Chamado da Evolução Brasileira

Autor(a): TheMultiverseOne


Uma Cidade Pacata – O Dia em que o Pesadelo Começou

Capítulo 63: "Herói"

— Essas coisas não vão parar de chegar, não importa quantas morram…!

Ryan corria sem parar, tentando não se preocupar com as formigas a escalarem por suas pernas e lhe morderem a carne. 

— Porcaria…! — mordeu a ponta da língua. — Eu tenho que descobrir onde e como isso começou!

Ele tomou uma porção gorda de ar, focando sua concentração em manter ativada sua manipulação sobre as próprias memórias, se forçando a esquecer o significado da palavra “dor”.

— Eu preciso poupar a minha energia… Algo me diz que logo eu vou ter que brigar com alguém…

Sua coragem em ignorar os comandos de Lira se traduziu em movimentos rápidos. Sabia que os dois ficaram bem, afinal, não precisavam dele para quase nada.

— Mas eu não posso só tolerar o foco disso tudo…! A gente não tem um plano… Então não tem porque seguir um…!

Tomado pelo ímpeto de descobrir o que ocorria no andar inferior, acumulou energia nas pernas e deu um salto de fé nas escadarias. 

Entre as centenas de pequenas borboletas brancas, não se via muito do chão a partir dali, então travou os dentes e suplicou a qualquer entidade superior que pudesse ou não existir.

— Que não tenha ninguém embaixo de mim… POR FAVOR…!

Usou dos braços para tentar, um tanto falhamente, expulsar os insetos e evitar que acertassem seus olhos, pois de nada adiantaria sua coragem caso acabasse cego.

Seus pés, felizmente, conectaram com nada além do chão e a força do impacto reverberou, violenta, por cada célula de seu corpo. 

Caso ainda se permitisse sentir dor, gritaria tanto quanto qualquer outro, no meio desse inferno. Não tinha tempo para se lamentar, porém.

— A coisa é ainda pior aqui embaixo — murmurou, olhando ao redor. — Umas dez vezes pior…

A mudança brusca de cenário deixou estupefato pois, além dos insetos a voarem sem rumo, o forte odor de fumaça cinzenta poluía o ar e o enevoava.

Determinou o objetivo de descobrir o princípio e a origem da ruína em construção, atento às pequenas vibrações vindas do chão, acumuladas em algo maior.

“Uma explosão?!”

O tremor abalou suas estruturas psicológicas e mesmo tão longe, apontou a realidade dos fatos.

— SOCORRO! — Um estudante gritou, ao longe. — A GENTE PRECISA DE AJUDA!

As pessoas não podiam esperar por seu raciocínio lento e inconveniente, muito menos pelo vício de insistir em analisar cada componente da situação.

Elas precisavam de sua ação imediata, uma mão forte, que as guiasse para fora do desespero.

— Ei, vocês…!

Um grupo de estudantes se uniram em um esforço contra as ondas de mariposas. Copiando a ideia de Lira de modo indireto, os doze membros usavam dos extintores para exterminar ou ao menos expulsar algumas das criaturas.

“Eu vou descobrir o que aconteceu por meio deles…!”

Ryan tomou a corrida de sua vida rumo ao grupo, puxando do pouco ar a energia que lhe moveu as pernas.

— Ei…! Alguém sabe o que tá rolando aqui na escola?! Por que essa fumaça toda?! E essas coisas?!

Se esqueceu de contar com os efeitos de sua falta de tato e sua chegada tão súbita não teve a melhor recepção. Assombrados e irritados, os estudantes o encararam com desgosto e um deles se colocou à frente.

— Eu sei lá o que tá rolando, porra…! — exclamou, mirando em uma nuvem espessa de criaturas. — Se não vai nos ajudar aqui, não fica fazendo pergunta idiota…!

Mordeu o lábio diante da resposta ríspida. Não podia se dar ao luxo de ser paciente com eles.

— Ei, seu merda…! O que tu tá fazendo?!

— Descobrindo o que eu preciso!

