Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne

Revisão: TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – Nova cidade, Nova vida

Capítulo 10: Plano Terrível

Trazê-lo não foi luxo ou favor, e isso ficou claro com o barulho ensurdecedor da sirene. No fim, tudo foi parte de um plano.

Eles cavaram o buraco lindamente, e ele caiu como um patinho.

— Uh-oh! — Mark fingiu estar surpreso. — Parece que nós fomos pegos no ato dessa vez…!

Lira respondeu ao se aproximar dele, olhando por todos lados em busca de funcionários. Ela ficou quieta, pressionando contra o peito a bolsa, se pondo de costas para ele em um contato direto.

— Seus malucos…! — Ryan gritou. — Eu sabia que não era para ter embarcado nisso…!

O Savoia só tinha olhos para o vazio da loja, como se quisesse encontrar algo milagroso nas prateleiras. Sua visão perdia o foco e tudo girava, como se fosse o centro do mundo.

Era um ataque de pânico.

A última vez que parou na polícia foi por ter arrumado briga com uns sujeitos aleatórios nas ruas de Bismarck. Naquele caso o fez porque seria morto se não reagisse, mas ali, era totalmente diferente.

Foi uma armação completa contra ele.

— Oh não, Ryan…! — Mark se aproximou. — Agora as coisas vão ficar complicadas! Logo, a polícia vai estar batendo aqui e perguntando sobre nós…!

O jeito da fala o irritava. Mark se derretia sobre Ryan, pondo as mãos em seus ombros e se jogando como uma donzela em perigo, com direito ao tom feminino forçado.

— Mas que tragédia…! — levou a destra à testa, jogando-se para trás ao peito dele. — Se ao menos tivéssemos um bravo e forte homem capaz de apagar a memória de todos esses funcionários…! Mas onde será que encontramos tal herói?

Sentia-se ferver por dentro ao aprender que tudo isso não passou de uma desculpa para que mostrasse suas capacidades. No melhor dos termos, era ultrajante.

— Ryan! — cantou em seu ouvido, ainda em tom feminino. — Se não correr agora e procurar por aquele funcionário, sabe o que vai acontecer, não é? A nossa descrição vai estar na loja inteira e eu nem quero parar para pensar no que aconteceria se ele conseguir contar para a polícia!

Os gestos femininos tão exagerados e fora de lugar o roubavam a pouca paciência que ainda restava. Por seus olhos, era claro o quanto o rapaz mais alto parecia prestes a explodir.

— Então, por favorzinho! Vai atrás dele para a gente, sim?

Só queria dar um soco forte nesse rosto… Mas sabia que não haveria ponto nisso e que no melhor dos casos, seria apenas impossível.

Tinha de sair dali e não ser pintado como criminoso na cidade. Se os portões foram de fato fechados como foi informado, o trabalho ficaria mais fácil.

“Não vale a pena perder a minha paciência com esses dois… Ainda!”

O par não era normal de qualquer jeito. Por um momento, pensou que pudessem compartilhar de uma mera interação decente, mas talvez até mesmo isso fosse pedir demais.

Tomou seu ar, tentando com todas as forças suprimir o desejo de assassinar os dois ali mesmo, fazendo a pergunta de ouro:

— O que diabos eu vou ter que fazer?!

Mark abriu um sorriso maníaco e levantou os dois polegares em um gesto de “legal”. O brilho em seus olhos de tom escarlate só se tornou maior ao pensar nas palavras a dizer.

— Ótimo! Eu sabia que tu tava com a gente, cara! Olha, eu e a Lira vamos derrubar uns funcionários e clientes e, enquanto isso, você faz o trabalho sujo de limpar a mente desse pessoal, fechado?

Não era tão ótimo quanto a ideia de só entregar os dois e colocá-los como os verdadeiros e únicos responsáveis que eram, mas iria servir.

Acima de tudo, não era a primeira vez na vida de Ryan em que ele iria usar de seus poderes para escapar de algum problema.

— Agora, vamos lá…! A gente vai ter uma galera para derrubar!

Mark tirou da mochila a bola de basquete, quicando-a entre as mãos, alternadamente. O som de plástico a se deformar confirmou a grande quantidade de doces presente na bolsa.

— Parados aí, os três!

Olhar para trás revelou a chegada de um segurança. O homem forte e careca se destacava dos funcionários por usar grossas vestes em azul-escuro, ter um insígnia no peito e, principalmente, portar uma arma.

Tentou sacar a pistola básica de seu coldre, tomado pela surpresa de ter sua arma jogada longe pela bola de basquete.

Argh! Merda…!

— Heh! Armas de fogo contra adolescentes? Que parada mais injusta, tio!

Sequer viu direito o ataque acontecer, mas o mero som do impacto revelou ter sido um arremesso inacreditavelmente forte.

Ao bater em sua mão, a bola se viu redirecionada com força o bastante para voltar às mãos de Mark.

