Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 36: Marcha do ferro-sangue e dos tanques

 

Depois de uma não tão longa e não tão amigável conversa, um novo item foi adicionado aos nossos inventários:

 

 


ITEM ADQUIRIDO!

//TALISMÃ ARDENTE DO FERREIRO ANCIÃO// – x1

-

[Detalhes]


 

 

— Como era pra usar esse treco mesmo? — perguntei, saindo do portal convenientemente posicionado para a saída.

— Rapaz... Acho que era só mostrar não é? — palpitou Arthur.

— Wiwiwiwiwi!

— Ninguém pediu sua opinião, bola com asas! — disse dando um “chega pra lá” nele.

Picker me deu uma espanada em retaliação. Se eu tivesse como colocá-lo em uma gaiola, mas teria que ser um extra GG pra caber aquela coisa.

Bjorn nos ajudou a sair do fundo do abismo da ||FORNALHA||, criando para nós um portal usando //FERRANIUM//, aquele metal negro de que era feito os pilares, o chão do templo, as ferramentas dele; praticamente tudo.

Era a principal fonte de renda do anões e o material que eles vendiam para o resto do continente para todos os fins, inclusive bélicos.

Saímos no corredor principal, aquele lugar apertado onde fomos perseguidos e perto do lugar onde caímos. Ainda estava um pouco cabreiro se haveria alguma máquina de ronda naquele local. Acho que era medo de reviver o trauma de cair em um abismo escuro e quente.

Por mais incrível que parecesse, não encontramos mais ninguém na volta. O lugar estava incrivelmente deserto e silencioso — até mesmo o barulho de fundo das bigornas sendo acertadas e dos cabos de aço sendo puxados pararam —, só sendo possível escutar o cantar dos grilos.

— Arthur. Você notou alguma coisa estranha? — perguntei com um pressentimento de “vai dar ruim” ticando na minha cabeça.

Agora que estava tudo quieto, era possível ouvir nossas vozes ecoando até o abismo. Isso era uma sensação perturbadora de que, a qualquer momento, algo iria nos surpreender. Arthur olhou de um lado par ao outro, de frente para trás, acho que tendo a mesma sensação.

— Agora que você falou, cadê todo mundo?! — perguntou Arthur com uma ponta de ansiedade.

— Será que tiraram uma pausa pro almoço? — disse, mais pra aliviar a tensão do que pra procurar uma explicação para aquele fato incomum.

Uma cratera com vários corredores e seções, que mais lembrava um formigueiro que qualquer outra coisa, vazio? Não podia ser um bom sinal e nós sabíamos. Por isso, apressamos o passo.

Para nossa sorte e conveniência, aquele item que recebemos do deus de forja servia bem mais do que apenas um passe para dentro da Fortaleza; ele que estava nos mostrando a direção com um pequeno ponteiro de luz que escapava a partir de suas inscrições entalhadas.

Bem prático, anãozão.

Nos apressamos para sair daquele buraco escuro e claustrofóbico o quanto antes, sendo a luz dos ponteiros a única que iluminava alguma coisa naquele espaço, porém o caminho estava diferente. Seguimos a orientação dos talismãs, que nos indicou uma passagem diferente daquela pela qual viemos.

Era uma fenda estreita que se embrenhava entre duas galerias, formando uma pequena passagem que ia se alargando conforme avançávamos. Nessas horas, eu agradecia aos céus por eu ser magro e o Arthur, subnutrido. Se fosse qualquer outro dos nossos companheiros, talvez nem conseguíssemos passar.

Além disso, eu mal conseguia esperar para ter minha //WINGSLASH// de volta assim que voltasse. Além dos talismãs, Bjorn me gentilmente me deu algumas //BARRA DE FERRANIUM CONCENTRADO//, um material extremamente resistente e relativamente maleável. Serviria muito bem para meu machado de batalha não se quebrar com duas porradas.

Só estranhei o fato de ele me dar o material bruto e não forjar um novo machado para mim na hora. Devia ser apenas uma questão de formalidade ou o jogo prolongando ainda mais o modo hard para mim. Não sei.

De qualquer forma, vou ter que entrega-lo para alguém na saída da ||FORNALHA|| para conseguir uma arma.

Avançamos devagar pelo túnel até nos depararmos com uma escada de ferro bem velha e enferrujada — parecia que não era usada há anos — e que levava para cima. Não era muito confiável pelo estado dela, mas ainda assim era só o que tínhamos para sair daquele buraco.

