Volume 1 – Arco 2
Capítulo 19: Torre do Maquinário
||FORTALEZA SUSERANO||, centro da cidade-reino de ||AMINAROSSA||...
PLAYER: [Thayslânia]
Já era chegado o horário marcado. Já me encontrava em minha sala, sentada em minha cadeira giratória e observando da grande janela do salão toda a cidade dormir. Estava tudo bem quieto e calmo. Era raro quando isso acontecia. Desde quando o golpe de estado aconteceu, “calmaria” havia sumido de nossos vocabulários.
Eu sempre recebia pelo menos umas sete visitas ao dia de soldados e mensageiros, trazendo notícias sobre a guerra e sobre o reino, tanto boas como ruins.
Mas agora estava tudo calmo; era quase um sonho. O silêncio sagrado que se forma dentro daquela sala me fazia querer descansar minhas pálpebras.
“.....”
“Adormeceste, minha mestra?”
Eu acordei com a voz leve e angelical de Eyatos. Ainda estava sentada em minha cadeira, da mesma forma que fiquei quando decidi contemplar aquela majestosa cidade-reino.
“Acho que.... cochilei.”
Um bocejo. Minha visão ainda se alinhava à claridade de novo. Os meus comandantes já deveriam estar quase chegando.
“Você anda trabalhando demais. Deveria parar um pouco para descansar.”
Do modo como ela falava, não precisava nem pedir. Acho que nem me lembro a última vez que tive um sono decente.
“Eu sei, Eyatos, mas não posso parar agora. Ainda tenho várias coisas para resolver. Não posso perder meu tempo descansando...”
“Você está assim desde aquele dia, minha mestra. O dia em que derrubou seu pai do trono.”
Fiquei em silêncio. Era como se ela tivesse tocado em uma espécie de ferida. Eles urravam como fantasmas enlouquecidos, gritando e clamando pelo sangue; meu sangue! Confesso que ainda me perturbava alguns trechos daquele capítulo, mesmo que a insurreição tivesse concluído seu propósito.
Ainda tinha aquele dia claramente em minhas memórias.
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||PRAÇA ADMINISTRATIVA||, cidade de ||PETREV||, ao extremo sul de ||MAPLE ORIENTAL||.
*tambores rufando*
“Assassina!” “Assassina!” “Assassina!”
A multidão berrava em uníssono.
Uma grande massa se reúne em torno de um palanque alto de madeira, situado na principal praça da cidade. Naquele dia, chovia bastante e a lama escorria como rios nos pés de todos.
As flores foram afogadas em um mar de água suja misturado com sangue. Tão lindas e belas flores eram...
“Assassina!”, gritavam alguns.
“Corrupta!”, diziam outros.
Os carrascos estavam apenas esperando um aceno de mão meu para começarem as decapitações. Eu nunca me senti tão apavorada e pressionada na minha vida. Meus músculos enrijeceram e meu semblante estava paralisado.
Um comando meu... e suas cabeças rolariam pelo chão encharcado do palanque.
Uma ordem... Um gesto de mão.
Tudo estaria acabado. Suas vidas tóxicas e sem sentido... terminariam ali!
“Eu realmente tenho o direito? Eu posso dizer quem deve viver ou morrer?”
Eu fiquei questionando a mim mesma por um longo e angustiante tempo, enquanto segurava meu pingente; um presente da minha falecida mãe. Agora estava diante do palanque onde meu pai, o rei tolo e corrupto, seria executado junto com a escória de seu reinado, enquanto que os grandes nobres e senhores de terra que o apoiavam, atiçavam a multidão a irem contra a nossa insurreição.
Porque eu hesitava tanto em um momento tão decisivo?
“Filha minha... você sempre foi fraca. Sua força de vontade não pode proteger nada e nem mudar nada.”
Essa era a voz do meu pai? Ele estava me falando aquilo enquanto sua cabeça estava para ser separada de seu corpo? Sua boca ainda estava cerrada e ele apenas me olhava, olhos gelados de indiferença. Talvez pena?
Os trovões rimbombaram alto no céu e o povo continua a bradar sua indignação em alta voz.
“Thayslânia... minha filha...”
“O que?!”
Seus lábios não se moviam. Como?
“Aqueles que não estão dispostos a sacrificarem aquilo em que acreditam, seus desejos, seus valores e até mesmo sua alma, não podem mudar nada. Não podem conquistar nada!”
“O que está dizendo, seu velho maluco?!”
