Cheaters Brasileira

Autor(a): Kuma


Volume 1 – Arco 1

Capítulo 9: Cidade de Lidooberry

 

||CIDADE DE LIDOOBERRY||, zona norte da região de ||LHASA||, algumas horas depois...

DIA: 20

PLAYER: [Juniorai]

 

||CIDADE DE LIDOOBERRY||... uma cidade fabulosa e simples.

Não era comparado à ||AMINAROSSA|| ou à ||LACUNA||, mas para um lugar perdido no meio de uma planície cercada por florestas e no meio do fogo cruzado, era até bem bonita.

Enormes construções. Ruas bem pavimentadas e um sistema de escoamento único que vinha do rio que cortava a cidade. Com certeza a maior cidade de Lhasa de longe.

A metrópole era formada por duas divisões circulares e uma divisão central e retangular mais ao norte, separadas por muros de uma pedra branca cintilante e anti-mágica – eu sabia porque havia lido nas descrições – reforçados com atalaias duplas e adarves blindados que segurariam um dia inteiro sendo bombardeadas por catapultas, se duvidasse.

As ruas eram lotadas – mais ainda do que a própria Lacuna! – de comércios de todos os tipos, de barracas até mesmo lojas que cobriam um quarteirão inteiro e grandes prédios que lembravam pequenos castelos esculpidos com o mesmo tipo de rocha que era usado nos muros da cidade.

Isso quer dizer que até mesmo um mago de nível alto teria certa dificuldade para pôr aquela cidade inteira abaixo na base da varinha – se tivesse puto, seria um cajado.  

Era uma pena que chegamos lá quase mortos e não pudemos desfrutar de toda a beleza da cidade.

Fomos rastejando até lá; nem precisei dizer que nós estávamos quase mortos. Estávamos em frente a ponte levadiça, com um grupo de soldados apontando suas bestas mágicas para nós lá do alto dos torreões.

Um deles que devia ser o comandante responsável pela ronda daquele barbacã grita:

“Alto lá! Quem são vocês?”

“Nós somos viajantes! Precisamos de ajuda! Temos dois feridos aqui precisando de atendimento!”

“De onde vocês são?”, quanta perguntas! Por acaso pensavam que éramos terroristas?

“Viemos da cidade-reino de ||LACUNA||!”, respondo. Estávamos cruzando a rota comercial e fomos atacados!”

Depois da minha resposta, o chefe mal-encarado e calvo dos soldados entrou. Dava para ver eles cochichando coisas entre si. Talvez estivessem decidindo se deixariam nós passarmos ou abateriam a gente ali mesmo.

“Muito bem. Podem passar!”, gritou o soldado lá de cima.

A ponte levadiça baixou e os portões se abriram para nós.

Entramos na cidade e imediatamente procuramos por um posto de tratamento. Uma taberna ou alguém que pudesse nos socorrer. A viagem foi penosa e demorada. Eu carregando a maga desmaiada nas costas e Arthur se apoiando em mim a cada cinco passos para não cair e era desse jeito que estávamos andando pelas ruas da cidade.

Desmantelados, pingando suor e sangue.

Alguns cidadãos de bom coração nos viram e nos ajudaram. Uma coisa estranha é que a maioria deles me pareciam tão iguais.

Tipo... personagens secundários. Não importava o quanto ou como eu olhasse para eles, eu os via dessa forma. Acha que eu estava sendo convencido e arrogante?

E na vida, todos nós não somos assim? Secundários participando de um joguinho maior do universo?

“Aqui! Cuide desses feridos!”

“Aí! Fiquem aí!”, disse um dos comerciantes que nos ajudou.

O cara berrou loucamente, parecendo uma harpia louca. Ele nos deixou sob os cuidados de uma mulher jovem e morena, com sardas no rosto e usando um vestido de pano gasto e um a. Ela usava um lenço na cabeça e um vestido bem velho. Parecia um pano de chão.

Ela estava junto com outro grupo de personagens totalmente genéricos. Alguns guerreiros com armaduras de couro surradas por monstros e uma proteção de ferro nos ombros ainda mais surrada que eles.

