Volume 1 – Arco 1
Capítulo 8: Caça aos Trolls!
||ROTA COMERCIAL LIDOOBERRY||, zona Norte da região de ||LHASA||, próximo a ||FLORESTA DOS PASSOS||.
DIA: 20 (dois dias para expirar a quest.)
PLAYER: [Juniorai]
Sério... eu queria entender como eu mesmo me meto nessas situações desnecessárias – acho que por puro capricho de roteiro mesmo, ou uma vontade inexplicável de testar a minha própria capacidade de fazer merda. –, e muitas vezes, perigosas. Está certo que agora eu tenho nível e algumas habilidades para me confiar, mas poxa, hein?
Acontece que agora só tínhamos dois dias e estávamos de espreita no local que julgamos mais conveniente para achar o nosso alvo. Sim, nós mal sobrevivemos a um grupo de [CAMPEÕES GOBLINS] e já estávamos ali para caçar um [TROLL DA MONTANHA] que estava causando destruição e distúrbios na região – acho que eles tinham mais coisas para se preocupar do que um monstrão gigante destruindo tudo.
A carta que Arthur levava consiga dava todas as instruções para a missão:
Alvo: [TROLL DA MONTANHA]
Nível da missão: ***
Descrição: Recentemente um Troll da Montanha que ninguém sabe de onde veio têm ficado descontrolado nas localidades próximas à ||CIDADE DE LIDOOBERRY|| e ||FLORESTA DOS PASSOS||. Ter um Troll da Montanha por essa área é incomum e mesmo que não saibamos de onde ele veio, desconfiamos que ele esteja irritado por que não está em seu habitat de costume. Ainda assim, ele está causando alvoroço na cidade e complicando a vida dos mercadores que tentar passar pela região. Peço a vocês que o eliminem o quanto antes e restaurem a paz nas rotas comercias para Lidooberry!
Uma descrição bem simples e direta, devo dizer. Porém, diferente do que eu tinha imaginado, o monstro não estava lá bonitinho – ou feinho, seja lá como preferir – e ensandecido procurando matar todo mundo, agindo como um “chefe de fase”, como eu pensei que estaria.
Porém, antes de seguirmos para essa caçada completamente suicida, seria bom eu recapitular como chegamos até aqui primeiro.
Alguns dias antes, depois que saímos do vilarejo que foi atacado por uma horda de goblins, chegamos à cidade-reino de ||LACUNA||. Como fomos nós que damos um jeito na maioria dos monstrinhos, fomos tratados quase como “heróis nacionais” – até que enfim um momento de glória nessa chibata! – e por isso recebemos o melhor tratamento que poderíamos receber.
Na sede do Conselho de Defesa, Arthur foi tratado pelos melhores clérigos – todos com níveis absurdos e magias de cura mais absurdas ainda –, então ele só precisou de uma boa noite de sono para ficar novinho em folha. Eles foram bem generosos com a hospedagem e os recursos para que nós ficássemos pelo menos uma noite lá, o que me deu um tempo para reorganizar as ideias e espairecer um pouco – e também checar as novas habilidades que haviam sido desbloqueadas para mim quando eu subi de nível, é claro.
LISTA DE HABILIDADES:
> ATRAIR > não aprendido
> REPELIR > não aprendido
> GRAVIDADE 0 > não aprendido
> REDUZIR CARGA > não aprendido
> AUMENTAR CARGA > não aprendido
> ARREMESSAR MACHADO > não aprendido
> ARMA LEVE > não aprendido
> PROPULSÃO > não aprendido
> ZONA IMOBILIZADORA > não aprendido
> OPRESSÃO > não aprendido
Não vou mentir. Eu esperava mais habilidades, mas tinha muitas com nomes bem intuitivos. O resto da lista era apenas um bocado de “???”, talvez indicando que aquelas habilidades só seriam liberadas em um nível mais alto. Pouco me importava.
Como subi cinco níveis, então eu tinha cinco pontos de habilidade. Prático e básico. Estava com muito sono, estafado daquele dia penoso. Mas eu tinha que ser cauteloso nessas horas, pois se eu saísse pegando qualquer habilidade às cegas, podia ser que faltasse a que eu precisasse no futuro.
“O que seria bom contra um Troll? Vejamos, vejamos...”
Trolls são monstros grandes de corpo borrachudo e vegetal, lentos burros e de muita força. Achei que pela lógica o melhor a pegar, levando como base o monstro que iríamos caçar, |REPELIR|, |ZONA IMOBILIZADORA|, |AUMENTAR CARGA|, |ARMA LEVE| – esse com certeza! –, e por fim |PROPULSÃO|.
Como coloquei um ponto em cada para testar seus efeitos, eu não esperava grandes feitos com as habilidades, mas eu já teria uma boa noção na hora da luta. Ficava imaginando como eu usaria aquelas habilidades; será que haveria algum tipo de HUD no meu campo de visão me mostrando quais habilidades disponíveis eu posso usar?
