Uma Cidade Pacata – O Dia em que o Pesadelo Começou
Capítulo 57: Injustiça
TheAlmightyMark — 15:42: "Esse cara, bicho. (‘--’)”
TheAlmightyMark — 15:43: "Não consegue passar um dia da vida dele sem se envolver em problema! Inacreditável isso.”
Ryan engoliu de volta o amargor em sua garganta ao ler a mensagem. Ele não queria ouvir aquilo justo dele.
SuzuLira — 15:43: "Foram cinco minutos, Ryan Savoia. Cinco minutos que lhe demos o benefício da dúvida entre seguí-lo ou não, e é isso o que acontece.”
SuzuLira — 15:44: "Parece que teremos de tomar uma vigilância um pouco mais drástica de agora em diante.”
— “Mais drástica” o caramba…!
Sozinho no corredor, o não mais se sujeitaria a passar por tal humilhação. Tudo não passou de um mero mal entendido, mas não houve uma única alma capaz de acreditar nele, dentre os que presenciaram a dita “violência estudantil”.
No fim, não apenas a professora, mas a sala inteira veio presenciar sua tão injusta punição. Como em um jogo de Tetris, cada peça se encaixou de modo mágico.
O taco de baseball em suas mãos, a raiva no olhar, e principalmente, a óbvia presunção de inocência recebida por elas dado o fato de uma chorar como um bebê e a outra ter se encolhido, assustada.
Essa foi a composição perfeita para pintar Ryan Savoia como o grande vilão que é.
— E eu não tive como apagar as memórias de ninguém… Eram muitos e tentar só iria causar histeria geral depois que descobrissem… Parece que eu vou ter que morder essa bala…! Droga!
Frustrado, chutou uma latinha amassada, que quicou até colidir com a grande porta de madeira escura, tão conhecida dele.
— Eu não acredito que vou ter que olhar na cara daquele calvo de novo… Pela quinta vez, nessas três semanas aqui dentro!
Os problemas trazidos por ele e suas ações chegavam frequentemente aos ouvidos de Eastwood, já tão conhecido dele a ponto de sequer fingir se importar. Toda vez que o via, bufava pelos lábios secos e velhos, negando com a cabeça.
Esse dia prometia não seria diferente e assim como em todos, receberia mais uma medida disciplinar qualquer e arbitrária, além de ter seu próprio lado da história inteiramente ignorado.
“É assim que a banda toca, afinal de contas…!”
Insatisfeito, tocou a grande maçaneta e, em um impulso de força, outra vez os dois pares de olhos se chocaram.
— Haaah… Você aqui, de novo? — Como profetizado, o velho coçou sua testa enrugada, suspirando de modo cansado. — Savoia, eu não acredito nisso…
Ryan entrou sem cerimônia, fechando educadamente a porta. No interior, o ar parecia neutro demais para um momento de punição, e isso se devia pela natureza da curta história entre os dois.
— Que tipo de desculpas vai inventar agora? Por acaso, vai me dizer que estava só tentando conversar com a estudante e que tudo isso não passa de um grande mal entendido gerado pela má interpretação de um fator externo qualquer que você julgou não ter sido levado em consideração do modo como deveria?
Ficou a um passo de se dar um tapa na cara, amargando a descrição tão acurada da realidade.
Independentemente do que dissesse, o velho não daria ouvidos a uma palavra, então, se ateve a falar algo óbvio, embora tão desafiador.
— O que eu tenho a dizer depende da sua disposição em acreditar.
Ao se deparar com isso, o velho o encarou com o mais inalterado desgosto, pelo que foram longos cinco segundos.
— Eu tenho noção de que joguinho você está tentando, senhor Savoia, e saiba que isso não estará acontecendo em qualquer momento, rapaz — pronunciou cada sílaba com uma afiação a mais. — E por favor, eu não sugeriria que banque de engraçadinho no meu escritório. Isso não se encontra no seu poder.
— Ah, é mesmo? — Ryan blefou, pensando em como Mark possivelmente reagiria. — Porque eu pensei que esses momentos entre nós dois já tinham criado um clima de amizade, diretor Eastwood.
Tratou de responder em altura à encarada perfurante, mostrando a ponta da língua.