E era exatamente para onde a luzinha do talismã apontava.

Beleza então, comecei a subir, indo primeiro e Arthur cobrindo a retaguarda. Picker foi voando na frente para termos uma noção da dimensão daquela subida, e depois de um tempo, não consegui mais vê-lo.

Foi uns bons minutos subindo no escuro, ouvindo apenas o som da minha respiração e do ferro carcomido estalando debaixo dos nossos pés e mãos. Enquanto isso, comecei a pensar.

O que aquela coisa no braço do Arthur ficou rindo? Será que ele é sempre assim? Ainda estava incomodado com isso, mesmo que não se tratasse de algo novo ou impressionante. Já conhecia a Relíquia Hospedeira do Arthur tempo suficiente para saber que ela tinha essa personalidade distorcida.

Mas, ainda assim... Por que eu não consigo me livrar dessa sensação esquisita? Quer dizer... tantas coisas esquisitas tem acontecido ultimamente que nem sei mais o que pensar quando aparecer outra.

PLAM, PLEM, PLAM!

Uma luz que não era a do talismã já se mostrava no topo da subida. Também já conseguia ouvir o bater de asas de Picker.

— Já tamo chegando?! Não aguento mais esse lugar! — perguntou Arthur, ofegante e com a voz fraca.

— Já consigo ver uma luz. Estamos quase chegando! — Já estava um pouco cansado, mas ao ver os raios de luz, consegui um fôlego a mais.

Quando saírem daqui, não confiem em ninguém e tentem chegar o mais rápido possível à Fortaleza de Ferro. Thor-ardd estará lá para que tentem convencê-lo. E acima de tudo, evitem encontrar com uma mulher de capuz preto.

As palavras de Bjorn ainda estavam frescas na minha mente. A cada passo mais próximo, o coração acelerava.

O som da tampa de ferro arrastando machucou meus ouvidos. Pareceu 5x mais alto de dentro do túnel e só movi um pouco para olhar para fora.

KABRUUUUM!

Desgraça!

Uma coisa explodiu bem perto de mim e abalou todo o solo. O impacto e o susto da explosão repentina me derrubou em cima de Arthur.

Ele cravou as garras na parede para evitar que nós caíssemos lá embaixo de novo. Picker também laçou sua cauda no meu braço para me puxar de volta para a escada.

— Que foi isso? Estão atacando a gente?

— Sei lá, porra! — respondi, tão assustado quanto puto. — Do nada algo papocou perto de mim!

Mesmo um pouco escaldado, eu tentei abrir a tampa de ferro de novo para dar outra olhada. Só uma olhadinha...

BAAM!

Péssima ideia.

— AAAAARGH! FILHO DA PUTA, MANOOOO! — RIP dedos.

Alguém pisou na tampa na mesma hora e esmagou meus dedos assim que eu os coloquei pra fora. Assim que consegui os puxar, quase caí novamente lá embaixo com Arthur.

Os dedos saíram sangrando, roxos e um número saltou no meio da minha visão em cores bem vermelhas e vibrantes; foi um dano crítico ainda!

— MERDA, MERDA, MERDA, MERDA, MERDAAAA! — Eu queria excomungar as próximas três gerações do desgraçado que prensou meus dedos.

— Calma! Eu vou dessa vez.

Arthur passou na frente enquanto eu fiquei chupando e soprando meus dedos mais pra trás.

Ele abriu a tampa de uma vez e derrubou algum infeliz que passava por cima na hora.

— Olha. Não foi tão difícil assim, né? ♪

— Vai pra merda, Arthur — apesar de ser eu quem queria esganá-lo agora, sem dedos eu não podia. Então continuei: — Que desgraça que tá acontecendo aqui?!

— Junior! Cuidado!

Arthur me empurrou. Uma bala raspou em seu rosto e explodiu em alguns caixotes do outro lado da avenida. Vi de relance alguns pontos de dano sendo subtraídos de seu HP.

— Argh! Droga!

— Wiiii! WIWIWIIIIIIII!

Me recuperei com dificuldades. Rolei entre alguns destroços de metal e pedras irregulares que formavam uma borda ao redor de uma pequena cratera.

Mais um torrão de areia saltou da terra receber um projétil furioso. Arthur veio correndo e se abrigou na cratera comigo.