Chamou por seus poderes e sem dá-lo a chance de lutar de volta ou escapar, agarrou o estudante pelo pescoço, puxando-o para perto com uma força que assombrou todos os outros.

— Me larga, filho da puta…! — O rapaz se debateu. — Seu louco!

— Eu não tenho tempo para isso…!

A última coisa vista por ele antes de perder a consciência foi o intenso brilho roxo. Ele não hesitou em meter a mão contra sua testa sem qualquer cuidado, extraindo o que queria.

O processo durou apenas segundos, tempo mais que o suficiente para traumatizar os demais.

— Aqui, peguem ele. Eu não fiz nada demais com ele.

O atirou ao restante dos membros, ausentes de palavras para descrever o que viram ou  definir o motivo do estranho ter subitamente desmaiado o seu colega.

— Ah, e se não se incomodam… — pegou do chão o extintor usado. — Eu vou tomar isso aqui emprestado…!

Sem mais qualquer palavra, travou os olhos com o objetivo: o caminho até chegar à biblioteca, utilizando do conteúdo residual do cilindro para limpar o caminho de tantos insetos.

“O lugar fica um tanto distante desse ponto, então se a fumaça tá chegando com essa intensidade toda… Significa que só pode ser um incêndio de grande porte…!”

Ativou a musculatura dolorida de suas pernas, sumindo em imensa velocidade. Àquela altura, os não assustados demais passavam a se questionar se ele seria sequer humano.

— Aquele cara… Não é aquele tal de Savoia, que deu uma sova no Vincent…?

A pergunta de uma das garotas soou inocente para a situação que viviam no momento. Observativa, se sentia incapaz de parar de olhar para o corredor que ele tomou tão apressadamente.

— Quem se importa se for ele mesmo?! Ele fez alguma coisa com o Brian…! — Outra garota rebateu, ao passo que apontava o emissor do extintor para outra grande nuvem de borboletas. — Não se distrai, Lilliana…! Tu pode crushar ele depois…!

— O quê?! Eu não tô crushando ele…! Aquilo foi bizarro… E assustador! — Uniu-se a ela, usando de seu próprio cilindro para cuidar das mariposas.

A sorte de ser criado o grupo foi o senso mínimo de organização que tiveram logo a princípio. Quando as coisas ficaram complicadas, foram alguns dos poucos ainda capazes de pensar com a cabeça.

— Qual será a origem disso tudo?! De onde vieram tantas?!

— Não se pergunta…! Só continua exterminando elas…! Tá funcionando…!

Pouco a pouco, seus esforços viam frutos, quando as grandes nuvens de insetos paralisados caíam aos montes, cobrindo o chão com uma capa branca de morte. Sob seus pés, tripas e patas deslocadas tornavam a superfície escorregadia.

Mas algo mais soou diferente e absurdo, longe dos insetos ou do próprio fogo.

— Pessoal, vocês tão ouvindo isso? — perguntou Lilliana, atenta à distância captada por seus ouvidos. — É tipo…

— Eu já disse…! Fala menos e destrói mais dessas coisas…! Uh… Ah… Mas agora que você tá dizendo… Por que diabos tem alguém tocando uma guitarra no meio dessa zona toda…?

Bem ao fundo escutaram um barulho característico, o som de um perfeito solo de guitarra elétrica. O ritmo veloz e caótico se assimilava com o cenário vivido, gerando dúvida quanto à intenção.

— Por que diabos alguém tocaria uma guitarra em um momento como esse?! Isso não faz sentido…

BOOOM!

Explosão, na forma de uma onda de proporções ensurdecedoras, impossível de determinar a origem.

Tudo o que sentiram foi o impacto vibratório a entrar em contato direto com cada célula, ressoando de dentro para fora, levando suas cabeças ao giro, com o desmantelo do senso de equilíbrio.

— Mas o que foi… Isso…

Cobriu a boca. De repente, sentiu outra vez o sabor do macarrão com queijo comido no almoço, muito mais grotesco e nojento, escalando como garras por sua garganta.

— Eu… Não acho que tô me sentindo muito bem… Eu… BLURGH!