— Essa escola tem tantos problemas e você decide lidar com tudo o que não é um problema… Eu tenho a mais absoluta certeza que uma conversa de cinco minutos com aquelas garotas teria feito milagres por todos nós e me dado a chance de me explicar, mas você, obviamente, decidiu não fazer isso.
A chave de qualquer diálogo civil e educado vinha da falta de animosidade entre as partes e, caso não houvesse alguma, não existiria briga.
“De certo modo, uma coisa só existe se as pessoas se lembram dela.”
A queda de uma árvore só passa a ser o que é se houver alguém para ouvi-la ceder, logo, o mesmo se aplicaria às brigas.
“Se eu as fizesse esquecer de tudo…”
O jeito mais apropriado de resolver a situação seria também o mais conveniente para ele.
“Então, de um ponto de vista prático, nunca nos desentendemos!”
A única coisa em que concordava plenamente com Mark.
Ele não parou ainda em seu ponto, todavia. Antes de tudo, o que tinha a dizer era uma reclamação legítima, impossível de ser resolvida com a mera intervenção de seus poderes.
— E enquanto eu tô aqui, sentado nessa cadeira, tem alguém aí fora apanhando de um baderneiro qualquer ou tendo o dinheiro extorquido… Um caso que totalmente merece a sua atenção, e ainda assim decide ficar aqui, olhando para a minha cara… A cara de um estudante que só fez o que fez até agora para se defender dos outros que vivem de tentar colocar ele em problemas…!
Não teve piedade de mostrar os dentes para o diretor. Impassível, o velho manteve-se fixo, queixo apoiado sobre os punhos.
— Então, não. Eu me recuso a ficar aqui e ouvir de você que eu tô errado a ponto de você nem se incomodar de verdade com isso.
Ergueu-se da cadeira, pronto para executar sua clássica manobra para escapar de todo e qualquer problema. De dentro, chamou por seu estranho poder, e decidido a acabar com todas as besteiras vindas daquele homem, trouxe sua intenção adiante.
— O que pensa que está fazendo ao se levantar dessa cadeira, senhor Savoia? — Ainda imóvel, elevou a sobrancelha. — Não acho que irá querer agredir um responsável pelo corpo docente dessa escola. Por favor, não tente complicar a situação ainda mais para si mesmo.
— Ah, nada…! — riu um pouco, amargo. — É só que eu acho que você poderia tomar umas sugestões sobre como lidar com uma escola do jeito certo…!
Apenas um toque seria todo o necessário para apagar as lembranças do evento enquanto, de quebra, poderia adicionar mais algumas um tanto desagradáveis e ter um pouco de vingança.
Evocou seu poder e preparou-se para estender a mão e tocar sua testa.
— Uh… diretor Eastwood…! Com sua licença…!
Uma animada voz feminina deu entrada no instante exato, cortando o fluxo habitual de eventos e forçando Ryan a repensar melhor em como lidaria com o contexto.
— Ah… — desprovido de ânimo, o velho notou sua presença e prontamente mudou para um estado de profunda surpresa. — Senhorita Cooper? Onde esteve durante esses dias todos? Sua família está procurando por você! Todos os noticiários falam sobre seu desaparecimento e os seus pais estão preocupados…!
Captar e submergir na mais nova presença da sala foi inevitável e logo ao bater seus olhos contra a pele clara da menina, foi levado à dúvida.
“Espera, essa garota é…”
Lembrou de ter visto sua foto por breves segundos em um noticiário local e se não havia engano, essa era Amanda Cooper, dada como desaparecida pelo quarto dia seguido, a contar o atual.
Tinha uma aparência descuidada, andando sem medo por uma escola, com as mesmas roupas sujas de lama que apareceram no noticiário, juntas de cabelos despenteados, cheios de fios quebrados.
As olheiras profundas em seus olhos apontavam para um sono frágil, talvez inexistente.
Em outras palavras, mais lembrava um zumbi.