Será que eu tinha que gritar o nome da habilidade que nem um clássico protagonista de SHOUNEN? Tipo... “CORTE TRANSVERSAL!” Ou algo do tipo? Se fosse esse o caso, eu teria problemas.
No dia seguinte, Arthur me levantou quase me matando e só não me chamou de santo, alegando que por minha culpa nós havíamos perdido muito tempo – e ele tinha razão. Explicamos para o Sir Reginald – ele era um cavaleiro muito respeitado e conhecido em Lhasa – que estávamos em uma missão e não podíamos prolongar muito nossa estadia.
Ele foi totalmente compreensivo – era incrível o quanto certas coisas naquele mundo eram totalmente previsíveis e outras não. –, e nos forneceu alguns suprimentos para a viagem, incluindo uma equipe e um barco.
Deve estar se perguntando o porque do barco e naquele momento que ele citou, também me perguntei. Acontece que entre nós e nosso destino havia um imenso rio que cortava praticamente o continente ao meio chamado de ||RIO DA CRIAÇÃO|| – era cada nome melhor que o outro – e esse rio não era um rio que você podia atravessar a pé, nadando ou mesmo de canoinha.
Precisaríamos de um bom barco para fazer a travessia e o Sir Reginald nos ajudou até com isso. Como se já não bastasse, ele nos proporcionou uma escolta até a cidade portuária e de lá, alguém nos acompanharia em nossa missão até que fosse completada.
Ele já estava agradecendo muito mais do que a gente tinha feito.
“Espero que aceitem como gratidão por defender uma de nossas cidades, mesmo sem serem de Lacuna.”
Como recusar, não é mesmo?
Então saímos ao cair da tarde e chegamos à ||CIDADE PORTUÁRIA DE MUSKIN|| ao entardecer, onde um barco enorme – uma caravela praticamente – nos aguardava. Lá foi designado nossa “ajudante” até o fim da missão e havia sido a tampinha Lucy – isso porque Garlan já havia sido designado para outra missão e Gae terminantemente recusou – mais previsível que isso só sua mãe vindo com a sandália na mão para te amaciar depois de te chamar pela terceira vez e você não responder.
Bem... pelo que eu havia visto na ultima vez que a vimos lutar foi que ela usa algo para explodir as coisas. Pode muito bem vir a calhar contra um alvo bem maior que um [CAMPEÃO GOBLIN].
“Sinta-se honrados! Vocês terão a maior maga do continente ao lado de vocês, então essa missão já está no papo!”, essas foram suas palavras.
Ainda bem que ela tinha coragem, porque noção parecia que não tinha nenhuma.
Então nós cruzamos o rio de madrugada que as águas estavam menos agitadas, mas ainda sofremos um pouco para atravessar. Eu entendi o porque de Reginald ter dito que não se atravessava o rio sem ter um bom barco; praticamente as águas sempre estavam revoltas com um mar em fúria durante uma tempestade.
Foi tão assustador quanto qualquer monstro que eu poderia enfrentar e tinha horas que eu imaginava que mesmo uma caravela daquele tamanho iria desmontar debaixo dos nossos pés.
Então depois de o que eu julguei ter sido umas 5 horas de balanço frenético, adrenalina à flor da pele e o barco quase virando várias vezes, finalmente chegamos em terra firme – eu quase beijei o chão quando atracamos no porto. Me surpreendi com o quão calmo estava o capitão.
“HAHAHA! Ainda estavam calmas as águas! Nós temos que enfrentar esse rio rebelde todos os dias, então já estamos acostumados!”
Vocês são todos loucos ou suicidas, isso sim!
Atracamos no ||PORTO STRONGHOLD|| – eu juro que um dia decoro esses nomes – e ficamos por uma noite em uma cidade próxima de lá que não tinha nome. Ao amanhecer, partimos pela trilha que seguia saindo da cidade e que julgamos ser a tal rota comercial que a carta mencionava, a tal ||ROTA COMERCIAL LIDOOBERRY||.
Rumamos em direção ao Nordeste, cruzando um dos afluentes daquele riozão lá – aquilo sim era um rio! – e de longe já podíamos ver a cidade do nosso contratante. Uma grande cidade com seus muros próprios e bem parecida com as cidades-reino pelas quais passamos no caminho.
Faltando apenas dois dias para completarmos a missão, decidimos ir logo para a ||FLORESTA DOS PASSOS||, pelo menos a entrada dela. Era mais uma floresta que eu não estava nem um pouquinho a fim de me embrenhar nela!
