Volume 1

Capítulo 4: Protagonista

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Pollyanna era a protagonista de Loyal. Uma protagonista padrão de Otomege, nascida plebeia, recebeu apoio de um nobre para se matricular na Academia Mágica, fez os príncipes se apaixonarem por ela e blá, blá, blá…Pra falar a verdade, não gosto muito dela. Personagem chata!

— Diário da Elis

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Você está bem? — A garota se aproximou, quase tocando os nossos rostos.

Conseguia ver claramente seus olhos castanhos… É tão linda… Espera um pouco. Não vou cair tão fácil nesse teu joguinho! Sabia muito bem como essas protagonistas fofinhas e superbonitas agem.

Atenciosas, boas em tudo que fazem e fingindo ser uma donzela em perigo mesmo sendo uma das personagens mais poderosas. Simplesmente odiava como as protagonistas de otomege, e principalmente Pollyanna, era perfeita em tudo. Inaceitável, pessoas assim não existem!

Contradizendo meus pensamento, senti meu rosto esquentando um pouco e precisei me afastar.

No entanto, não seria tão fácil assim. Nunca era. A garota abriu um doce sorriso… Comecei a ver aquelas rosas aparecendo ao seu redor novamente… Não! Não faça isso!

Aqueles olhos me encarando, aquelas bochechas levemente rosadas…

Assim que encarei de volta, ela desviou o olhar. Go-golpe super efetivo! Meu coração começou a bater mais rápido. Parece com isso, coração maldito!

— Pollyanna, querida… Você está deixando a garota desconfortável.

A mãe da garota a abraçou por trás, nos separando um pouco. Obrigada, senhora.

Estávamos apenas nós quatro nesse escritório; Pollyanna e sua mãe, eu e uma empregada-gata que estava sentada em uma cadeira enquanto resmungava algo como “vai ficar tudo bem, vai ficar tudo bem”.

Me aproximei de Wene e peguei a sua mão. — Vai dar tudo certo…

Não sei se estava falando aquilo para ela ou pra mim mesma, pois estava tremendo ainda mais. Isso tinha que acontecer logo depois do velhote falar aquilo! Deve ter jogado alguma maldição ou coisa assim.

Me sentei ao lado, já não tinha muito o que fazer, afinal a janela era ficava no segundo andar e sair da porta também era impossível, íamos dar de cara com um monte de soldados. Assim, não que eu tenha pensado em tentar fugir ou qualquer coisa parecida.

Enquanto esperava, seja lá o que precisávamos esperar, tentei evitar ao máximo ter qualquer interação com aquela besta conquistadora de príncipes. Porém… Estava um pouco difícil…

Para de me encarar, mano!

Pollyanna estava olhando para mim desde o momento em que paramos a carruagem. Me encarava e quando encarava de volta apenas ria na minha cara!

Pensei em quebrar minha regra de falar com os personagens principais, mas consegui ficar calma.

— Acho que chegaram — disse Wene, olhando para trás.

Nesse instante a porta foi aberta e uma mulher com um terninho entrou na sala — Desculpem pela demora, o Capitão Shamid acabou de chegar. — Entrou na sala e deu espaço alguém entrar.

Uma montanha passou pela porta. Tinha dois metros de puro músculo, usava um tapa-olho e tinha a barba rala e os cabelos grisalhos. Podia jurar que já tinha visto alguém igual em algum filme de ação genérico, mas… I-isso era estranhamente fofo!

Atrás daquela parede em forma de humano balançava um rabo alaranjado com listras prestas, que combinavam com as duas orelhinhas em cima da cabeça.

Dei uma olhada de relance para a empregada-gato do meu lado. Gato > Tigre ∑d(°∀°d)

O homem andou até a mesa e se sentou. Era uma visão um pouco estranha, a cadeira e a mesa claramente tinham sido feitas para uma pessoa menor. Nhec. Consegui escutar a cadeira rangendo.

— Perdão pela demora — disse enquanto tentava se arrumar na cadeira. — Eu sou o Capitão Shamid, estou no comando dessa unidade. Vocês duas… devem ser as garotas que ouvi falar…

Wene respirou fundo e o cortou: — Peço que nos libere imediatamente.

— Oi? — Shamid levantou uma sobrancelha. — Você entende o quão perigoso foi o que acabou de acontecer? Essas duas garotas utilizaram magia perto de uma multidão. Uma delas usou uma magia de ataque! O que poderia acontecer se uma ela errasse o feitiço?

