashita estava se aproximando de Saku.

Meus músculos ficaram tensos, e eu gritei. "Já chega, fujam!"

Forcei meus olhos a permanecerem abertos, embora quisessem fechar, enquanto Saku saltava para trás, para fora do alcance do pé de Yanashita. Ele estava fazendo o que podia para me tranquilizar, vendo que eu estava pronta para entrar na briga para ajudá-lo, mesmo que fosse inútil. Yanashita estava irritado agora. Ele atacou Saku com os pés e os punhos, mas Saku esquivou-se habilmente de ambos, como se a surra que recebeu anteriormente nunca tivesse acontecido.

"Volte aqui."

"Não é boxe; não há ringue. Sou livre para recuar o quanto quiser, então evitá-lo é moleza."

Saku cumpriu sua palavra. Ele recuou levemente, dando pequenos saltos e às vezes dando passos laterais. Assim, ele conseguiu manter a distância entre eles.

"Consigo prever que tipo de bola um arremessador vai lançar apenas pelos menores movimentos, tudo desde arremessos retos de mais de 160 km/h até curveballs. No festival, eu tinha a Yuzuki em seu yukata para me preocupar, e no portão da escola, não senti muita vontade de te encarar seriamente. Só isso."

Yanashita começava a respirar com dificuldade.

"Agora veja, isso é o que você ganha por fumar tão jovem. Não sei que tipo de ilusão você tem, mas você realmente pensou que um preguiçoso de sofá como você poderia vencer alguém como eu? Eu pratico esportes há anos."

Houve um som surdo de impacto.

Quando Yanashita parou para respirar, Saku investiu contra ele e deu um soco direto no meio. "Ugh... Guh... Gack..."

Deve ter sido no plexo solar. Yanashita caiu de joelhos.

"Aqui vai uma dica, cara. Ser violento não significa que você é forte. Significa que você é tão fraco que precisa contar com a violência para fazer alguém prestar atenção em você."

Saku pairou sobre Yanashita, que ainda não conseguia levantar, e continuou.

"Você sabe o que é realmente assustador em caras como você? Vocês ultrapassam os limites. A maioria das pessoas para para pensar no que acontece depois que você soca alguém. O que acontece com seus pais, sua escola, suas atividades no clube, seu futuro? Mas você esquece tudo isso e se concentra apenas em vencer no grito."

Eu estava começando a me acalmar agora, o que significava que também começava a perceber o que Saku não estava dizendo aqui. O que Mizushino estava fazendo no parque? Por que ele apareceu exatamente naquele momento?

Isso… Isso é mais um plano do Saku?

[TMAS: Cara é lenda, não tem como]

Afinal, isso significaria se sujeitar a uma surra para funcionar.

"Então eu fiz preparativos, para arrastá-lo para o mesmo ringue que eu e para tirar as luvas. Garanti que gravamos tudo muito bem e claramente. Você batendo na Yuzuki. E você usando força excessiva contra mim."

Yanashita parecia ter conseguido recuperar o fôlego. Agora ele se levantou. "Então você quer uma briga sem limites, total, é?"

"Gostaria que você não fizesse soar tão bárbaro. Isso é pura legítima defesa da minha parte."

"Cale a boca!"

Yanashita agarrou Saku pela frente da camisa. Saku o agarrou de volta, pelo braço e em volta do pescoço. Então ele torceu, jogando as costas de Yanashita no chão.

"Isso se chama Sasae-tsurikomi-ashi, um grande golpe de judô. Você realmente precisa prestar atenção na aula de educação física."

Saku subiu em cima do garoto caído, dominando-o. Yanashita atacou-o, mas Saku agarrou seus braços e os imobilizou acima de sua cabeça com uma mão, exatamente como ele fez comigo naquela noite chuvosa.

A expressão de Saku era fria como gelo.

"... Agora vamos ver se você gosta."

TAPA!

Saku puxou a mão para trás e então deu um tapa no rosto de Yanashita, com força.

A bochecha de Yanashita ficou imediatamente vermelha e começou a inchar.

"Você está com medo?"

"Vá se foder! É melhor vocês tomarem cuidado, você e a Yuzuki..."

TAPA!

Saku deu um tapa de costas na outra bochecha.

"Responda a pergunta, chefe. Você está com medo, sendo esbofeteado no rosto por alguém muito mais forte que você, enquanto não pode escapar ou se defender?"

"E-então isso é sobre vingança, é? Tudo bem, faça o pior. Da próxima vez, vou trazer um monte de caras comigo, e todos nós vamos nos revezar para estragar a Yuzuki..."

SMMMMMACCKKKK!!!

Silenciosamente e mecanicamente, Saku deu outro tapa na bochecha de Yanashita. Seus olhos estavam completamente vazios de emoção.

Então o idoso convencido que agiu como se fosse o rei da escola desde o ensino médio—mostrou medo em seu rosto pela primeira vez.

"Seu aluno exemplar metido... Você acha que é muito melhor que eu... No passado, eu..."

Mas Saku interrompeu Yanashita, mesmo quando ele estava prestes a dizer algo.

"Desculpe, mas não estou nem um pouco interessado no seu passado. Não me importo se algo ruim aconteceu com você, e isso fez você escolher o caminho de merda que está seguindo. Eu não me importo."