E cá estamos... escondidos em um mato esperando o nosso alvo de aproximadamente 7 metros de altura, provavelmente carregando uma grande clava pesada em mãos. Mas onde ele estava? Já se fazia umas duas horas que estávamos esperando e nada dele aparecer.
“Tem certeza que essa é a localização?”, questionou Lucy.
“Tenho sim. Entre a floresta e a cidade. Tem que ser esse lugar!”, minhas palavras não passaram muita confiança nem pra mim mesmo que falei.
“Acho que talvez ele só ataque de noite?”, ponderou Arthur.
“Faria sentido já que ele tem visão noturna e nós não.”
“Afe! E como eu vou explodir ele se tiver escuro?”
“Isso pode realmente ser um problema. Teríamos que ter uma boa fonte de iluminação se quisermos ter alguma chance contra ele...”, Arthur já fazia uma careta azeda só de pensar na possibilidade de ter que ser usado como uma tocha pela noite inteira.
“Não sei, mas então que tal tentarmos atrair ele com algo?”, sugeri.
Os olhos de Lucy brilham e a menina solta um sorriso de orelha a orelha. Seria a oportunidade perfeita para ela se exibir e usaríamos isso para atrair o nosso menino mau.
“E o que quer eu faça para atraí-lo?”, perguntou ela, animada.
“Faz aquele negócio lá que você usou para explodir a nunca do goblin lá na cidade.”
“Ah, está falando disso aqui?”, ela puxou um selo da bolsa dela. Imaginei que tivesse sido algo assim.
“Um selo?!”, Arthur coçou a cabeça.
“Um selo explosivo! Com essa belezinha, eu posso explodir qualquer coisa que eu quiser em questão de segundos, assim que ela grudar.”
“Certo! Pode mandar brasa, minha filha!”
Que comece o show pirotécnico! SÓ QUE NÃO!
Em vez disso, a maga começou a performar umas acrobacias muito loucas enquanto espalhava seus selos no espaço aberto na entrada da floresta. Era como uma dança artística cheia de piruetas, movimentos exagerados e rodopios quase intermináveis – só faltou a purpurina –, terminando em um grande círculo formado de seus selos.
“Uou! Ela é muito boa, não é mesmo?”, Arthur parecia curtir o espetáculo.
“É muito é exibida, isso sim! Por acaso ela é uma maga ou uma dançarina?”
“Eu acho que faltou você especificar o chamar atenção para ela...”, comentou ele, rindo.
“E então? O que acharam da minha performance?”, ela acenava rindo como se estivesse esperando aplausos.
“Foi bom, mas... CADÊ AS EXPLOSÕES, CACETE?!”
“Ah, vocês queriam um Grand Finale, é isso? Por que não disseram logo?”
“A gente quer que você pare com essa putaria aí e exploda tudo logo!”, gritei fazendo uma careta.
“Então preparem-se!”, de repente todos os selos começam a brilhar simultaneamente com um brilho vermelho em neon, junto com os olhos de Lucy enquanto ela gesticulava com as mãos e fazia sinais.
O vento em volta dela se revoltou e um feixe de luz avermelhado subiu aos céus, transpassando as nuvens. Uma camada formando uma bolha de pressão se formou ao redor dela e eu sentia que agora ia.
Ela ia explodir tudo! Até a gente se bobeássemos...
“Então... será que ela agora não vai exagerar um pouco na dose?”, diz Arthur, claramente preocupado.
“Eu estou sentindo que isso vai dar merda também.”, concordei. “LUCY! VAI COM CALMA! NÃO É PARA EXAGERAR NÃO, VIU?!”
Enquanto isso, de dentro do círculo:
“O que será que ele está dizendo? Acho que ele está dizendo para eu mandar ver nessa explosão! Vou mostrar a eles todo o poder da melhor maga de explosões desse continente!”
“Eu não acho que ela tá deixando de exagerar.”, Arthur dizia aquilo em tom de “acho que não deu certo”. Eu mais uma vez eu concordei.
“Merda! LUCY! LUUUCYYY!! PARA! JÁ CHEGA! SENÃO VOCÊ VAI EXPLODIR TODA A FLORESTA!”
“Agora é hora do meu Grand Finale! É um, é dois, é...”
*BRUUUUUMMMMM*
“... Hein?”
“QUÊ?!”, eu e Arthur falamos quase em coro.
Então algo bem inusitado acontece abruptamente: o chão se move como se estivesse implodindo debaixo dela para a nossa surpresa. Algo estava se levantando debaixo da terra e mandou a nossa tampinha exibida pelos ares antes que ela explodisse metade da floresta.
Seja lá o que tivesse surgido da terra, nos salvou da nossa própria parceira!
“Juniorai... você está vendo isso?”, ele perguntou como se quisesse uma confirmação para o que já sabia.
“Sim. Estou vendo! Acho que conseguimos afinal!”
