Uma Cidade Pacata – O Dia em que o Pesadelo Começou
Capítulo 54: Vestibular da Malandragem
— Parado aí, seu vagabundo…!
O último funcionário se juntou a outros dois, para cercarem o pálido adolescente de olhos vermelhos, fechando qualquer lado livre.
— Heh…! — riu, mostrando os dentes plenamente brancos. — Cala a boca que vagabundo é o teu pai!
Girou o próprio corpo em um gesto acrobático impressionante, em sua mão agora uma lata de café expresso em pó.
— Peguem ele…! — ordenou um dos três. — Não vamos deixar nenhum de vocês pirralhos fugirem…!
— Ah, é mesmo? — riu, zombador. — Ansioso pela sua tentativa!
Mark destampou o grande pote plástico, com outro giro espalhando seu conteúdo marrom por todos os lados, mirando nos olhos do trio.
— Seu merdinha…!
— Olha, para uma galera que trabalha em um mercado tão grande…
Girou pela terceira vez, acertando um chute potente, carregado de energia cinética, no lado direito da cabeça do primeiro. A pura força bruta do impacto o nocauteou friamente.
Seu corpo caiu em um baque seco, intimidando os demais.
— Vocês são um pessoalzinho bem lentinho para lidar com os problemas que chegam!
Derrubou o segundo com uma rasteira, e tentando aproveitar o pequeno tempo de distração veio o terceiro, que não contou com o agudo estado de atenção do mero pirralho.
— Ah, tu quer brigar também? Então vem…! Vem para cima! Desce para o play, caramba!
O homem mal-encarado refletia parte da luz com sua careca. De rosto nada amigável, somado a um bigode grisalho, aprontou uma pose de boxe.
— Cai para cima, moleque! — chamou Mark, confiante em sua capacidade.
— Ah, sabe de uma coisa? Eu meio que não tô mais afim de cair no braço contigo, até porque…
Um breve sorriso do rapaz de olhar carmesim refletiu o que havia por trás dele, em seu foco distante. Antes de poder reagir e virar seu corpo, sentiu em sua testa o agarro suave de uma mão alienígena.]
— Mas…! O que tá… Acontecendo…?!
Aos poucos, perdeu consciência. O toque o levou para outro lugar: o sonho que teve nessa manhã, fruto de suas desconfianças mais profundas.
Preso em suas memórias, o careca fora deixado para navegar por um terrível pesadelo no qual sua esposa o traía.
As mesmas mãos o repousaram, com cuidado, no chão do mercado, impedindo que se machucasse mais.
Os dois garotos do não-tão-famoso trio de anti-heróis da cidade se viram outra vez enfim, passados os poucos minutos desde o princípio da ação.
— Ah, e aí, Ryan? Como é que tá essa segunda rodada do vestibular da malandragem? Tá sentindo que dá para desenrolar?
Os olhos de Ryan Savoia cintilavam de forma constante, em seu habitual tom de arroxeado. Com pressa, ele inspecionava a mente do homem, apagando quaisquer registros dos últimos dez minutos.
— Tudo limpo por aqui, Mark. Olha, eu ainda não consigo tirar da cabeça que isso aqui é uma loucura das grandes, mas… — pausou por um segundo, tomando ar. — O horti-frutti e a zona onde ficam os laticínios já foram totalmente limpas de pessoas ou funcionários.
— Hah! É isso aí, meu garoto! É para isso que a gente tá te criando…!
Estalou os dedos, enviando cliques escutáveis a vários metros do corredor de industrializados. Sua larga mostra de dentes se fez satisfeita e logo se colocou ao lado dele.
— A gente tem poderes, cara… Além de que você pode só consertar o dano depois! Significa que a gente pode fazer o que quiser! Afinal…
Os dois trocaram uma breve encarada sugestiva. O que se via no Savoia, em oposição, era uma postura neutra.
— Se não tiver como provar que aconteceu, então tecnicamente não aconteceu…!
— Eu tenho certeza que não é necessariamente assim que funciona — rebateu, avistando outro funcionário correr, assustado. — Ali vai mais um.