“Esse conluio ridículo que planejou irá cair em cima da cabeça de todos vocês mais tarde. Minha semente já foi plantada. O meu legado, deixado.”
“Não! Você é só um louco e um tirano! A farsa e a corrupção acabam aqui!”
É impressão minha ou eu estava tendo uma discussão mental com meu pai em meio àquela janela de microssegundos que se decorreu?
Será que sua loucura somada ao meu medo envenenou minha mente a esse ponto?
“Você não está apenas tentando se convencer de que isso é real? Olhe a sua volta! O povo e os céus são testemunhas da sua loucura.”
“Não deixe que a vontade dele te confunda, mestra!”
“Eyatos?!”
“Já chega de hesitar, minha filha! Isso foi o que você sempre quis desde o começo.”
Poder? Soberania? Vingança talvez?
Não...
“Justiça! Foi por isso que lutei por tanto tempo contra todas as ciladas que você montou! Isso é o que a mamãe teria feito!”
“Não há do que se arrepender. É apenas a natureza seguindo seu curso, minha filha. Agora você tem o poder para isso. Você é a mais forte! E os fortes sempre eliminam os fracos...”
“Pare com isso! Eu não serei como você! A história contará isso.”
Ele gargalha no meio de todos, mas continua em silêncio. Uma risada muda. Nossa batalha mental continua sendo travada e Eyatos sabia disso. Naquele espaço entre nossos olhares se cruzando, o tempo e o espaço se mostravam irrelevantes.
A multidão que gritava se calou. O som da chuva caindo cessou. Os trovões silenciaram. Tudo parecia congelado naquela porção de tempo em que nossas mentes se digladiavam.
“A história já foi reescrita, minha filha. Sua bondade se mostrará a pior de suas fraquezas!”
“Mas era a maior das virtudes de minha mãe. Ela nunca falhou comigo. E agora, eu não irei falhar com ela!”
A imagem, mesmo que borrada em minhas lembranças, do rosto de minha mãe me encheram de coragem.
E o tempo voltou a correr para mim. Nesse momento, meu gesto foi preciso e sem hesitação, seguido das seguintes palavras:
“Degolem ele!”
A ordem foi dada.
Sem hesitação, sem remorso e com total convicção.
Os dois carrascos mascarados erguem seus machados. Meu pai ri. Acho que pude ouvir uma última palavra de desprezo cuspida por ele, dessa vez pronunciada por seus lábios, antes do som da lâmina chispando no vento preencher minha audição:
“Finalmente... você é igual a mim...”
*TUUC*
“Thayslânia! Thayslânia!”
A multidão enlouquece...
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De volta ao tempo presente...
Meu pai sempre foi um rei tirano. A pobreza alcançava marcas estratosféricas e o poder militar do nosso país foi bastante enfraquecido durante seu reinado.
Eu achei que quando o derrubássemos, as coisas iriam melhorar, mas me enganei; tudo só piorou depois disso.
Bom... nem tudo. Eu ainda tinha o apoio do exército e alguns lordes que também não aceitavam os impostos abusivos que a antiga coroa havia estipulado. ||AMINAROSSA|| ainda não havia se erguido desse episódio completamente.
Muito pelo contrário...
Seus pedaços ainda estavam espalhados pela terra. Demoraria um bom tempo para que o reino voltasse a ter sua grandeza dos tempos antigos. E eu continuaria a carregar esse fardo... sozinha.
Sozinha...
Queria que minha mãe estivesse aqui. Ela sempre soube o que fazer e quando tudo parecia ruim, ainda assim um sorriso decorava seu belo rosto.
“......”
“Mestra? Seu interior está sombrio como o pior dia nublado.”
Eyatos ainda era a minha única conexão com minha mãe. Sua voz sempre me consola naqueles momentos de sensibilidade. Todas as vezes que ela falava comigo, eu sentia como se fosse minha própria mãe falando através de Eyatos.
“Está tudo bem. Só... me lembrei.”
“Deve ser difícil para você, minha mestra, mas foque apenas em acertar as coisas. ||ANDRAS|| não pode reconhecer seu momento de fragilidade, mestra.
“Tem razão.”, limpei o rosto e me recompus.
Não era bem as palavras que eu queria ouvir, mas era isso que me dava forças. O único lado do qual eu não gostava de Eyatos era seu modo extremamente racional de lidar com tudo.
E nem tudo dava para se resolver com lógica.
“Além disso, mesmo com a reprovação do povo, as coisas estão caminhando. É só olhar para como as pessoas lhe receberam. A maioria delas te vê como uma heroína agora e que está salvando ||AMINAROSSA|| de sua ruína.”