Saku agarrou-o pela gola.

"O que posso dizer é isto. Eu respeito alguém que tenta apertar os dentes e seguir em frente vivendo a vida da melhor maneira que pode um milhão de vezes mais do que alguém que usa seu passado como desculpa para machucar outras pessoas."

"... Você vai se arrepender disso... Vou fazer você se arrepender disso..."

"Você ainda não entendeu, não é?"

DONK.

Saku deu uma cabeçada limpa no nariz de Yanashita, então inclinou-se, encarando-o diretamente nos olhos.

"Ouça aqui. Não posso competir contra um oponente que não segue as mesmas regras que eu. Mas se ambos estivermos jogando com o mesmo livro de regras, então todas as apostas estão canceladas. Esse é o tipo de cara que eu sou."

"Uhhhh..."

Pela primeira vez, Yanashita soltou um gemido de medo em resposta a isso.

"Se você se aproximar da Yuzuki de novo, usarei todos os truques que puder pensar para espancá-lo até ficar mole. Você pode vir atrás de mim com cem caras, mas vou me concentrar apenas em você. Por cada golpe que eles desferirem em mim, devolverei com três golpes em você. Só em você."

Yanashita ficou em silêncio agora, imobilizado sob o peso de Saku.

"... Pare... Por favor, pare agora, Saku."

Percebi que era eu quem estava falando.

Sabia que não tinha o direito de pedir algo assim. Mas ver Saku abandonar seu verdadeiro coração e atuar como o herói—não, o vilão—me fez sentir triste, e apenas... Parecia tão errado, de alguma forma.

Veja o que eu o fiz fazer.

Eu o fiz carregar tudo novamente.

Olhei para Mizushino, que estava parado ali solenemente, mas ele balançou a cabeça lentamente.

Era isso que Yuzuki Nanase significava? Era esse o resultado do relacionamento igual e especial que compartilhamos? Eu não era nada mais do que uma coadjuvante nesta história, que impõe suas ilusões egoístas a ele, apenas para desgastar suas arestas?

Esse rosto não combina com você.

Quero seu sorriso habitual de "Eu sou o Sr. Descolado" de volta.

Quero que você me faça rir com outra de suas piadas sem esperança.

"Você está com medo, não está? Sabe como a Yuzuki se sentiu? Ela tem lutado sozinha contra memórias de medo que são cem vezes mais fortes do que qualquer uma que eu poderia forçar em você."

Saku agarrou a gola da camisa de Yanashita com as duas mãos e o arrastou para uma posição sentada.

Então, com um sorriso sem emoção, disse...

"Bem, isso é só o prefácio. Há apenas uma coisa que eu realmente queria dizer."

Suas mãos se apertaram em punhos.

"Toque na minha garota novamente, e eu vou te matar, porra!!!"

Então Saku inclinou-se, trazendo a boca até o ouvido de Yanashita.

"..." Ele sussurrou algo inaudível.

"...Entendido."

"Não consigo te ouvir."

"...Entendido. Juro que não me aproximo da Yuzuki novamente."

Yanashita parecia ter perdido toda a vontade de lutar. Saku relaxou, levantando-se.

Eu nunca, jamais esqueceria a visão do sorriso suave e triste que ele me deu naquele momento.

"Seu idiota! Seu estúpido !!!"

Assim que vimos Yanashita cambaleando para fora do parque, eu me virei para Saku, que estava sentado e parecendo exausto.

"Por que esse era o único plano que você conseguiu inventar, hein?!!!"

Eu sabia que estava sendo irracional, mas não conseguia me controlar; sentei sobre as pernas estendidas de Saku e comecei a bater em seu peito com meus punhos.

As lágrimas que eu tinha contido na frente de Yanashita estavam transbordando agora, mas eu devia me importar com elas?

"Ei, calma, Yuzuki. Eu sou oficialmente um homem ferido, sabia."

"Cala a boca, cala a boca! Normalmente você nunca deixaria ninguém te bater daquela forma. Por que você fez isso?!"

"Olha, era meio que... acertar as contas. Para que eu pudesse encerrar tudo isso da maneira mais bonita."

"Você tinha todas as evidências de que precisava para alegar legítima defesa quando ele me bateu! Por que você teve que ir e se deixar espancar até ficar em pedaços assim?!"

"Porque no final eu é que iria ser o que o nocauteava. Socá-lo apenas como retaliação por ter te esbofeteado poderia ter parecido um exemplo de uso excessivo de força."

"...Você é um idiota, Saku."

Estava cansada de esmurrá-lo agora. Apoiei minha testa contra seu peito largo e firme. Tive que morder a língua, ou poderia começar a chorar compulsivamente, e então não conseguiria parar.

Saku acariciou meu cabelo suave e gentilmente.

"Por que você... veio me salvar?"

"Bom, tecnicamente, você nunca me deu um fora oficialmente, então..."

Não consegui me conter mais. Joguei meus braços em volta dele.

"Uh... vocês dois?"

[TMAS: Ela tá realmente se agarrando nele. | Moon: akakakak Ah não TMAS…]

Kazuki esteve nos observando em silêncio, mas falou agora.