Pegando a mensagem, os dois rumaram ao topo de suas velocidades até o corredor perpendicular adiante. Ao longe, uma única mulher assombrada com o estado de tudo ao seu redor buscava a escapatória.
— Dessa vez a gente não vai destruir nada. A Lira já tá cuidando de apagar as gravações da nossa entrada, então a gente vai ficar de boa. As câmeras tão desligadas, também. Dá para a gente viver um pouco.
— Socorro… Alguém…! Socorro!
Os gritos da mulher foram interrompidos pela manobra cheia de classe. Nas dependências da zona de horti-frutti, Mark usou de um dos grandes expositivos cheios de melões maduros como impulso para uma cambalhota.
— Opa! Tudo de boa?
Sua aterrissagem foi perfeita e cerca de um metro antes das vidraças da porta, seus rostos se encontraram e a esperança da pobre mulher de talvez escapar murchou como uma flor sem água.
— Não…! — agarrou a própria cabeça e, negando com veemência, forçou-se a mudar todo o seu curso.
— Ei, não foge não! Eu sei que tu é mó gatona para estar trabalhando em um mercado, mas não significa que pode só sair quando quiser, ô beldade!
Pela maior parte, Ryan assistia, gravando a genial manobra em suas memórias, do jeito que podia, pois qualquer coisa imitável com sua Criação de Memória Muscular se faria imensamente útil.
— Falta só ela de consciente no mercado todo, né? Então a gente tem que correr… Bora, Ryan!
“Pensando bem, eu já não me sinto mais tão exausto depois de usar por esses três dias seguidos.”
Sua perspectiva no que as memórias significam mudou substancialmente desde que começou a estudar sobre elas.
— Certo…! — inclinou-se, copiando o sprint do pálido. — Chegando a toda velocidade!
Antes, nunca foi de seu feitio se questionar muito. Podia manipular as lembranças dos outros e isso o satisfez.
“Mas não saber só me serviu até esse ponto.”
Com estudo, aprendeu sobre a real natureza da memória: o fato de que existe fisicamente, como parte estrutural constituinte do cérebro.
— Tô gostando da velocidade…! — O fantasma pálido o cumprimentou. — Mas ainda falta prática!
“Memórias são formadas por conexões físicas entre os neurônios, que podem ser criadas ou quebradas à vontade por mim.”
Focou seu poder, pensando em um velocista. O simples ato de planejar o movimento bastava para fazer o restante do cérebro acompanhar.
“Logo, se eu imaginar como fazer algo e tornar essa memória minha, posso me ensinar a fazer qualquer coisa…!”
A visão em túnel preenchia a diferença de poucos centímetros entre a desengonçada moça e a palma de sua mão, sua mente forçando cada músculo a se contrair nos momentos certos.
Não era perfeito; em toda sua vida, foi sua primeira execução do movimento.
— Vai que é tua, Ryan…! Pega ela!
“Esses ajustes…”
Esticou sua mão e visualizou a potente preensão de um arremessador olímpico.
“... Vão ser feitos com a prática.”
Neuroplasticidade: a capacidade do cérebro de fixar a execução de uma tarefa com base em árdua repetição. Com seu poder, fazer isso se tornava diversas vezes mais simples.
“Seres humanos só realizam os movimentos que sabem porque se lembram deles… Como eu nunca pensei nisso antes?”
Hora de um salto, olhos a brilhar outra vez. Ele conectou os dois pés no chão liso, e se imaginou como um saltador olímpico.
“Esticar os músculos… Guardar e liberar energia cinética na forma de uma explosão…”
Seu máximo se dividia nas diversas vias da interface neuromuscular. Em milésimos de segundo, imaginou cada passo, desde a estocagem de energia, até o salto.
“Consegui.”
— KYAAAA! — A moça gritou, percebendo as enormes pressões em seu corpo. Havia sido capturada.
“Uma aterrissagem.”
Em um potente salto, cortou uma distância de cinco metros, envolvendo todo o corpo da mulher com seus braços, e em um estado inquebrável de foco, prendeu-se ao chão outra vez.