“Heroína”. Era tudo o que eu não era.
Mas era reconfortante lembrar que agora as pessoas me viam assim. Devia ser uma espécie de compensação pelo esforço que todos nós tivemos naqueles dias de luta contra a tirania do antigo rei louco.
“Você sempre tem razão. Você realmente é incrível, Eyatos. Sempre dizendo o que eu preciso ouvir.”
“Disponha, mestra. Esse é o meu dever.”, responde ela de modo extremamente cortês.
De tanto falar na bendita calmaria, ela é quebrada por um dos soldados entrando no salão. Ele se curva prontamente. Eles insistiam em fazer isso, mesmo eu dizendo que não precisava.
Que saco!
“Senhora! Eles já estão aqui!”
“Opa! Mande-os entrarem.”
Finalmente! Pensei que tinham se perdido no caminho para a cidade. A tropa de batedores do castelo se enfileirou para receber seus superiores: os respeitadíssimos capitães da [ORDEM DE AMINA].
Eram ao todo, sete capitães e cada um com suas peculiaridades e poderes únicos. A primeira capitã – e também meu confiável braço direito –: Leticia.
Era uma arqueira tão quieta e reservada quanto misteriosa e que veio das terras geladas e quase inóspitas de [REN DO NORTE]. Dotada de uma fisionomia rara para os habitantes da região e de uma beleza angelical, a capitã da 1° Ordem era extremamente habilidosa e letal, usando de seu arco gélido para sepultar seus inimigos em tumbas geladas e por isso carregava o temível título de [ARQUEIRA INVERNAL], o qual causava arrepios até nos mais corajosos.
Ela vinha andando na frente, liderando os outros capitães enquanto seus cabelos cacheados com pontas douradas esvoaçavam com a leve brisa que penetrava o salão pela porta de entrada e um ar neutro.
Logo atrás dela vinha Frederick, o cavaleiro comandante da 2° Ordem e um dos melhores espadachins de todo o reino. Sua grande glaive de lâmina verde marfim, apelidada por ele mesmo de //OPERA// – pois dizia que cada balançar dela era como uma doce sinfonia – vinha a balançar arrastando no chão e reproduzindo seu ruído metálico característico. Era gigante em tamanho, vestindo uma temível armadura verde acinzentada a qual não conseguia cobrir seus gloriosos músculos.
Em seguida, a capitã da 3° ordem: Moria. Uma arqueira assim como Letícia, mas sua especialidade era a furtividade e as arapucas. Sua Ordem também conhecida como a [CICATRIZ NEGRA], era perita em combates de campo e ativação e desativação de armadilhas. Acontecia de um exército inteiro ser derrotado antes mesmo de chegarem até nós apenas caindo nas muitas e fatais armadilhas de Moria. Uma arqueira ladina extremamente inteligente e calculista.
Depois dela vem seu parceiro, capitão da 4° ordem, Damon. Sua agressividade e força exacerbadas, típicas das tribos bárbaras do Norte de Aminarossa, eram bem conhecidas e respeitadas. Empunhava uma grande espada de dois gumes em suas costas e seu corpo repleto de cicatrizes e ataduras, além de seus grandes cabelos negros armados, lhe proporcionavam um ar bastante selvagem e intimidador, contando suas histórias nos campos de batalha. Ele e Moria sempre estão juntos, disputando por qualquer coisa.
Dr. Librarus vem logo em seguida. O assustador capitão da 5° ordem é um doutor bastante conhecido no ramo da tecnomagia e foi um dos pioneiros nessa arte. Seu corpo hoje em dia é quase que 90% somente de próteses e peças tecnomágicas, conferindo a ele também um suprimento quase inesgotável de mana – aí, que invejinha! –, além de ter sempre vários truques guardados em algum lugar de seu corpo.
Ele quem conduz experimentos científicos e é responsável pela central de pesquisa do reino, atualmente trabalhando mais do que nunca. O único problema nisso é que seus métodos de pesquisa não são nem um pouco... convencionais e geralmente ele precisa de cobaias para esses testes.
Onde ele os acha? Os azarados que foram rejeitados pela morte após a batalha.
E vem aí o mais animado e brincalhão de todos os capitães, Cid, o grande bobo alegre que lidera a 6° Ordem. Por ser um Faunês, sua ordem é em grande maioria composta por fauneses que ele resgatou e treinou para serem exímios perseguidores, achando inimigos e armadilhas escondidas em qualquer lugar e sob qualquer situação. Além disso – e um fato que me mete um pouco de medo de vez em quando – ele está sempre com um sorriso brilhante no rosto e um inabalável bom humor, mesmo quando está em combate e essa é a parte mais assustadora de Cid.