Ah, é mesmo. Não somos só nós dois aqui.

Eu balancei a cabeça, enxugando minhas lágrimas, e olhei para ele.

"Mizushino... Obrigada."

"Bem, eu só fiz o que o Saku me pediu. Embora, devo dizer, acho que o Kaito teria sido muito mais adequado para algo sujo como isso...?"

Saku deu um sorriso sarcástico para ele.

"Ele é bom demais. Eu precisava de alguém que ficasse frio e continuasse filmando, mesmo enquanto eu estava apanhando feio."

"Você é um bom juiz de caráter, meu amigo."

Os dois sorriram e tocaram os punhos de uma maneira satisfeita.

Os homens realmente podem ser as pessoas mais burras do planeta.

"A propósito, o que foi que você sussurrou para o Yanashita no final?"

Minha pergunta fez Saku desviar o olhar constrangido. Então me virei para Kazuki.

"Sei lá. Eu nem quero imaginar o que passa pela mente de perversos."

Fui eu quem transformou o Saku em alguém perverso.

Fui eu quem fez o Saku agir daquela maneira, em nome de quebrar Yanashita mentalmente.

Esse fato irrefutável pesou no meu peito.

"Tudo bem, então..." Saku colocou a mão no meu ombro. "Você poderia gentilmente sair? Até eu não quero muito ter minha primeira vez ao ar livre no chão empoeirado."

Foi quando percebi pela primeira vez que estava sentada no colo dele. Fiquei vermelha de uma maneira muito feminina e pulei para longe dele.

Saku levantou-se com cuidado, e Mizushino lhe emprestou o ombro.

"Tudo bem, meu trabalho aqui está feito, e desta vez é pra valer. Você vai ficar bem para chegar em casa sozinha?"

Ainda tinha uma montanha de palavras que queria dizer e sentimentos que queria expressar para ele, mas tínhamos todo o tempo do mundo para eu fazer isso depois.

Sorri e acenei com a cabeça, observando as costas deles enquanto os dois saíam juntos.

Após me separar de Saku, caminhei para casa pela beira do rio, me sentindo tão bem quanto o clima.

...Ah, não. Na verdade, ainda estava me sentindo um pouco ansiosa. Pensando bem, deveria ter sido eu a ajudar o Saku a chegar em casa. Invejei um pouco o Mizushino por ser quem lhe emprestou um ombro. Hmm, estranho. Acho que simplesmente não conseguia sair daquele modo feminino. Na confusão do que aconteceu, esqueci o evento mais importante.

Parecia que a Yuzuki Nanase que eu era até ontem estava muito, muito longe.

Mas acho que vou gostar mais dessa nova versão de mim mesma.

Senti minhas bochechas se abrirem em um grande sorriso ao pensar nisso, e tive que lutar muito para controlá-las. Foi quando ouvi passos leves vindo de trás de mim.

Meus lábios se abriram em um sorriso perfeito.

Mesmo todo machucado, ele ainda não conseguia me deixar caminhar para casa sozinha.

Até o final, ele foi o mais legal dos legais. Ah, eu estava tão feliz.

Ele agarrou minha mão. "Yuzuki."

Fiz um sorriso doce e me virei, para ver...

"Vou te acompanhar para casa, Yuzuki."

Absorvi a visão da pessoa que estava ali; então, sacudi a mão e saí correndo na velocidade máxima.

"...Espere!"

Por quê?

Por que, por que, por quê?

Por que eu estava correndo agora?

Saku havia resolvido o problema do Yanashita. Eu deveria estar voltando para casa, com o coração nas nuvens.

O que esse cara estava fazendo aqui, e por que estava me perseguindo?

"Por favor, espere, Yuzuki!"

A voz estava ficando cada vez mais perto.

Se eu continuasse correndo, ele me alcançaria de qualquer maneira. Tomei coragem e parei, me virando mais uma vez.

Ele parou também, ombros arfando enquanto lutava para recuperar o fôlego. Então, com um sorriso superficial e descolado, aproximou-se.

"Sinto muito. Devo tê-la assustado quando me aproximei do nada. Deve ter sido terrível, tudo aquilo com os caras da Yan."

Como ele sabe sobre isso?, eu pensei.

"Hum..." Abri a boca para falar, mas ele me interrompeu.

"Deve ter sido tão difícil para você. Eles foram violentos com você? Tenho certeza de que posso ajudá-la, Yuzuki."

Não fazia sentido para mim. As palavras que ele estava dizendo. O jeito como ele se aproximou de mim, como se eu fosse uma namorada amada dele ou algo assim. O sorriso dele. Nada disso.

Senti um suor frio escorrer pela minha espinha e percebi que meu instinto inicial, de fugir, estava correto.

O que diabos essa pessoa estava dizendo?

"Hum...!"

"O Saku Chitose também está incomodando você agora? Não só os caras da Yan? Você esteve à mercê daquele cara Yanashita desde que ele tirou aquela foto constrangedora sua, certo? Sei como você se sente. Deve ter sido tão difícil. Mas está tudo bem agora."

"Ouça!!!"

Ele estava tentando me mostrar a tela do telefone, mas ignorei e comecei a gritar.

"Quem diabos é você?"