Tá… Talvez isso tenha sido culpa minha, mas como eu ia saber qual magia estava usando?! Elizabeth não era um personagem jogável!

— Por favor me perdoe pela ousadia, mas ambas são crianças. Nessa época é comum os acidentes envolvendo magia, ainda mais em um despertar.

Ele me encarou. — Está me dizendo que essa é a primeira magia dela?

Todos na sala me encararam por alguns segundos com uma expressão assustada, menos Wene que mantinha uma expressão confiante. Pollyanna parecia a mais surpresa.

— Magia de ataque no despertar! Isso é bem raro… — A garota se aproximou e começou a me observar.

Muito, muito perto! Afastei um pouco meu rosto. Espera um pouco… Pollyanna já tinha conhecimento sobre magia? Pensei que tinha começado a estudar depois desse evento.

O capitão limpou a garganta, chamando a atenção de todas. — Mesmo assim, precisamos fazer algumas perguntas. Depois disso vocês serão liberadas.

— Certo… Acho que algumas perguntas não fazem mal — respondeu Wene, olhando para mim.

Hmm? Estranho vê-la recuada desse jeito, provavelmente seriamos liberadas se pedíssemos para o meu avô… Melhor não fazer isso… Senti um arrepio na espinha.

— Primeiro… — Shamid olhou na direção de Pollyanna. — Poderia me dizer os seus nomes?

A mãe da garota começou a falar: — Eu me chamo Aria Davies e essa é a minha filha, Pollyanna. — Parecia que ia chorar a qualquer momento, mas conseguiu segurar.

— Então, senhora Aria. Pelo nossos registros, você não possui poder mágico algum, certo? E, pelo que sabemos, sua família também não tem nenhum mago. — Esperou a confirmação da mulher e continuou: — Ou seja, dificilmente Pollyanna iria ter magia…

— Meu marido conseguia usar um pouco de magia. — A mulher se encolheu. — Ele até conseguiu ser um aventureiro, mas acabou indo em uma missão e… bem, não sabemos o que aconteceu.

Shamid anotou mais algumas coisas. — Você chegou a conhecer a família do seu marido?

— Não. Nós nos conhecemos quando ele veio fazer algumas missões na ilha. Tudo o que me contou era que não tinha um bom relacionamento com sua família, então decidiu virar um aventureiro por causa disso.

Em Loyal, magia era comum entre as pessoas, quase todo mundo tinha um pouco de mana no seu corpo. Porém, quando falávamos em se tornar um mago e conseguir conjurar magias, o número caia bastante. Além disso, o poder mágico de uma pessoa era hereditário, então era quase impossível alguém fora de uma família de magos ter poder o suficiente para ser um.

A chance de um plebeu comum se tornar um Mago de Alta Classe era de um em um bilhão. Após isso ser vazado para os nobres, a vida de Pollyanna se torna um inferno até ela finalmente conseguir o patrocínio de um grande nobre.

Bem, no futuro nós acabamos descobrindo que isso foi…

— Agora… — disse Shamid ainda fazendo algumas anotações, mas agora virando para mim. — A senhorita se chama?

Fiquei tão atenta na conversa deles que esqueci de pensar em um plano!

Olhei para Wene, procurando ajuda, mas a empregada apenas balançou a cabeça de forma afirmativa. Devia estar tudo bem apenas falar meu nome, certo? As pessoas conhecem bem meu avô.

— E-eu… Ai! — Fiquei tão nervosa que acabei mordendo a minha língua! Respirei fundo e tentei me acalmar um pouco. — Eu me chamo Elizabeth Wright, sou a neta de Robben Wright.

O homem-besta ficou de boca aberta. Escutei Aria cochicando algo como “Acabamos nos envolvendo com uma pessoa incrível”. Bo-bom… Sabia que falar o nome daquele velhor ia ser efetivo, mas não esperava que fosse ser tanto assim.

— En-entendo… — Ele olhou para a porta. — Tenente, você pode checar essa informação?

A secretária de antes prestou continência. — Sim, senhor!

Enquanto a mulher saia da sala, todo mundo ficou em completo silêncio. Fufu, parece que o grande tigre de antes agora está amedrontado.

Decidi brincar um pouco com ele. — Não tem mais nenhuma pergunta?

Shamid deu uma risada sem graça e pegou o seu caderno mais uma vez. — Sim, tenho mais… uma. Eeeh… Você já teve algum treinamento mágico? Talvez um professor que te ensinou a…

— Não! Vovô fala que eu preciso aprender mais sobre armas. Ele está sempre me ensinando a vender… mas eu também tenho aulas de etiqueta! Vovô sempre cuida de mim, fala que sou o bem mais precioso dele. Acho que ele vai ficar uma fera quando descobrir que estou aqui.