E por último, a recém promovida a capitã da 7° Ordem, a espadachim que empunha uma grande espada de chamas, Agatha. Suas chamas consomem qualquer coisa e ela tem muito potencial inexplorado ainda – mesmo sendo horrivelmente desastrada –, sendo Frederick seu tutor e mestre. Mas ainda não consegui firmar uma base sólida de confiança nela, principalmente por ela ter alcançado o posto de capitã por meios até hoje um pouco... duvidosos – além de que, o antigo capitão morreu misteriosamente durante uma incursão.
Se posso ou não confiar nela de fato, só o futuro dirá mais tarde.
Apresentados todos os capitães, eles já estavam presentes e se ajoelharam em uma saudação solene ante mim.
“Perdoe-nos o atraso, rainha. Tivemos alguns contratempos no caminho”, começou Letícia, falando por todos.
“Letícia! Frederick, Moria, Damon, Agatha, Librarus e Cid! Que bom que chegaram. Hoje temos muito o que debatermos.
“Tive que cuidar de alguns rebeldes na fronteira. Demorou alguns dias para a contenção. Eles eram bem chatos!”, disse Letícia, emburrada.
“Deve ter sido divertido! Devia ter me levado com você, Ticinhaaaa!”, disse Cid enquanto ria animado.
“NÃO me chame desse jeito, garoto!”, ralhou a arqueira invernal.
“HAHAHA! Não fique tão bravinha!”
“Cidd! Depois você leva uma flechada no meio das costas e não sabe o porquê, não é?”, disse Moria, igualmente séria.
“Ainda bem que não delegaram essa tarefa para nós. Seria um porre cuidar daqueles insetos tentando fazer gracinhas em um campo tão hostil como as montanhas.”, disse Damon, bocejando.
“Está dizendo isso porque sequer conseguiria lutar seu estivesse lá, seu troglodita! Sua espadinha só iria ficar cravada no chão esperando a hora de ser polida.”, alfinetou Moria, rindo de forma sarcástica.
O capitão da 4° Ordem franziu o cenho, fazendo uma careta contorcida de ódio.
“HÃAA?! Muito engraçado ouvir isso de uma covarde que só se esconde atrás de ciladas fajutas ao invés de lutar de verdade!”, retrucou Damon, ríspido.
“E pra que eu preciso sujar minhas mãos quando posso usar apenas o cérebro? Não sou um animal selvagem como você que só sabe atacar a primeira coisa que vê pela frente!”
“Isso é o típico comentário de um frangote que não sabe encarar um campo de batalha!”
“GRRRRR!”, os dois ficaram sem encarando com semblantes de raiva e olhares faiscantes.
“Isso ainda vai longe...”, comenta Frederick com a mão na testa.
“Parem já com isso vocês dois! Não é hora para essas disputas imbecis de vocês dois. Tratem de manter a compostura!”, repreendi de imediato.
Os dois só viraram o rosto e cruzaram os braços, bufando com raiva. Era algo tão sincronizado e ensaiado que eu me perguntava se eles não tinham algum vínculo compartilhado ou algo assim – e conhecendo-os bem, eu tinha até medo de perguntar.
“Eu tinha ouvido falar deles. Que bom que já cuidou de tudo.”, retomei o assunto, me dirigindo a Letícia de novo.
“E por que nos chamou? Acho que não foi para conversar dos vizinhos enquanto tomamos chá, não é?”
Eu me levantei e fui até eles. Não aguentava mais ficar sentada naquela cadeira e nem ficar naquela sala. Me sentia presa em uma gaiola de pássaros em forma de castelo.
“Me sigam.”
. . . .
Eu os levei até a cobertura da //FORTALEZA SUSERANO//, um espaço aberto que ficava entre as duas torres principais e que era usado para monitoramento. De vez em quando, meu pai usava esse lugar para suas festas profanas.
“Aaah! Finalmente um ar fresco! Já estava sufocando lá dentro!”,
“E então, mulher? Fala aí. Eu sei que se não fosse algo sério, você nem me chamaria.”, começa Letícia, cruzando os braços.
Cada capitão tomou um lugar no pequeno pátio de pedra.
“HAHAHAHA. Não diga isso. Mas, sim. É algo sério.”
“O que seria?”, pergunta ela.