A maioria eram velhos de cabeça calva. Era um show de NPCs!

“Vocês vieram da Floresta dos Passos?”, pergunta um deles.

“Ah... mais ou menos...”

YUP! Floresta dos Passos?!”

Ele acaba de fazer “yup” enquanto nos perguntava aquilo? Sem falar no rosto de maníaco que ele tinha. Era um sujeito ainda mais estranho e se destacou no meio do elenco de secundários.

Onde estão as cervejas?

“O que?!”

“Desculpem o transtorno! Estamos com poucos funcionários hoje!”, finalmente ela veio nos atender.

“O que?!”

A bebida chega. Várias canecas de madeira cheias de cerveja espumante rodam a mesa e os aventureiros tomam em uma golada.

YUP! Que delícia!”

Demorou um tempo para eu perceber que eu estava em uma roda de coadjuvantes beberrões, dentro de uma taberna. Quem foi a anta ao quadrado que teve a ideia de trazer dois feridos para uma taberna?!

Acho que é quase uma crença popular de que lugar de aventureiro é dentro de boteco. É quase um dogma. Vai curar os nossos ferimentos com o quê? Cerveja?

Moça! Acho que houve um...”

HAHAHAHA! Vamos beber! Vamos brindar os aventureiros que voltaram vivos da terra maldita!”

“Um brinde! YUP!”, o outro seguiu.

“Um brinde coisa nenhuma! E pare de fazer “yup” perto de mim!”

“BWAHAHAHA!”

Sinto muito a demora. Vocês estão machucados, sim?”

Eu segurei a minha língua para não soltar algo muito rude. Mesmo sendo meio tapada e ficar se desculpando toda a hora que vinha na mesa, ela era bem gentil e fofa.

“Sim. E os meus amigos estão bem piores que eu.”

Eu mostrei Lucy deitada no outro banco, aparentemente inconsciente e Arthur arquejando do meu lado. Estava quase para deitar também como cansaço – se tinha uma barra de estamina ou algo assim, eu devo ter secado naquela viagem.

Uma potion cairia bem agora.

Havia gasto os tubos para carrega-los até a cidade. O machado também pesava – mesmo com a passiva da |ARMA LEVE| – e eu não podia simplesmente descarta-lo.

“Me acompanhe, por favor.”, diz a moça.

“Vai voltar? YUP!”, perguntou o com cara de maníaco.

“Ainda não bebemos para brindar sua bravura!”

“Vocês ficam ai!”, já censurei logo.

Eu acompanho a garçonete até uma escada que ficava depois do balcão. A escada levava a um corredor com várias portas. Ela me levou até o ultimo que era um quarto bem pequeno, apesar de ter pouca mobília. Era bem rústico e simples, mas serviria.

O grupo de guerreiros me ajuda a carregar Arthur lá para cima. A maioria deles eram altos e corpulentos. Nunca pensei que minha pessoa teria o prazer de conhecer esse ícone tão popular dos mundos de fantasia: o famoso guerreiro mercenário genérico!

“Pronto, meu bravo! Espero que ele melhore logo para que possamos beber.”

“Obrigado pessoal!”

 YUP!”

“Diga seu nome, aventureiro. Quem sabe possamos sair em missões juntos depois.”

“É Juniorai.”

“Juniorai. Nome de um aventureiro bravo!”, acho que ele só sabia dizer aquela palavra.

“Meu nome é Ludwig. Esses são Laimonas e Stuz.”

“Prazer! YUP!”, diz Stuz, soluçando.

“É um prazer conhecer um guerreiro bravo como você, jovem Juniorai.”

Aonde que ele estava vendo um guerreiro bravo ali?

“Se precisar de algo, pode contar conosco!”

Eles ficaram tão solícitos do nada. Talvez eu pudesse me aproveitar disso.

“Então... eu gostaria de pedir só mais um favor.”

“O que seria?”

“....”

 

 

__________________________________________________

Algum tempo depois, no Palácio Lidooberry...

           

Depois de algumas poções e uma boa caminhada, eu chego na casa dos Lidooberry.

Um palácio! Eu estava diante da maior casa que eu vi desde que cheguei na cidade. Um palácio que ficava no centro da cidade, dentro das muralhas principais e subindo uma pequena montanha.