O tempo parou por um segundo.

O cara que estava ali parecia uma versão barata do Mizushino, com quem eu estava havia alguns minutos. Mas o lábio desse cara estava tremendo visivelmente.

"Quem eu sou...? Você não se lembra do último inverno—você me ajudou a pegar minhas coisas na frente do portão da escola."

"Desculpe, não me lembro disso..."

"Sou eu! Tomoya Naruse! Eu me apresentei para você naquela época! Você deve ter ouvido falar sobre o Saku ter se tornado amigo de mim ultimamente?"

"Saku não disse nada sobre—"

"Não minta para mim! Desde então, você—não, mesmo antes disso... Você esteve em minha mente, Yuzuki. Mesmo depois que conversamos pela primeira vez, fizemos contato visual nos corredores tantas vezes! Você até sorriu para mim uma vez!"

A maneira como ele estava tagarelando me deixou certa de uma coisa.

Meu stalker... Não era o Yanashita de forma alguma.

Eu sabia que algo estava errado o tempo todo. Aquele cara não sairia por aí tirando fotos minhas para usar como tortura. Ele não era do tipo.

Pensei que talvez ele tivesse arranjado um cúmplice para fazer isso, mas isso também não estava certo.

Esse cara—ele era meu stalker.

"...Foi você quem colocou aquelas fotos na minha caixa de correio e na gaveta da mesa?"

"Aqueles foram avisos. Você está sendo visada na Yan. Chitose está enganando você."

Fiquei com tanta raiva que esqueci de ter medo.

Que diabos significava isso?

"Você diz que Saku está me enganando?"

"Sim! Ele não ama você, Yuzuki. Ele me contou isso pessoalmente. Tudo o que eu tive que fazer foi fingir ser amigável, e ele me contou tudo. Ele só está mostrando um sorriso falso para você, Yuzuki. Na realidade, ele está me ensinando tudo sobre garotas para que você me note em vez dele!"

Ah, ok. Eu estava começando a entender.

Ele percebeu tudo isso, desde o início.

Foi meio sacana não me contar nada, mas acho que posso entender seu raciocínio. Mantendo isso em segredo de todos, ele tentou guiar esse cara de volta ao caminho certo.

Saku realmente não estava vivendo uma vida muito livre, pensei com um sorriso.

Até onde ele estava disposto a ir para dar uma mão?

Ele estava tentando salvar todos que vinham até ele pedindo ajuda ou algo assim?

Hmm, bem, ele realmente me salvou. Então talvez eu não tenha direito de falar.

...Obrigada, Saku.

Graças a você, não sinto mais medo nenhum. É engraçado, mas é verdade.

"Ei." Falei novamente, me sentindo totalmente calma agora. "Saku te contou todo tipo de coisa, certo?"

O cara na minha frente bufou com desdém. "Muita informação inútil, sim. Tipo, que eu não deveria me agarrar muito a uma ilusão sua. Era tudo coisa estúpida; nem me dei ao trabalho de lembrar."

"Então, você sabe disso...?"

Pensar no Saku me fez romper em um grande sorriso.

"Sabe, quando fico menstruada, jorro sangue menstrual vermelho-vivo, e fico ainda mais irritadiça do que o normal. Ah, e também tenho diarreia explosiva, de vez em quando. Ah, ah, e às vezes, quando vejo um cara gostoso, vou para casa e fico me masturbando por horas. Você sabe tudo isso sobre mim, sabe?"

O rosto do cara se contorceu, como se ele simplesmente não pudesse acreditar no que eu estava dizendo.

"...Chitose disse... umas coisas parecidas. Sem dúvida, ele a treinou para dizer tudo isso também, para afastar outros homens, não foi? Mas está tudo bem. Não serei enganado tão facilmente."

"Eu não sei exatamente o que você e Saku conversaram..." Eu suspirei. "Mas Saku estava 100% certo sobre tudo."

"Não, ele não estava!"

O cara enfiou a tela do celular na minha cara novamente.

"Ele é o tipo de cara que tira fotos nojentas como esta!"

A tela mostrava uma garota usando o uniforme da Fuji. Ela estava fotografada por trás e parecia estar de quatro. A saia estava enrolada na cintura, expondo o que pareciam ser calcinhas novinhas. Suas coxas magras, levemente musculosas, eram extremamente brancas.

"Ele sabe o tipo de trauma que você passou por causa do Yanashita, mas ele é do tipo que faz exatamente a mesma coisa! Para ter certeza de que você nunca poderá escapar—"

Eu sabia.

Já vivenciei isso vezes suficientes.

E eu tinha medo disso, todo esse tempo.

Idealização, desilusão. Miragens e realidade.

O cara continuou.

"Mas eu consegui esta foto. Agora você tem uma razão para me ouvir, certo? Esta é sua chance de se libertar de Yanashita e Chitose. Vou tratá-la muito melhor do que um lixo delinquente ou um cafajeste tarado jamais poderia."

Ele era um lunático delirante.

Ele não parecia perceber que também estava me chantageando.

"Só para você saber, mesmo se fosse uma foto minha..." Fiz uma pausa, então corou e sorriu enquanto continuava. "Se o Saku me pedisse para tirá-la... eu provavelmente aceitaria."