Enquanto isso, Picker parecia um abelha tonta no meio de tanto tiro e coisa voando. Não esperava sair no meio da faixa de Gaza aqui.

— HYAHAHAHA! TOMEM TUDO! VAMOS ACABAR COM TUDO, MOÇADA! — gritou um anão alucinado, atirando pra tudo que era lado.

— AVANCEM, AVANCEM! NÃO OS DEIXEM PASSAR!Alguns anões vestidos de uma armadura brilhante bloqueavam a avenida.

— E agora?

BOOOOOM!

Tapamos os ouvidos.

Mais sons de disparos de canhão estrondam perto de nós. Ao virarmos nossos rostos, um tanque passava perto dali com uma pequena tropa de soldados acompanhando. Eles estavam carregando //CANHÕES DE MÃO// +3 e quase todos vestiam //ARMADURA DE FERRANIUM SOLDADA// +3, que lhes conferiam vida extra e uma defesa robusta, mas penalidades na esquiva e reflexos. A velocidade também não era beneficiada.

— ...?

Ué... eu estou conseguindo ver os atributos das coisas de novo?, veio essa ideia na cabeça .

Foi um fato que percebi bem no meio da confusão generalizada que estava a rua. Pena que não tinha tanto tempo para usar daquilo no momento.

Arthur me cutucou, apontando uma casa a alguns metros de onde estávamos, do outro lado da avenida.

— Tá maluco?! — protestei. — Deve ter outro caminho pra...

— A Fortaleza de Ferro é para aquele lado! — disse Arthur, categórico.

— Wiwiwiwi. Wii! — Picker parecia concordar com o que ele dizia. Bola maldita!

Eu suspirei, olhando a batalha que se desenrolava na avenida. Mais uns dois tanques vinham seguindo o primeiro que passou por nós, atirando contra alguns prédios mais para frente na avenida.

— Tomara que vocês estejam certos.

Esperamos tanto o melhor momento para avançar por trás do primeiro tanque e trombamos com alguns rebeldes mal-encarados que estavam fazendo a retaguarda do primeiro.

Havia um pequeno espaço entre eles e os que vinham conduzindo o segundo tanque. Só tínhamos que passar por eles e mais uma confusão de guardas e rebeldes se matando mais pra frente. Nada de difícil, né?

Arthur foi na frente.

— ||BOLA DE FOGO||!

A labareda tocou o centro dos rebeldes que se dispersaram com a explosão de chamas. Alguns se queimaram o suficiente para ficarem imobilizados.

O resto apontou seus //CANHÕES DE MÃO// para nós. Tentei ficar o mais colado possível em Arthur enquanto ele abria caminho com suas chamas.

— OLHA! ELES ESTÃO FURANDO A FORMAÇÃO!gritou uma voz rude lá da frente. Devia ser um dos comandantes dos legionários de ferro da fortaleza.

— Sai da frente que atrás vem gente! — gritei.

BAM! BAM! BAM! BANG!

— Atirem neles! Eles estão com o rei! — bradou um dos rebeldes que liderava o esquadrão que vinha na frente do segundo tanque.

Os projéteis explosivos derretiam nas chamas de Salamandra antes de nos atingirem. Furamos a formação deles e conseguimos passar da fileira de tanques.

BANG!

Um tiro veio por trás e ia me pegar pelas costas, mas Picker ricocheteou o projétil e o tiro voltou para o dono — e voltou com um lindo Headshot.

— Eita! Valeu, Picker! — gritei, voltando a correr.

— Wiwi!

Picker foi voando bem perto de nós e mandando de volta alguns dos tiros que escapavam entre as chamas. Vendo que suas armas eram inúteis, alguns vieram no braço contra a gente.

Péssima decisão.

Eles até podiam ser mais resistentes, mas as armaduras retardavam seus movimentos o suficiente para conseguimos nos esquivar sem maiores problemas. Mesmo sem minha arma, eu ainda conseguia usar minhas skills em mim mesmo como um buff.

Um ||REDUZIR CARGA|| em mim mesmo e seria bem difícil eles conseguirem me acertar uma coronhada ou algo do tipo. O problema que não era só eles que atrapalhavam.

Lutando contra os anões desordeiros estavam os legionários de ferro, anões com uma armadura ainda mais poderosa — e bonita —, com grandes //BASTÕES ELÉTRICOS// e //MAÇAS DE PULSO DE FERRANIUM// e que também não estavam dispostos a colaborar com a gente.