E não acabou por aí.
— KYAAAAA…! — Ela viu seu mundo girar, de novo e de novo, presa por um ínfimo infinito, no meio do ar.
Ele saltou verticalmente, e no ar, ainda carregado de energia, deu uma tripla cambalhota, e quando enfim sua exibição acabou, sua vítima já não permanecia consciente.
“Me desculpe.”
Derrubada pelo medo, a mulher se largou em um desmaio inquieto e, mesmo inconsciente, profundo terror a consumia, da cabeça aos pés.
Ryan pegou da prateleira mais próxima um grande pacote de salgadinhos, e, com cuidado, a deitou no chão, usando o alimento de travesseiro.
— Olha só como ele é todo cuidadoso…! — zombou Mark, forçando gestos e um tom feminino. — Faz o meu coração chorar de felicidade estar diante de tamanho cavalheiro!
Optou por ignorar a brincadeira. Com a última funcionária não mais representando qualquer ameaça, ele havia passado com sucesso na “recuperação” da prova de seu primeiro dia.
— Conseguiu copiar a minha cambalhota quase direitinho — fez questão de aplicar aquela ênfase, como se sua vida dependesse dela. — Um pouquinho mais de angulação do pescoço seria uma boa, além de que você só deu três giros no ar ao invés de quatro, mas isso aí deve ser porque tu é todo altão… De toda forma, eu te dou um B-.
— Só um B-? Não acha que eu mereça pelo menos um B normal pela tentativa?
— Nada disso! — negou veementemente, com ambos cabeça e polegar. — Temos que ser precisamente metódicos com relação a cada mísero detalhe! Nada de ficar cortando cantinhos em direção ao sucesso! Você tem que brilhar honestamente!
Amargou internamente a noção do que ouviu, surpreso sobre como algo tão moral e correto veio de alguém conhecido por ser o equivalente estudantil de um vigarista.
Pensar um pouco mais profundamente nessa linha o lembrava de algo.
“Definitivamente soa como algo que ela diria… Embora, um pouco menos agressivamente, eu acho?”
As memórias de uma adolescente dotada de belíssimos olhos verdes, cabelos castanhos e um sorriso capaz de cegar com seu brilho o tomou. Ele não a havia visto na escola há quatro dias.
“Eu me pergunto se ela já se recuperou da doença…”
— Ryan…
“Isso… Eu tô sentindo falta dela? É isso mesmo?”
— Ei, Ryan…
“Talvez eu devesse visitar… Espera, eu não sei o endereço dela! Ou eu sei...?”
— Ryan, seu merda! Não é hora de começar a sonhar agora!
O leve bofetão, firme o suficiente para doer apenas o bastante, o despertou de vez de seu sonho acordado.
— Tá ficando maluco de olhar pro chão assim?! E… Por que caralhos tu tá com a cara toda vermelha…?
— Ah… Não foi nada…
Ele não soou de qualquer maneira convincente.
— Ah, bichão…! Viu alguma coisa na mente dela, foi? Eu sabia…! — Mark se achegou, acertando-o de leve com o cotovelo. — Eu sabia que tu não era santo! Fala aí o que tu viu!
Felizmente, quando menos pensou ser capaz de escapar de tal armadilha, passos calmos e em um ritmo elegante soaram nas proximidades.
— Todos os registros foram apagados. Realizei uma checagem quádrupla dos registros de computador e ainda uma quinta vez, apenas para me certificar. Ninguém aqui vai saber o que aconteceu com a loja depois que sairmos… De novo.
Lira inspecionou cada canto de seu horizonte visível. Por todos os lados, via clientes e funcionários, deitados e estranhamente acomodados, com produtos servindo de travesseiros.
— Quanto tempo a mais temos?
O terceiro fez o seu melhor para não engasgar na resposta.
— Pouquíssimos minutos, talvez dois ou três. Não consigo manter uma pessoa presa em sua cabeça por tanto tempo assim, se não estiver diretamente conectado a ela.