Afinal, eu já havia dado um nome aos meus sentimentos.

Se for para me desiludir, pode vir com tudo.

Se uma foto de calcinha era o suficiente para trazer o oponente relutante para a pista de dança, que assim fosse.

"Você não sabia? Eu sou desse tipo de garota."

"O quê...? Por quê...? Por um cara daqueles? Que age tão convencido? Só porque ele é bonito? Você não é esse tipo de garota, Yuzuki. Você enxerga direto a alma de uma pessoa..."

"Exato. Eu olho além da superfície para o que há dentro do Saku. Comparado a isso... Que parte de mim você está olhando, hein?"

O cara estava murmurando algo baixinho, mas ignorei e continuei.

"Se você quer se aproximar de Yuzuki Nanase, você precisa realmente ver quem eu sou primeiro. Não use táticas sorrateiras; enfrente-me de frente e derrube aquela muralha que eu levantei!"

"...Cale a boca! Cale a boca!" Ele esticou seu braço e agarrou os meus.

Uh, não era isso que eu queria dizer com 'de frente'.

Minha capacidade de sorrir e revirar os olhos com tudo isso ainda não tinha sido abalada.

O que estava tremendo era a chama trêmula de fúria na minha frente, uma chama que provavelmente não poderia ser impedida de causar destruição.

Tentei me manter fria, como um certo alguém que todos conhecemos, e esperar o momento certo.

Quarenta por cento. Pelo menos 40% é tudo que eu preciso.

"Hup!"

Chutei o cara bem nas bolas, tentando não chutar muito forte. Ele desmoronou no chão, sua exibição de raiva trêmula de segundos atrás desapareceu instantaneamente.

Ele parecia tão patético no chão, e por um momento, a imagem se sobrepôs a uma imagem semelhante do Saku em minha mente. Isso me divertiu muito, por algum motivo, e acabei rindo.

"Seu nome é Tomoya Naruse, certo? Vou me lembrar disso. Vou me lembrar para sempre, como aquele que finalmente me ajudou a perceber meus sentimentos por ele."

[Moon: O cara queria ganhar ela e acabou dando assistência kakaka]

...E assim, quando nosso herói da justiça, Saku Chitose, subiu a margem, tendo assistido aos procedimentos se desenrolarem, Yuzuki não mostrou nenhuma surpresa.

Bem, depois de todo o trabalho que fiz para armar as coisas, era fácil ver agora quem estava puxando os fios, não era?

Olhei para frente e para trás entre Yuzuki e Tomoya, que estava encolhido no chão.

Então é assim que tudo acabou, é?

"Precisamos comparar notas?"

Tomoya respondeu com uma voz miserável. "Chitose... você armou para mim."

"Ora, ora, essa é uma piada cruel. Tudo bem, posso ter omitido algumas coisas. Mas foi você quem roubou isso do meu telefone. Um dos destaques embaraçosos do álbum de fotos do Kenta, era."

"Há quanto tempo... há quanto tempo você me suspeitava?"

"Desde o início. Havia algo em você que eu simplesmente não gostava. O jeito esnobe que você tratou o Kenta também não te favoreceu em nada."

Os caras da Yan tinham um espião na Fuji; isso sempre foi óbvio. Eu sabia disso muito antes mesmo do roubo do tênis de basquete.

O roubo do desodorante da Yuzuki da sala do clube. O fato de o culpado ter uma foto dela do primeiro ano. Um de fora não poderia ter feito isso. Nem poderia ter surrupiado o estojo e os utensílios de escrita da Yuzuki da sala de aula.

Além disso, coisas mesquinhas assim não eram o estilo dos caras da Yan. Ainda assim, o Cocoricó Imbecil e companhia estavam falando como se tivessem informações privilegiadas sobre as atividades da Yuzuki desde o início. Eles falaram como se tivessem ouvido coisas de seu chefe... Em outras palavras, Yanashita, mas eles sabiam coisas não só sobre Yuzuki, mas sobre mim também. Isso não fazia muito sentido.

Então, assim que Yuzuki e eu embarcamos em nosso romance falso, quem apareceu tentando se aproximar de mim? Tomoya.

Claro, eu estava destinado a suspeitar.

Honestamente, suspeitei que Nazuna fosse a cúmplice por um tempo. Minhas razões para mudar minhas suspeitas para Tomoya foram baseadas principalmente em um palpite. O fator decisivo, porém, foi quando os caras da Yan apareceram para nos ameaçar no festival. A única outra pessoa que sabia sobre nosso encontro além da Haru era—Tomoya. Foi quando minhas suspeitas foram todas confirmadas.

A coisa da qual eu não tinha certeza, até o final, porém, era: quem era o cérebro, e quem era o servo? Tomoya tinha colocado os caras da Yan em cima de nós? Ou eram os caras da Yan que estavam manipulando Tomoya para fazer o que eles queriam?

Mas eu inventei um truque esperto para descobrir com certeza.

"O que você achou da saia do Kenta, então? Ele tem uma bunda e tanto, não tem?"

"O que você...?"

"Essa foto era da sessão de fotos drag do Kenta. Produzida pela lendária Yuuko Hiiragi, ela mesma."