Lá estava o nosso grandalhão surgindo dos montes de terra e poeira, com sua clava pesada esmigalhando os rochedos em uma fúria esmagadora por ter sido acordado.
Rugindo e mandando tudo pelos ares.
O nosso troll!
“E agora?”
“É o troll!”
“Por que ele apareceu justo agora, debaixo da terra?! Muito conveniente
Por um breve momento de novo. Aquelas linhas luminosas se mostravam mais uma vez. Onde quer que passassem eu conseguia ver. Claramente só eu parecia enxergar – porque somente eu que ficava parado, hipnotizado por elas.
“JUNIOOOR!”, Arthur me acordou a tempo dessa vez.
“AH, AH! Certo!”
Ok... vamos deixar as tais “linhas brilhantes” para depois.
Agora vamos dar uma olhada no que dizia a ficha do nosso alvo:
RAÇA: TROLL DA MONTANHA
NÍVEL: 8
HP: 19700/19700
HABILIDADE: ESMAGAMENTO FURIOSO
E para variar, mais descrições breves e resumidas que não diziam PORRA NENHUMA! Quando eu voltar para o mundo real junto com os outros, alguém vai levar um belo cascudo!
“Vamos tentar emboscá-lo, pode ser? Se atacarmos em conjunto, venceremos!”
“Acho que é o mais seguro, mas... onde está a Lucy?”, perguntei, curioso do porque ela ainda não havia aparecido para explodir aquele monstro.
“Ela sumiu depois que o Troll apareceu. Será que ela tá bem?”
Ela cuidou de um [CAMPEÃO GOBLIN] de Lv.10 sozinha com um único selo explodindo no lugar certo. Com certeza um [TROLL DA MONTANHA] com dois níveis abaixo seria fichinha para ela.
Havia algo de errado ali.
O nome de sua habilidade já saltou de cima de sua cabeça, anunciando que ele iria usa-la. Apertou mais forte a pegada na clava e desceu um golpe violento e desengonçado no chão, fazendo todo o solo até nós explodir com o impacto.
*ESQUIVOU*
. Nós esquivamos rapidamente e ele errou. Agora estava bem mais fácil de se mover e livrar-se dos ataques – seria porque subimos de nível?
Arthur então começa a produzir sua bola de fogo na palma de Salamandra como fez contra os goblins e lança contra o troll. E diferente de antes, agora Arthur estava mais forte e a explosão causaria algum dano naquele monstro.
“|BOLA DE FOGO|!”
*KABOOOOOM*
Arthur já aproveitou para mover-se para perto dele e iniciar um combo com suas habilidades. Eu e ele estávamos no mesmo nível – bom, na verdade ele estava com dois níveis a mais por que já tinha pego um XP extra antes, não sei de onde – e eu estava curioso para saber quais habilidades ele havia desbloqueado.
Era hora dele mostra-las.
“|VINGANÇA DOS CAÍDOS|!”
O olho brilhante de Salamandra brilhou e o fogo que era criado da palma das mãos dele se moldaram e formaram o que interpretei sendo umas espécies de esqueletos feitos de fogo puro!
QUE HABILIDADE INCRÍVEL PARA UM CAC...!
“Junior! Aproveite para flanquear! Use seu machado para acertar a cabeça dele enquanto eu o distraio!”, instruiu Arthur, curiosamente pensando em um plano de ataque.
“Ah, Certo!”, eu saquei o machado e avancei – agora com a passiva |ARMA LEVE|, o machado pesado que quase me lascou na última batalha agora estava uma pluma!
“GRAAAAAAAAAAAAUUUUUUUHHHH!!!”, o troll rugiu.
O rugido me desequilibrou por um momento enquanto eu corria e isso me fez escorregar e cair na cratera que ele abriu. Eu rolei por entre os escombros até me estatelar em um vão entre duas rochas curvadas para cima, quase ficando enganchado entre elas – teria sido lindo se isso acontecesse.
Enquanto estava lá embaixo, achei a criatura que não era a Xuxa, mas era a rainha dos baixinhos.
Ela havia batido a cabeça quando caiu e estava desmaiada, com um ferimento horrível na região próxima à têmpora esquerda. Além disso, várias pedras desceram em cima do seu corpinho e quase a soterram por completo. Isso era muito ruim!
Praticamente era questão de tempo até que ela fosse completamente enterrada naquele buraco por uma avalanche de pedras que vinham descendo das bordas da cratera com as pisadas fortes do troll no chão abalado. Além disso, praticamente perdemos nossa maior arma e a única que poderia eliminar o troll com facilidade.
“Parabéns para você, sua idiota!”
Enquanto isso, a horda de esqueletos infernais de Arthur partiu para cima do grandão, debilitando suas ações e se grudando nele. A medida que iam conseguindo se prender a ele, os esqueletos iam explodindo e dando dano no monstro.