A consciência falhou, deparada com a imagem da sopa gástrica amarelada, derramada no chão. Aos poucos, sua visão adquiriu contornos turvos, a força a abandonou e, enfim, cedeu, desacordada.

— Lilliana…! — chamou sua amiga, preocupada. — Lilliana!

Se esforçava para manter a comida no estômago, bravamente engolindo de volta tanto quanto podia, embora dos cantos de sua boca, duas trilhas líquidas amareladas denotavam falha.

Não pôde pensar, sua mente tomada pelo fato que o som da guitarra soava mais próximo.

— Ei, vocês…

Uma forma masculina se erguia adiante, em torno de si, uma grande guitarra elétrica nas cores branco e vermelho. Agilmente, seus dedos tocavam as várias cordas, costurando melodias.

Ele as encarou por breves segundos, em suas expressões, nada além de mania.

— Vocês a viram passando por aqui, não viram? Digam para onde ela foi!

As duas viram muitos passarem em puro temor por suas próprias vidas, logo, a pessoa procurada por ele podia ser qualquer uma. 

— Uh… Eu…

Ela não tinha uma resposta certa para dar e, mesmo que tivesse, não sabia ser certo a dizer.

“Esse cara… Ele tá me parecendo muito calmo… Sem falar que essa cara dele…. É estranha…”

Ao topo disso, ele em momento algum se incomodou com o fato de tantas pessoas terem desmaiado ao seu redor.

— Não vão dizer? Eu sei que vocês viram… Sim! Vocês viram ela, então me digam logo para que lado ela foi…! Eu não ouço o som dela direito no meio desses gritos…!

Sua espinha alarmou, com a sensação de se estar diante de algo verdadeiramente perigoso, a manifestação de sua intuição feminina.

“Esse cara… Não tem como ser uma boa pessoa…”

Os pelos eriçados em seus braços diziam tudo. Nada nele a fazia querer cooperar com seus motivos.

— Vocês duas… 

Furioso, ele aprontou seu instrumento entre os braços fortes, mostrando os dentes e acrescendo ao aperto no coração dela, já tão aflito.

[...]

— Merda…! É pior ainda do que eu imaginava…!

As informações extraídas da mente de Jordan Michael Brian não se somavam em muito, porém ao menos davam uma boa imagem geral das coisas.

“Droga… Eu não posso aspirar muito dessa fumaça cheia de cinzas…!”

Seu velho casaco foi destruído, o forçando a mudar de estilo por um dia, não mais usando as roupas pesadas com as quais sempre foi acostumado.

“Eu consigo sentir o calor da madeira e dos livros queimando daqui…! Ali dentro deve estar um inferno…!”

E enquanto isso podia ser uma coisa ruim graças à falta de um tecido que cobrisse seu nariz, por outro lado, podia ser bem vantajoso.

“Vou precisar me locomover rápido… Alguém ainda pode estar lá dentro!”

Nenhum outro estudante trafegava por ali, um sinal bom e ruim, em simultâneo. A falta de pessoas nos corredores podiam simbolizar, igualmente, o escape de todos ou algo muito pior.

“Aqui…!”

Irrompeu através das portas abertas. Pelo lado de fora, nada se via graças à intensa cortina de fumaça, mesmo que nada o fosse preparar para o espaço propriamente dito.

“Mas que merda…! É uma perda total do lugar todo…!”

O que antes foi uma biblioteca se via reduzida a uma pilha de cinzas em um intenso inferno. No grande espaço, não via lugar sem a presença de ao menos um foco médio de fogo, com ar tão quente e tóxico que lhe doía ter de respirar.

Estantes, livros e mesas, todos igualmente reduzidos a nada.

A fumaça não permitia mais a sobrevivência de qualquer inseto nas imediações, embora algumas borboletas fossem o menor dos problemas.

— ALGUÉM?! — gritou. — Tem alguém por aí…?! Por favor, grite…!

A cobertura de fumaça o deixava com poucos metros para se guiar. Sem saber o que fazer e com uma limitada oferta de oxigênio, tomou escolhas impulsivas.

