Volume 1
Capítulo 5: Consequências
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Apesar de toda a purpurina e eventos românticos, Loyal ainda era um jogo com um cenário de guerra no fundo. Cenas de carnificina e tudo que um cenário l poderia causar estava registrado e acontecia durante a história… Eu REALMENTE queria saber o que se passava na cabeça de quem achou que isso seria uma boa ideia. Amor, coisas fofas e matança. Que boa junção.
— Diário da Elis
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— Senhorita, acorde, por favor!
Escutei uma suave voz próxima do meu ouvido, juntamente com ligeiros toques no meu ombro. Abri os olhos com dificuldade quando… As cortinas foram abertas de uma vez!
Meus olhos! (T▽T) Esse foi um ataque inesperado.
Wene me pegou pelos ombros e me sentou na cama. — Seu avô está nos chamando.
— Hmm… Só mais cinco minutinhos.
No entanto, meu pedido não foi atendido, e comecei a ser arrumada contra minha vontade! Não lembrava quanto tempo tinha dormido, mas não tinha sido o suficiente.
Já tinha se tornado algo rotineiro deixar que a empregada me arrumasse. Podia parecer um pouco invasivo das primeiras vezes, mas percebi que na verdade era bem prático! Não precisava mover um único dedo para ficar prontinha pra sair de casa.
— Depois de ontem… é melhor não irritar o seu avô — disse enquanto tirava meu pijama.
Depois de ontem? O que tinha acontecido ontem mesmo…?
— É mesmo! — Fui despertada completamente.
Ontem, depois de descobrir o que tinha acontecido, meu avô tentou demitir Wene. Só depois de uma longa conversa, consegui evitar a demissão.
Esse velho maldito é um saco de lídar! (°ㅂ°╬)
Era um homem ganancioso e avarento que não iria retirar uma decisão tomada facilmente, então tive que usar minha arma secreta. Seu maior desejo, de acordo com algumas informações soltas na história, era transformar a família Wright em uma família nobre.
Elizabeth, apesar de aparecer na história como um personagem secundário, ainda era uma amiga da vilã principal, um membro da facção imperial.
Não sei quem, mas com toda certeza sou filha de um nobre.
Wene parou de mexer no meu cabelo. — Gostaria de agradecer pelo que fez ontem. Realmente achei que teria que deixar essa casa… E que nunca mais iria ver a senhorita.
— Wene… — Meus olhos se encheram de lágrimas por um instante. — Desculpa.
Me joguei para frente e dei um abraço na empregada que soltou um gritinho de surpresa.
— Senhorita, sua roupa vai ficar bagunçada! — Apesar do descontentamento na voz, o abraço ainda foi retribuído. — Mas… precisamos sair, senhor Robben está nos esperando.
Levantei da cama e segurei a mão da empregada que me esperava.
— Vamos? — perguntou.
Apesar de todos os problemas causados ontem, sinto que meu relacionamento com Wene melhorou de alguma forma. Acabamos ficando mais próximas.
Posso não ser a mesma Elizabeth que estão acostumados, mas tenho todas suas memórias e experiências. Essa garota… Sei que eu gosto de Wene. Então não poderia simplesmente deixar que fosse demitida. Não! Eu simplesmente não iria suportar!
Agora, segurando a mão da minha confiável empregada-gato estava finalmente pronta para enfrentar Robben cara a cara… Dei o primeiro passo e… Minhas pernas tremeram.
Talvez não tão pronta.
Fui carregada no colo até a sala de reunião do meu avô, apesar disso ainda mantinha meu espírito de luta. Uma sala privada que não me deixava entrar normalmente.
Minha mãe também estava no local e, como era de costume, mal falou comigo quando cheguei. Por um segundo pensei que estava me ignorando, mas olhando melhor. Hmm… Duvido que Elizabeth perceberia. Ela estava tremendo, tremendo muito.
Fui colocada no chão por Wene, que caminhou em direção a porta e parou ao seu lado.
— Sente-se, Elizabeth — disse meu avô.
Ele estava sentado em uma poltrona, logo em frente a um sofá, separados apenas por uma pequena mesa de centro. Bélia estava no sofá e fez um sinal para que me sentasse ao seu lado.
— Não irei me estender muito. — Robben pegou uma carta de seu paletó e colocou sobre a mesa. — Esse é um convite dos Stuart. Vocês duas irão participar de uma festa da família, onde estarão outros nobres. A viagem para Lumen é amanhã, estejam prontas.
Lumen era uma cidade neutra entre os quatro países da ilha de Noto. O cenário principal do jogo, afinal, era onde estava a Academia Mágica.
Não posso ir nessa viagem de jeito nenhum! Tinha certeza que eram aquelas típicas festas onde todos os personagens importantes acabam se encontrando durante a infância. Tinha certeza que isso ia dar merda. Preciso escapar de qualquer forma disso.
Queria falar algo, mas era impossível. Ninguém questionava as decisões do patriarca, era simplesmente assim que essa família funcionava. E depois de ontem não podia falar nada… No entanto, para minha surpresa, foi Bélia que começou a falar.
Ela se levantou do sofá com uma expressão determinada no rosto. Seu olhar cruzou com os de Robben em um desafio silencioso.
— Pai, eu não acho…
— Não quero desculpas, Bela. — Sua voz pesada calou a mulher no mesmo instante. — Você sabe muito bem a importância disso para a nossa família.
A mulher pareceu murchar mais com cada uma das palavras. — Si-sim…
Tal mãe, tal filha, hein… Lembrei das coisas que costumava passar no outro mundo antes de sair de casa… Também era obrigada a aceitar as coisas assim. Estou ficando com ódio desse velho.
Apesar do medo, ainda precisava tentar alguma coisa.