“Se lembra da //BIBLIOTECA DA ALMAS//, o lugar sagrado que guarda vários dos tesouros e segredos escondidos nesse mundo?”
Sua expressão mudou subitamente. Eu já esperava que ela fosse reagir assim.
“Eu temo que os Andros já estejam de olho nela. Lá contém muitas informações e muitas delas são de ||AMINAROSSA|| também...”
“E não só de Aminarossa, mas de tudo que existe nesse continente!”, completou o Dr. Librarus.
“Não imaginei que fosse tão sério, mulher. HAHAHA”
“Eu não te falei?”
Era uma coisa admirável na Letícia era o senso de humor dela. Mesmo eu lhe falando aquilo, ela ria como se fosse a ponta da soleira da bota que tivesse quebrado. Se fosse outra pessoa, eu diria que ela não tinha ciência da gravidade da situação ou que ela era retardada.
“E já fez um plano para isso?”, pergunta ela.
“A estrategista aqui é tu, mulher. Um pouco a Moria também. Por isso, eu chamei vocês.”
“HAHAHAHA! Eu sabia. Acho que o melhor a fazermos é chegar antes deles, concorda?”
“Tem razão. O Gabriel e os Andros não podem chegar a //BIBLIOTECA DAS ALMAS// antes de nós.”
“Com certeza. Devo montar a equipe para o reconhecimento em até 3 dias. Claro que eu também posso fazer isso antes, né?”, disse Letícia com um risinho discreto.
“Eu sei que pode. Mas ainda tem algo que está me incomodando também fora isso.”
“...?”
“Aquele cara que me desafiou na entrada da cidade... como era mesmo o nome dele?”
“Que cara?”, perguntou Letícia, levemente surpresa.
“Um estranho desafiou a general na entrada da cidade, na frente de todo mundo.”, Moria cuspiu as palavras o mais diretas possíveis.
“....”, e o Dr. Librarus permanece em silêncio.
Damon também.
Agatha estava distraída com a majestosa visão de toda a cidade de lá de cima.
“Também soubemos disso. Então as conversas e boatos realmente eram verdade; há um louco mais louco do que o mais louco maluco dessa cidade!”, disse Cid, rindo.
“Rainha Thayslânia, o que exatamente preocupa você em relação a um desconhecido? Deve ter sido somente mais um maluco separatista que estava buscando a morte.”, questiona Frederick, curioso.
Eu suspirei, lembrando do ocorrido. Mesmo que eu tenha vencido sem problema algum, aquela situação... a forma como ele me deixou naquele dia me fez parecer como se eu tivesse perdido a luta.
Penso eu que foi uma das minhas maiores humilhações até hoje como uma autoproclamada líder de estado.
“Aquele homem... ele usou alguma magia estranha que... não está no meu cabedal de conhecimentos.”, revelei, forçando uma lembrança.
“Magia estranha? Que tipo de magia?”, pergunta Moria.
“Não sei se era magia ou não, pois ele usava um machado de batalha enorme e não um cajado ou cetro como um mago usaria. Mesmo assim, ele usou alguma habilidade que fez todo mundo levitar.”, descrevi o mais claramente os fatos quanto eu pude, mas nem eu mesmo sabia como descrever tal cena absurda.
“Levitar...?”, Letícia questionou, intrigada.
“E ele estava usando um machado enorme? Gostaria de ter lutado com ele!”, disse Damon, animado com a descrição – somente essa parte.
“Como ele lançou uma magia de levitação se não estava carregando um item mágico?”, ponderou Frederick, os dedos deslizando pela barba.
“Além disso, mesmo com a diferença gritante de nível entre nós, ele resistiu aos meus ataques e até bloqueou alguns deles. Sem falar que aquele machado...”
“O que tem o machado?”, Letícia estava ansiosa por detalhes.
“Ele emitia uma energia muito similar à minha Relíquia Hospedeira!”
“HUM... então temos um cara com um machado enorme que emite uma energia parecida com a Eyatos da General e é capaz de fazer os outros levitarem?”, Moria recapitula os pontos.
“Já vemos que ele não era um cara qualquer. A senhora o matou, minha rainha?”, pergunta Frederick.
“Segundo os oficiais de ronda que o levaram, ele sobreviveu.”, todos ficaram em choque com aquela declaração.
“Nossa. Esse cara é vaso ruim mesmo, hein?”, comentou Letícia, estupefata.
“É ISSO!”, Librarus grita de repente, assustando a todos.
“O que foi, Doutor?”, pergunto.