— Bem, diretor… — ignorou a presença do Savoia, aproximando-se da mesa. — A verdade é que, de início eu não queria encarar isso, então eu fugi e fiquei um tempo na casa de uma amiga… Eu… Só não queria ter que me deparar com o quanto eu sempre estive errada por… Bem, fazer o que fiz…
Ryan a assistiu encabuladamente mandar mechas de cabelo para trás da orelha. Tinha um sorriso tímido e, se qualquer coisa, isso simbolizava sua derrota.
— Hmm, entendo… — tossiu um pouco. — Bem, é bom ver que se arrepende e que reconhece isso, embora o estrago no seu histórico escolar já esteja feito!
O modo como o ignoravam dava a sensação de ter subitamente se transformado em um fantasma, e ao passo que assistia a interação correr tão fluída entre os dois, sua imaginativa mente indagava a si mesma.
“Será que é assim que uma alma penada se sente? Porque até que dá para entender o motivo de eles tentarem interagir com os vivos a todo custo…”
Por breves momentos, o diretor selecionou documentação, entregando nas mãos da adolescente um total de quatro páginas com textos ilegíveis à sua distância.
— Isso vai permitir que não se opunham à sua entrada em sua nova escola. Espero que pense em como vai agir de agora em diante, senhorita Cooper e, por favor, o quanto antes apareça. Seus pais estão preocupados com a sua pequena brincadeirinha de sumir.
— Sim, eu vou… — Em tom singelo, veio a resposta. — Irei me desculpar com todos os que prejudiquei, também… Depois de ter pensado tanto nesses três dias, me sinto verdadeiramente arrependida por ter feito tudo aquilo.
Ela olhou ao longe, dispersando-se pela sala até se deparar com a imagem do Savoia a assisti-la de dois metros para sua direita.
— Uh… Bem… Tenho que ir agora… — Tímida, outra vez arrumou os cabelos. — Eu… Tenho muitas explicações para dar, eu sei… Eu… tenho que ir agora… Outra vez, muito obrigada por não fazer isso ser tão doloroso para mim, senhor Eastwood…
— Está tudo bem. Seu desligamento da escola será executado em breve. Desejo uma boa sorte e que possa arrumar o curso de sua vida, senhorita Cooper. Gosto de acreditar no potencial das pessoas para a mudança.
— Sinto-me altamente grata com a fé que tem em mim. Irei usar isso para me tornar alguém que orgulha de verdade a minha família.
Ela deixou escapar um breve sorriso, antes de desaparecer tão depressa quanto surgiu.
E com isso, as coisas puderam tornar ao seu fluxo ordinário.
— Espero que aprenda a medir suas palavras comigo, Savoia. Não pense que apenas sento aqui e puno algumas crianças levemente desordeiras e crescidas demais.
Moveu-se um pouco em sua cadeira, com foco na fechada porta de entrada.
— A senhorita Amanda Cooper se envolveu em um problema bem mais sério do que o seu. Sei que agora ela talvez tenha esperança, ou talvez apenas me quisesse manipular para aliviar sua punição, mas o que cometeu foi injustificável. Agora, ela terá que conviver com essa marca em seu histórico para o restante da vida.
Dele, seguiram dois agressivos cliques vindos de seu pescoço, movido brutalmente.
— Veja bem… Já que me importunou tanto, irei dar-lhe o benefício da dúvida dessa vez e deixar-lhe sair sem qualquer traço de punição.
A breve pausa foi mais que o bastante para uma nova ponte visual se firmar.
— Mas saiba bem que, se houver qualquer outro tipo de reclamação sobre o seu comportamento, será considerado tão imediatamente expulso quanto ela foi pelo que cometeu no início da semana e é bom que estejamos combinados quanto a isso.
Por mais que desejasse esganar o calvo astuto demais para seu próprio bem, não teve outra opção senão morder os lábios e aceitar.
A qualquer segundo, outra pessoa poderia entrar por aquela porta e não queria que fosse no momento mais complicado para sua pessoa.
Além disso, ele sempre podia lidar com as lembranças do velho em alguma outra hora.
— Tudo bem. Acho que estamos combinados — disse, confiante. — Ainda irei provar como tudo aquilo não passou de um mero mal entendido.
— Se assim diz… — Deu de ombros. — Agora, fora da minha sala. Não vai querer que eu mude de ideia, rapaz. É uma sexta-feira à tarde e eu não quero passar o meu fim de semana pensando no que fazer com você.