Era uma habilidade bem impressionante – para não dizer, roubada –, pois enquanto Arthur tivesse energia para continuar invocando-os, seriam vários e vários esqueletos-bomba voando em cima do inimigo.
“AAAAAAHH! JUNIORAI! O QUE ESTÁ FAZENDO, DROGA?!”
E ele parou de fabricar os esqueletos. Era uma habilidade bem incrível, mas mais incrível que habilidade era o quanto de mana ela demandava. Foi apenas um pouco mais de dois minutos invocando e ele já estava sem mana!
“Merda!”, Arthur ofegava, olhando de um lado a outro, procurando por mim. “Cadê ele?!”
O golpe não o deixou em estado crítico, mas dava para ver que o boss sofreu com as explosões.
Estava bem machucado. E a energia de Arthur, no entanto, estava rasa e não regenerava como eu imaginei que aconteceria.
Enquanto isso, eu estava tentando remover os escombros de cima de Lucy para tentar salva-la. Tudo estava acontecendo exatamente ao contrário do que previ.
“Droga... beba isso, Lucy. Acho que vai ajudar!”
Dei uma //POTION DE VIDA// Lv.2 para ela. Tinha que ter cuidado para ela não engasgar. Ela bebe um pouco e depois cospe o resto na minha cara, tossindo.
“AAARGHH!”
“Ju...Junior...ai...”
“Está tudo bem! Não fale muito. Eu vou te tirar daqui.”, esse era o plano, mas era bem mais fácil falar do que fazer.
“Droga! Esse monstro é mais forte... do que eu pensei...”, Arthur ofegava.
“Você já está sem energia? Como é possível?”, diz Salamandra.
“Claro, né?! Olha o dano que eu causei nele só com essa habilidade!”, rebateu ele.
RAÇA: TROLL DA MONTANHA
NÍVEL: 8
HP: 10.450/19.700
HABILIDADE: ESMAGAMENTO FURIOSO
“É, mas veja só, sua anta! Preste atenção nos ferimentos dele!”, Salamandra se emputeceu.
O troll sai ainda mais furioso, quase mudando de cor. Seu rosto fica cada vez mais deformado de raiva. Enquanto isso, seus ferimentos, mesmo que lentamente, começavam a regenerar:
HP: 11.500/19.700
...
HP: 11.950/19.700
...
HP: 12.460/19.700
Era bem mais assustador agora do que antes. Ele saiu balançando violento sua clava pesada gigante e de forma completamente descontrolada.
Estava imparável naquele momento.
“Merda!”, Arthur.
Arthur então corre na direção do grande monstro. Esquiva com uma cambalhota da primeira investida. O monstro não desiste. Continua atacando. Arthur usa sua clava para pegar impulso e salta até alcançar sua cabeça.
“|BOLA DE FOGO|!”
Um golpe certeiro e direto! A explosão o fez recuar. Arthur desceu e se reposicionou. Uma distância segura é posta entre os dois.
Furioso, o troll começa a balançar sua clava de forma aleatória e furiosa enquanto cobria seu rosto com a outra mão.
“Droga! Não consigo chegar perto...”
“O que está esperando? Por que não continua com a ofensiva?”, Salamandra cobrou uma ação dele.
“Ele está completamente fora de controle. Seu eu me descuidar, posso ser atingido por aquela clava.”, responde Arthur, analisando a situação.
“Ele não sabe onde está atacando. Essa é sua chance!”
“E exatamente por isso que não posso! Não tem como eu prever como ele irá atacar...”
“Está se preocupando demais com essas coisas desnecessárias, seu inútil! Só há um inimigo para você esmagar na sua frente e você fica colocando complicações!”
“É muito fácil para você falar isso porque não é você que vai levar a porrada, né?”, retruca ele.
“Por isso você deveria me deixar assumir. Posso cuidar desse monte de esterco para você em dois tempos.”
“Você sabe qual é a resposta para isso, não sabe?”, Arthur junta as mãos para formar outra bola de fogo.
“Humano patético. Acha que vai conseguir vencê-lo sem minha ajuda, estando sozinho? Quanta ingenuidade...”
De repente, uma pontada assola a cabeça do Doutrinador, fazendo-o perder o controle de suas chamas. Sua visão rodopiava várias e varias vezes e as imagens distorciam. Estava fora de si.
“AAAARGHHH!”
“Você é patético... deixe que eu cuide dessa confusão toda já que você é um incompetente.”
Salamandra tentava assumir o controle. Arthur cai e rola no chão. Se debate. Grita, mas resiste. Com as duas mãos na cabeça, ele berra:
“NÃAAO! NÃO... INTER...FIRAAA!”
“SEU... INSOLENTE!”
“AAAAAAAAAAHH!”