Para ambos os lados, nós erámos inimigos.

— Estamos quase lá! — gritou Arthur, torrando mais uns dois anões que estavam no caminho.

Me esquivei de outro que veio pela lateral com um facão e deslizei pelo chão arenoso, encontrando mais um grupo que lutava mais à frente. Eram dois legionários e contra três bandoleiros armados com seus //CANHÕES DE MÃO//.

O combate era próximo, então eles usavam as armas de fogo mais como porretes para se defender do que para atirar.

Um dos legionários mais atrás percebeu minha entrada e reagiu.

VUUP! CHOCK! Desviei por milímetros.

Merda! Foi por pouco! O bastão dele emitia descargas que poderia facilmente aplicar [ATORDOAMENTO]. Depois da esquiva, engatinhei e a arma seguiu seu trajeto até encontrar outro azarado que lutava mais para o lado.

— Merda!

Rolei para perto de Arthur. Outra porretada de um bastão passou em branco e acertou o chão.

— |NINHO DO DRAGÃO DAS CHAMAS|! — Arthur gritou.

As chamas se revolveram para formar uma grande esfera de fogo que torrou os que estavam mais próximos e afastou o resto. Até eu me queimei um pouco na brincadeira.

Os anões continuam investindo e Arthur mantem a esfera ativa até atravessarmos a avenida para a casa aberta que ele indicou.

Ao nos aproximarmos, a gente praticamente se jogou pra dentro do prédio.

— |SOPRO DO DRAGÃO DE FOGO|!

Ele rapidamente cuidou de obstruir a passagem com sua habilidade para que ninguém viesse nos encher o saco. Pensamento rápido; Picker também veio voando por uma fresta da parede, trazendo alguns espólios dos anões mortos.

O XP também já foi computado. Acabei upando naquela bagunça:

 

* ARTHUR [Lv. 31]

XP: 325.505/1.200.000 – Lv. UP! + 1 (Novos pontos de habilidade adquiridos!)

- Ver histórico de combate -   

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* JUNIORAI [Lv. 30]

XP: 436.250/1.100.00 – Lv. UP! + 1 (Novos pontos de habilidade adquiridos! )

- Ver histórico de combate

 

Ufa... pelo menos a mana agora vai dar uma enchida pro Arthur, pensei, um pouco aliviado com aquele UP.

Fechamos as janelas rápido também. Pelo menos ficaríamos isolados das ruas por tempo o suficiente para pensar no que fazer.

— Ufa... isso foi dramático. — comentou Arthur, em um tom mais descontraído.

— É. Quase levei uma porretada bem dramática lá atrás. Isso sem contar os tiros dramáticos também — respondi com uma ironia bem azeda. — E agora? Vamos ficar aqui até as coisas se acalmarem?

— Não sei. Será que tem alguma saída pra esse lugar?

Franzi o cenho, deixando bem claro que estava bem puto com ele.

— Tu nem pensou se haveria uma saída aqui ou não antes de apontar esse lugar, não é?

Arthur soltou uma risadinha boba como resposta. Bem como eu imaginei.

— Não dava para pensar nos detalhes, Junior.

— Ah tá. Beleza...

O mapa estava escuro e havia ficado extremamente menor. Era uma loja de enfeites que havia sido abandonada quando o confronto começou.

Não era tão grande; tinha o balcão e três corredores pequenos com estantes enfileiradas na vertical e produtos expostos. As paredes e o chão era de uma madeira falsa decorativa — lembrando uma loja de jardinagem mesmo — e alguns enfeites como quadros e cabeças de monstros empalhadas.

Dei uma boa olhada no lugar e Picker também fez o mesmo. Enquanto nós nos recuperávamos, fazíamos um pequeno looting no lugar para, talvez, achar algo de útil.

Não tinha nada, como o esperado. Durante a busca, Picker acha alguma coisa.

— Wiwi! Wiwi! — Ele indicou com a cauda uma porta no fim de um corredor que jazia atrás do balcão.

— Muito bem, bolinha. Merece até uma pratada quando voltarmos. — disse, acariciando as penas de sua asa de anjo.

— Essa passagem leva pros fundos? Temos que ter cuidado para não sermos pegos de novo no meio de um confronto. — Arthur levantou um ponto interessante.