Aqui vivia a família que enviou a quest. Eu diria até um castelo, mas era tão bonito que dava até para disfarçar.

O resto da cidade era linda e bem estruturada, mas aquele lugar era bem diferente. Se o céu tivesse calçadas, seriam como aquelas.

Chego então até a entrada onde havia alguns guardas de vigia. Tinha um forte senso de intimidação pairando no ar.

Eram como dois cães de caça encoleirados.

“Aonde pensa que vai, estrangeiro?”, pergunta o primeiro da direita.

“Esse lugar é o palácio da família Lidooberry. Você não tem permissão para entrar aqui!”, rosnou o outro.

Já vi que eu teria que usar minhas falhas habilidades de persuasão de novo.

“Estou aqui porque a família Lidooberry fez uma solicitação de uma missão para a [GUILDA DA CAPITAL] em Aminarossa!”

“E você tem como provar isso?”, o da esquerda desafiou.

Merda! Esqueci que a cartilha tinha ficado com Arthur! Eles iriam me chutar para fora dali quando soubessem que eu não tinha como provar que eu vinha de lá.

Provavelmente pensariam que eu era algum aventureiro engraçadinho tentando fazer alguma maldade. E eles não pareciam nada amigáveis.

“Quem está aí?”, uma voz de um velho ecoou de dentro do salão central.

“Senhor?!”

Eles rapidamente fizeram um gesto de reverência solene. Uma rápida e inesperada mudança de comportamento.

A voz vinha da janela. Era um senhor baixo, careca e barrigudo, com um bigode grosso cobrindo sua boca. Vestia uma roupa fina e engomada, coberta por um manto feito de pele animal.

Clássico de uma família rica. Era tão clichê que eu jurava ter visto uns 3 ou 4 senhores iguais a ele antes de sair de Aminarossa – claro! Fui eu quem fiz esse jogo, afinal de contas.

“Você deve ser o aventureiro que recebeu minha carta. Vamos, entre!”

Eu passei saltitando pelos guardas que ainda estavam com seus rostos esfregados no chão. Era bom que eles continuassem ali.

Entro lá dentro e ele já me aguardava, ao lado do que parecia ser sua filha. Uma moça com um vestido luxuoso e um decote que faziam seus peitos quase pularem para fora. Tinha seus longos cabelos pretos escorrendo em tranças finas e bem elegantes, e em seu pescoço e pulsos haviam tantos adornos e joias que ela parecia uma arvore de natal.

Nada que eu já não esperasse, estranhamente.

“Seja bem-vindo aventureiro. Deve ter lido minha carta.”

 “Pode crer que eu li.”, na verdade, não li não.

“Meu coração se enche de alegria! Permita-me nos apresentar. Eu sou o chefe da família Lidooberry, Louis. E essa é a minha filha, Justine.”

“Oi...”, diz a mulher, parecendo um pouco desconfortável ante aquela cena.

 “... Ah... prazer em conhece-los! Eu sou Juniorai!”

“Aguardei ansioso sua chegada, jovem e bravo aventureiro. Faz tempo que nossa cidade vem sendo atormentada por um monstro. Agora que chegastes, sinto meu coração mais calmo.”

Ele estava declamando um poema, por acaso? Ou ele tinha deixado todo aquele discurso pronto para quando eu chegasse? Talvez ele tivesse um caderno cheio desses falatórios pré-moldados.

Porém, quem sabe ele já fosse programado para falar aquilo. Se estou em um mundo de fantasia de RPG, era melhor seguir o script.

“Siga o script, Junior. Siga o script.”

Fico feliz por sua consideração nobre senhor, mas temo que não tenha mais que se preocupar com tal monstro.”

“O que estás querendo dizer?”

“Na vinda para a cidade de Lidooberry, eu e meus companheiros encontramos o monstro que perturbou vocês por tanto tempo e demos um jeito nele.

Tiro uma parte da presa petrificada do troll do bolso da calça.