— Hmm. Certo. — tomou uma longa porção de ar. — Pois bem, é hora de sairmos.
Seus dedos se dirigiram à prateleira mais próxima à esquerda, selecionando um pacote de salgadinhos sabor cebola e salsa.
— Peguem o que quiserem em trinta segundos. Não temos esse tempo todo — ordenou. — E Ryan Savoia…
Não acostumado a ouvir seu nome completo ainda, o mais novo integrante do trio sentiu-se engolir uma porção gorda de saliva acumulada.
— Dessa vez você passou, mas não vá ficando tão orgulhoso. Isso é só o começo de muitas outras provas.
O escaneou da cabeça aos pés, sequer fazendo questão de esconder o desgosto vindo de interpretar o que captava com o brilho rosado de seu par de rubis.
— Nojento — vocalizou cada sílaba lentamente, com julgamento máximo. — Não se aproxime de mim com esse tipo de pensamento. Nem mesmo se atreva a pensar em me tocar.
“Droga… Eu realmente não consigo ganhar nunca pelo que depender dela…!”
— Eu senti essa intenção odiosa, Ryan Savoia — cuspiu quase imediatamente. — Não me faça responder isso.
Teve de ficar calado, caso não quisesse ter seu coração esmagado e, se contentando com isso, pegou um pacote qualquer da prateleira.
“Como será que ela tá? Será que é mesmo verdade essa história de ‘doença’?”
A pior coisa que poderia ocorrer agora seria tê-la dando com a língua nos dentes, um hipótese fácil de se imaginar.
“Talvez ter confiado naquela garota tenha sido uma ideia terrível.”
Um pacote de batatinhas e quatro barrinhas de proteína entraram em seu pequeno furto.
“Eu espero estar muito errado sobre isso… Muito errado mesmo.”
Os três deixaram o EveryMart de bolsos cheios, porém, em seu peito, ele ainda guardava esse imenso vazio.
[...]
— Filha… Minha Emily…
Os sintomas pioraram nos últimos dois dias e o que tinha tudo para ser apenas uma gripe de verão se desenvolveu em algo muito mais complexo e perigoso.
As paredes sempre tão brancas e monótonas do hospital não faziam boa combinação com o clima acinzentado. No leito, de número 32-A, duas figuras solitárias se tocavam, incapazes de verdadeiramente interagir.
A mulher de fios e olhos castanhos, no momento fechados, que a jovem ao leito herdou. Ao tocar sua mão e segurá-la, se assombrava com o calor nem um pouco natural.
Sua filha estava quase cozinhando viva e isso vários minutos depois de administrarem alguns dos mais fortes antipiréticos disponíveis. Qualquer remédio, para o que fosse, não tinha efeito.
O calor irradiava em pulsos suspeitosamente ritmados com as batidas de seu coração, de forma constante e ininterrupta.
— Eu não deveria ter te deixado sair debaixo daquela chuva… Eu devia ter insistido mais em te deixar com a gente…
Obviamente, sua mente de mãe criaria qualquer explicação possível, sempre se pondo como a responsável. Para tal, sempre houve a chance de reforçar o aviso uma outra vez ou de ser um pouco mais rígida.
Sempre algo de diferente poderia ter sido feito, com um pouco mais de esforço; algo que não faria sua filha estar presa nesse leito, correndo um sério risco de morte.
— Senhora Attwood?
A porta se abriu e seu peito ardeu ao entender o significado.
— O horário de visitação acabou, não foi?
A jovem enfermeira amorenada deu-lhe como resposta um desconcertado sorriso de canto.
Cautelosamente, ela estudou a mulher. Em sua mão destra, levava uma prancheta e uma caneta azul comum, parecendo tão inexperiente…
… E em simultâneo, o perfeito oposto disso.
— Sei que não vai soar muito reconfortante, mas estamos fazendo o que podemos, Senhora Attwood — A encarou, ainda a sorrir. — Ao menos, posso lhe garantir isso.
A moça irradiava algo incapaz de ser nomeado.