Dessa vez eu não tive coragem de conferir e mandei Picker ir na frente para checar. A princípio ele ainda quis discordar da decisão, mas não tínhamos muito tempo para bate-boca — e discutir com uma bola com asas e um olho não estava no meu roteiro.

Arthur foi o primeiro na fila e eu, o desarmado, por último. Ele abriu a porta bem rápido e Picker disparou para fora.

— HYAAAAAAAAA!! — Um grito seco de susto apareceu do lado de fora antes de sairmos.

Picker acabava de fazer mais uma vítima de susto. Para nosso alívio, aquela porta saía em um terreno baldio entre dois três prédios. Mais para frente havia alguns becos que saíam em ruas paralelas às avenidas.

As explosões, tiros e gritos continuavam de fundo. No céu, nuvens pretas assustavam que via de longe

— Parado aí! — Arthur gritou, espalmando as garras contra o elemento recostado no muro.

— Calma aí, calma aí. Eu só... Yurp... só quero... beber alguma coisa... Yurp...  antes de morrer! — berrou ele com as mãos levantadas enquanto arrotava.

— Espera aí... eu conheço esse velho — Arthur entendeu, assim como eu, que o rosto dele já era bem conhecido. Vestindo com um avental sujo, botas e luvas de couro enlameadas, uma armadura peitoril simples e fedendo a cachaça.

Era inconfundível aquele cheiro. Aquela alma estagnada pelo álcool.

— É aquele velho que a gente levou pra anã lá — apontei.

Ele piscou algumas vezes e apertou os olhos, tentando nos reconhecer.

— Vocês... MEUS COMPANHEIROS DE BEB...!

— Cala a boca! — interrompi, tapando a boca dele. — Quer que achem a gente?!

— Você é o...

— Astholf! Nós bebemos juntos, se lembra? — retrucou, a voz trêmula.

Memória seletiva é impressionante. Será que ele só se lembra das partes que envolviam bebida?

— Então, tem como você nos contar o que está acontecendo? — Arthur perguntou, se recostando na parede.

— Aaah... pensei que nós íamos beber agora que nos reencontramos — Astholf suspirou em seguida, coçando a cabeça. — seria melhor conversamos sobre isso com uma gelada!

— Que tal tentar responder as perguntas, dá pra ser? — retruquei, curto e ríspido.

O beberrão revirou os olhos.

— Ah, é um golpe de estado — disse Astholf tão naturalmente que eu pensei por um instante que tivesse zoando a gente. — só isso.

— Como assim, “só isso”?

— Sua cidade está queimando e você não tá nem ai?

— Eu estava bebendo quando tudo começou. Todo mundo da taverna saiu correndo, até mesmo o cara que estava me servindo.

— E o que há com essa lógica? — falei, tentando reorganizar as ideias. — Não muda de assunto, desgraça. Foca na nossa pergunta!

— Eu já respondi, bolas! É um golpe de estado — Ele fez uma pausa, colocando a mão espalmada atrás da orelha. — Estão ouvindo isso? Esse som de esteira e tiros? São os tanques dos rebeldes se dirigindo para a ||FORTALEZA DE FERRO||. Eles... até deram um nome pomposo para isso: Marcha do ferro-sangue com tanques! Poético, não acham?

— Poético é uma porra! Eles estão destruindo tudo e matando...

Antes de Arthur começar a extravasar, eu o puxei pelo braço e nos afastei de Astholf. Aproximei o rosto do seu ouvido, sussurrando:

— Percebeu o mesmo que eu?

— Que ele é um vadio desinteressado e sem salvação? — alfinetou Arthur.

— Ei! Eu ouvi isso, viu?!

— É pra ouvir mesmo seu...

— Ei, Arthur! Arthur! Foco, caramba! — O puxei de volta para o raciocínio. — O que eu tava dizendo é que ele sabe muito sobre tudo o que tá acontecendo.

— Acha que ele pode nos ajudar a chegar na Fortaleza? — questionou Arthur, surpreso com minha afirmação.

— Óbvio, macho. Ele não tá bêbado o suficiente para impossibilitar um interrogatório, mas temos que fazer isso direito.

Arthur suspirou, alternado o olhar entre mim e o pinguço sentado no pé do muro.

— Não sei não, Junior... Acho que ele não vai ajudar muito.

— Temos que tentar, né? Ele é daqui, então deve conhecer algum atalho para a Fortaleza.