— Não tão rápido!

Para ainda mais surpresa, o Menotte correu enquanto quicava a bola, mantendo domínio perfeito do objeto, não demorando nada para cortar todo o espaço, ao passo que mantinha seu sorriso esquisito.

— Ah, eu não vou deixar você pegar isso aí de jeito nenhum…!

E no exato segundo em que o guarda pegou a arma, ele saltou, tendo acumulado aceleração o suficiente para subir a quase três metros do chão.

— OLHA A BOMBA…!

Ryan assistiu ao espetáculo em uma mistura igual de surpresa e puro terror. No meio do ar, viu Mark acumular o máximo de força no braço esquerdo, rotacionando como um planeta para ganhar momentum, enfim desferindo o golpe final.

Uma bolada no rosto tão forte e violenta que fez reverberar por todo o supermercado o som de uma pequena explosão.

“Esse cara… Ele é maluco…!” 

Pensou em silêncio, assistindo a bola cair após ricochetear alto o suficiente para chegar no teto.

— Hahahaha! E aí? Curtiu essa?

O mais magro e pálido sequer se preocupou em dar a mínima atenção para o estado do guarda desacordado a sangrar por seu nariz. Com o indicador, balanceou a bola, em giro.

Ryan não sabia o que dizer diante de uma manifestação tão monstruosa.

— Já que parou de se mostrar, é melhor irmos fazer o que interessa. — A terceira voz se colocou. — Ryan Savoia, é a sua hora. Vá e apague as lembranças daquele homem.

Lira não parecia no mínimo impressionada com a exibição, e foi apenas então que ele se deu conta do quão ordinário esse tipo de comportamento já haveria de ser.

Roubar lojas? É claro que nunca foi nenhum santo, mas o Savoia não se lembrava de ter pegado nada mais caro que fones de ouvido. Essa era uma linha moral que nunca iria cruzar normalmente.

— O que está esperando? — Sua voz fria chegou a ele. — Vá e faça. Agora.

Por outro lado, não tinha como se opor aos dois; não contra a horrível sensação se repetindo.

Ryan agarrou seu peito, sentindo o aperto.

— Tudo bem… Eu… Eu vou… Só… Pode parar… Com isso.

Uma mão gelada apertando seu coração, mandando pulsos de um desconforto específico e imensamente detestável.

— Faça primeiro.

O deixava sem ar, principalmente conforme escalava na direção da garganta, agindo como se quisesse sair pela boca.

Sem mais opção, se ajoelhou diante do homem caído, tentando focar o máximo que podia no meio da experiência sensitiva tão terrível. 

Com alguma dificuldade, tocou sua testa, ativando seus poderes.

Não a enxergava diretamente, mas a sombra de Lira em suas costas o deixava saber que ela estudava meticulosamente o processo, acompanhando cada milissegundo.

— Feito… — Ryan suplicava por liberdade.

— Hmm… Então é assim que funciona… Não consegue fazer sem contato físico?

Parte do cérebro do adolescente demorou demais se perguntando se era uma pergunta legítima ou apenas mais uma retórica por parte dela.

— É… Muito mais… Complicado… 

De repente, sua encarada neutra mudou drasticamente para algo frustrado, mas ainda assim estranhamente positivo.

Teria ela esboçado um sorriso com a informação?

— Vamos, levante daí. Temos que lidar com o resto dos funcionários e clientes.

[...]

— Parado aí, moleque! Pode ir devolvendo o que tem dentro dessa sua mochila!

Dois funcionários levavam sorrisos confiantes, pensando terem encurralado Mark. Entre um lado e outro, bloquearam suas chances de saída.

— Oh, não! Parece que me pegaram… O que será que eu vou fazer agora? —perguntou em um tom feminino. — Por favor, homens maus! Me poupem!

Sua encenação de alguém em desespero serviu para deixar os dois ainda mais irritados, já que mesmo assim, ele ainda tinha a coragem de os ironizar.

Mantinha sua distância de ambos, quicando a bola como se estivesse no meio de uma fervente partida, um sorriso ainda mais quente acompanhando o brilho rubro de seus olhos.

Aquilo prometia ser um impasse eterno. O boom boom infinito de sua jogada, os passos lentos dos dois funcionários…

— Se vocês não vão fazer nada… Então eu vou!

Pegou a bola, criando uma reação em cadeia no corredor de produtos de limpeza. Preparou seu próximo golpe, girando em torno de si mesmo para lançar mais uma vez.

— Não vai fazer nenhuma gracinha, garoto!

Claramente que não seria tão fácil. Certo do fato de estar se focando em seu colega de trabalho, o funcionário em questão tentou agarrá-lo por trás.

Era tudo parte do plano.

— Uepa…! — girou, acertando a bola na nuca do homem, sem perdê-la da mão.

