Volume 1

Capítulo 3: Primeiro Evento

━━━━━ ♥ ━━━━━

A história de Loyal ocorre na ilha de Elmyria, um lugar dominado por quatro grande Reinos: Reino de Lumen, ao leste; Dinastia Odera ao oeste; o Império Nevronde ao norte; e o Reino de Slania ao sul. Estava vivendo em Slania agora, o mesmo país onde a protagonista vive.

— Diário da Elis

━━━━━ ♥ ━━━━━

Cansei! Não tem nada pra fazer aqui! A loja estava vazia, então tinha muito tempo livre. Foi legal olhar as armas nas primeiras duas horas, mas agora já tinha cansado até disso…

Parei em frente à uma vitrine que tinha um espelho atrás. Hoje usava o uniforme da loja, um vestidinho marrom escuro com a saia longa atrás, uma camisa clara por baixo, botas e luvas de couro, com o cabelo preso em um rabo de cavalo. Pelo menos a roupa é bonitinha.

Dei algumas voltinhas para ver o vestido melhor, era como se fizesse cosplay todos os dias. Blim, Blim! Escutei o som do sino avisando um cliente novo.

Comecei a correr, mas lembrei da última bronca que tinha levado de Robben. Parei de correr e tentei andar com a postura mais correta possível. Vamos lá, coluna reta, ombros abertos e um sorriso no rosto.

Me aproximei do homem que havia acabado de entrar. — Olá, senhor. Posso ajudá-lo?

 — Eu queria um presente pra… — O homem falou enquanto se virava, mas ficou em silêncio assim que viu meu rosto. — Não tem ninguém aqui que possa me atender?

Ignorando completamente minha presença, ele passou por mim e foi em direção ao balcão.

Sério mesmo?! Fiquei parada com cara de paisagem. Escutei o homem tocando a campainha no balcão e chamando alguém para o ajudar. Espero que exploda, velho maldito!

Meu avô deveria aparecer logo, logo, então peguei um pano e fui passar em algumas estantes.

— Perdão pela demora — disse Robben entrando na loja pela porta dos fundos. — Estava arrumando o nosso estoque. Pensei que tinha deixado minha neta cuidando da loja.

— Sua neta? — O homem olhou em minha direção.

Robben apenas balançou a cabeça confirmando. Parece que ele já entendeu o que havia acontecido.

Podia jurar que tinha conseguido ver as veias saltarem na testa do velho comerciante. Esperava o começo de uma discussão, mas ele apenas forçou um sorriso e continuou: — Então, como posso ajudá-lo?

— Que seja. Estou procurando um presente para a minha filha.

Robben saiu de trás do balcão. — Tem alguma arma em mente? Temos alguns modelos que são especialmente populares com as mulheres.

Quer dizer que são caros.

— Irei seguir as suas indicações — disse o cliente, seguindo-o.

E ele caiu igual um patinho. Podia ter ajudado a escolher a melhor arma da loja, mas cada um colhe o que planta.             O que eu faço agora?

Olhei para a porta atrás do balcão. Aquele era o escritório, nunca tinha visto ninguém além de Robben entrar naquele lugar. Os dois homens conversavam sobre as armas, então era a minha chance. Fui na pontinha do pé em direção àquela porta.

Como quem não queria nada, passei na frente da porta e dei uma empurradinha nela com o meu pé. Nhec! Dei um salto para trás. Porta de merda, não tem um óleo por aqui, não?

Esperei alguns segundos… Parecia que ninguém tinha ouvido. Vamos continuar…

— Elizabeth! — Robben gritou do outro lado da loja.

Merda, fui pega! Fiquei na ponta dos pés para conseguir ver eles por cima do balcão. — Eu juro que não fiz nada… Eu só estava indo fechar a porta.

— Vem aqui, agora!

— O-ok! — Corri em sua direção.

Quando me aproximei, percebi que o cliente segurava duas espingardas na mão. Uma Wright Bolt Model 5 e uma Taylor Fire 44. Relâmpago e fogo?

— Alguma coisa errada? — perguntou o homem.

Esperei Robben falar alguma coisa, mas ele ficou em silêncio. — Na verdade, estava pensando sobre a magia da sua filha. Por acaso… ela é uma maga divergente?

— Obviamente. — Empinou o nariz. — Possui talento para fogo e relâmpago.

