Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne

Revisão: TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 7: Quebra da Matrix

Foi uma proposta seca, sem nem mesmo uma mão estendida para ajudá-lo a se levantar. 

Era até mesmo difícil pensar que foram mesmo as  palavras que ouviu.

Talvez houvesse batido forte demais com a cabeça? Bem, nada que confirmar mais uma vez não ajudasse, por sofrer tanto e em tão pouco tempo nessas mãos.

— Uma equipe...? — pronunciou cada sílaba lentamente. 

Ainda se recuperando da dor, olhou para cima, fitando a proposta com atenção suficiente para fazer seus lábios partirem.

— Sim. Você tem algo que precisamos e nós temos uma coisa que você precisa. — Lira disse, soando factual. — E em caso de estar questionando o que em exato seria isso, podemos afirmar: você precisa de segurança, Ryan Savoia.

Apontou para sua figura caída sobre os próprios joelhos, em julgamento, e embora parecesse, não era a intenção completa.

— Você está com medo, Ryan, medo do que pode te ocorrer, agora que sua realidade prévia foi destroçada como uma pedra que foi martelada. Você não consegue mais manter-se tão seguro de si, não é mesmo?

Olhou um pouco para baixo e reconheceu que ela tinha mais do que o bastante em razão. 

As suas mãos agora tremiam como nunca, temerosas a respeito do que o futuro reservaria. Era a primeira vez em que tal insegurança o contaminava.

E pensar no evento que sequer poderia ser chamado de batalha... Foi um massacre, uma leva unilateral de socos, chutes, insultos e ilusões. 

Existe primeira vez para qualquer coisa e, nesse caso, até para levar porrada.

— Acho que já sabe que vai precisar de apoio enquanto estiver aqui, assim como ajudarmos um ao outro a lidar com mais levas dessa loucura... Agora, com a sua descoberta, também viemos a saber que não somos os únicos — finalizou, tomando uma postura pensativa.

A garota tomou seu de ar, dirigindo seu olhar fixo e penetrante mais uma vez para o cerne da alma dele.

— Isso foge da lógica, mas tenho um pressentimento desagradável a respeito dessa bizarra situação e, com isso, posso categoricamente afirmar que uma parceria seria de mútuo benefício entre nós.

“Eu não tenho nenhuma escolha real, né...?”

O alto rapaz negro se afogava mais nos pensamentos de estar encarando algo que acabou de mudar sua vida inteira. 

Não sabia como deveria se sentir, agora que seu talento tão especial perdia a unicidade.

“Eu vivi cada segundo da minha vida pensando que era o único…”

Não tinha a conta de quantas mentes já leu e de todas as coisas que já fez usando aquele poder. 

Não sabia ditar as vezes em que saiu de problemas imensos sem qualquer consequência, apagando algumas lembranças e fabricando outras.

“Isso... Não era para ser assim.”

Se amargurava por dentro, ciente de seu comportamento tão infantil e mimado. Teve de reconhecer que Mark estava certo. Foi bobo de pensar e se enganar por tanto tempo.

Só restava uma coisa a fazer.

— Digamos que eu aceite... O que vai ser a minha participação desse grupo? — questionou, hesitante.

— Isso é simples, assim como o principal motivo lógico de querermos você aqui. Seu talento é útil, Ryan Savoia. — Ela foi categórica em dizer. — Com seu poder, poderemos expandir enormemente nossa área de atuação. Mark e eu temos de ser discretos e impedir outras pessoas de suspeitarem ou descobrirem nossos poderes.

— … Mas isso mudaria se fosse possível simplesmente apagar as evidências da mente das pessoas que presenciarem isso...

— Exato, e com sua ajuda, esconder os poderes deixaria de ser uma imensa preocupação e, enquanto isso, fornecemos proteção mútua, tal como focaremos em aprender mais sobre esses talentos. Isso fecha os termos do nosso pequeno acordo.

Mark estendeu a mão para frente, em intenção de ajudá-lo a se levantar.

— Vem com a gente. É melhor sermos aliados do que inimigos. Você até parece ser um cara legal, então eu não queria ter que bater em você de novo. — O Menotte sorriu.