O trabalhador caiu desmaiado ao chão e o Menotte só rezava que ainda fosse manter todos os movimentos do corpo depois daquela, afinal de contas, isso em sua mão não era uma bola.

— Uuhh…! O que… O QUE FOI ISSO?!

O segundo funcionário caiu desesperado no chão, batendo as pernas em puro terror diante do que viu. Seus olhos apenas o podiam estar enganando…

Como uma bola de basquete se transformaria em uma garrafa de amaciante para roupas?

— Ah… Parece que você viu, né?

O pescoço do adolescente se contorceu de um jeito demoníaco. Ossos quebraram, a pele enrugou, torceu e rasgou, e sua face culminou em uma mostra de dentes largos e pontudos.

— UM… UM MONSTRO…!

O homem tentou correr, usando de todas as suas forças para se afastar da criatura que só deveria existir em pesadelos.

— Puta merda, bicho… Eu não entendo essa de vocês…!

Mike mirou a grande garrafa que cheirava a flores e dizia “Rosas da Paixão: Vermelho” no caminho dos próximos passos desorientados do funcionário que perseguia pelas sessões.

— … Porque, há uns dez segundos atrás, eram vocês quem tavam me perseguindo…! Como assim o jogo já mudou?!

A pobre alma não freou seus passos a tempo suficiente, derrapando na grande lambança de vermelho viscoso criada quando uma garrafa passou por ele em velocidade terminal e foi destroçada no chão adiante.

— WAAAAHHH!

Deslizou na poça com cheiro de rosas, caindo de costas para o chão em uma cena bem mais terrível do que imaginava.

— Abre os olhinhos! Olha só o que eu tenho aqui.

“Oh, não”, foi o que pensou quando viu um mero adolescente levantar a mesma bola de basquete acima da cabeça, pronto para acertá-lo em cheio.

[...]

“Não… Não…!”

Uma jovem funcionária se arrastava pelo chão do mercado, trêmula no mais profundo medo do que acontecia ali dentro.

“Não… Por favor…!”

Nem mesmo podia descrever o motivo exato para estar tão assustada, assombração essa que vinha de um lugar ilógico. 

Nenhuma daquelas crianças tinham armas, tampouco deveriam estar fazendo todo esse estrago na loja.

Então, por quê?

— Me parece que temos apenas mais um para cuidar — disse, fria como sempre.

A mulher aterrorizada, largada no chão, não se atrevia a olhar no cenho da menina asiática tão estranha, temendo a sensação que emanava daqueles olhos afiados e violentos.

Todo o seu corpo tremia, o coração pulsava em ritmo cavalar e sentia como se houvesse duas esferas maciças de ferro dentro de seu peito, tomando o espaço do ar nos pulmões.

Sua mente vacilava, prestes a desmaiar e ser transportada para qualquer outro lugar.

Por que sentia tanto medo? A loja já foi assaltada antes e por pessoas bem mais preparadas do que aqueles três arruaceiros. Nem mesmo nessa situação sentiu tanto medo de morrer.

O que esses moleques tinham de tão especial?

— Ryan, eu não deveria continuar tendo que te dizer o que fazer.

— Okay… Okay… Eu vou apagar.

Hesitante, o rapaz se ajoelhou diante dela, tocando sua testa ao mesmo tempo em que deixava notável a diferença enorme entre eles.

— Isso já vai acabar…

Seu medo era tão grande quanto o dela, sendo mandado por aí por esse protótipo de ditadora; sentia isso no contato trêmulo de suas palmas quentes e que traziam uma paz tão estranha.

Lentamente, sua mente era posta para relaxar, presa em um sonho, uma de suas melhores memórias de infância.

No final, sequer se lembrava mais do que sentiu tanto medo antes de seus olhos se fecharem de vez.

— Feito… — citou, hesitante.

— Ainda não acabamos por aqui.

Lira seguiu o som da bola batendo contra o chão, tornando a face para a esquerda.

— Opa, tô vendo que terminaram por aí! Tem mais alguns desacordados ali no horti-frutti e nas partes onde ficam as coisas congeladas. Falta só esses, eu acho!

— Ótimo — cruzou os braços, analítica. — Esse lugar não parece ter câmeras funcionando, mas é sempre bom cuidar disso também. Logo, esses funcionários estarão acordando… Temos tempo para apagar os arquivos?

— Bem… Eu não pensei em apagar, na verdade…

Seu sorriso vacilante disse tudo o que se precisava saber.

— Muito bem. Acho que agora é só procurarmos por mais alguém e depois disso saímos pela porta da frente.

Os dois trocaram um aceno sucinto, tendo traçado o restante do plano em questão de segundos.

Em meio a isso, a mente de Ryan funcionava a mil, lembrando dos vários funcionários e até clientes nocauteados ao chão.

“Esses dois são muito mais problema do que qualquer coisa que eu já encontrei antes…”



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