Ontem, depois que Yuzuki saiu, discuti o plano de hoje com meus amigos em detalhes mínimos.

Yuuko e Yua se opuseram, é claro, mas consegui convencê-las no final, lembrando-lhes que era tudo para proteger outra pessoa e que eu cumpri minha promessa de avisá-las com antecedência desta vez.

Eu sabia que ambas provavelmente estariam preocupadas pra caramba agora, então me certifiquei de pedir a Kazuki para avisar a todos para que soubessem que eu estava bem.

O plano para prender o idiota da Yan foi simples, mas lidar com Tomoya, agora—essa foi a parte difícil.

Eu queria ver até onde ele iria, só para bancar o bonzinho.

Então, quando expliquei o passado da Yuzuki para ele, menti. Disse a ele que Yuzuki estava lidando com algum tipo de trauma sexual, depois que foi forçada a fazer o que Yanashita disse porque ele tinha fotos comprometedoras dela. Basicamente, alimentei ele com informações falsas. Certifiquei-me de mencionar tirar fotos quando confessei a Tomoya sobre Yuzuki dormindo na minha casa. Então, tudo o que tive que fazer foi deixar meu smartphone desbloqueado na mesa enquanto ia ao banheiro. Ele caiu na armadilha na hora.

"Não tenho certeza se você estava apenas ansioso para ver fotos sujas da Yuzuki, ou se queria material de chantagem para usar depois, ou, caramba, talvez fosse os dois. A propósito, você sentiu como se estivesse sendo observado? Yua Uchida, da Equipe Chitose, estava sentada na mesa ao lado, observando tudo."

Tomoya pareceu arrasado.

Esse tolo de cabeça oca provavelmente pensou que não havia nenhuma chance de ser descoberto.

"Tenho certeza de que você já percebeu isso, mas não havia como eu deixar você ter uma foto real da Yuzuki para babar. Então decidi pedir a Kenta para ajudar, já que ele estava sempre assim, 'Não há nada que eu possa fazer para ajudar? Qualquer coisa?' Então pedi a Yuuko para ajudar também, e ela ficou tipo, 'Claro!' então fomos para a loja de lingerie. Foi realmente algo e tanto, sabe."

Provavelmente Kenta nunca mais se ofereceria para ajudar em nada, mas tudo bem. Ele nos deu uma grande força desta vez, então eu o deixaria em paz no futuro.

[TMAS: Kenta existe pra ser humilhado, triste]

"Então foi você quem envolveu os caras da Yan e os colocou em cima da Yuzuki, certo?"

A meu pedido, Nazuna havia perguntado a sua amiga na Yan por algumas informações internas. Foi moleza. Descobriu-se que a amiga, na verdade, estudou na mesma escola que Tomoya.

Se ele estivesse sendo forçado a isso, não teria razão para arriscar seu pescoço apenas para alimentá-los com informações que eles nunca teriam descoberto sozinhos.

"As coisas com a foto—sinto muito por isso. Eu perdi minha cabeça por um tempo. Mas eu não sou um stalker ou algo do tipo."

"Você não é? Então como você sabia que Yuzuki usou um yukata no festival?"

"Eu só... só imaginei que uma garota como Nanase usaria um."

"Mesmo? Então o que é isso?"

Mostrei a ele a tela do meu telefone. Ela exibia a imagem de um cara usando um boné puxado baixo sobre os olhos, segurando um envelope branco. Era inconfundivelmente Tomoya.

Yuzuki olhou atentamente, murmurando. "Isso é... isso é o meu quintal?"

"Sim. Haru inventou uma desculpa esperta, e conseguimos que seu pai nos deixasse ver a câmera de bordo dele. Claro que ele tinha uma, com um carro caro daqueles. Eu estava me perguntando se era do tipo que continua gravando enquanto o carro está estacionado—e sim. Bingo."

Xeque-mate, Tomoya.

Você nunca foi do tipo a pensar muito antes de agir, foi? Você começou apenas seguindo Yuzuki secretamente sozinho. Mas, baseado em algumas coisas ditas pelo Cocoricó Imbecil, você sabia que tinha algum tipo de conexão entre Yanashita e Yuzuki no passado, né? Tudo o que você tinha que fazer era começar a vazar rumores interessantes sobre ela ser promíscua.

Não sou detetive, e não posso falar sobre o motivo do cara, mas me parece que ele estava fazendo o que podia para encurralar Yuzuki no canto do mundo dos sonhos em que ele vivia, para então aparecer e tentar salvá-la.

Uma donzela em perigo é mais fácil de conseguir, afinal.

"Mas então você percebeu que eu estava começando a suspeitar de Nazuna, então tentou fazer parecer que ela estava por trás disso. Então tínhamos você, interpretando o stalker clichê, enquanto deixava os caras da Yan atuarem como os brutamontes, tudo enquanto tentava incriminar Nazuna. Você adicionou elementos demais, não adicionou?"

Sem dúvida, ele teria feito qualquer número de truques sujos para atormentar Yuzuki psicologicamente e criar uma abertura para si mesmo. Sua metodologia errática só serviu para nos despistar.

"Tive muitos problemas para juntar as peças do quebra-cabeça, sabe."