— Tudo bem, tudo bem…
De mãos para o alto, dirigiu-se até a entrada e puxou a maçaneta outra vez. Novamente, estava de volta no corredor vazio, com uma vitória que não tinha o sabor de tal.
Puxou o celular do bolso e para sua surpresa, uma notificação de Mark para seu direct saltou na tela.
— Huh? Por que ele me mandou uma mensagem diretamente ao invés de só falar do chat em grupo?
Curiosidade consumiu seus dez dedos, que prontamente se arranjaram para abrir a mensagem.
“16:02: Ryan, eu sei que tu tem o costume de merda de ficar ignorando o grupo, então eu vou te passar a visão por aqui. Parece que a tua impressão tava certa e tem um bagulho meio tenso que a gente achou. Se encontra com a gente no bosque no final da Willow Street, do ladinho do Rio Attwood. Só te avisar que uma galera da polícia tá por aqui, então se esconde. Eu e a Lira tamo te esperando.”
“16:04: A gente tá atrás de um cipreste caído. Tu vai reconhecer porque ele tá queimado de um raio. Dá um murro na boca do Eastwood e chega aqui logo porque isso pode ser coisa nossa.”
Sequer hesitou ao ler o registro inteiro; de olho no horário, viu que tinham se passado três minutos desde o envio da última mensagem.
Apressado, digitou um breve “ok”, antes de correr rumo à entrada.
[…]
Willow Street, ou melhor, conhecida por ele como “caminho até casa”, um lugar próximo o bastante da Oak Street e do centro de Elderlog, embora, de um ponto de vista prático, tão diferente.
A via funcionava como uma conexão entre a Rodovia 93 e a cidade, e por isso ainda era em sua maioria composta apenas de mato, com duas ou três casas eventualmente espalhadas ao acaso.
Conforme se avançava, o número de residências ficava um pouco mais numeroso e humano, até a conexão final com a via principal do centro comercial.
Os sons de viaturas e suas luzes brilhantes foram vistas de longe, na zona mais distante do centro, onde havia mais chances de algo grande ser oculto.
“Mark disse que estaria atrás de um cipreste atingido por um raio.”
Ao longe, viu entre as árvores uma zona um pouco mais clara, que se escurecia notavelmente nos arredores.
No centro, percebeu uma única árvore caída, cuja maioria das folhas tinha aspecto chamuscado.
Felizmente ficava um pouco antes do pequeno grupo de oficiais que, no momento, conversavam com um homem de meia-idade, cujo cachorro — um husky siberiano —, estava preso na coleira.
Dali, ele ouvia apenas murmúrios e não planejava ficar muito tempo onde tinha a chance de ser visto, optando por seguir a distante mão pálida de Mark.
Com todo o cuidado, evitou pisar em quaisquer gravetos.
— Não precisava dessa cena toda. Eu tô te protegendo de ser visto com uma ilusão. Aquela galera não ia te ver… Ou melhor, talvez o cachorro visse, mas enfim. É um cachorro!
Lá estavam eles, ocultos em uma zona impossível de se ver pelos oficiais, embora não pela localização.
— A gente pode falar alto. Com o meu poder ativo, eu tô camuflando as nossas vozes.
— E o que vocês encontraram? — Ryan questionou. — O que é tão sério que talvez mereça a nossa atenção?
— É um negócio meio embaçado… — Mark coçou o queixo. — Pode até parecer ser um assassinato normal e tal, mas eu acho que tu vai entender o que eu quero dizer, assim que der uma olhada.
Lira, que até então permaneceu calada, tomou a oportunidade. Fixos, seus olhos se travavam no homem e seu cachorro.
— Aquele homem é um pescador… Ele veio a caminho de um dos braços do rio com seu cachorro, quando encontrou o corpo. Até então, seria apenas assassinato comum, contudo…
Sem hesitar, tomou um passo à frente, mostrando zero preocupações com o barulho.
— Vamos.
Ao seu comando, os dois rapazes seguiram e graças às ilusões de Mark, nenhum dos oficiais percebia qualquer mudança no ambiente, embora o mesmo não pudesse ser generalizado ao cachorro.