Não vou para a rota da destruição sem fazer nada! Levantei do sofá. — Eu não quero ir para a viagem, vovô. Não posso ficar e ajudar o senhor na loja? ⊂(・ω・*⊂)
Minha mãe se surpreendeu. Ela olhou na minha direção e abriu um fraco sorriso, em seguida voltou a falar. — Também acredito que não seja bom para Elizabeth, pai. Aquela família…
Robben suspirou, em seguida pegou outro papel; um jornal. — Wene, leia em voz alta.
— Acidente na Avenida das Flores. Uma carruagem que carregava toras de madeira… — Ela parou de ler por um segundo, respirou fundo e continuou: — Testemunhas afirmam que as madeiras foram paradas pela magia de uma criança..
Obviamente aquilo iria chamar a atenção. Chamyto deixou bem claro que estava tentando pegar informações de Pollyanna para vender pra nobreza.
Robben completou: — A nobreza valoriza bastante crianças com habilidades mágicas. Bem, normalmente não procuram abertamente assim, mas esse incidente.
Senti um frio na espinha com esse seu comentário.
Loyal apesar de ser uma história que muitas crianças gostavam, ainda não era voltado para esse público. Mesmo assim, a história de fundo desse mundo era muito pesada, com guerras acontecendo, assim como outras coisas que chocaram a comunidade.
Tinha uma história paralela sobre crianças plebeias que eram sequestradas e usadas em experimentos macabros em um castelo remoto. Mas não tinham datas… Pollyanna podia ser um alvo.
E esse era só o começo, ainda tinha tantas outras coisas. Armas humanas, tráfico de pessoas…
— Mas vovô… — Tentei falar, mas minha voz desapareceu com um olhar.
Ele semicerrou os olhos. — Pelo que me lembro, ontem nós combinamos que você iria fazer o que eu mandasse sem questionar. — Soltou um suspiro. — Pode deixar de ir na viagem, mas terei que considerar a permanência de Wene aqui.
Merda. Essa era sua cartada final. Por isso tinha arrepios quando lembrava das conversas de ontem. Fiz um contrato com um demônio.
Não podia fazer mais nada.
Naquela noite, enquanto escrevia o Grimório, a porta do meu quarto foi aberta. Mãe? Assim como tinha planejado antes, troquei as folhas com desenhos bobos que tinha preparado.
Fui até a entrada. — Mãe? O que foi?
A mulher entrou no quarto. — Queria dormir com você hoje. — Já estava com um pijama e trazia um travesseiro. — Posso?
Parece que os papéis estão um pouco invertidos aqui, não acha? Não sabia como responder, então fui até a cama. — Cla-claro.
— Não precisa deitar agora, bebê — Abriu um sorriso e começou a arrumar a colcha. — Amanhã… vai ser um dia cansativo, então aproveite para brincar um pouco agora.
Neguei com a cabeça. — Não, prefiro ficar com a senhora.
Apagamos as lâmpadas e nos deitamos. A cama era bem grande, mas a mulher se aproximou de mim e me deu um abraço.
Queria fazer algumas perguntas, porém iria acabar destruindo esse momento. Elizabeth tinha o sobrenome da família Stuart no jogo, então eu era provavelmente filha daquele cara… E irmã daqueles dois…
Aaaah, que ódio! Como uma personagem com uma história assim não era importante no jogo?! O que aqueles desenvolvedores estavam pensando?
Minha mãe me deu um beijo na testa. — Você sempre foi uma boa garota, por isso que nunca perguntou.
— Quem é meu pai? — perguntei. Juro que tentei me segurar, mas a minha curiosidade era maior do que o meu bom senso.
A pergunta devia ter acertado em cheio, pois senti um aperto no abraço. — Haha. Pensei que esse dia nunca chegaria. — Passou a mão em meu cabelo. — Bem, você já sabe sobre os quatro reinos, certo?
Balancei a cabeça de forma afirmativa.
— A família Stuart… — A mulher pareceu engolir em seco.
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Mais uma vez aquilo aconteceu… Em alguma vida eu devia ter sido uma péssima pessoa em alguma vida passada e agora simplesmente estava pagando o preço por isso.
A viagem para Lumen ocorreu sem muitos problemas. Apesar de ser longa, fizemos sem pausa pelo prazo curto que tínhamos, mas pelo menos as estradas não eram tão ruins.
— Vocês poderiam me acompanhar? — perguntou um mordomo assim que a carruagem parou.
Desembarcamos da carruagem e ficamos alguns segundos observando o imponente castelo dos Stuart. Um ar sombrio passava pelo local, como se tivéssemos acabado de entrar em um filme de terror. O mordomo nos conduziu até a entrada principal.
Um homem alto e de cabelo grisalho estava nos esperando. Usava uma roupa negra parecida com a de um oficial do exército com alguns poucos detalhes em vermelho. Em seu peito estava um brasão com a imagem de um dragão vermelho.
A família Stuart era uma família ducal de Nevronde. Assim como outros nobres desse país, foram colocados como vilões no arco da guerra. Sejam os duques ou apenas os nobres locais daquele país, todos recebiam as ordens do vilão final.
Essa pessoa era ninguém mais que o Rei daquele país, o homem mais odiado pela comunidade de Loyal e que não tinha sido derrotado ainda. Que má sorte!
— Vossa Majestade… — Minha mãe foi a primeira a agir, dando um passo para frente e levantando levemente a borda de sua saia enquanto abaixava sua cabeça. — É um prazer revê-lo.
Tentei me apresentar também, mas travei quando fui falar a primeira palavra.
Pensei que estava pronta para esse momento… Meus sentimentos estavam confusos. Estava nervosa, tremendo. Tudo que queria fazer era gritar e sair correndo.
Não sabia o que falar. Sua presença me dava medo…
Então esse era… o meu pai.