Tomoya levantou a cabeça, parecendo que ainda ia tentar dar desculpas.

"Então você estava me enganando o tempo todo."

"Vamos apenas deixar essa acusação massiva de 'boomerang' de lado por um momento. Eu honestamente te dei conselhos reais. Achei que seria ótimo se eu realmente conseguisse fazer você entender. Se você parasse com tudo isso por conta própria, eu estava disposto a levar seus segredos para o túmulo."

Eu suspirei, um suspiro bem grande.

Ninguém quer prender uma pessoa com quem fingia ser amigo assim.

"Eu te disse: Não pegue o atalho fácil. Mas você me ignorou, e agora chegamos a uma conclusão muito simples. A dor da Yuzuki, a dor que eu te contei—você viu isso como nada mais do que um item de sorte que o ajudaria a completar sua missão."

"Então o que eu deveria ter feito?!"

"Eu te disse o que fazer. Eu te disse para ser corajoso e falar com ela. Você nunca conseguiu nem chegar à linha de partida, conseguiu?"

Ainda assim, esse jogo de adivinhação de pecados cometidos não iria salvar a alma de ninguém.

Se não havia mais nada a ser dito, então não havia caminho a seguir.

Tomoya não poderia se tornar o tipo de pessoa que Kenta era.

Pessoas que tentam forçar sua própria narrativa nos outros acabarão sendo ejetadas da narrativa dessa pessoa, para permanecerem um NPC sem nome para sempre.

Que história triste, triste.

Tomoya estava de joelhos agora, cabeça pendurada no chão como se tivesse perdido toda a vontade de viver.

"Ouça, Tomoya. Tranque-se em seu quarto escuro chorando e escrevendo poesia de chorão. Então, quando você se cansar disso, compre um violão e transforme-os em músicas. Pessoalmente, eu preferiria ouvir algum punk rock meia-boca em vez de lindas canções de amor. Então, da próxima vez, você será capaz de lidar com o objeto de suas afeições de uma maneira sincera."

Após um breve refrão do conselho que lhe dei naquela vez, Yuzuki e eu deixamos a cena.

Hum! Eu estava realmente, muito preocupada com vocês dois!!!"

Yuuko estava cantando sua mesma de novo sua música velha de sempre. Quantas vezes já a tínhamos ouvido agora? Mas Yuzuki e eu ouvimos pacientemente com sorrisos tortos.

Depois disso, com Kazuki tendo feito seus relatórios por telefone, todos decidiram se encontrar em um restaurante familiar próximo. Então Yuzuki e eu também fomos para lá.

Assim que Yuuko nos viu, veio correndo para nos abraçar e começou a chorar ali mesmo no restaurante. Yua franziu os lábios ao ver meu blazer sujo. Haru veio e me deu palmadas fortes nas costas. Foi uma cena e tanto.

Até Kenta, que estava desesperado para ter suas fotos sensuais e comprometedoras excluídas o mais rápido possível, estava sorrindo. Nosso craque do basquete Kaito, que não sabia de nada sobre os planos do dia, estava meio indignado. "Sério, Saku?" ele reclamou, mas não muito. Quer dizer, qual é, cara. Você teria entrado para ajudar antes mesmo de eu terminar de explicar o plano e teria estragado tudo.

Estávamos todos nos sentindo livres após o fim do período de provas também, e acabamos conversando e nos divertindo por tanto tempo que os funcionários do restaurante realmente vieram e pediram para todos os estudantes do ensino médio saírem.

Ainda não tínhamos tido o suficiente, porém, então fomos para o parque próximo para desfrutar de um pouco de acréscimo.

Yuzuki disse à Yuuko: "Tudo bem, tudo bem, sinto muito por tudo", e depois disso, ela se virou para o resto do grupo para agradecê-los também, e se desculpar por toda a situação pela centésima vez, pareceu.

"Yuuko, todos, sinto muito por fazê-los se preocuparem. Mas, graças à ajuda de vocês, conseguimos levar a situação a uma conclusão ordenada. Obrigada."

Yuzuki sorriu feliz, e Yua colocou a mão em seu ombro.

"Arretada, Yuzuki. Você aguentou o tranco, enfrentou tudo como uma boiadeira valente!" (Tradução: Deve ter sido um momento muito difícil, mas você enfrentou como uma verdadeira campeã, com certeza!) "Eu aguento o tranco! Aquele jegue já é passado!" (Tradução: Sou mais forte do que pareço. Já descartei minhas memórias daquele homem patético!) Ah, ouvir essas duas falando no dialeto de Fukui realmente me faz sentir descontraído.

Haru esticou o punho para um cumprimento. "Eu ganhei, Umi?"

"Sim, você ganhou, Nana."

Então eles tocaram os punhos.

Kenta limpou a garganta. "Hum, então..."

Yuzuki pegou a mão de Kenta, como se para fazê-lo parar de falar. Então a apertou firmemente. "Yamazaki! Hee-hee. Hum, como digo isso...? Você realmente..."

"Está bem; pode ir em frente! Ria! Eu sei que você quer!"

"Ah-ha-ha-ha! Obrigada! Sério, muito obrigada."