“Como não imaginei uma hipótese dessas? Só pode ser isso! Esse homem que lutou com a senhora, minha rainha, ele estava usando magia gravitacional!”, revelou ele.
“Magia gravitacional?!”, repeti, não acreditando na sua dedução.
“Isso. Vocês conseguiram voltar para o chão depois que ele ativou essa habilidade?”
“Não.”
“Então só pode ser isso: Magia gravitacional.”
“Ainda não entendi o porque de tanta surpresa. O que tem de ser magia gravitacional?”, pergunta Agatha, sem entender nada do que estava acontecendo.
“Acontece que Magia Gravitacional é uma espécie extremamente rara de magia e considerada por muitos estudiosos e magos famosos como extinta. Uma esfera mágica que pertenceu a uma espécie muito antiga que antecederam os primeiros Hominas. Você que estudou muito sobre os mitos e povos antigos deve saber do que eu estou falando, não é minha rainha?”
“Promarins...”, repeti, quase sem voz.
“Promarins? Os habitantes do continente perdido?”, inquiriu Letícia, sem fôlego.
“E esse cara tem alguma relação com eles?”, questiona Moria.
Dr. Librarus sorriu.
“Estamos supondo que tenha, já que consegue usar uma habilidade que eles usavam. Se nossas suspeitas estiverem corretas, esse homem... pode mudar o curso da guerra completamente!”
“Corta essa, doutor! Você só está babando aí, pensando como seria dissecar um desses tais promarins!”, alfinetou Damon com uma careta.
O doutor não segurou um sorriso sádico, enquanto brincava com os dedos.
“Ora, seria deveras interessante fazer vários experimentos em alguém assim. Quantas possibilidades não podem se abrir para nós?! Quantos avanços não conseguiremos? Quem sabe possamos replicar e produzir a esfera de magia dos promarins e conseguir não só a magia gravitacional, mas tantas outras magias raras e antigas! As possibilidades são infinitas!”, bradou o doutor, praticamente em êxtase.
“E o que você vai fazer, Thayslânia?”, pergunta Letícia para mim.
Eu estava esperando que ela fizesse essa pergunta para mim. Realmente, depois de saber de tudo isso, estava bem óbvio o que eu deveria fazer. Uma magia tão antiga e poderosa assim jamais poderia cair nas mãos de Gabriel!
“Está decidido! Eu quero que tragam aquele homem até mim o mais depressa possível! Quero conversar com ele.”, ordenei. “Se as deduções do doutor se mostrarem verdadeiras, temos em nosso poder um importante artificio que irá fazer a guerra virar ao nosso favor!”
Todos fazem uma saudação e bradaram em alta voz:
“AMINA-YUT!”
E se retiram. Menos Letícia. Instrui para que ela ficasse após todos saírem.
Agora só estava nós duas. Podíamos tratar de mais outro assunto muito delicado e que só poderia ser discutindo com a pessoa a qual mais confio no reino.
“Então Letícia... que tal aquele chá?”, sugeri.
Ela sorriu.
“Estava esperando você dizer isso. Aproveita e me conta as últimas. Quero saber de T-U-D-O!”
Aquela menina era incrível! Eu ficava mais leve quando conversávamos e ela sempre me ouvia. Depois de Eyatos, Letícia era a pessoa mais confiável que eu conhecia.
De fato, uma “pessoa” né?
Ela sempre foi meu braço direito e o meu olho nos lugares mais distantes daquele continente.
E agora, eu estava prestes a dar a ela o que poderia ser a missão mais importante de todas.
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Em algum lugar na orla do continente... uma vastidão fria esconde segredos obscuros e debaixo de latas velhas o perigo se espreita.
PLAYER: [Juniorai]
......
*sons de metal rangendo*
“AAAAH... dá tempo de voltar ainda?”, perguntou Arthur, claramente todo borrado com a visão ameaçadora do lugar.
Eu não podia culpar ele. Minha vontade era de sair correndo dali também; mas a questão aqui era: correr para onde?
Estávamos no meio do nada!
Mas eu tinha certeza de que estávamos no lugar certo porque a os sinais visuais e bipes insuportáveis na minha cabeça não me deixavam ter dúvidas quanto a isso.