Não havia motivo para rejeitar e fazer isso seria uma imensa loucura. Sequer havia o que se pensar em relação a isso.

Ryan aceitou a mão de Mark, que o auxiliou com o reerguer.

— Uma decisão inteligente.

— Bem-vindo a essa nova equipe!

— Espero ser um bom membro para essa equipe. — Ryan respondeu de forma séria, embora ainda temeroso por sua vida.

— Corta essa formalidade! A partir de agora, seremos grandes amigos... Iguais aos trios de cinema! A Lira é a estrategista séria e inteligente, eu sou o cara legal que bate em todo mundo e você pode ser o saco de pancadas que só existe para ser salvo por mim! Não parece ideal?

Uma gota de suor correu pelo seu rosto. No fundo, o rapaz sabia que essa era a verdade.

— Vamos almoçar. Esse papo deu fome — falou, arrastando o restante com um balançar de sua mão.

— Já era tempo. — Lira o seguiu.

Sendo um pouco deixado para trás, Ryan pensou em como seria agregar e se associar a esses dois. Por mais que pareçam e até certo ponto sejam pessoas normais, Mark e Lira passavam longe de serem comuns.

A existência deles acendia um tipo perigoso de alerta que inocentemente ignorou.

Quantos outros deveriam existir por aí?

— Ei, não tá com fome? Se não vier, a gente te deixa para trás! — Mark se voltou para falar com ele.

— Ah... Ah, tá bom.

Correu um pouco para alcançá-los, ainda tremendo.

— Por sinal, Ryan... — Mark mostrou os dentes. — Você ia acabar se juntando à gente, mesmo que não quisesse.

— O que quer dizer com isso...?

— Eu tô dizendo que a gente já armou tudo antes mesmo de chegarmos aqui — revelou. — Agora você tá nas mesmas turmas que a gente. Vamos ficar juntos em todas as aulas.

Ouvir isso apenas aumentou sua já imensa ansiedade, o que trouxe outra vez a terrível sensação de ter seu coração metaforicamente arrancado.

— Isso quer dizer que...

— Isso mesmo. — Lira se envolveu. — Não é como se você tivesse qualquer escolha. Ou se uniria a nós, ou seria tratado como inimigo.

Ter aquilo dito de um jeito tão frio, o Savoia só pôde olhar para o chão arruinado, afogando-se naquela melancolia cada vez mais intensa.

— Mas não fica tão triste! A gente não é gente ruim. Pode ficar tranquilo do nosso lado! — tentou assegurá-lo.  — É só não fazer besteira e vai ficar tudo bem contigo.

A mensagem deveria ser positiva. Não sabiam ou sequer pareciam se importar, mas aquele dia em especial foi um dos mais destrutivos de sua vida.

“Quando foi que tudo mudou? Será que nunca foi do jeito que eu pensava…?”

Ele não se importava se soava mesquinho, egoísta, ou simplesmente mimado, mas ninguém além dele deveria possuir tais poderes. 

Foi assim até aquele momento de sua vida e sempre confiou de que continuaria dessa mesma forma.

“Eu acho que…”

Haah? Tem alguma coisa para perguntar? — Mark levantou a sobrancelha. — Fala aí. A gente te ouve.

O rapaz de olhos violeta parou naquele ponto da quadra, um tanto perto da saída. Seus olhos vacilantes se recusavam a encará-los.

— Mark, Lira... Eu... Eu acho que vou precisar de um tempo sozinho...

Um momento de silêncio desconfortável seguiu disso, com o novo membro do time se esforçando para não parecer estar assombrado com sua nova realidade.

“Eles com certeza estão me julgando”, concluiu, mordendo a ponta da língua.

Quem sabia o que aqueles dois estariam pensando? Talvez prontos para considerá-lo como um inimigo?

— Tudo bem.

“Huh...?”

A garota surpreendeu com a aprovação, em consideração à postura tão pesada.

Sua companhia a olhou em dúvida, cruzando os braços.

— Vá. Apenas esteja na sala 2B depois do intervalo. Não iremos tolerar se não seguir o que combinamos.