*BAAAAM*
Enquanto lutava um combate interior, do lado de fora ele é atingido brutalmente por um golpe cego da clava.
Depois de muitos gritos e um conflito mental intenso, Arthur parece ganhar a disputa contra sua Relíquia Hospedeira. Porém, agora era tarde.
O corpo de Arthur sai voando com o impacto.0 Capota várias vezes. Então colide contra uma das árvores da entrada da floresta.
“GRUAAAAAAAAAAAHHH”
“Muito bem, mas da próxima vez, não conseguirá me conter, seu humano imundo!”, Salamandra então se recolhe, deixando seu portador a própria sorte.
“Dro...ga! arf...!”, o Doutrinador sequer conseguia se mover.
Enquanto isso, eu ainda penava para retirar Lucy dos escombros. Eu não tinha força o suficiente para mover nenhuma pedra sequer!
“MERDA! MERDA! MERDA! POR QUE?! POR QUE EU NUNCA CONSIGO FAZER NADA, PORCARIAAAA?!”, então eu caí próximo dela.
Ainda sentia os impactos na terra que o troll fazia cada vez que golpeava a terra ou mesmo andava e a cada pequeno sismo daqueles, ameaçava derrubar uma avalanche de pedras sobre nós. Como se não bastasse, pelo meu HUD visual eu vi algo que praticamente me deixou terrivelmente aflito: a vida de Arthur estava na linha!
Piscando seriamente em vermelho com terrível DANGER que assustava qualquer jogador consciente, ele só estava com exatamente 123 de vida! Mais um sopro e ele cairia duro para trás. O que eu faria em uma situação daquelas? O que fazer? O que fazer?
Novamente eu me sentia pequeno e impotente diante de uma situação de perigo. Me sentia um completo perdedor por não conseguir fazer nada! Por não ajudar os meus companheiros. Por não conseguir agir e ser o “herói” que eu tanto desejava ser no meu mundo.
Herói uma ova! Eu era apenas um projeto amador de aventureiro coadjuvante que só servia para ser salvo. Que não conseguia sequer ajudar minha própria equipe.
Como eu esperava salvar meus amigos? Como eu esperava voltar para casa? Eu nem mesmo sabia como fazer isso.
Eu era mesmo uma completa piada – de mal gosto ainda.
“Me desculpem...”, eu só conseguia ficar lá, esperando tudo acabar.
“....”
*zii*
“Hum...?”
*ZUIIIIIUUUUUUUUU*
“Que...?”
De novo! Aquelas linhas estranhas e brilhantes em cores verdes bem vivas. Elas cobriam praticamente todas as pedras em cima de Lucy. Então um sinal mental me indicou o machado e as pedras.
Será que...?
“MENSAGEM DO SISTEMA: Use suas habilidades para remover os escombros!”
Rapidamente eu focalizei minha ficha e percebo um fato que eu não sei como me passou despercebido até agora: eu tinha habilidades para usar! Por que eu tentava inutilmente remover aquelas pedras na base da força bruta quando eu podia usar as minhas skills?
Isso só provava o quão burro e desorientado eu estava diante de toda aquela situação.
“Espera... não acabou ainda!”
Obrigado, mundo mágico! Eu me ergui um pouco mais confiante – só um pouquinho mesmo – e saquei a //WINGSLASH// das costas. Contudo, o troll não se aquietava um momento para me deixar pensar!
O que estava acontecendo que ele estava fazendo o solo tremer tanto?
Arthur já havia comprado todo o tempo que ele podia. Eu tinha que sair de lá o quanto antes para finalizar aquele monstro de uma vez – e de novo: era mais fácil falar do que fazer. Mas agora eu tinha noção que podia usar as minhas habilidades que desbloqueei naquela noite.
Muito bem, o que eu tinha que poderia me ser útil agora? Espero ter upado as habilidades certas para esse momento!
> ATRAIR > não aprendido
> REPELIR > Lv.1
> GRAVIDADE 0 > não aprendido
> REDUZIR CARGA > não aprendido
> AUMENTAR CARGA > Lv.1
> ARREMESSAR MACHADO > não aprendido
> ARMA LEVE > Lv.Max
> PROPULSÃO > Lv.1
> ZONA IMOBILIZADORA > Lv.1
> OPRESSÃO > não aprendido
“Muito bem! Então que tal |REPELIR|?”
Era uma possibilidade. Mas ainda assim, como ativar aquela habilidade? Então fiz uns movimentos desengonçados com o machado e adivinha:
Não deu certo!
“Não! Não deve ser assim. Será que eu vou ter que gritar o nome do ataque e fazer alguma pose micosa pra funcionar?”
Agora lembrando bem, a Thayslânia e o Arthur fizeram a mesma coisa. Eles disseram o nome da habilidade e pronto! Saiu lindo e bonitinho como manda no papel.