— MAS QUE PORCARIA…!

Sem pensar duas vezes, Ryan Savoia mordeu a própria mão destra com toda a força que pôde aplicar.

O sabor de sangue uniu-se aos impulsos de dor. Tal foi o modo que encontrou para tirar-se de seu estado de inação.

— Perder todas as minhas memórias, viver cinco anos sem saber quem diabos eu realmente sou… PARA VIR PARAR NESSA CIDADE DE MERDA E TER QUE SER A PORRA DE UM HERÓI PARA UM BANDO DE PIRRALHOS MIMADOS…!

Chutou uma cadeira quebrada para desencadear sua frustração e, usando da raiva recém-adquirida, forçou suas pernas a se moverem novamente.

“Com certeza tem alguém aqui… Pessoas ficam desesperadas demais em situações como essas…!”

Não eram raros os casos de pessoas demorarem demais para reagir ao fogo ou simplesmente se afogarem tanto em pânico a ponto de não saberem o que fazer.

“No estado de pânico, a grande maioria toma decisões impensadas!”

Chamas que cresceram lentamente ao longo de vários minutos para se tornarem letais o bastante já foram responsáveis pelas mortes de grandes grupos.

O calor entre as estantes se somava à falta ar para o desorientar. Forçado pelos limites de seu próprio corpo, baixo em oxigênio, sentiu-se parar.

“Droga… Não é hora de ficar leve da cabeça, Ryan…!”

Mesmo sob o maior dos focos sua visão falhava em focar e os efeitos da intoxicação do CO2 se pronunciavam em baques violentos contra sua integridade.

“Eu… tenho… que… continuar…!”

Determinação, perseverança ou só teimosia; não podia se importar menos com o nome da coisa que viesse ao seu auxílio e o tirasse daquela fornalha.

“Huh…? Eu já tô… alucinando…?”

Uma mão amiga, agarrada em seu tornozelo direito.

— Aqui embaixo. Use as suas mãos para apoiar sua queda.

A voz feminina surgida debaixo de uma mesa caída não foi mais gentil que seu aviso, usando de súbita força para fazê-lo cair ao seu nível. 

Felizmente, Ryan tinha justo o suficiente de ar para evitar um nariz quebrado.

— Durante um incêndio em um lugar fechado como esse, o oxigênio do ar tende a se acumular nas camadas mais baixas — falou, encarando-o seriamente. — Se não tivesse te encontrado, você teria desmaiado.

A surpresa no rosto do Savoia em ver de quem se tratava a figura falou mais do que mil palavras. De qualquer forma, seria preferível a ele usar da energia para respirar um pouco melhor.

— Olá, senhor assediador. — O cumprimentou, sem emoção. — Que situação para nos encontrarmos…

Não tinha tempo para troca de formalidades com ela, além de não ter sido o que aconteceu em seu último encontro.

— Você… A que ficou me olhando feio… — bufou, lutando contra sua exaustão. — Por que não escapou…?

— O nome é Olivia e eu acho que deve saber que eu não estou sozinha aqui dentro. Eu ajudaria as minhas amigas e sairia daqui por mim mesma, mas…

A menção às outras duas fez a alma dele quase escapar do corpo, lembrando que em todas as poucas vezes que viu a mais alta do trio de garotas, ela nunca esteve sozinha.

— Durante o pânico, um grupo de estudantes pisoteou o meu pé esquerdo. Desde então, não consigo andar.

O modo sempre calmo com o qual ela falava o tirava do sério.

— ONDE?! Onde elas estão, Olivia…?! — agarrou seu ombro esquerdo, a balançando. — PARA QUE PARTE DA BIBLIOTECA ELAS FORAM?!

— Eu não sei — respondeu depressa. — Embora, eu acho que tenham saído com o começo do pânico. Provavelmente presumiram que eu fiz o mesmo… Por acaso se encontrou com alguma delas?

— Não…! — rebateu, ensandecido. — Vem, eu vou tirar você daí…!

Sentindo-se recuperado o bastante, puxou seu corpo para além da grande mesa sob a qual se escondia, levando-a como uma noiva em seus braços.