Arthur concordou, mesmo a contragosto. Voltamos para onde Picker vigiava Astholf. Por algum motivo, ele tinha muito medo daquela bolinha dourada com asas, então ficou bem quietinho.

— Que vocês estavam cochichando hein? Estão pensando em alguma perversidade? — perguntou, desconfiado. — E por favor, tira esse troço de perto de mim!

— Wiwiwi! Wiiiiwiwi!

Picker parecia estar gostando da posição de autoridade com relação a Astholf.

— Se você responder às nossas perguntas e nos ajudar a acalmar toda essa situação, o que acha de te pagarmos uma rodada? — comecei, já mudando a atmosfera da conversa.

As explosões sempre me lembrando que eu tinha que fazer isso rápido. Astholf retorceu os lábios.

— Verdade? Não tão querendo me comprar, não?

— Palavra de aventureiro! — respondi.

— Mas palavra de aventureiro não vale nada.

Arthur riu.

— Então... E-e-eu prometo. Já bebemos antes, não é? — interpelei com um tapinha no ombro dele e um sorriso quebrado.

E meu interrogatório já estava indo pelo ralo antes mesmo de começar.

— Tá bom, mas vou cobrar hein? — Ele concordou, para meu alívio. — Então, o que vocês querem saber?

— Você sabe algum caminho rápido para a Fortaleza de Ferro? De preferência, um que não tenhamos que enfrentar ninguém.

Mesmo um pouco virado já, Astholf me atirou um olhar questionador.

— Conheço sim. Vários, na verdade, mas eu irei mostrar se me responderem algo. Por que querem tanto ir para a ||FORTALEZA DE FERRO||? — Era a única que pergunta que eu não esperava responder, ainda mais pra alguém que eu não sabia se podia confiar ou não.

Eu e Arthur nos entreolhamos. Esse papudinho safado, pensei sendo obrigado a mandar uma resposta.

— A gente quer falar com o rei. — respondi, conciso.

— E porquê? Vocês sabem se ele vai escutar vocês ou não?

Como eu poderia responder àquilo sem ser grosso ou indelicado?

— Não. Não sabemos, mas diferente de algumas pessoas, estão tentando fazer o que é melhor pra todo mundo. — A indireta foi seca e sem cuspe.

Astholf crispou os lábios, se levantando e sacudindo a poeira das suas roupas. El tomou uma distância segura de Picker e saiu andando.

— Ei, aonde você...

— Não entendo vocês. Querendo perder tempo e energia com coisas inúteis e sem sentido. — Ele fez uma pausa, baixou a cabeça com um suspiro. E então continuou: — Por que tentar mudar um mundo que não quer mudar?

— Por que é o que um aventureiro faz! — rebati, a voz afiada.

Essa seria minha resposta para todas as perguntas que eu não queria ou não sabia responder — além de me fazer parecer mais legal.

Ele nos olhou novamente com um olhar enfadonho. Por algum motivo que não soube dizer na hora, me peguei pensando se ele realmente era daquele jeito porque queria. Talvez não fosse algo que eu devesse me meter de qualquer forma.

Já tinha comprado muito peixe pra um aquário só. Meu foco agora era chegar na fortaleza rápido e então voltar para ||AMINAROSSA||. O resto era bônus.

— E então? Vocês vão querer ir para a ||FORTALEZA DE FERRO|| logo ou vão ficar plantados aí o dia inteiro? Quero voltar logo para bebermos! — gritou ele, parecendo mais determinado agora que há poucos minutos atrás.

Mandamos um gesto de concordância um para o outro e o seguimos.

 

 

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Enquanto isso, não muito longe dali, em algum lugar no meio do caos.

PLAYER: [???]

   

O confronto e os tiros continuam intensos por toda a Capital do Aço.

Vidas e mais vidas, tanto de anões como de humanos, tombavam.

A magia estava louca.

Os tanques não cessavam sua marcha de destruição. Avançavam, esmagavam, explodiam.

De cima de uma das construções de ferro negro flutuantes que preenchiam os céus de ||BASIN-C||, uma sombra espreitava. Assistia a tudo, impassível.

Ela esboçou um sorriso sombrio no rosto, focando um pequeno ponto da cidade. Um terreno abandonado entre alguns prédios no solo.

Algo resplandecia em sua mão, brilhando em um fulgor roxo com capacidade para iluminar um grande salão.

 

Eles... o herói de pele escura e o rapaz da chamas (...)

 

— Hihihi. Encontrei vocês.

 



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