– MENSAGEM DO SISTEMA –
– NOVA [MISSÃO PRINCIPAL] DISPONÍVEL! –
– EXPLORE A ||TORRE DO MAQUINÁRIO||. –
Além disso, o indicador do mapa – que também só existia na minha cabeça – mostrava aquele lugar isolado como destino final. O lugar era platô afastado – e põe afastado nisso! – do resto do continente e onde ficava um acampamento que lembrava um ferro velho comum. Um verdadeiro cemitério cheio de máquinas quebradas e enferrujadas e no centro dele, uma gigantesca torre que fazia a gente quebrar o pescoço de tentar mirar para o seu topo de tão alta que era.
Uma torre bem estranha também; feita em alguns cantos de blocos de pedra normais e outros de metal e com chaminés, tubulações e engrenagens gigantes rodando lentamente pela parte de fora.
Além disso, a torre era extremamente larga em sua base, mas ia afunilando à medida que se aproximava do topo. Sem falar que ela era completamente disforme, possuindo lugares tortos, outros fora da construção e até partes faltando.
Outra coisa que me chamou atenção também era que bem na região central dela havia um gigante relógio quebrado onde somente o ponteiro dos minutos se movia e ainda se movia ao contrário.
“Tem certeza que é aqui, Junior?”, pergunta Arthur, contemplando a imensa torre.
“WIWIWIWIWI!”, Picker fez o favor de responder para mim.
“Você ouviu a bolinha, né? É aqui mesmo.”
“Você entende essa coisa?”
“É uma questão de intuição.”
Nós então caminhamos pelo parque de sucata, seguindo a trilha até o grande portão da torre – e aparentemente a única entrada e saída daquele lugar. Era um verdadeiro cenário de filme de terror.
Como se não bastasse, uma névoa bem espessa atravessava aquela região deserta, cobrindo a maior parte da nossa visão e do ambiente. Nós andamos quase colados um no outro – não tirem conclusões precipitadas sobre isso! – preparados para o que quer que fosse que pudesse nos surpreender.
“Esse lugar... está muito quieto...”, pensei comigo.
Vez ou outra no percurso acontecia de tropeçarmos em algum braço mecânico perdido, alguma peça ou cabeça de robô semienterrada no chão. De vez em quando também tomávamos algum susto para um som ou outro do ambiente, tipo as arvores das redondezas chacoalhando suas copas com o vento ou o som das próprias partes mecânicas se movendo e rangendo um som levemente perturbador.
E não tinha nem sequer uma musiquinha, uma trilha de fundo ou algo assim para me distrair dos sons do ambiente? Estava tão silencioso e vazio que eu começava a pensar se não tínhamos ido parar em Silent Hill.
Depois de alguns minutos andando, ouvimos um grande som estrondar no local de uma pilha metal desabando no chão. Meu coração nesse momento quase saiu pelo peito.
A adrenalina subiu.
Meus instintos se aguçaram ao extremo.
Os sinais começaram a vim na mente. Vários inimigos se aproximavam rapidamente de nós.
“SE PREPARA, ARTHUR!!”, gritei e rapidamente saquei a //WINGSLASH//.
Arthur desenfaixou rapidamente Salamandra e ficou em postura de combate. Porém, depois do barulhão de muita coisa caindo junta, o som parou e o silêncio assustador volta.
“Desapareceram...?! Mas... como?!”
“Sumiram...”
“...? Como assim, Junior?”, Arthur pergunta, apreensivo.
“As coisas que iam nos atacar... sumiram!”
“E o que iria nos atacar mesmo?”
Pensei um pouco a respeito. Nem eu sabia direito o que estava vindo, mas somente sabia que tinha vários inimigos pelas redondezas – até porque no meu “mapa mental” só apareciam vários pontinhos vermelhos indicando inimigos.
“...!”
Não... eles não desapareceram! Os pontinhos vermelhos ainda estavam no mapa!
“Como assim?!”
“WIWIWIWIWI!”, Picker se agitou de repente. Ele tentava indicar alguma coisa, mas eu não conseguia ver nada no meio do nevoeiro.
“O que foi Junior? Onde está Picker?”, Arthur perguntou.
“Acho que ele está tentando mostrar pra gente onde está o inimigo.”
“Mas eu não vejo nada. Essa merda de nevoeiro está tomando todo o lugar!”
A sensação de perigo era enorme. Mesmo sem sons – o que contribuía ainda mais para o clima de suspense – não sentíamos como se estivéssemos sozinhos ou perto de chegar a entrada da ||TORRE DO MAQUINÁRIO||. Além do que aqueles vários pontinhos vermelhos piscando no mapa me incomodavam pra caralho.
“Acho que o que precisamos fazer é dissipar essa névoa!”, disse Arthur, juntando as duas mãos.