Sim. Eu ainda estava com minha roupa casual que agora parecia a de um mendigo. Não parei sequer para comprar uma nova. Alguns achariam certa petulância da minha parte se apresentar à uma família nobre naquelas condições – ainda mais sendo a dona da cidade inteira!

O que é isso?”, perguntou Justine.

A voz dela me deixou arrepiado. Era doce e suavemente aguda.

Essa é a presa do troll! Foi o que consegui recuperar depois da batalha.”, que não houve nem batalha, aliás.

Cruzo meus dedos mentais para ele acreditar.

“Pai! Não tem como sabermos se ele está falando a verdade ou não.”

“O que está dizendo, Justine? Acha que ele é um impostor?”, Louis ponderou sobre a assertiva da filha.

 “.....”

Não sei... Só não confio nele. Ele tem um ar suspeito.”, relaxa que você não é a primeira.

“Pois eu confio nele. A [GUILDA DA CAPITAL] tem um bom histórico com seus aventureiros. Vamos dar esse voto de confiança a ele!”

Senti meu coração entalado na garganta voltar para o peito.

Fico feliz por acreditar em minha palavra.”, agradeci, quase suspirando.

“Muito bem! Aqui está a recompensa de vocês.”

Isso! Dois sacos abarrotados de moedas! Já imaginava meu próprio machado e uma roupa decente.

Então a seguinte mensagem aparece bem nítido para mim:

 


- MENSAGEM DO SISTEMA -

- Missão Concluída! -

Fragmento de rubi x5

Fragmento de topázio x5

Fragmento de safira x5

750 peças de ouro x2


 

Se eu pudesse adivinhar minha expressão, eu diria que meus olhos brilharam. Os itens foram adicionados ao meu inventário. Depois disso, o velho sobe as escadarias de sua mansão e fica apenas eu e ela no hall.

O momento só não foi melhor por que tinha a maníaca – e quem naquele mundo não era né? – da Justine me encarando como se fosse me matar. O que ela tinha de bonita, também tinha de antipática.

Estava louco para voltar para ||AMINAROSSA|| e torrar tudo aquilo em equipamentos. Depois tentaria de novo me encontrar com Thayslânia.

Acho que agora, em posse do [FRAGMENTO DE ALMA] talvez mudasse alguma coisa quando nos encontrássemos. Talvez acontecesse a mesma coisa que aconteceu na masmorra?

Ela finalmente iria se lembrar de nós?

É algo que só vou saber na hora.

Está feliz com seu prêmio?”

“AAAAAHH! Você ainda está aí criatura?!”

“Você tem sorte do meu pai já ser um velho caduco com uma confiança cega na [GUILDA DA CAPITAL].

Ela se aproxima e fala no meu ouvido.

Mas saiba que estou de olho em você.”

Até me ameaçando sua voz não deixava de ser sexy. Agora eu teria uma louca como ela me vigiando?

Talvez não fosse tão ruim.

Depois dessa calorosa recepção na mansão Lidooberry, volto um caco para a ||TABERNA DO ANÃOZINHO BÊBADO||.

Sim. Você não leu errado. Que diabos de nome era aquele?!

O pessoal de lá era bem animado e sempre estava bebendo. Alguns caindo pelos cantos e outros já a beira do coma alcoólico. Acho que por isso tinha esse nome tão... sugestivo.

Driblei algumas pilhas de bêbados e no meio deles estavam o grupo de aventureiros que me ajudou mais cedo. Eles estavam dormindo profundamente, todos melados. E ainda assim, Stuz não parava de fazer “YUP”.

Que cara bizarro!

Esse lugar está uma zona como sempre!”

Bem-vindo! Vai querer beber o que hoje?”, perguntou a atendente da taberna.

“Bebida?”

Um doido que estava desmaiado reagiu ao ouvir a palavra “bebida”. Pelo menos ele estava vivo, não é?

Era aquela tapada que atendeu a gente antes. Sério que ela não lembrava do meu rosto?

“Não. Eu não bebo.”

“Se não vai beber, porque está em uma taberna então?”

“O que?!”

“Gostaria de alguma informação, senhor? Talvez jogar algum jogo?”

A sorte dela era ser bonita. Se existia algum status de inteligência naquele mundo, o dela devia ser algum valor negativo. Puta que...