Seu tom sempre terminal caiu como um martelo; era o aval final. Diante disso, Ryan fechou os punhos e pediu sua licença.

— Então... Eu tô indo. — sua fala era travada. — Obrigado.

E saiu, passando através do único portão enferrujado pintado de azul. Em passos lentos, deixou os dois ali, sozinhos de novo.

— Acha que foi uma boa ideia deixar ele ir? — inquiriu o jovem de olhos rubros. — Meio surpreendente, vindo de você.

Para isso, Lira piscou duas vezes. Mark não podia estar mais correto em sua análise.

— Não foi por bondade — fixava em uma bola seca em um canto da quadra. — Foi necessidade. Aquele garoto não passa de mais um mimado.

Mesmo sem olhar, sentiu na pele a curiosidade incessante daquele ao lado, optando por um foco mais específico.

— Ele iria quebrar — falou, convicta. — Ryan Savoia é alguém que não faz a menor ideia de como lidar com suas frustrações. Mais um minuto conosco e aquele psicológico desabaria... Assim como há de estar acontecendo agora.

Sem hesitação, girou o corpo graciosamente, virando-se para o mesmo portão.

— Não é hora de contar nada para ele, já que, enquanto não se acostumar com sua nova realidade, não vai ser capaz de aceitar isso.

Se afastou como uma lady, deixando as sombras para trás, logo seguida por Mark, ainda curioso acerca dos motivos de sua aliada, mesmo decidindo não questionar mais.

— Vamos almoçar. O dia de hoje não foi cheio apenas para ele.

[...]

“Eu tô passando mal…”

O estudante seguia cambaleando, cabisbaixo, pelos corredores da nova escola. Para um primeiro dia, a experiência se mostrou mais que horrível.

Ignorava o fluxo dos outros alunos, deixando suas salas e dirigindo-se ao refeitório, seguindo o fluxo oposto a esses.

Sentia que seu corpo podia cair a qualquer instante, de tão tonto e nauseado pelas novidades aprendidas nas mãos daqueles dois.

“Eu ainda sinto o gosto de sangue na minha boca…”

Mark e Lira estavam vários níveis acima de qualquer coisa que ele já foi. Não podia lutar com aqueles dois, não tinha como passar por eles.

E agora cada pequena coisa que fizesse tinha o risco de estar sendo vigiada.

“Então quer dizer que tem mais gente aí fora igual a mim…”

Arrastou-se até o banheiro do térreo mais próximo e entrou, rezando para não ver mais ninguém lá dentro. Felizmente, não havia.

Apoiou o peso de seus ombros cansados e corpo levemente dolorido no mármore escuro e, aos poucos, levou-se a olhar para o espelho.

“Agora tudo passou a fazer um sentido absurdo."

Viu um rosto cansado, quase sem vida. Era como se ele houvesse acabado de envelhecer por dentro.

Dizem que a ignorância era uma benção, mas havia um problema com isso.

A descoberta do par o mostrava que nunca foi brincadeira. A partir dali, não podia viver em ignorância.

As coisas sempre foram bem mais sérias do que as deu direito.

E o problema nisso não era apenas os dois existirem.

“O terrorismo absurdo desde o fim da guerra… Será que é essa a explicação?"

O medo real era aquele que passava na TV todos os dias, desde o dia em que os conflitos no oriente cessaram.

Se existiam outras pessoas além dele com tais poderes, então que outra estariam fazendo com isso?

Embora super poderoso, nunca fez uso de suas habilidades para fins ruins. Buscou facilitar sua vida, ganhar alguns bônus, mas nunca se permitiu passar disso.

Porém, isso não tinha como ser generalizado a todas as pessoas.

“O que vai acontecer com o mundo...?”

Simples trinta e poucos minutos foram o suficiente para forçá-lo a ver. De repente, tudo em sua vida ficou mais sombrio e morto.

“Acho que nunca me senti tão mal.”

Reclinou-se na pia, deixando o corpo falar, e em segundos, vomitou todo o café da manhã, somado a alguns traços de sangue dos golpes que sofreu.



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