“Agora parando para pensar... eles gritaram o nome da habilidade e atacaram logo em seguida.”
“|FORMA DO TIGRE PRATEADO: PUNIÇÃO DIVINA!!”, o ataque que Thayslânia usou para me esbagaçar.
“|BOLA DE FOGO|!”, e a habilidade que Arthur usou.
“Beleza, então... eu não queria ter que fazer isso, mas acho que não tenho escolha.”
Aperto firme a pegada no cabo. Ajeito minha postura e me concentro. Olho fixamente para montanha de pedras em cima de Lucy.
“|REPELIR|!”
“.....”
“.....”
“.....”
*CRI...CRI...CRI...CRI...*
“E então...?”
E então o básico: nada acontece! Eu apontei o machado na direção das pedras, mas nenhuma pedregulhozinho sequer se moveu do lugar.
O que foi que eu fiz de errado dessa vez? Um tutorial agora ajudava.
“Afe! Sabia que estava bom demais pra ser verdade!”
Então tudo que era de tristeza, raiva, frustação, mágoas e a sensação de eu ser um completo pedaço de merda, voltaram com tudo. Eu só fiquei com vontade de golpear todas aquelas pedras com o machado e foi isso que eu fiz.
Contudo...
*BRUUUUM*
Pedras saem voando alto e outros saem levitando para cima. Foi como explodir uma tonelada de dinamite embaixo daquele montinho, mas só que sem a dinamite.
“QUÊ?!”, voei para trás com o susto, mas não houve tempo para raciocinar o que tinha sido aquilo.
Aproveitei que as pedras estavam praticamente levitando no ar e fui até a Lucy. Seu corpo pequeno estava todo ferido. Suas roupas, rasgadas. Ela estava semiconsciente, mas acho que o suficientemente consciente para saber que eu estava carregando-a nos braços e por isso forçou um sorriso doloroso.
“Está tudo bem! Agora eu vou tirar vocês dois daqui...”
Subo a cratera com alguma dificuldade, mas até ali havia dando tudo certo. Ao chegar na superfície, para a minha surpresa, Arthur estava de pé – bem... “de pé” não seria a palavra ideal para descrever – e continuava a incinerar uma grande carcaça caída com várias rochas enormes por cima, banhadas em uma lagoa de sangue que se formou debaixo do cadáver gigante.
O troll foi morto!
*Arthur arfando*
Outra explosão de fogo assa o corpo do monstro tombado.
“Arthur?!”
O HP dele abaixava e recuperava um pouquinho segundos depois. Uma pequena parcela do que havia perdido. Eu não tinha visto antes, mas ele tinha uma habilidade chamada de |REGENERAÇÃO APRIMORADA|.
Na verdade, estava mais para um atributo racial do que uma habilidade em si. Sempre que levava qualquer dano, ele recuperava uma parte de seu HP. Isso também lhe concedia um bônus de força em seus ataques por 10 segundos.
Tempo o suficiente para esmagar a gente.
Porém agora acho que era ele que estava esmagado. O que havia acontecido lá enquanto eu estava no buraco?
“Arthur! Você está bem?”, perguntei correndo até ele depois de colocar Lucy em minhas costas.
“Eu... vou ficar...”, ele mal tinha fôlego para falar. “Onde... você estava?”
“Desculpa, cara. Eu tive que salvar essa mergulhadora de aquário aqui, mas agora deu tudo certo. E você parece que passou por maus bocados...”
“É...”
Arthur deixou seu corpo descer e ele caiu sentado próximo a uma arvore, ofegante.
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2 horas depois, em frente à ||FLORESTA DOS PASSOS||...
“O que aconteceu aqui? Foi você quem derrotou o troll?”, perguntei, ainda atônito.
A cena era a mais bizarra possível. Eu jurava que seria eu e a Lucy que seríamos esmagados, mas na verdade foi um monstro de quase 7 metros com uma clava enorme e uma fúria descontrolada.
Coisas estranhas e inexplicáveis acontecem em mundos de RPG! Ou você enlouquece tentando entender, ou você só aceita.
“Não..., ele estava descontrolado. Estava vindo me pegar quando...”
“Várias pedras gigantes caíram em cima dele?”, até repeti porque eu não acreditava no que eu ouvia.
“Sim... elas... vieram do nada!”, relatou Arthur.
Eu só acho que não “vieram do nada”, mas preferi ficar calado. Ainda não conseguia acreditar que matei um boss daquele tamanho sem querer!
“Que coisa bizarra! Acha que alguém conjurou aquelas pedras?”
Arthur deu de ombros.
“Não sei. Acho... que é uma possibilidade...”
Depois eu fiquei pensando comigo enquanto Arthur se recuperava com as poções de cura; então era assim que se usava uma skill? Dizendo seu nome? Parecia tão óbvio que fiquei me xingando de retardado por não ter adivinhado.