— Vou te deixar lá fora, longe dessa fumaça…! E depois disso…

— Por favor, não desviem… Não façam isso ser mais difícil!

Captou uma voz ao longe, seguida de gritos femininos em uníssono e junto disso, pequena explosão viajou por todo o espaço, espalhando uma terrível notícia.

— Ryan Savoia, não é?

O toque trêmulo dos dedos longos da mulher maior que ele irradiou desespero real, pela primeira vez na breve interação.

— Me largue aqui. Eu consigo me arrastar sozinha até a saída.

[...]

“Vocês viram… Por que vocês tinham que ver…?”

O jovem, mascarado e protegido de qualquer reconhecimento, murmurava sozinho.

“Isso não era para acontecer…”

Não desejava ser visto, mas as pesadas camadas de roupa não o faziam bem algum.

“Elas viram... Elas viram... Eu não deveria ter deixado elas verem…”

Agora, uma decisão tinha que ser tomada. Estava nas mãos dele o poder de decidir seu próprio futuro em duas opções: deixar com que fossem embora e contassem sobre o estranho “cara mascarado que solta fogo pelas mãos” para todo mundo e ter seu lado do plano arruinado…

... Ou simplesmente acabar com tudo aqui e nesse momento, se livrando das testemunhas.

Ninguém deveria ver, e muito menos poderia saber e isso significava dizer que as duas garotas deveriam morrer.

— Eu… Não vou errar de novo…! Eu não vou errar dessa vez…!

Vacilou uma vez. Não devia acontecer de novo.

Era triste, mas o único modo de preservar sua identidade e de garantir que não houvesse uma punição. Desse modo tão arbitrário, duas vidas inocentes, encaixadas em um contexto não intencionado para elas, seriam perdidas.

— Por que vocês tiveram que ver...?

Trancou os dentes, aplicando o máximo de firmeza em seu encarar. Não tinha como voltar atrás agora e tudo o que poderia pedir era para que suas almas incendiadas descansassem em paz.

O rapaz então estendeu sua mão e um brilho alaranjado se formou. As duas olharam, quase hipnotizadas pelo horror absoluto do poder alheio.

Olhando para a construção de seu poder por mais um único momento, ele pensou, dolorosamente, em como isso não deveria ter a obrigação de ser assim.

— Me desculpem... Por favor, me desculpem...

Lançou o projétil flamejante, como um arremessador atira uma bola de baseball. 

Ter menos evidências não mudaria o fato de que algo horrível aconteceria ali, mas ao menos, ele teria menos para olhar e lamentar quando tudo isso terminasse. Talvez, isso trouxesse algum tipo de conforto a mais.

E assim, cortando seu caminho entre tudo com a velocidade de um míssil, a bola de fogo iluminou paredes e estantes onde os livros ainda não consumidos pela raiva carmesim estavam. 

Ele nunca pediu por isso.

As duas se abraçaram, aceitando o fim de um modo tão natural que até mesmo o assustou. Talvez algumas pessoas saibam que não há o que fazer, então abraçam a morte que lhes é entregue.

E então, a explosão foi trazida à vida. Em sua imensa covardia, o próprio autor da cena tão grotesca não conseguiu sequer olhar o que criou de frente. Ele não queria ver.

— ... Como se eu fosse deixar isso acontecer…!

Uma cadeira voou com exatidão rumo ao projétil. Ao acertar, as chamas se expandiram em proporções titânicas, reduzindo a madeira a farelos incandescentes.

— Então é você… É você que tá me causando toda essa dor de cabeça…!

Um rapaz, alto e negro, usando roupas leves demais para se andar no meio de um incêndio.

— Sério… Eu tô com tanta vontade de acabar contigo agora…!

Zangado e bastante cansado, o adolescente de brilhantes olhos em púrpura o fitou com a mais profunda raiva, exibindo os dentes, deixando que ouvisse o ar escapando entre as brechas.

— Acabou a brincadeira! Agora, você vai brigar comigo!

Um herói, maior do que qualquer coisa que ele jamais pôde ser.



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