“O que pretende fazer?”
“Só veja.”
Arthur inflou as bochechas, estufou o peito e gritou o nome de sua habilidade:
“|SOPRO DO DRAGÃO DE FOGO|!”
A labareda se expandiu após ser cuspida por Arthur e alcançou o céu, consumindo toda a névoa do lugar. Também escutei o som característico de vários golpes acertando dano crítico – que delícia de ouvir esse som! –, indicando que o ataque cego dele atingiu vários alvos pelo caminho.
A bola de fogo se apagou e levou a neblina junto com ela. Agora sim podíamos ver nossos inimigos e eram muitos! Eram Drones de Sucata Lv.12, com um ataque especial de |LASER FUNDIDO|. Isso não me soava nem um pouco amigável:
RAÇA: DRONE DE SUCATA
NÍVEL: 12
HP: 22.000/22.000
HABILIDADE: LASER FUNDIDO
“Nossa Senhora! São muitos!”, gritei, impressionado com a quantidade ridícula de drones voando sobre nossas cabeças. Parecia ser bem menos inimigos olhando no mapa, mas os pontos vermelhos também estavam tão próximos que passava a falsa impressão de ser menos inimigos do que realmente era.
Acho que teríamos alguns probleminhas já na entrada.
Picker se escondeu debaixo da minha brafoneira de novo como sempre fazia e os drones iniciaram um ataque conjunto. Todos mergulharam de uma vez só para nos liquidar em uma investida frontal. Nós nos esquivamos e eles atingiram o solo, mandando muita terra e poeira para o ar.
“Arthur! Tá bem cara?!”, perguntei, me perdendo dele por um momento.
“Estou sim!”
Dois deles submergiram da terra e me atacaram com uma espécie de serra giratória que passou raspando na minha perna e no meu rosto. Consegui me esquivar a tempo e tomei certa distância para conseguir me reposicionar e sacar //WINGSLASH//, mas outros dois vieram voando pelos lados para me pegar.
Me esquivo de mais uma sequência de ataques e uso um deles de trampolim para saltar até onde Arthur lutava com mais três. Arthur conseguia facilmente bloquear os ataques dos drones com Salamandra, bem como repelir o tal |LASER FUNDIDO| que era ataque especial deles.
“|GARRAS DO DRAGÃO DE FOGO|!”
Um ataque certeiro! Ele transpassa a carapaça de ferro do Drone e o destrói.
O outro vem por trás, mas ele só puxou a carcaça do Drone que já estava preso no seu braço e o lançou contra o segundo, destruindo os dois. Um laser veio por trás e atingiu Arthur no ombro, mas ele parece ignorar o dano e voa pra cima da máquina, acertando uma sequência de três golpes com sua garra que finaliza o drone.
Enquanto isso, os dois que eu tinha driblado lá atrás estavam na minha cola ainda. Porém agora eu já estava em posse do machado e tinha como revidar facilmente fazendo uma coisinha:
“|AUMENTAR CARGA|!”
Resumindo meu farm, eu acertava qualquer ataque meia boca em qualquer drone, ativava a habilidade e depois eles ficavam presos no chão sem poderem fazer nada. Então eu ia até eles e aplicava um golpe de misericórdia.
Mais fácil do que comprar com o cartão dos pais.
Eu poderia narrar toda a luta aqui, mas confesso que isso seria algo tolo depois do resumo que fiz. Fora Arthur que usava suas habilidades em área e torrava uns 5 a 7 de uma vez só, eu praticamente só ficava nesse mesmo processo: bate, imobiliza e finaliza.
Ao final do confronto, o XP ficou dessa forma:
A barra de Arthur:
ARTHUR [Lv. 18]
XP: 650.500/500.000 – Lv. UP! + 3 (Novas habilidades adquiridas!)
- Ver histórico de combate -
E a minha barra:
JUNIORAI [Lv. 18]
XP: 435.059/600.000 – Lv. UP! + 4 (Novas habilidades adquiridas!)
- Ver histórico de combate -
Upei 4 níveis generosos, o que me permitira upar mais algumas habilidades importantes para a incursão naquela raid. Arthur estava na minha frente em nível, por isso a experiência adquirida igualou nossos níveis por hora.
Mas não se enganem! Mesmo que nós tenhamos derrotado a maioria dos drones com apenas alguns poucos golpes, foi bem trabalhoso nos livrarmos de todos eles e custou umas poções de vida aí para nos recuperarmos desse combate.
E ninguém sabia o que podia estar espreitando dentro daquela torre.