Não sabia o que era essa energia, contudo a mera situação de se estar no mesmo ambiente que ela parecia encher tudo de uma vibração tão pesadamente positiva a ponto de se fazer opressora.
A preocupação, a insegurança, a dor psíquica e o agarro em seu peito… Longe agora, expulsos para o outro lado do mundo.
E o que dizer de seus olhos? Aquilo era violeta? Foi a primeira vez em sua existência que se deparou com uma encarada ainda mais destacada que a sua.
— Entendo… — suspirou. — Amanhã… Tem a chance de que eu venha de novo, certo?
— Claro que sim — confirmou cheia de brilho. — Não iríamos separá-la da sua filha de modo algum.
E esse algo a levava a confiar plenamente nessa mulher. Não tinha fundo lógico.
— Pois muito bem. Amanhã estarei de volta. Obrigada.
— Não precisa agradecer. Estaremos fazendo nosso trabalho com o máximo de afinco. Emily está em ótimas mãos.
E isso a assombrava. Confiava tanto, mas tanto nessa mulher desconhecida que lhe poderia contar todos os segredos.
— Emily… Ela é uma boa garota. — Antes mesmo de sentir, seus lábios denunciaram. — Sempre cheia de energia, muito motivada a correr atrás do que ama… É o tipo de pessoa que vai fundo em tudo o que julga ser certo.
Pressionou os lábios. Sabia que não deveria estar incomodando um estranho com tais detalhes pessoais, mas por algum motivo, não conseguia parar.
— Ela sempre foi o nosso orgulho… Meu e do pai dela. Emily sempre foi… Tão forte…
Tomou um segundo de ar, em tentativa de conter as lágrimas.
— Então… Eu não acho justo que ela seja levada assim de nós… Eu… Eu…! Olha, me desculpe por isso…
Não a via, mas tinha a certeza de estar sorrindo daquele jeito tão reconfortante.
— Não tem problema nenhum, senhora Attwood.
Não teve condições de dizer mais nada e depressa saiu do quarto, fechando a porta por educação. Sentia-se incapaz de permanecer diante da imagem tão miserável de sua filha.
— Emily Attwood…
A voz de Hannah Savoia ecoou desimpedida pelo quarto quase vazio. Além de si mesma, as únicas fontes de escasso barulho eram os monitores de sinais vitais ao lado do leito, em seus constantes ritmos tão irritantes.
Puxou sua planilha, pronta para marcar algo no papel.
— “Uma boa menina”, hein?
Cometeu uma violação de autoridade ao se auto indicar como a responsável pela paciente sem a palavra de um médico.
Com todo prazer, ela escreveu seu nome completo e puxou um carimbo falso do bolso, para marcar o crime.
A Savoia mais velha sempre foi uma perfeita aluna no vestibular da malandragem.
— Vejamos se isso é mesmo verdade.
Puxou uma seringa de seu pijama hospitalar, e sem pensar duas vezes, perfurou a si mesma, drenando uma pequena porção de 10ml de seu sangue.
— Você não deve ter dificuldades em receber sangue O-. Eu sou uma doadora universal, afinal.
E sem cerimônia, aplicou na carótida esquerda da adolescente. Assim que o sangue inteiro entrou, finalizou com um pequeno curativo circular na região.
— Você iria morrer. O seu corpo não possui uma compatibilidade natural com a coisa que te colocou aí, então, seja como foi o seu contato com isso, não era para você.
Ciente de que sua paciente não podia ouví-la, tomou toda a liberdade, por mais baixas que as palavras tivessem de sair para não chamarem atenção. Tal luxo não se tinha todos os dias.
— Eu vou te dar essa chance. Vou confiar nas palavras da sua mãe.
Seu trabalho ali estava feito, e por mais não-ortodoxo que fosse o tratamento escolhido, mudaria por completo o seu destino.
— Se prove para mim, Emily Attwood. Me mostre que é uma boa garota, como sua mãe disse.
Antes de escapar pela porta, a fitou por uma última vez e suspirou:
— E, por favor, ajude o meu irmão.