— Ela é realmente incrível — concordei. Não eram muitos os personagens que tinham mais de um tipo de magia no jogo. — O senhor vai levar as duas armas? Tenho certeza que ela vai ficar feliz.

Sua cara fechou na hora. Ops! Acho que falei merda.

Robben limpou a garganta. — Chamamos você aqui para testar as armas. Aparentemente a filha do nosso prezado cliente tem a sua altura.

— Certo.

Peguei as duas armas. Um pouco pesado, mas provavelmente era por causa do meu corpo. A Taylor era um pouco mais leve, então era bem mais fácil de me mover enquanto a carregava.

— Parece que a TF44 é a mais adequada… — disse o cliente, enquanto me encarva.

Com toda certeza parecia ser mais fácil de usar, ainda mais para uma criança, mas… Essa arma era uma Rank E, chegando D no máximo depois dos boosts! Enquanto isso a nossa Wright Bolt era Rank D na forma base! Ainda tinha o problema da magia de fogo não ser boa o suficiente para lutar…

— Elizabeth… — Fui chamada por Robben. — O que acha das armas? Faça uma breve explicação para o nosso cliente.

Diferente de antes, o outro homem também parecia estar interessado na minha opinião. Nem parece o homem que me ignorou agorinha.

Peguei a Wright Bolt e comecei a fazer a minha explicação.

[…]

— Além disso, meu corpo é fraco, então sua filha deve conseguir carregar a arma sem dificuldade. Também estamos em fase de crescimento, não precisa se…

Robben bateu palmas. — Acho que é o suficiente para uma breve explicação.

— Entendo… Acho que vou ficar com a Wright Bolt mesmo.

Os dois foram pro balcão para fazer o pagamento… Espera um pouco! A outra é mais cara, não é?! Acabei me empolgando e falando a verdade sem querer.

— Embrulho para presente, certo? Devo escrever um cartão?

— Sim, pode colocar “para: Amelia Campbell”.

Campbell?! Esse cara é o pai da Elfa do Sul! Era uma pedra no sapato da protagonista nos primeiros anos na  Academia Mágica. Essa personagem usava magia de raio? Tinha certeza que a Elfa usava magia de fogo quando lutávamos…

Minhas pernas começaram a tremer. — E-ela tinha uma Taylor Fire no jogo… — Olhei para a arma que tinha ficado… A mesma arma que tinha visto na mão da Elfa no jogo…

Fui andar em direção a outra prateleira, quando algo apareceu na minha frente. — Que mer… — Desviei daquela coisa flutuante e quase esbarrei em uma vitrine.

Procurei aquela coisa que tinha aparecido do nada e… Uma carta?! Parecia uma carta flutuando no ar. Me aproximei devagarinho… A carta estava lá, parada.

— Tem algum fio? — Passei a mão em cima. — Nada. Dos outros lados? Também não! Σ(°△°|||)︴

Andei ao redor, tinha uma mensagem. Na verdade, já tinha visto aquele tipo de carta em um lugar; era exatamente igual as mensagens de aviso e alerta de Loyal.

Tinha uma mensagem: “Aviso. Nova Rota Descoberta: Elfa do Sul”.

Alteração de rota? Nunca vi algo assim no jogo! Como assim tinha mudado a rota da Elfa?! Meu deus do céu, provavelmente tinha acabado de mudar a história do jogo. Justamente o que tinha medo de fazer!

Agora não era hora de pensar nisso, tinha que fazer aquela tela desaparecer de alguma forma. Tentei apertar o canto da tela, onde normalmente fazia a mensagem fechar, mas meu dedo passou direto pela carta. Por um segundo a carta ficou transparente.

— Que maneiro… — Olhei para os dois homens que estavam terminando de conversar. Robben conseguia ver o lugar onde estava facilmente; nada de anormal na sua reação. Acho que é invisível. Tentei fechar a mensagem outra vez. — Como será que fecha esse bagulho?

Assim que terminei de falar, a mensagem fechou sozinha. Será que foi porque falei pra fechar? — Abrir mensagem… — Nada aconteceu. — … Mensagem? Mensagens não lidas! Abrir cartas. No jogo era… acho que tudo ficava na caixa de mensagens.

A carta apareceu flutuando na minha frente mais uma vez.

Será que posso fazer outras coisas? A carta parecia as mensagens do jogo, então talvez eu consiga abrir algo como um menu. — Vamos testar! Abrir…

— Elizabeth! — Escutei Robben me chamando mais uma vez.