“Então ele consegue nos ver, mesmo que as pessoas não estejam vendo…” raciocinou o Savoia, intrigado.
As reações explosivas do animal impediam seu dono de contar o relato plenamente, em esforço de segurá-lo, para que não corresse em direção ao “nada”.
Enigmaticamente, as lentes azuis do canídeo se focaram em um ponto que, para todos os demais, detinha o aspecto de qualquer outro.
Uma pena não poderem ver o que seus sentidos animalescos captavam: um bando de crianças de egos inflados, cada um de seu jeito, se aproximando de uma cena macabra.
— O corte — apontou ela. — Não é compatível com algo que uma faca faria.
De longe, sentiam o odor pútrido dos primeiros estágios da decomposição. Por seu estado, a pessoa certamente já estava morta por alguns poucos dias.
— Foi um corte altamente irregular na região da traquéia, logo abaixo da cartilagem tireóidea, mirado especificamente na via respiratória. Fora isso, o cadáver não possui qualquer outro sinal de ferimento, além de um mínimo corte na bochecha, também tão grosseiro quanto.
A pele do corpo inteiro se mostrava inchada e com sinais escuros em arroxeado, as primeiras larvas e insetos marcando presença, se arrastando na pele nua.
— Nem mesmo uma lâmina cega faria um corte tão irregular assim. A carne não foi simplesmente dividida, mas sim, dilacerada, como por um animal selvagem… Embora esse não seja o caso, porque não há animal no mundo que faria um único corte em um ponto vital em uma presa que não planeja devorar…
— Ou podemos ir pelo caminho mais simples: o de que isso foi trabalho de uma pessoa com habilidade… — O pálido se colocou. — Tem alguma ideia brilhante, Ryan? Quem sabe a estupidez revela algo de bom?
Não planejou receber uma resposta real e, por isso, veio tamanha surpresa quando o mais novo integrante partiu os lábios.
— Eu vi ela.
Seu tom estranhamente neutro evocava dúvida e, sequer piscando, Ryan assistia fixamente à inércia caótica do cadáver.
— É, cara… A gente também viu, seu burro! Ela estuda na nossa escola, lembra? Com certeza que tu já deve ter visto ela por aí. É a tal de Amanda Cooper que geral tava procurando.
— Não… Não é disso que eu tô falando, Mark.
Engoliu a saliva, incapaz de enganar seus próprios olhos; o processo de decomposição não se encontrava avançado o suficiente para borrar suas características.
— Esses cabelos pretos… Esse formato da cara e do corpo…
O silêncio dele, por vezes, se via periodicamente cortado pelos latidos do cachorro, ainda focado em persegui-los, perturbando o progresso da coleta de depoimento.
— Não fazem nem quinze minutos desde que eu vi essa mesma pessoa, Mark.
— O quê?! Como assim?
— Eu sei que vocês podem achar que eu tô me confundindo ou até que é invenção minha, mas podem ir perguntar para o desgraçado do Eastwood depois… Ele estava lá também! Eu vi, Mark… Ela estava viva e andando… Claro… Toda suja e maltrapilha, parecendo que dormiu umas noites na rua, mas… Era ela.
— Ele não está mentindo, Mark. Por mais bizarro que soe, o que ele disse é verdade. — Lira atestou antes de encará-lo. — Ryan Savoia, quero que nos conte cada detalhe sobre sua interação com “Amanda Cooper” em detalhes.
Inconfundível, além de exatamente idênticas ao mínimo detalhe. Ambas eram Amanda Cooper, existentes em um paradoxo.
— Cacete… Isso tomou um tom bem mais absurdo que eu pensava quando cheguei… — Mark secou suor de sua testa. — Mas e aí? Estacionamento do EveryMart? Que cês sugerem?
— É uma boa sugestão. Vamos reunir toda a informação que temos e, principalmente, o relato de Ryan Savoia. Hoje, vamos voltar um pouco mais tarde para nossas casas.
Já ficava tarde na pequena cidade e, aos poucos, os tons da noite se esgueiravam entre as cores claras do vespertino.
— Vamos dar no pé. Não vai ter muito o que ver aqui e eu já tô sentindo um pouco a cabeça depois de tanto deixar a ilusão em pé.