“Eu vim ver os meus amigos que estão de cama nessa taberna. Foi você que nos levou até o quarto!”

“Eu? Aaahh sim!”

“Se lembrou?”

“Na verdade, não, mas o seu rosto é bem familiar mesmo!”

K.O! Era a famosa figurante com uma caixa de parafusos a menos. Eu já arquitetava os vários estereótipos na minha cabeça desde que cai naquele jogo; acabei de encontrar mais um.

“Olha, só me leva até o andar de cima, pode ser?”

“Está bem.”

Ela me acompanhou até o quarto onde Arthur e Lucy ficaram. Ele já estava acordado para o meu alívio, com seu HP regenerando rapidamente. Já a maga ainda ia dormir por um bom tempo, mas já estava fora de perigo também.

“Até que enfim acordou!”

“Por quanto tempo eu dormi?”

Algumas horas. Dormiu pouco para a surra que você levou.”, disse aquilo em um tom mais descontraído.

“Estaria morto agora se não fosse por mim! Me deve sua alma, pirralho!”

Arthur bufou.

“Eu quase morri por sua culpa, sua Relíquia idiota! E você trapaceou.”

“Por que eu trapacearia?”, perguntei.

“Podia ter usado aquela skill antes, né? Eu sei que foi você quem esmagou o Troll.”

“Ainda não sei usar essas habilidades muito bem. Foi... um golpe de sorte.”

Eu peguei um dos saquinhos de moedas do meu inventário e ela se materializa na minha mão. Eu joguei em cima do colo dele, que ficou meio desnorteado na hora.

Está aí.”

“O que é isso?”

“Sua parte da recompensa. Eu fui até os Lidooberry e já confirmei a quest.”

Os olhos dele brilharam tanto quanto os meus. Era a reação natural de qualquer aventureiro quando se completava uma missão. Ainda mais uma missão de 3 estrelas como aquela.

Acha que já consegue ficar de pé?”

“Já estou pronto para outra! Ainda tenho que descobrir o paradeiro do nosso ferreiro!”

O estômago ronca nesse meio tempo. Só quando escuto aquele barulho desagradável eu me lembrei que fazia uma eternidade que eu não comia nada. Não é porque eu estou dentro de um jogo que as necessidades biológicas não cobravam.

“Acho que seria bom a gente forrar a barriga primeiro. O que acha?”, sugeri.

Boa ideia.”, creio que ele pensava o mesmo.

Deixamos Lucy sob os cuidados da adorável atendente lesada – fiquei meio preocupado, não vou mentir. –, saímos da taberna e andamos pela cidade até a praça principal. Já estava escurecendo. Nos arredores haviam dezenas de lojas com vários Aventureiros formando filas enormes. Como toda boa cidade grande, tinha praticamente de tudo lá.

||FORJAS||, tanto de armas como armaduras, [APOTECÁRIOS], [ALFAIATES], [CRIADORES DE ACESSÓRIOS]. Tabernas e restaurantes tinham de baciada. Fiquei bem animado pela quantidade de opções.

Era também um bom lugar para se ter uma noção do quanto eu podia gastar.

750 peças de ouro era um dinheiro razoável até. Daria pelo menos para eu comer e comprar uma armadura do meu nível. Infelizmente, o meu machado iria esperar mais um pouco.

Segundo o que eu entendia por sistema monetário em RPG, moedas de ouro, de prata e de cobre eram as mais usadas pela população comum e por comerciantes.

Ainda haviam peças de platina, mas eram extremamente raras e valiam uma fortuna. Eram mais comuns de se achar em tesouros antigos. Tipo o tesouro de um dragão, por exemplo.

Os produtos ficavam em tendas, alinhados um do lado do outro. Me lembravam as feirinhas do meu bairro. Como sendo a principal cidade comercial daquela região, imagino eu, a maioria dos comerciantes vinham de vários outros lugares e cidades que eu nem conhecia.

Arthur e eu passamos dando uma boa olhada em tudo. Em instantes esquecemos da fome de novo.

Uma //ARMADURA REFORÇADA DE COURO// estava por 350 PO. Não queria nada muito chamativo, nem pesado. Procurava algo simples.