Nem acredito que estou falando isso daquele velho demoníaco. Mas cada palavra minha fazia o oficial se encolher mais em sua cadeira, então acabei brincando um pouquinho.

Escutei alguns passos do lado de fora, então a mulher de antes entrou na sala e falou alguma coisa no ouvido do capitão.

— Entendo, parece que a informação bate… Alguns soldados reconheceram a senhorita Wene e a senhorita Elizabeth. — Soltou um suspiro, então abaixou a cabeça. — Peço desculpas pelo inconveniente, estou na cidade há pouco tempo, então alguns rostos acabam não sendo familiares para mim.

Ele pegou algumas folhas e começou a escrever algumas coisas.

— Preciso apenas que assinem alguns papéis, então posso liberá-las. — Ele nos entregou as folhas. — Novamente, peço desculpas pelo inconveniente.

Após pegar nossas assinaturas, o homem também entrou os papéis para Aria e Pollyanna.

Hmm? Nós também? — perguntou Aria.

O capitão balançou a cabeça em afirmação. — Temos todas as informações necessárias para fazer o registro. Caso algo esteja faltando, mandaremos um oficial em sua residência.

— Ce-certo.

Não tinha intenção de me envolver mais com a protagonista ou qualquer outro personagem, então assim que terminei de assinar os papéis, peguei a mão de Wene e sai correndo para o lado de fora.

Shamid tentou falar algo, mas já estávamos longe demais para escutar qualquer baboseira que fosse.

Ar puro! Liberdade! Aquela selva de pedra e metal parecia a coisa mais maravilhosa do mundo agora. Estava louca para chegar em casa e escrever no meu diário sobre como tinha acabado de escapar da prisão.

— Senhorita, espere um pouco!

Parei quando escutei Wene me chamar. — O que foi?

— Estão nos pedindo para esperar. — Apontou para trás.

Assim que olhei para trás, vi Pollyanna correndo, enquanto puxava Aria que estava suando muito e com o rosto avermelhado. — Por favor… Esperem… — disse a mulher um pouco ofegante.

Não! Não precisamos esperar elas! Apenas continue andando!

Tentei puxar o braço de Wene e continuar a caminhar, mas, assim como sempre, não conseguir movê-la um único centímetro. Pra que usar seu poder de mulher-gato nessas horas?

— E… eu queria agradecer. — Aria respirou um pouco, recuperando o seu fôlego. — Se não fossem vocês, tenho certeza que aquele homem ia nos manter naquele lugar por horas e horas.

— Isso foi graças a senhorita. — Ainda estava tentando puxá-la, mas Wene facilmente me puxou, fazendo questão de me deixar no meio de todo mundo. — Foi graças a senhorita que fomos liberadas.

Aria abriu um sorriso. — Sim, muito obrigada para a mocinha também.

Por um segundo consegui ver mais uma vez aquelas pétalas voando ao seu redor. Então é um poder de família! Como que elas faziam isso?! Também queria esse poder.

— Foi apenas… meu nome. Eu não fiz nada.

Pollyanna se aproximou e pegou as minhas mãos. — Não é verdade! Elizabeth foi incrível lá dentro!

Haha…Soltei uma risada sem graça. Isso não pode estar acontecendo… Minha rota sem guerra…

E como assim “Rota da Protagonista”?! Ela é um personagem conquistável agora? Ou melhora ainda, eu posso ver qual o nível de afinidade que eu tenho com as pessoas?!

— Elizabeth… — Ela apertou minha mão.

Sinto cheiro de uma cena! Procurei Wene para pedir socorro, mas… Ela estava com lágrimas nos olhos enquanto nos observava.

Socorro! Me tirem daqui! Eu não quero!

— Eu… Eu quero… Quero ser amiga da Elizabeth!

Essa era a minha chance! Bastava recusar de uma forma brusca e nunca mais iria precisar falar com a protagonista outra vez. Enchi meus pulmões. — Eu não… — Alguma coisa me agarrou.

— Finalmente a senhorita conseguiu uma amiga! — Wene nos abraçou com força. — Estou tão feliz.

Me-meu corpo está sendo esmagado… Socorro…

Enquanto a durabilidade dos meus ossos eram levada ao limite, acabei não conseguindo recusar o pedido daquela garota. Por quê…? o(TヘTo)



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