Pelo que pude perceber, eu sabia exatamente quantas vezes eu poderia usar aquela habilidade, o tipo de habilidade e o seu tempo de recarga. Era meio maluco, mas essas informações foram inseridas de forma automática na minha cabeça.
Devia ser mais um dos sistemas daquele mundo.
|REPELIR| Lv.1 era uma habilidade psicocinética bem básica. Me permitia repelir qualquer coisa em uma área de alcance de até 5 metros de mim, desde que ela estivesse em meu campo de visão – depois eu li direitinho as descrições.
Apesar de simples, teria nos sido útil para bloquear os ataques do troll.
Eu tinha três cargas de //REPELIR// no total, então eu só poderia usar mais duas vezes antes de entrar em uma recarga de 1 minuto. Era muito tempo para uma skill tão básica!
Bom, não reclamei. Graças a ela, conseguimos neutralizar o troll – não fora esse o propósito quando eu usei na cratera, mas o que está feito, está feito, né? – e saímos todos vivos.
“Ainda acho estranho termos encontrado esse [TROLL DAS MONTANHAS] aqui. Ele não deveria estar em uma área de floresta dessas.”
“O que está dizendo? Nós conseguimos completar a missão bem a tempo! E nem fomos para a cidade ainda!”, Arthur já recuperava sua vitalidade aos poucos. Comemorou muito.
“Mesmo assim... pelo tom da pele, porte físico e pela agressividade, não havia dúvidas. Era um autêntico [TROLL DA MONTANHA]. Por que ele estaria fora de seu habitat natural?”, deixei aquele questionamento no ar.
“Só sei que quase morremos... *tosse rouca*”
Dava para ver; ele estava exausto. Eu também gastei uma energia usando o |REPELIR|, não tanta quanto Arthur, é óbvio.
Teria que ser mais cuidadoso quando fosse utiliza-la de novo. Vai que as pedras caem em um aliado meu da próxima vez? E eu preferia usar essa minha habilidade de uma forma também mais consciente.
O combate se finalizou. Conseguimos vencer o troll e completar a missão. Meu nível subiu de 5 para 8, quase 9, enchendo metade da barra ainda. Ganhei tanto XP que fiquei até surpreso!
Por causa da subida de nível, meu HP e MP ficaram cheios de novo. Mas eu ainda estava bastante cansado – mesmo sendo pequena, a Lucy pesava um tantinho.
Já Arthur estava em uma situação ainda pior. Apesar de ter upado, ainda estava à beira da exaustão.
“O que é isso?”
*PIM! PIM! *
Algo subiu em cima da minha cabeça com um brilho tão forte que era como a luz de uma explosão de fogos de artificio. Mesma coisa com a do Arthur.
Eu havia desbloqueado um título!
- MENSAGEM DO SISTEMA: PARABÉNS!
NOVA CONQUISTA DESBLOQUEADA!
TÍTULO {CAÇADOR DE TROLL} PODE SER ACESSADO NO MENU DE PERSONAGEM. -
[CAÇADOR DE TROLL]. Um título bem razoável para quem está começando, não é?
“Caçador de Troll... gostei!”
“Também ganhei esse título.”, disse Arthur.
Parece que só a Lucy não tinha ganho, pois ela ficou fora do ar a luta inteira.
“Ué! Você pode ver essas coisas também?”, perguntei, surpreso.
Ele realmente conseguia ver as mesmas marmotas do sistema que nem eu. Então isso significaria que ele também conseguia ver as linhas brilhantes?
“E por que eu não poderia?”
Por que alguém que faz parte de um jogo não deveria ter consciência de que faz parte de um jogo, não é? Devia ser algum efeito colateral. Uma anomalia ou algo assim.
Arthur não é como um NPC qualquer daquele jogo que eu criei. Ele é como eu; ele veio de fora, então isso significaria que todos aqueles que vieram do mundo real também seriam capazes de ver as mesmas coisas, talvez uns mais que outros.
Mas isso era só uma hipótese que eu levantava ali no silêncio.
“Sei lá... achei estranho só.”, retruquei, desconversando.
“Você que é estranho. Agora vamos andando...”
Ele ameaçou cair antes que continuasse a andar. Era esperado que não tivesse forças nem para caminhar. Gastou quase que 96% de sua energia nesse combate.
“Ei! Você está bem? Vai com calma aí!”
Entre soluços e tosses, ele responde:
“Eu... vou ficar bem. Só... preciso recuperar... o fôlego.”
“Droga!”
Eu o ajudei a se levantar e depois o deixei para ver se ele conseguia andar – não que ele tivesse outra opção além de conseguir. Ainda tinha que levar a outra nas costas até a cidade, uma caminhada singela de quase 10km!
Seria um longo caminho de burro até a próxima cidade.