Tinha chegado a hora de receber a bronca. Aquele cara da família Campbell já tinha saído da loja, deve ter sido quando estava distraída.

— Sim, vovô? — Vou me fazer de desentendida.

O velho me encarou. — Por que não deixou aquele homem levar a Taylor Fire? Podiamos ganhar ais dinheiro empurrando aquela coisa para ele… Então, me diga. Por que não deixou?

Eh eu… — Na verdade tinha feito sem pensar. Também não queria ter feito aquilo! — A outra arma… era melhor pra filha dele e… Não sei… O senhor Campbell parece que feliz. O cliente ficando feliz é melhor, certo?

O local foi dominado pelo silêncio. Juro que não queria! Eu ia ficar calada se soubesse que era o pai da Elfa! Apenas abaixei a cabeça.

— Desculpa, vovô. Eu devia ter…

— Você fez bem — cortou o velho. — Vender é importante para um comerciante, mas ter clientes fieis também é uma parte importante. Campbell é de uma família rica, deixá-lo feliz é bom para nós.

— Ce-certo… Isso é bom. Ha… Ha… Ha…

Parece que esse mão de vaca também tem um lado bom. Foi igual quando aquela velha ficou me encarando ontem. Seria bom se ele fosse mais assim.

— Mas ainda devemos pensar no lucro! Você podia ter empurrado uma Bolt mais cara…

Aí estava o modo comerciante picareta de volta.

Fui começar a passar o pano nas vitrines novamente, quando Wene entrou na loja com algumas sacolas no braço. — Bom dia, senhor Robben.

O homem deu de ombros.

Nesse horário a empregada costumava sair para fazer as compras para o almoço. Elizabeth costumava pedir para ir junto, mas justamente em uma dessas caminhadas que a garota desmaiou e ficou de cama.

Queria dar uma voltinha pela cidade. Apesar desse corpo ser frágil, não me sentia mal nesses últimos dois dias. Não podia fazer coisas como carregar peso ou correr, mas conseguia passar o dia ajudando Robben sem muitos problemas. Só algumas paradinhas para descansar.

Não queria incomodar, então desisti da ideia de sair…

Outra mensagem?! Li a mensagens umas duas vezes. Como assim “punição?” O que caralhos você quer dizer com isso?! Percebi que Wene estava quase saindo da loja.

— Vovô, posso ir fazer as compras com a Wene?

A mulher virou e olhou para mim com uma cara de desespero, seu pelo ficou todo arrepiado e sua pele completamente pálida. Sinto muito, mas não estou afim de descobrir o que é essa tal punição.

— O doutor disse que você não deveria fazer esforço, além disso precisamos cuidar da loja.

— Mas… — Procurei Wene com os olhos. Por favooor!

Com um suspiro antes, a empregada começou a falar: — Senhor, Robben. Eh, perdão pela audácia, mas… talvez um pouco de ar fresco seja bom para a senhorita. Além disso, seu corpo parece muito bem esses dias.

— Você terá responsabilidade com qualquer coisa que acontecer com ela?

Wene deu dois passos para trás com a encarada dele, mas logo estufou o peito. — Eu fico responsável por qualquer coisa que acontecer com a senhorita.

— Certo. Vocês duas tem duas horas para estarem aqui e, se qualquer coisa acontecer, terão que pagar as consequências. Eu fui claro?

— Si-sim, senhor — respondemos as duas.

— E… Eu não… aguento mais. — Levantei a cabeça para tentar respirar um pouco melhor. Minhas pernas parecem que vão cair!

Foi a primeira vez que pude sair com tanta liberdade assim, então meio que acabei me animando um pouquinho mais do que devia. Corri por uns dois quarteirões e esse foi o resultado, dificuldade para respirar, meu corpo tremendo de dor e arrependimento por ter saído de casa.

Não sou mais jovem como antes, não posso ficar fazendo essas coisas.

Pelo menos tinha chegado… Estava em uma rua um pouco mais larga, lotada de barracas! Era uma grande mistura de produtos, comerciantes gritando e pessoas andando de um lado para o outro.

Essa era a feira de Slania, muito famosa por receber os produtos que vinham do continente.

— Senhorita! — Escutei Wene se aproximando. Corria em minha direção enquanto tentava não tropeçar no seu vestido e carregava algumas compras. — Eu não disse para ficar perto de mim?!