Haviam tendas especializadas em armaduras leves. Que fantástico!

Vejamos... Uma //ARMADURA ACOLCHOADA// talvez cairia bem. Ou quem sabe uma //CAMISA DE COTA DE MALHA// combinasse melhor comigo?

Era um pouco mais cara; 450 PO. Me concedia um bônus de +4 em minha defesa, aumentando também minha resistência a lacerações. Porém tinha uma penalidade de -2 na minha velocidade.

Um preço pequeno a se pagar pela proteção extra. Talvez nem me fizesse falta se parar para pensar que eu usava um machado de batalha como arma.

Que interessante!”

“Já escolheu algo?”, perguntou Arthur da tenda de trás.

“Não me apresse! Um aventureiro não deve ser atrapalhado em um momento tão solene como esse!”

Que merda que eu acabei de dizer? Devia ser a empolgação do momento.

“AH... está bem, né.”

“Por que você está comprando essas tralhas se você já me tem? Quanto desperdício de tempo e energia!”, Salamandra parecia com ciúmes.

Primeira vez que eu vejo uma arma ficar com ciúme do dono.

Pelo menos essas “tralhas” não ficam me atormentando toda hora e não tentam me matar também!”, Arthur alfinetou.

“HAHAHAHAHA! Você tem sorte de eu não poder te matar, seu pirralho atrevido!”

Claro, claro. Até porque você precisa de mim também.”

“Devíamos estar atrás das almas dos pecadores! Esse lugar está repleto delas!”

Pior que eu conseguia ouvir o discurso psicopata da Relíquia Hospedeira de Arthur daqui. Me deixava incomodado.

Em questão de arma, nenhuma se igualaria à Gallatin. Não importava. Toda Relíquia Hospedeira era única. Um item normal seria apenas um item normal. Ainda me perguntava se de alguma forma eu poderia reaver Gallatin algum dia.

Já até ficava perdido sem ele pra ficar tagarelando no meu pé do ouvido.

Até lá, aquele machado normal me serviria.

Ainda havia uma tenda para os Consumíveis. Sempre é bom andar com algumas potions na bolsa, não é?

Uma //POTION DE VIDA// Lv.5 estava custando entre 70 a 120 PO a unidade. Existiam variações.

Confesso que achei meio caro a princípio, mas depois vi que estava a um preço justo. Afinal, até mesmo as feridas mais profundas poderiam ser curadas em instantes. Se houvesse algo assim na vida real, os preços seriam bem maiores. Por isso, acho esse preço adequado.

Ainda mais; //PÍLULAS DE ESTAMINA//(P) por 20 PO. Uma pechincha! Talvez eu levasse umas 5. A falta de energia quase me lascou na vinda para a cidade. Com uma armadura mais pesada e uma arma pesada, estamina se mostra necessária.

5 para a viagem, com certeza. Ainda tinha mais!

//ANTÍDOTO// Lv.3 por 200 PO. Curava até mesmo o veneno mais mortal. Realmente era tentador, mas meu alerta de consumismo exagerado começa a ticar.

“Se controle Junior! Se controle!”, se eu pudesse, levava o mercado inteiro nas costas.

Itens eram bons, mas comer era bom também. E meu estômago fez questão de lembrar o porquê de estarmos ali.

Acho que está bom. Não sabia que fazer compras era tão divertido!”

Guardou dinheiro para comermos, não é?”

Claro!”, que não.

Nem prestei atenção. Talvez tivesse sobrado menos de 150 PO. No máximo daria para comprar umas cervejas. Pelo menos, Arthur não sabia disso ainda.

“O que acha?”

“Mais peso do que deveria. Acho que nem precisava disso tudo.”, disse ele e eu concordava.

Talvez... Acho que tem razão.”

Arthur apontou para um lugar atrás de mim quase salivando.

“Aquele lugar me parece uma boa pedida.”

Qual?”

O restaurante ||TOCA DO FAUNO||. Era um nome bem exótico, mas atrativo. Vários Aventureiros se reuniam ali. Só esperava que não servissem nada de tão bizarro.

Hora de encher a barriga!



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