Kazuki sorriu, observando-os. "Se quiser, posso mostrar-lhe as fotos de teste que tiramos enquanto preparávamos nossa bela sessão de fotos do Kenta?"

Yuzuki olhou para Kazuki com os olhos semicerrados. "Deixa para lá. Mizushino, exclua aquele vídeo que você filmou mais cedo, agora mesmo."

"Mas é uma prova importante. Afinal, o que foi que você gritou? 'Eu sou a garota do Saku Chit...'"

"...É melhor você parar de falar agora mesmo se quiser ter filhos algum dia."

[TMAS: Ameaçou os filhos do cara até, tirando deles o direito de existir]

Virei-me para Kaito, que parecia muito menor que o normal por algum motivo.

"Qual é, cara, para de ficar emburrado. Já disse que sinto muito."

"Mas... eu fui o único que não pôde fazer nada legal."

Yuzuki revirou os olhos e deu uma risadinha. "Você ajudou o Saku a encontrar meus tênis de basquete, certo? Isso me deixou muito feliz. Obrigada, Kaito."

O rosto do cara alto se iluminou quando ela disse isso. Cara, que óbvio.

"Então..." Yuzuki deu uma olhada rápida no telefone. "Acho que é hora da turma se dispersar. Vai ser meia-noite antes de todos chegarmos em casa."

"O quê...?" Yuuko gritou surpresa, mas então balançou a cabeça rapidamente. Quer dizer, já eram 23h30. Se a polícia nos pegasse vagando pelo parque tão tarde, eles poderiam até nos levar sob custódia.

"Ei, Saku. Você poderia me acompanhar até em casa? Seu último dever oficial como meu namorado falso." Yuzuki me deu um sorriso malandro.

"Pode deixar."

Kaito disse que acompanharia Yuuko e Haru para casa, e Kazuki e Kenta concordaram em acompanhar Yua. Uma vez tudo decidido, saímos do parque. Depois que todos se separaram para seguir seus caminhos, ouvi Yuuko chamar "Saku!" atrás de mim.

"Vou te mandar uma mensagem no LINE mais tarde, então lembra de olhar!"

Ela sorriu e acenou, e com isso, percebi que toda a situação realmente havia terminado.

Já faz duas semanas que tudo isso começou?

Uma lua nova risonha nos banhava de luz enquanto Yuzuki e eu caminhávamos lentamente para casa.

Ociosamente, imaginei se era assim que um casal que acabou de decidir terminar poderia se sentir.

Não havia pessoas por perto tão tarde, e nem um único carro passou por nós na estrada. Tudo o que podíamos ouvir era o coaxar dos sapos nos campos.

Estava bastante quente, considerando que era noite. Eu precisaria tirar minhas roupas de verão do armário em breve. Esperava que Yuzuki estivesse se sentindo muito mais leve agora, como se estivesse tirando um casaco pesado que foi forçada a usar por muito tempo.

Não tinha certeza se Yuzuki estava profundamente pensativa ou apenas olhando para algo distante. Mas seu perfil, que eu tinha me acostumado tanto a ver ultimamente, parecia sereno e calmo. Ela ainda estava tão perto, mas logo estaria além do meu alcance. Eu queria segurá-la. Mas me forcei a olhar para o céu.

... Dar um nome a esse sentimento, defini-lo com palavras... Prefiro deixar para o último, último momento.

Já podia ver a casa dela à distância.

O carro alemão de alta qualidade esperava na garagem, olhando com cara feia para Yuzuki por estar caminhando com um garoto tarde da noite. Parecia que os faróis do carro eram olhos, vendo dentro do meu coração de alguma forma. Parei na frente dele.

A lâmpada do poste estava quase sem energia. Ela não parava de piscar, lançando um holofote tranquilizador que iluminava Yuzuki e a mim.

"Bem, acho que vou indo agora." Falei o mais casualmente possível, querendo manter a dignidade.

Yuzuki tirou o telefone e verificou rapidamente. Então agarrou a frente do meu blazer e segurou.

"... Só mais um pouquinho."

"O quê, você quer que eu cante uma canção de ninar ou algo assim antes de você ir para a cama?"

Ela não respondeu à minha piada.

Houve um momento de silêncio, então o bolso do meu blazer começou a vibrar várias vezes.

Tirei meu telefone, e assim que li o nome de Yuuko...

Chuac.

Senti uma sensação leve, suave e passageira em minha bochecha esquerda.

Foi um beijo tão fugaz quanto a chuva de verão.

"Se você realmente quer me dar uma recompensa por te salvar, você poderia tentar isso de novo um tiquinho mais para a direita."

"Feliz aniversário, Saku."

"Ei, agora, isso... não é justo."

Achei que não conseguiria me controlar se olhasse para ela naquele momento, e não queria que ela olhasse para mim também. Então virei as costas.

"Boa noite, Chitose."

"Boa noite, Nanase."

Dezessete anos. O início da minha décima oitava volta ao redor do sol. Eu estava no limiar de um dia importante na minha vida.

Alguém deu um passo à frente hoje. Outra pessoa não conseguiu dar um.

Podia ouvir seus passos desaparecendo atrás das minhas costas.

Ouvi o silêncio persistente depois que eles se foram, contemplando a lua distante.

 

 

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