Não era minha intenção, eu juro. Além disso, podia prometer que não iria acontecer outra vez. — Desculpa… Eu só… queria ver a feira.

Uff Apenas fique por perto, certo? O senhor Robben nos mataria se soubesse disso… — Dessa vez ela estendeu a mão para mim. — Dessa vez vou ter certeza que não vai fugir.

Segurei sua mão. — Certo.

Tinha um motivo para estar tão animada assim. Apesar de ser a grande Top 1 de Royal, ou seja, a pessoa que mais manjava do joguinho, Slania não era um país que aparecia muito na história.

Sabia que muitos personagens importantes nasceram por aqui, mas os eventos eram focados nos outros países, que estavam envolvidos na guerra. Esse é o sonho de qualquer jogador!

— Está cansada? — perguntou a empregada. — Podemos voltar se quiser.

— Não! — Acabei me perdendo nos pensamentos e fiquei em silêncio. Comecei a puxar a empregada para dentro da feira. — Vamos dar uma olhada!

A rua era estreita e aquele tanto de gente não facilitava em nada a nossa vida. Foi um pouco complicado no começo, mas depois de um tempo consegui me acostumar a andar sem esbarrar em alguém a cada dois passos que dava.

Diferente das lojas que tinha acesso pelo jogo, nem todas eram lojas de armas ou de equipamentos mágicos, embora tivesse algumas. A maior parte dos produtos eram peixes e chá… Bem, era de se esperar de u  lugar que é baseado na Inglaterra… Eu acho.

Enquanto passava pelo lugar, percebi que as outras pessoas me encaravam. Já tô cansada disso! Perderam alguma coisa na minha cara?! Apesar disso, ninguém chegou a falar algo para mim.

— Devem saber de quem eu sou neta… — Ou pelo menos foi o que pensei.

 Nesse momento, senti um arrepio na espinha. Quando olhei para trás, dei de cara com uma expressão que nunca tinha visto de Wene. Encarava as outras pessoas como se tivesse perto de atacar alguém.

É… acho que entendi porque ninguém fala nada para mim.

Compramos mais algumas coisas, mas era melhor não abusar muito. Estava começando a me sentir cada vez mais fraca. — Vamos voltar para casa?

— Certo, só precisamos comprar a bebida do seu avô.

Saímos do meio daquela muvuca. Graças a deus, não aguento mais aquele cheiro de peixe dos pescadores. A loja que Robben gostava ficava em uma rua por perto.

Atravessamos algumas ruas até chegar na avenida principal, quando Wene parou. — Onde eu estou com a cabeça, acho que acabamos passando pela loja…

— Com licença. — Uma mulher e sua filha passaram por nós.

Senti a empregada me puxando para continuarmos a andar, mas aquelas duas chamaram minha atenção… Tão bonitas, até parecem um pouco aquela personagem…

Meu coração disparou. Era como se um imã estivesse me puxando em direção aquelas duas e o local ficasse mais rosado. Podia jurar que tinha visto rosas florescerem ao redor delas…

Nossos olhares se cruzaram e um simples sorriso roubou completamente meu coração.

Isso até parece um evento de encontro…

— Cuidado! — Um grito ecoou pelo local.

Escutei o som de algo derrapando, então senti um alguém me abraçando e me puxando para trás.

Alguma coisa tinha saído da pista e estava vindo em nossa direção!

Porém, as coisas pareciam tão lentas para mim. Conseguia ver perfeitamente as pessoas com uma expressão de medo, assim como a carruagem tinha perdido o controle.

Todas nós íamos ser atingidas.

Não tive muito tempo para pensar naquelas palavras, mas entendi que aquilo ia me ajudar de alguma forma. — Poder mágico! — gritei.

Uma quantidade de informação absurda começou a ser despejada na minha cabeça.

Porém, eu já sei disso! Assim como tinha visto milhares de vezes no jogo, levantei minhas mãos. Senti um formigamento no meu corpo, então a luz roxa apareceu!

Um círculo roxo apareceu na frente da minha mão e acertou a carruagem.

Ao mesmo tempo, uma luz dourada cobriu o corpo da garota e da sua mãe, terminando de desviar a carruagem. Espera um pouco!

Podia jurar que já tinha visto aquela cena antes… Era muito parecia com a história de como Pollyanna tinha despertado os seus poderes… Ela se envolvia em um acidente… Com uma carruagem…

Parecido o caramba! Eu estou no primeiro evento do jogo!



Comentários